2 Coríntios 6:14 a 7:1
A indulgência com que muitos chamados cristãos vivem em relação à prática do mal é assustadora! Há notória indiferença no contexto de muitos que formam o rol de membros das chamadas igrejas evangélicas quanto à necessária evidência da nova vida bem definida no texto de 2 Coríntios 5:17... “E, assim, se alguém está em Cristo, é uma nova criatura; as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas”. A promiscuidade com o mal, na prática da vida dita cristã, vai se tornando cada vez mais natural e aceita, passivamente, por lideranças também comprometidas com essa prática reprovada pelas Escrituras.
2 Coríntios 6:14 a 7:1, é um dos textos na Bíblia mais claros e contundentes sobre a necessidade da “separação do mal” (santidade) na vida do crente. Muitos estudiosos da Bíblia consideram que este parágrafo está fora do contexto, pois teria sido uma folha solta da carta que se perdeu (carta severa de Paulo aos coríntios) mencionada em 1 Coríntios 5:9. A forma que Paulo usa na sua forte argumentação em favor da “santidade” é muito incisiva, usando perguntas que levam, inevitavelmente, a respostas negativas. Procura definir, com clareza, a absoluta impossibilidade de ligação permanente entre o crente e o mundo, que é controlado por Satanás.
Paulo trata, pois, no texto sob estudo, da importância da “santidade” na experiência cristã. Vejamos:
1 – A responsabilidade pessoal do cristão no exercício da Santidade (v. 14a).
Paulo afirma: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos”. Está, naturalmente, falando da “santificação prática”, isto é aquela que se desenvolve no procedimento do cristão por sua exclusiva iniciativa e responsabilidade pessoal. Nada tem aí a ver com a “santificação posicional”, isto é, aquela que alcançamos pela graça de Deus e que nos é deferida, graciosamente, pela eficácia da obra redentora de Cristo, no Calvário, no ato de nossa fé sincera. Neste sentido, Deus nos vê santificados em Cristo Jesus, pelo poder do Seu sangue (Efésios 2:11-17).
Lembre-se de que, no conceito de “santificação”, está implícita a ideia de “separação” das coisas do mundo e separação para Deus. No texto Paulo deixa clara a nossa responsabilidade pessoal em exercitar a “santificação prática” quando diz “não vos ponhais”. Essa santificação só é alcançada em razão do nosso “querer” e do nosso “fazer”. Para “ser” santo é preciso “querer” ser santo e “fazer” por ser santo! Paulo usa uma metáfora muito própria para destacar essa verdade, que é tomada dos cavalos e bois os quais, sendo colocados sob um jugo comum, para produzir bom trabalho, devem caminhar e puxar juntos, na mesma direção, com um mesmo alvo ou, do contrário, terão sérios problemas.
Crentes e incrédulos não têm os mesmos princípios, naturezas, nem objetivos. Não podem, por conseguinte, caminhar juntos, em harmonia, pois não estão de acordo quanto aos assuntos essenciais da vida, do pecado, da salvação, da glória de Deus e do Evangelho (Amós 3:3). Portanto, não é sábio o crente que se casa com um incrédulo (1 Coríntios 7:39), que forma uma sociedade com um descrente, que procura a companhia e a associação dos incrédulos, que com eles intenta cultuar ou orientar projetos religiosos.
Contudo, estes princípios e conselhos não devem ser entendidos como uma proibição de todo e qualquer contato, conversação, relação, ou negócio com a sociedade civil, pois se assim fosse, os crentes teriam que viver fora deste mundo. Mas Deus colocou-nos no mundo para sermos “luz e sal” (Mateus 5:13-16), para testemunharmos a todos os homens e sermos um exemplo da Sua graça, mesmo perante aqueles que desprezam o Seu nome. Todavia, buscar-se uma aliança ou sociedade desnecessárias com alguém que não conhece nem ama ao nosso Mestre seria loucura. Assim, essa “proibição” aplica-se a relacionamentos conjugais, comerciais, eclesiásticos e interpessoais.
2 – As incompatibilidades absolutas (vs. 14b-16)
Paulo apresenta, a seguir, através de uma série de perguntas argumentativas, uma incontestável afirmação do princípio enunciado a respeito da essencialidade da “santificação prática” na vida cristã. Oferece cinco exemplos de “incompatibilidades absolutas”, que definem essa essencial santificação do crente. A única resposta possível a cada uma dessas interrogações argumentativas é negativa. Com essa maneira de argumentar Paulo enfatiza a estultícia da adoção do “jugo desigual”, em várias circunstâncias da vida.
Buscar-se uma aliança e sociedade desnecessárias com alguém que não conhece nem ama ao nosso Mestre seria loucura, pois que “sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade?” Também, “que comunhão da luz com as trevas?” Quão absurdo seria pensarmos em juntar numa associação cômoda as trevas e a luz, ou a água e o fogo (1 Coríntios 10:20,21; Efésios 5:5-11). Ainda: “que harmonia entre Cristo e o Maligno?” Cristo, que habita em nós e nós nEle, não tem comunhão nem consenso com Satanás. Por conseguinte, como podemos gozar comunhão desnecessária ou inútil com aqueles que manifestam serem eles mesmos filhos do diabo? Cristo é a nossa vida, a nossa porção; mas a porção dos ímpios - dos incrédulos, - é o pecado, o ego e a condenação eterna. Portanto, que temos nós ou que partilhamos nós que nos dê uma base comum para comunhão? Por isso, “que união do crente com o incrédulo?”.
O argumento para que os crentes se afastem da companhia dos ímpios, se separem deles e evitem prender-se a um “jugo desigual” em comunhão desnecessária e inútil é reforçado pela pergunta: “que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos?” Certamente, nós somos o santuário de Deus, pois Ele disse: “Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”. Veja 1 Coríntios 3:16 e Efésios 2:21,22. Os ídolos não têm vida, são coisas mortas e representantes de homens mortos. Logo, que consenso ou que parte pode a vida ter com a morte? Não podemos, andando com o Deus fiel, encontrar mais alegria e consolo em comunhão com os incrédulos, do que a alegria e consolo que encontraríamos em trazermos ou introduzirmos ídolos mortos no templo de Deus vivo! Ou, por outras palavras, é absolutamente impossível gozar comunhão com o Deus vivo e com os incrédulos; ele está antes perplexo ou surpreendido quanto aos motivos que levam os crentes a procurar tais alianças e qual o consenso ou comunhão possíveis resultantes de tais uniões, pois nada têm em comum.
3 – A ordenação divina a respeito da “santificação prática”- (vs. 17-18)
Paulo cita, a seguir, o Velho Testamento, não literalmente, mas mantendo o seu verdadeiro ensino. Na mesma citação usa outra passagem (Isaías 52:11 e Jeremias 31:1,9). Israel era um povo especial, a nação eleita (Deuteronômio 7:6-8), e, por conseguinte, foi-lhe ordenado que se separasse dos ídolos e dos idólatras, do povo pagão e dos maus caminhos. O crente é escolhido ou eleito por Deus, amado, reunido e chamado para uma vida de justiça. Portanto, deverá “separar-se” (e esse é o sentido da “santificação”) da superstição e da religião imaginada ou inventada pelo mesmo homem nos assuntos transcendentais da alma ou do espírito. Separar-se-á dos maus costumes e das más maneiras do mundo e conduzir-se-á como um filho do Rei; separar-se-á das pessoas perversas e imorais, não mais desejando permanecer com elas nos seus pecados, nem se exporá à sua maldade por meio da associação. Deus não Se torna nosso Pai por nos separarmos das associações mundanas, pois é nosso Pai pela graça e adoção pela Sua própria vontade em Cristo, mas cuidará de nós como um pai dos filhos em suas necessidades (Mateus 6:31-33).
4 – A recomendação final de Paulo (7:1)
Paulo faz uma oportuna recomendação final a respeito do exercício da “santificação prática”. Motivados pelas “promessas” que temos, impõe-se que “purifiquemos-nos de toda a impureza, tanto da carne como do espírito”. Devemos nos purificar de toda imundícia que possa corromper o corpo e o espírito, pela graça de Deus (1 Coríntios 5:10), por meio da Palavra (Salmo 119:9-11), com a ajuda do Espírito de Deus, guardando-nos puros, não somente da corrupção carnal, tal como a intemperança, profanidade, desonestidade, impureza sexual, idolatria, mas também dos erros do espírito, tais como a vaidade, a inveja, a cobiça, a malícia, maus pensamentos e justiça própria.
O resultado que Paulo aponta desse tipo de atitude é o “aperfeiçoamento da nossa santidade no temor de Deus”. A nossa vida de obediência deve ser motivada não somente pelo nosso amor de Deus por nós e pelo nosso amor por Ele (2 Coríntios 5:14,15), como também pelo “temor do Senhor” (Provérbios 3:7; 16:6). O temor do Senhor para o crente não é um temor servil ou escravizador, nem temor da ira e do inferno, mas sim uma afeição reverencial como de um filho para com um pai. O temor do Senhor emanado do respeito, da confiança e da dependência dEle e de uma visão para a Sua glória e aprovação (2 Coríntios 5:9).
Conclusão – Consideremos com seriedade o ensino de Paulo. Há que haver, com urgência, uma mudança de atitude, por parte de lideranças chamadas evangélicas e dos que se dizem cristãos, quanto à tolerância à detestável promiscuidade com o mal (pecado), pois a Deus ninguém engana e as consequências dessa atitude rebelde à orientação divina serão funestas, afetando a Obra do Senhor e nos colocando sob a inevitável reprovação de Deus (Isaías 1:11-17).