Um homem enviado por Deus

Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João

João 1:6

No mundo globalizado em que vivemos tornam-se imperiosas e constantes as gestões para a solução dos intrincados problemas que afligem os povos. A figura do diplomata é tremendamente valorizada, pois as suas funções são da maior importância para a coexistência pacífica e favorável dos povos. O destino dos povos depende da correta, eficiente e dedicada atuação desses homens que, “enviados” pelos seus governos, muitas vezes fracassam em suas missões.  

Deus tem bons propósitos para este mundo. Embora o ser humano esteja mergulhado na desgraça do pecado, porque se afastou de Deus e dEle vive alienado, o que Deus mais deseja é reverter essa situação, na qual o  homem voluntariamente se meteu. Foi por isso que “enviou “Seu unigênito Filho, para que o homem não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16-17). Vejam Mateus 10:40; João 17:3 e 1 João 4:9-10.  

Deus sempre enviou homens, por Ele escolhidos, para a realização de grandes missões na terra: Moisés (Êxodo 3:10-15); Isaías (Isaías 6:8-9); Jeremias (Jeremias 1:4-10); Ezequiel (Ezequiel 2:1-3:15); Zacarias (Zacarias 2:11); Malaquias (Malaquias 4:5).  

Consumada a Obra Redentora, quis Deus, consoante o Seu eterno plano, que a divulgação da mensagem que, afinal, beneficia o homem com a sua restauração espiritual, ficasse a cargo do próprio redimido. Disse Jesus “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os envio”. Vejam João 20:21. Por sua vez, Paulo nos ensina que “somos embaixadores em nome de Cristo” (1 Coríntios 5:20).

João Batista, profeta singular e de importância notável no cenário histórico, foi o "homem enviado por Deus", como arauto, preanunciando a vinda de Jesus Cristo ao mundo. No exemplo de João Batista, como “enviado por Deus”, identificamos a condição essencial para ser o "homem enviado por Deus": COMUNHÃO com Deus. Ninguém será um bom embaixador em nome de Cristo sem perfeita e íntima identificação com Ele, a qual só será alcançada através de estreita COMUNHÃO com Ele.  Assim aconteceu com muitos que, à semelhança de João Batista, foram enviados e eficientemente usados pelo Senhor. O Senhor Jesus enviou os Seus discípulos a partir de profícuo e intenso tempo de COMUNHÃO com os mesmos (João 15:16; 20:19; Lucas 24:44-53; Atos 11:8). Paulo é outro exemplo notável, consoante o que nos informa Gálatas 1:17-24. Ficou longo tempo na presença do Senhor, em íntima COMUNHÃO com Ele, antes de ser envolvido na missão incomparável que o Senhor lhe destinara. E que missão!  

Ser “enviado”  não significa, apenas, declarar-se como alguém que Deus enviou, mas alguém que sai no “tempo de Deus”, na “maneira de Deus”, para “fazer o que Deus quer” e “onde Deus mandar”. Tudo isso implica, necessariamente, em plena COMUNHÃO com Deus, onde toda a preparação e orientação imprescindíveis serão obtidas na Sua sábia provisão, mas a busca da presença do Senhor é indispensável no exercício de nossa missão, para que ela tenha sucesso.  

Vejamos alguns aspectos sobre a COMUNHÃO no contexto do tema meditado:  

1. Manter COMUNHÃO é o nosso ponto fraco. Somos negligentes nessa área de nosso comportamento cristão, pois nos preocupamos, apenas, com o nosso trabalho e com o que ele significa para nós e não para Deus. Constata-se isso quando:

  • Envolvemo-nos com a satisfação pessoal  da nossa animada atuação e do entusiasmo no trabalho que fazemos, descuidando de buscar a presença do Senhor para verificarmos se o trabalho está sendo feito na Sua soberana vontade e se, realmente, O agrada. Centralizamo-nos, mais, na experiência do gosto e do prazer pessoais do que no prazer da santa COMUNHÃO com o Senhor e da Sua presença;
  • Valorizamos o trabalho que fazemos mais pela projeção pessoal que nos confere perante o contexto humano, sem darmos a devida importância ao nosso tempo com Deus. Apreciamos o aplauso das multidões mais do que a apreciação do Senhor no recôndito sublime da Sua COMUNHÃO. Quanto mais merecemos a aprovação do Senhor, menos procuraremos para nós o louvor dos homens!
  • Avaliamos mal o resultado do trabalho que fazemos. Alienando o Senhor do nosso convívio afetamos o critério correto da nossa avaliação. Resta-nos, então, a falha apreciação feita com os precários recursos da nossa vaidade pessoal. Isso nos impede de constatar a triste realidade da ausência das bênçãos do Senhor naquilo que fazemos.

2. A COMUNHÃO com Deus dá-nos a percepção exata de nós próprios e do nosso envolvimento com a  missão que nos incumbe. A nossa eficaz COMUNHÃO com Deus permite:

  • Que sintamos que nada somos. Interrogado João Batista pelos sacerdotes e levitas sobre quem era, três vezes disse que não era o Cristo, nem Elias ou um profeta, evidenciando que não se considerava nada mais além do que realmente era. Na sua nobre humildade, obtida  na Sua COMUNHÃO com Deus, declarou que era "apenas a voz". Essa era a percepção exata que tinha de si mesmo e do seu envolvimento na Obra do Senhor (João 1:19-23);
  • Que reconheçamos que o verdadeiro serviço para o Senhor manifesta Vida e Poder e não, apenas, resultados efêmeros e passageiros, ainda que aparentemente  grandiosos. Assim usufruiremos de uma experiência espiritual e não meramente emocional;
  •  Que não nos enganemos quanto à medida do nosso progresso espiritual, dom e fé, elementos essenciais para a constatação dos resultados obtidos. A glória do que for alcançado será sempre do Senhor e não nossa (Colossenses 3:17; 1 Coríntios 10:31).

3. Na COMUNHÃO calma e santa da presença do Senhor aprendemos as preciosas lições necessárias ao bom desenvolvimento do Seu serviço e alcançaremos a realização do Seu Soberano propósito. É a “boa parte” constatada na escolha de Maria aos pés de Jesus Cristo (Lucas 10:42). Há muitas coisas preciosas que aprendemos na presença do Senhor, entre as quais destacamos:

  • A maravilha do Seu amor;
  • A Sua Graça infinita;
  • O Seu Soberano propósito; O Seu programa, os ensinamentos sobre a Igreja e a nossa responsabilidade como membros do Corpo de Cristo;  
  • A realidade do poder do Espírito Santo, atuante em nossa vida.

 4. A COMUNHÃO com Deus estabelece em nós as condições para uma atuação correta e corajosa. Não podemos cumprir cabalmente a nossa missão se não atuarmos com correção e com coragem. João Batista é um digno exemplo desse tipo de comportamento. A COMUNHÃO com Deus nos supre nessa área, levando-nos a que:

  • Não meçamos a força do inimigo perante a nossa fraqueza, mas perante o Poder de Deus; sigamos o exemplo de Paulo que, na prisão, escreveu: “tudo posso naquele que  me fortalece” (Filipenses 4:13);
  • Não procuremos imitar outros servos, mas fazer aquilo que o Senhor nos manda, contentes por sermos enviados por Ele para fazermos somente o que Ele deseja;
  • Não pretendamos escolher o que devemos fazer, segundo as nossas conveniências pessoais, à revelia da vontade do Senhor, mesmo quando ela se apresente como um grande e difícil desafio;
  • Nunca saiamos para a realização de qualquer atividade antes de termos a convicção de que fomos enviados, não correndo na frente da vontade do Senhor;
  • Esperemos no santuário da presença do Senhor, com Ele aprendendo e formando-nos espiritualmente;
  • Constatemos se os outros estão percebendo em nossas atividades as características que evidenciam que, realmente, fomos enviados pelo Senhor.

João Batista evidenciou esses aspectos no seu peculiar e específico ministério, patenteando, inquestionavelmente, ter sido "um homem enviado por Deus"! O resultado do seu curto, mas importante, fiel e profícuo ministério, no cenário do programa de Deus para a humanidade, revelam "duas marcas" notáveis da ação de "um homem enviado por Deus":  

1. TESTEMUNHO FIEL  – “Ele veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele” (João 1:7). João Batista falava do que tinha "visto e conhecido". Falava o que o Senhor queria que falasse, ainda que isso lhe custasse muito, como, afinal, lhe custou (Mateus 14:1-12). Só na experiência pessoal das verdades divinas, alcançada no cultivo da COMUNHÃO com Deus, seremos "testemunhas fiéis", conduzindo os incrédulos à fé. Podemos ser excepcionais conferencistas, aplaudidos e cortejados pelos homens. mas péssimas testemunhas de Deus. Cuidemos para que isso não aconteça conosco!  

2 DEDICAÇÃO SINCERA E TOTAL  – “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (João 3:30). João Batista já dissera: “o que vem depois de mim tem contudo a primazia, porque já era antes de mim” (João 1:15); e “após mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de mim” (João 1:30). Ele não se ufanava, considerando-se o centro do seu trabalho. Olhava para Cristo, a razão do seu viver e o alvo supremo da sua fé e do seu amor. Cristo era o "motivo e o fim" do seu serviço. Sua "dedicação sincera e total" foi provada na adversidade que enfrentou. Seja assim conosco!  

Conclusão – Preciosa lição  nos deixa esse "homem enviado por Deus". Devemos segui-la, buscando íntima e constante COMUNHÃO com Deus, para obtermos um "testemunho fiel" e alcançarmos "dedicação sincera e total".

autor: Jayro Gonçalves.