Tribunal de Cristo

2 Coríntios 5:10-13

Neste dezembro de 2011 novamente vivenciamos a euforia da comemoração do nascimento de Cristo. O palco singelo do presépio motiva o intenso envolvimento do mundo cristão com as festividades chamadas natalinas, centralizando a pessoa de Cristo no Seu nascimento humilde em Belém. Sem dúvida, foi sobremodo importante o fato do nascimento de Cristo neste mundo, pois marca a inauguração do cumprimento de inúmeras profecias sobre o extraordinário projeto de Deus para a Redenção do homem.

Mas esse foi apenas o momento inicial de uma ampla atuação de Deus para a restauração espiritual do ser humano, levado à perdição eterna, pelo pecado voluntariamente cometido. É lamentável que o comportamento do mundo cristão, em sua maioria, se concentre apenas no fato histórico do nascimento de Cristo, sem a necessária perspectiva de todo o eterno processo Redentor, cujo divino Agente foi o Senhor Jesus.

Essa necessária perspectiva nos deve conduzir a considerar, não somente os fatos que o envolveram em Sua vida humana, na maravilhosa Obra da Redenção, até a Sua gloriosa ascensão, mas também os acontecimentos que havemos de vivenciar, como redimidos, na eternidade programada por Deus.

Após o arrebatamento da Sua Igreja, da qual faremos parte, há no cenário celestial um momento de grande importância que deve, desde já, ser seriamente considerado por todo o que se diz cristão. Referimo-nos ao solene Tribunal de Cristo perante o qual devemos, inevitavelmente, comparecer. Entendo que é fato da maior importância no processo Redentor e que não pode deixar de ser levado em conta na euforia das comemorações natalinas.

Em 2 Coríntios 5:10-13, Paulo aborda o assunto do Tribunal de Cristo, contemplando, adicionalmente, alguns aspectos de comportamento do cristão à luz da convicção da sua realidade futura. Mesmo que o cristão se salve da condenação eterna, pela justificação plena que a fé em Cristo alcança (Romanos 5:1), ele será julgado por suas ações (1 Coríntios 3:13-15). Veremos e lembraremos, momentaneamente, os nossos pecados e faltas, para logo reconhecê-los apagados e perdoados para sempre pela eficácia do sangue de Cristo. A Bíblia não dá fundamento para a doutrina da existência de um purgatório, onde as almas dos cristãos devem ser purificadas.

  • Todos os crentes comparecerão perante o Tribunal de Cristo (v. 10)

A Bíblia ensina que os cristãos terão, um dia, de prestar contas “perante o tribunal de Cristo”, de todos os seus atos praticados por meio do corpo, sejam bons ou maus. A expressão “tribunal” (no grego: bema) significa “cátedra de juiz” e era bem conhecida dos coríntios (veja Atos 18:12). Os cristãos serão julgados, numa resenha de suas obras, com o propósito de se lhes darem galardões. Consideremos alguns destaques específicos a respeito do assunto:

  1. Abrangência – Todos os cristãos serão julgados; não haverá exceção (Romanos 14:10, 12; 1 Coríntios 3:12-15; veja, também, Eclesiastes 12:14);
  2. Ocasião – Esse julgamento ocorrerá quando Cristo vier buscar a Sua Igreja (João 14:3; 1 Tessalonicenses 4:14-17);
  3. O Juiz – O Juiz desse julgamento será Cristo (João 5:22, veja a expressão “todo o julgamento”; 2 Timóteo, veja a expressão “reto Juiz”);
  4. Suas características – A Bíblia ensina que o julgamento do cristão é algo sério e solene, mormente porque inclui para este a possibilidade de: a) “dano” ou “perda” (1 Coríntios 3:15; 2 João 8); b) de ficar envergonhado diante d’Ele “na sua vinda” (1 João 2:28); c) e de se queimar o trabalho de toda a sua vida (1 Coríntios 3:13-15). Esse julgamento não é para sua salvação, ou condenação. É um julgamento de obras;
  5. Sua transparência – Tudo será conhecido. A palavra “compareceremos” (no grego: phaneroo) significa “tornar conhecido aberta ou publicamente”. Deus examinará e revelará, abertamente, na sua exata realidade: a) nossos atos secretos (Marcos 4:22; Romanos 2:16); b) nosso caráter (Romanos 2:5-11); c) nossas palavras (Mateus 12:36-37); d) nossas boas obras (Efésios 6:8); e) nossas atitudes (Mateus 5:22); nossos motivos (1 Coríntios 4:5); f) nossa falta de amor (Colossenses 3:23-4:1); g) nosso trabalho e ministério (1 Coríntios 3:13);
  6. O propósito – O cristão terá que prestar contas da sua fidelidade ou infidelidade a Deus (Mateus 25:21, 23; 1 Coríntios 4:2-5) e das suas práticas e ações, tendo em vista a graça, a oportunidade e o conhecimento que recebeu (Lucas 12:48; João 5:24; Romanos 8:1). As más ações do cristão, quando ele se arrepende, são perdoadas no que diz respeito ao castigo eterno (Romanos 8:1), mas são levadas em conta quanto a sua recompensa. “Aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas” (Colossenses 3:25). As boas ações e amor do cristão são lembrados por Deus e por Ele recompensados (Hebreus 6:10) Veja Efésios 6:8... “cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor”. A expressão “mal”, no versículo 10, tem o sentido de “inútil”;
  7. Os resultados – Os resultados específicos do julgamento do crente serão vários: a) a perda da alegria (1 João 2:28); b) a aprovação divina (Mateus 25:21); c) tarefas e autoridade (Mateus 25:14-30); d) posição (Mateus 5:19; 19:30); e) recompensa (1 Coríntios 3:12-14; Filipenses 3:14; 2 Timóteo 4:8); f) honra (Romanos 2:10; 1 Pedro 1:7). No presente, a perspectiva de um iminente julgamento do cristão deve: a) aperfeiçoar nele o temor do Senhor (2 Coríntios 5:11; Filipenses 2:12; 1 Pedro 1:17); b) levá-lo a ser sóbrio, a vigiar e a orar (1 Pedro 4:5-7); c) a viver em santa conduta e piedade (2 Pedro 3:11); d) a demonstrar misericórdia e bondade a todos (Mateus 5:7; 2 Timóteo 1:16-18).
  • O Tribunal de Cristo motiva “fidelidade” no exercício do ministério (v. 11)

A expressão “temor”, no versículo 11, tem o sentido de “assombro”. É o assombro diante do Senhor, em vista do fato de que ele (Cristo) nos vai julgar. Isso nos motiva a:

  1. Atuação persuasiva dos homens para levá-los à salvação em Cristo (“persuadimos aos homens”);
  2. A sermos transparentes perante Deus, quanto a nossa atitude, pois “somos cabalmente conhecidos por Deus”;
  3. A sermos bem reconhecidos pelos outros (“espero que também a vossa consciência nos reconheça”).

A “fidelidade” deve motivar nosso exercício ministerial, pois isso é que vale perante o Tribunal de Cristo.

  • O Tribunal de Cristo motiva “sinceridade” no exercício do ministério (v. 12)

Paulo deixa claro que espera que os coríntios reconheçam a “sinceridade” do seu ministério. Isso é que deveria recomendar o seu trabalho perante eles (veja 1 Coríntios 10:18). Alguns tinham insinuado aos cristãos em Corinto o desprezo por Paulo e seus companheiros. Paulo não está fazendo algum autoelogio ou autorrecomendação perante eles, mas fá-los sentir que a “sinceridade” do seu ministério, por amor deles, tinha-se tornado evidente perante eles, pois o conheciam bem.

Ele escreve tais coisas para que pudessem ter a resposta certa para as insinuações maldosas dos falsos apóstolos e dos falsos profetas, que o censuravam e se gloriavam nas exibições exteriores, tais como na circuncisão, no conhecimento ou erudição, somente na aparência, mas que nada sabiam quanto à convicção do seu coração, arrependimento e fé (Romanos 10:9, 10; Lucas 16:15; Gálatas 6:12-14). Bastava um exame da vida íntima de Paulo para terem a resposta de que precisavam para transmitir àqueles cuja ufania se limitava a exterioridades. Temos aí uma boa lição para que não nos gloriemos na aparência, mas na “sinceridade” de nossa atitude ministerial, pois é isso que vai valer perante o Tribunal de Cristo.

  • Melhor louco fiel do que sábio infiel (v. 13)

Paulo diz aos corintos que, pareça ele louco ou não, é ministro de Deus, não o afetando a opinião de que dele fizessem os seus detratores. Visa a responder a duas críticas que lhe estavam fazendo alguns: 1. Que era um fanático; 2. Que era demasiadamente moderado, sóbrio, um morto em vida. O zelo e o entusiasmo de Paulo, concernentes a Cristo e ao Evangelho da graça de Deus, conduziram muitos dos seus adversários a chamarem-no “fanático”, ou mesmo um “louco” (Atos 26:24).

Paulo diz-lhes que esse zelo e diligência eram para a glória de Deus e para o bem da Igreja. Quer sejamos loucos, como alguns possam dizer, pregando com grande veemência e energia, ou humildes e calmos, seja isso para promover a glória de Deus e o bem dos cristãos (1 Coríntios 10:13; Colossenses 3:17). Abençoada a igreja que tenha “loucos” como Paulo!

Conclusão

O Natal, à margem da motivação que é para o usual comportamento festivo, deve ser a grande oportunidade para que reflitamos sobre a nossa tremenda responsabilidade como cristãos e sobre o momento solene em que deveremos comparecer perante o Tribunal de Cristo. Que contraste notável entre a humilde manjedoura onde o Filho de Deus nasceu como homem e o solene Tribunal onde Ele Se apresentará como Juiz dos que se declaram salvos pela Sua Obra Redentora! Que o Natal nos faça refletir sobre isso!

autor: Jayro Gonçalves.