“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”
Mateus 26:41a
Chega fevereiro carregando consigo a intensa agitação carnavalesca. O envolvimento de todas as áreas do contexto humano com o acontecimento é total e completamente irresponsável. Os meios de comunicação ocupam-se amplamente com a promoção do carnaval, exibindo cenas de alta dimensão de imoralidade e despudor. O interesse comercial aproveita a oportunidade para buscar os melhores resultados financeiros para a satisfação do seu voraz e inescrupuloso apetite de lucro fácil. O comportamento humano, de um modo geral, deixa de lado o respeito e a compostura necessária, avançando nas práticas deploráveis e censuráveis.
Tudo isso por conta de uma curta experiência de prazer carnal (carnaval significa “festa da carne”) que, afinal, resulta numa melancólica, tristonha e angustiosa quarta-feira de cinzas! É triste saber que muitos “cristãos descuidados” se deixam levar por essa torrente de pecaminosidade!
Essa ordem de idéias leva-me a considerar “os passos errados de um cristão descuidado”, consoante o exemplo negativo da experiência de Pedro, verificado em alguns textos de Mateus 26:31-75, que levaram o Senhor a lhe fazer, bem como aos seus companheiros, a séria advertência: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (v. 41a). Vejamos:
- OSTENTAÇÃO ORGULHOSA (v. 33) - A “ostentação orgulhosa” de Pedro se denota na pronta, mas leviana resposta dada ao Senhor, ao serem os discípulos advertidos sobre a atitude reprovável que assumiriam em relação à Sua pessoa: “Ainda que todos te abandonem, eu nunca te abandonarei” (v. 33-NVI). Esse foi o primeiro passo do seu lamentável descuido que o levou a uma tremenda queda espiritual. Devemos cuidar para que a nossa “ostentação orgulhosa” não nos traia, dando início ao processo danoso de nossa derrota espiritual. Nunca digamos: “Eu nunca farei isso!”. Paulo adverte: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia!” (1Co.10:12).
- FALTA DE VIGILÂNCIA (v. 41) - O texto mostra como os discípulos foram descuidados ao dormirem quando deviam estar vigilantes, estavam vivendo um momento muito difícil no Getsemani, prestes a enfrentar a ação mais contundente do inimigo. O Senhor exortou-os, fortemente, a ficarem em vigilância. O que fizeram? Dormiram! Ao vê-los assim tão descuidados o Senhor repreendeu duramente a Pedro, que se julgava o líder do grupo: “Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?”. Esse é um passo errado que deve ser evitado para que o processo do fracasso não prossiga. Em 1 Pedro 5:8 podemos perceber que Pedro aprendeu a lição, quando nos ensina: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (Veja Atos 20:30-31).
- FALTA DE ORAÇÃO (v. 41) - A atitude de oração é uma das mais fortes armas para evitar o processo da derrocada espiritual (Ef. 6:18). O Senhor não só os exortou a orar, como deixou o Seu digno exemplo, ao empregar-Se, sozinho e intensamente, na oração ao Pai, na difícil circunstância em que Se encontrava. Ele não podia falhar na execução dos dramáticos lances da Redenção! Estava a um passo do Calvário! O inimigo ali estava para tentar impedi-Lo! Mas a Cruz jamais poderia ser evitada! É no exercício desse passo correto da oração que o Senhor nos ensina a não nos descuidarmos, evitando o processo da queda espiritual.
- SERVIÇO DA CARNE (v. 51) - No confronto definitivo das forças do mal com o Senhor, Pedro cometeu um tremendo descuido ao pretender resolver tudo na base do “serviço na carne”. João assim relata o fato: “Então Simão Pedro puxou da espada que trazia e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita; ... Mas Jesus disse a Pedro: Mete a espada na bainha; não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?” (Jo. 18:10-11). Agir na carne é passo errado; é descuido inadmissível que fortalece o processo do fracasso espiritual! Paulo ensina: “andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl. 5:16).
- SEGUINDO O SENHOR DE LONGE (v. 58) - Grave erro que não se pode cometer sob pena de se comprometer a espiritualidade. Seguir o Senhor de longe é contrariar, frontalmente, o Seu mais adequado ensino para evidenciarmos a condição de verdadeiros discípulos (Lc. 9:23). Dele não podemos nunca nos afastar, pois isso representará fatal equívoco de comportamento cristão. Dele nos afastamos, muitas vezes, porque temos a consciência da sua pronta reprovação quanto ao que pretendemos fazer! É descuido imperdoável que afeta a nossa vida espiritual.
- ESQUENTANDO-SE NO FOGO DO INIMIGO (v. 69) - Pedro não só andou longe do Senhor, aproximou-se do inimigo. Longe do Senhor sentiu frio. Não podemos dispensar o calor da comunhão com o Senhor. Grave erro é buscar o calor do fogo inimigo! Foi o que Pedro fez! Não se pode admitir erro dessa natureza, pois isso nos levará, inexoravelmente, ao fracasso espiritual. Quantos “cristãos”, descuidadamente, nestes dias de largo exercício da paixão carnal, estarão buscando “aquentar-se” no fogo do mundo, destruidor da espiritualidade!
- NEGOU O SENHOR (vs. 70-74) - Afinal, Pedro chegou ao fundo do poço no deplorável processo da sua queda espiritual. No convívio dos inimigos, longe do Senhor, no indesejável aquecimento do fogo estranho, cometeu o erro final do seu descuido, como cristão. Acabou por negar o Senhor! Lamentável! Nestes dias de festividade carnal, muitos estarão a fazer o mesmo. Como culminância do funesto processo da sua derrocada espiritual estarão sendo levados a “negar o Senhor”! Cuidemos para que não cometamos mais esse grave erro no nosso testemunho cristão.
Apesar dos sete passos errados que Pedro deu, pelo seu fatal descuido, e que o conduziram ao pontual fracasso espiritual, o Senhor foi buscá-lo e o restaurou. Mas a restauração só foi possível porque ele atendeu, humildemente, ao desafio do Senhor. Leia João 21:15-19. Pedro O seguiu com fidelidade. O triste quadro da sua derrota espiritual transformou-se em honrosa evidência de útil instrumentação no eterno propósito de Deus da fundamentação da Igreja de Cristo na terra.
Cuidemos, pois, para que as “festas da carne” não nos conduzam a passos errados e anulem a nossa espiritualidade!