1 Coríntios 16:1-4
Fim de ano torna-se uma época propícia para sérias reflexões sobre Mordomia Financeira por parte do cristão. Parece que Paulo, ao chegar ao termo de sua segunda preciosa carta aos coríntios, já esgotou todos os assuntos que deviam ser esclarecidos, envolvendo grandes temas doutrinários e da experiência cristã.
Pela maneira como começa o capítulo 16, conclui-se que restavam alguns esclarecimentos quanto às ofertas em favor dos pobres (quanto à coleta). Assim, Paulo conclui essa sua importante carta dando orientações para a coleta necessária aos crentes pobres de Jerusalém, esboçando os movimentos que planejou para a sua atuação missionária, com vistas ao melhor aproveitamento do tempo e das oportunidades.
Afinal, como vimos no artigo publicado no Boletim de Obreiros 178, de outubro, Paulo falou acerca de amigos mútuos, como Timóteo, Apolo e outros, encerrando a sua carta com oportunos ensinos sobre nosso relacionamento pessoal cristão. Há assuntos expostos por Paulo neste capítulo, que aparentemente nenhuma relação têm com as nossas necessidades atuais, mas que, na verdade, são de grande utilidade para nós em três áreas: a) mordomia financeira (vs. 1-4); b) mordomia do tempo e das oportunidades (vs. 5-9); c) mordomia do relacionamento pessoal (vs. 10-24). Portanto, vejamos nesta crônica o que Paulo nos ensina sobre Mordomia Financeira.
Na sua profícua atuação, durante a terceira jornada missionária, Paulo não descuidou de ministrar no sentido de ajuntar recursos financeiros para socorrer os crentes pobres em Jerusalém. Tinha alvos, pelo menos, nesse procedimento ministerial:
I) – O primeiro alvo era estimular os crentes gentios a retribuírem, de alguma forma, pelas bênçãos espirituais que os crentes judeus lhes propiciaram (Romanos 15:25-27). Aliás, Paulo houvera, anteriormente, se disposto a “lembrar dos pobres”, por ocasião do conclave realizado em Jerusalém, alguns anos antes; assim agindo, estava, de algum modo, cumprindo a sua promessa (Gálatas 2:10). Paulo não somente pregava o Evangelho, mas também o vivia, dando assistência àqueles que tinham necessidades materiais e físicas. Não se pode definir, com segurança, a origem da pobreza dos crentes em Jerusalém. Alguns pensam que estrangeiros presentes em Pentecostes (Atos 2), quando ouviram a Palavra e se converteram, permaneceram em Jerusalém desempregados, cabendo à igreja cuidar deles. Note que, nos primeiros dias da Igreja, os membros repartiram os seus bens uns com os outros (Atos 2:41-47; 4:33-37). Mas, mesmo assim, os recursos eram limitados. Ocorrera, também, à época, uma grande fome (Atos 11:27-30).
II) - O segundo alvo de Paulo era o de unir os crentes gentios e judeus; Paulo esperava que a manifestação dessa beneficência cristã, como expressão do amor dos crentes gentílicos, ajudasse a curar algumas feridas no relacionamento e a construir liames mais estreitos entre as igrejas dos gentios e dos judeus (veja 2 Coríntios 8 e 9).
Do texto, podemos inferir alguns princípios básicos da mordomia financeira, notando, desde logo, na expressão de Paulo “como ordenei às igrejas da Galácia”, não só a força da sua autoridade apostólica, como os aspectos “imperativo” e “geral” do ensino dado.
1. Contribuir implica em ato de adoração – Não são muitos os crentes que entendem isso e, por isso, prejudicam a sua atitude de adoração. A contribuição é parte de nossa adoração necessária. Cada membro deve chegar à reunião de adoração, no dia próprio, preparado para compartilhar a sua porção ajuntada durante a semana. Temos, no versículo 2, a primeira menção do “dia do Senhor”, que era o domingo (Atos 20:7). Esse é o primeiro documento de prova que mostra que os cristãos guardavam habitualmente aquele dia, embora não haja razão para duvidar que era esse o costume deles desde o primeiro dia mesmo (João 20:19, 26). Era uma comemoração semanal da ressurreição do Senhor, o que indica algo da importância que os cristãos atribuíam ao acontecimento. Note a expressão “cada um”. Ninguém pode se eximir desse ato de adoração! É lamentável ver que os membros das igrejas contribuem por mero dever esquecendo-se de que as nossas ofertas devem ser “sacrifícios espirituais” ao Senhor (Filipenses 4:18). A contribuição é, pois, um ato de adoração ao Salvador ressurreto e assunto.
2. Contribuir deve ser ato sistemático – Paulo afirma “cada um de vós ponha de parte, em casa”. Paulo não pretendia levantar várias ofertas quando chegasse a Corinto, mas que a contribuição já estivesse totalmente pronta quando lá chegasse. Temos aí mais um princípio básico da mordomia financeira. Devemos ser regulares e sistemáticos na maneira de contribuir, como o somos, em geral, na administração e aplicação variada das nossas finanças. Se assim agíssemos, talvez, menores seriam os problemas na obra do Senhor, resultantes da nossa falta nessa área.
3. Contribuir é dever pessoal – Paulo ensinou que “cada membro” participe na contribuição, independentemente de sua condição financeira, seja rico ou pobre. Todos que tenham alguma fonte de renda estão obrigados, perante o Senhor, a exercerem o privilégio de ajudar os necessitados. Paulo desejava que todos, indistintamente, tivessem uma parte nessa bênção.
4. Contribuir com proporcionalidade – Paulo determina que seja “conforme a sua prosperidade”. Não faz referência a “dízimo”, embora seja este uma boa referência para começar o exercício desse dever cristão. Os judeus crentes estariam acostumados a trabalhar com esse conceito, mas não deveríamos permanecer presos a ele. Consoante o ensino de Paulo, à medida que o Senhor nos conceda mais, devemos planejar contribuir com mais. O grande problema é que com o aumento das nossas rendas, normalmente, envolvemo-nos com gastos supérfluos que nos impedem de agir com a proporcionalidade proposta por Paulo, para a obra do Senhor. Temos ideia errada sobre nossas necessidades. Devemos nos contentar com o que temos e não criar níveis acima da necessidade, obrigando-nos a gastos além do que precisamos, absorvendo, com isso, toda a progressiva renda que alcançamos, em sério e pecaminoso detrimento do nosso dever primordial de contribuir de acordo com a nossa prosperidade, para as grandes necessidades do serviço cristão. Em 2 Coríntios 8 e 9, Paulo afirma que a contribuição é uma “graça”, ou seja, a contribuição deveria ser o transbordar da graça de Deus em nossas vidas e não o resultado de promoções ou pressões específicas. Um coração aberto não pode manter uma mão fechada. Se, realmente, apreciamos a graça de Deus, que nos é concedida, devemos, de alguma forma, expressar essa graça compartilhando com as necessidades dos outros.
5. Contribuir é administrar corretamente os fundos – Nos versículos 3 e 4 Paulo dá orientação nessa área, dando normas de correta administração dos fundos. Concluímos, do que aí Paulo diz, que as igrejas envolvidas nessa oferta especial indicaram as pessoas que deveriam ajudar Paulo a administrar a distribuição dos fundos e levar a contribuição ao seu destino, com absoluta segurança (aqueles que aprovardes). Em 2 Coríntios 8:16-24 temos mais informações sobre a comitiva que deu assistência a Paulo. Muitos ministérios, hoje em dia, perdem o seu testemunho, por causa da falha na administração dos fundos, pelos que são responsáveis nessa área, não correspondendo à confiança que lhes foi concedida. Paulo preocupava-se para que não pudesse haver qualquer coisa que viesse a dar ensejo ao inimigo de acusá-lo de roubar fundos (2 Coríntios 8:20,21). Foi por isso que Paulo incentivou as igrejas a participarem na oferta e a selecionarem homens de confiança para representá-las na administração desses bens. Vemos, também, em Romanos 16, que ele mesmo nomeou vários irmãos para assisti-lo pessoalmente nessa área.
Conclusão: Encerrando esta parte do texto, podemos destacar que Paulo fez menção às “ofertas” após ter considerado o assunto da ressurreição. Isso nos ensina que “doutrina” e “dever” andam juntos, assim como “adoração” e “atividades”. Nossa contribuição jamais é feita em vão, pois o nosso Senhor está vivo. É o poder ressurreto dEle que nos motiva a contribuir e servir.