Revertendo o processo da falência espiritual

“... a maldade do homem se havia multiplicado na terra... era continuamente mau todo o desígnio do seu coração. A terra estava corrompida à vista de Deus... todo o ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra”
Gênesis 6:5, 11 e 12

“De onde procedem guerras e contendas entre vós?”
Tiago 4:1

Falência é uma expressão que anda na ordem do dia. É o que se ouve por toda a parte: “tudo está falido”. Não se refere, apenas, às atividades do meio econômico-financeiro, mas às mais diversas esferas da vida humana, como saúde, educação, família, social, judiciária, moral, política, religiosa e outras tantas que a compõem.

Já nos primórdios da história vemos o ser humano entrando em completa e irreversível falência, pela multiplicação da maldade e pelo contínuo mau desígnio do seu coração. Como afirma Gênesis 6:11 e 12, todo o ser vivente corrompeu o seu caminho da vida levando a terra à corrupção total à vista de Deus. Estabeleceu-se o estado falimentar generalizado. Mas o aspecto espiritual foi o mais deplorável da desastrosa falência do ser humano registrado no referido texto. Isso levou Deus a mandar o dilúvio para destruir a terra. No curso do tempo a situação se tem mantido a mesma e, nos últimos tempos, se agravado sobremodo. Tiago define essa situação como de “guerras e contendas” entre os homens, ou seja, um estado de permanente e desastrosa beligerância com Deus, com o nosso semelhante e conosco mesmos, motivada pelo pecado.

Na sua carta (Tiago 4:1-10), encontramos três aspectos importantes da falência espiritual e dos meios para se obter a reversão do processo falimentar:

1. A origem do problema – Versículos 1-4,7

Aponta Tiago três agentes da falência espiritual do ser humano:

a) “Os prazeres que militam na vossa carne” – v. 1

É uma referência à perniciosa inclinação da natureza carnal do ser humano, que atua forte e insistentemente no sentido de levá-lo ao comprometimento com o pecado para a sua própria satisfação pessoal. A expressão “militam” dá bem o sentido da “guerra” que se estabelece no comportamento do cristão: os prazeres da natureza carnal guerreiam ferozmente contra os sublimes alvos da nova natureza, que visam a nossa maturidade espiritual. Os versículos 2 e 3 demonstram que os prazeres da carne resultam na total falência espiritual, veja as expressões “nada tendes” (por duas vezes), “nada podeis obter” e “não recebeis”. A natureza carnal é inegável. Não podemos ignorá-la. Não devemos dar espaço aos “seus prazeres” para que não sejam anulados os valores espirituais da nova criatura. Cuidado com os “prazeres da carne”! Cultivemos os “prazeres espirituais” na lei de Deus (Veja Romanos 6:12-14; 7:14-15, 22-25).

b) “A amizade do mundo é inimiga de Deus” – v. 4

A “amizade” é uma atitude de grande valor, mas quando voltada para o que é mau torna-se pernicioso instrumento de degradação. Afirma Tiago que o amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.  Isso significa radical falência da espiritualidade. A expressão “mundo” aí tem o sentido de “sistema pecaminoso”. Vivemos no mundo, mas não devemos amar o mundo e o que nele há. Diz João que se alguém amar o mundo, o amor de Deus não está nele. Diz mais, que tudo o que está no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo (1 João 2:15-16). É lamentável ver como o amor do mundo está desvirtuando o cristão e levando a igreja à falência da sua espiritualidade!

c) A ardilosa atuação de Satanás – v. 7

É Satanás um aplicado agente da falência espiritual da nova criatura. Desde a criação do homem, feito à imagem e semelhança de Deus, Satanás se faz presente agindo de forma sutil para levar a criatura humana ao pecado e, consequentemente, à completa falência espiritual.  Não só conseguiu o seu propósito inicial, como tem alcançado o seu danoso propósito de privar-nos do usufruto da abençoada espiritualidade no curso da história. Veja a Pedro 5:8. É claro que só tem conseguido sucesso em sua maléfica agência, porque o homem tem vacilado na atenção necessária que deve ter, para se colocar, sempre, em plena harmonia com Deus e submisso à Sua Soberana vontade, não dando espaço ao inimigo das almas humanas. Por isso, Tiago exorta a que resistamos ao diabo para que Ele de nós fuja. Fazer o contrário é facilitar-lhe a obtenção de seu mau desígnio, o de nossa falência espiritual.

 

 

2. Os agentes da restauração espiritual – Versículos 5 e 6

 

Tiago menciona os dois notáveis agentes da restauração espiritual, a saber:

a) A Escritura

A Palavra de Deus é, e sempre será, o caminho seguro para conduzir o falido espiritualmente à necessária restauração. Como afirma Paulo, em 2 Timóteo 3:14-17, é a Escritura o sopro de Deus que opera o processo notável da capacitação espiritual do filho de Deus, através da informação (ensino); da repreensão (confronto dos desvios de comportamento face ao padrão da Palavra); da correção (adoção do padrão da Palavra para mudar a atitude errada); da educação na justiça (efetiva capacitação espiritual). É assim que a Escritura opera a restauração espiritual dos que espiritualmente estão falidos, habilitando-os para toda a boa obra, como homens de Deus. Como diz Tiago, a Escritura nada afirma “em vão” porque é a Palavra de Deus. Devemos valorizá-la e a ela nos submetermos.

b) O Espírito

Patrimônio incomparável do cristão, o Espírito Santo nele habita para, entre tantas funções preciosas de nível espiritual, operar, naqueles que a isso humildemente se dispuserem, a saída da falência espiritual. O Espírito Santo deseja ardentemente que tenhamos uma manifestação constante de maturidade espiritual, e evidenciemos, sempre, em nosso porte, o Seu poder transformador e restaurador. Veja João 14:16,17,26; 16:13; Efésios 5:18; Gálatas 5:16-26. Devemos abrir espaço para que o Espírito atue como deseja a favor de nossa espiritualidade.

3. Como preservar a espiritualidade (que evita a falência espiritual) – Versículos 7-10

Tiago expõe, com muita clareza, o que é necessário para se preservar a espiritualidade. Por falta de espaço nesta crônica, vamos, apenas, relacionar as sete atitudes necessárias anotadas no texto. Cabe a nós a responsabilidade de preservar a espiritualidade adotando-as com diligência.  Vejamo-las:

a) Submissão ao Senhor

Não basta tê-Lo como Salvador. Deve ser Soberano Senhor.

b) Resistência ao diabo

Como já vimos, é certo que ele nos assedia. Nossa resistência aos seus ataques fa-lo-á fugir.

c) Comunhão com Deus

Diz Tiago que devemos nos chegar a Deus. Quando d’Ele nos afastamos arruinamos a nossa espiritualidade. É notável o exemplo de Enoque que andava com Deus e Deus o levou para Si!

d) Santificação no procedimento

Deve ser ampla e completa. Diz o texto “purificai as mãos” e “limpai o coração” (Salmo 24:3-4).

e) Contrição e penitência

Veja as fortes expressões adotadas por Tiago: “afligi-vos”, “lamentai” e “chorai”. O sincero reconhecimento da culpabilidade do pecado, com profundo sentimento de arrependimento, abre o caminho para a restauração espiritual (veja Provérbios 28:13).

f) Conversão

Para manter a espiritualidade temos que estar dispostos a mudanças de atitudes, mesmo que impliquem em experiências que não nos agradem (“riso em pranto”, “tristeza em alegria”).

g) Humildade

O orgulho anula a espiritualidade. A humildade a alimenta e nos leva a sermos exaltados por Deus.

Conclusão

É triste constatar uma acentuada conformação por parte de muitos cristãos com a sua falência espiritual. Tal quadro é desastroso para o papel que cabe à igreja no contexto do mundo. Deus não quer que seja assim. Para sair dela devemos manter viva a consciência das realidades carnal, mundana e satânica; buscar, nos recursos da Escritura e do ministério do Espírito, que habita em nós, a restauração espiritual, e vivenciarmos ativa e consagradamente as sete atitudes de correta vida cristã, sugeridas por Tiago!

autor: Jayro Gonçalves.