“Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos”
João 8:31
Neste mês, em que se comemora tradicionalmente o Natal, nada melhor do que lembrar o desejo ardente do Senhor Jesus no sentido de que Ele seja muito mais “realidade em nós”. Que a nossa experiência de comunhão constante com Ele, operada pela Palavra de Deus em nós, proclame bem alto o valor do evento de grande repercussão mundial: o Seu nascimento. Esse é o seu desejo maior definido claramente no texto acima: “se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos” (João 8:31).
O ser discípulo verdadeiro manifesta, de maneira incontestável, a realidade de Cristo em nós. Lembremos que foram exatamente os discípulos que, em Antioquia, foram pela primeira vez chamados cristãos (Atos 11:26). No mesmo verso encontramos a razão desse fato auspicioso: “e por todo um ano, se reuniram naquela igreja e ensinaram numerosa multidão”. Constatamos aí a importância da Palavra de Deus como fator operante da “realidade de Cristo em nós”.
O assunto é oportuno, também, quando se sabe que os cristãos celebram neste mesmo mês (segundo domingo) o tradicional “Dia da Bíblia”. Cristo será muito mais “realidade em nós” quanto mais cresçamos no conhecimento da Palavra de Deus. Este conhecimento só se alcança na medida em que nos apliquemos correta e constantemente ao seu estudo sistemático.
Há muitos crentes que tiveram, numa determinada fase de sua vida, muito interesse e entusiasmo pela Palavra de Deus e depois se afastaram pouco a pouco dela. A Palavra de Deus precisa estar sempre sendo estudada.
Vejamos algumas razões porque precisamos estudar a Palavra de Deus para a experiência constante de comunhão com Cristo e evidência da Sua realidade em nós:
1– É importante que estudemos e memorizemos a Palavra de Deus, porque pela Palavra de Deus somos salvos (1 Pedro 1:23).
2 – Pela Palavra de Deus somos lavados do pecado (Gálatas 1:9-11; João 3:16). Alguém disse: “ou esse Livro me guardará do pecado, ou o pecado me guardará deste Livro”.
3 – Pela Palavra de Deus somos alimentados (1 Pedro 2:2). A Palavra de Deus é para a alma o que o alimento é para o corpo (Mateus 4:4).
4 – A negligência para com a Palavra de Deus acarreta destruição da vida espiritual de qualquer povo (Provérbios 29:18; Oséias 4:6).
5 – Pela Palavra de Deus estamos habilitados para dar um testemunho fiel aos outros (1 Pedro 3:15). O crente ignorante acerca da Palavra de Deus fica confuso diante do incrédulo e incapaz de se defender.
6 – Pela Palavra de Deus estamos preparados para o serviço (Romanos 10:17; 2 Timóteo 3:16-17; 2:15; Hebreus 4:12). Não é tanto a sabedoria deste mundo que necessitamos, mas o conhecimento da Palavra de Deus, se desejamos bom êxito na conquista das almas.
7 – Pela Palavra de Deus o tipo de nobreza mais alto no mundo é desenvolvido (Atos 17:11). A memorização das Escrituras nos leva aos altos ideais de caráter porque nos familiariza com os pensamentos dos grandes servos de Deus.
8 – Pela Palavra de Deus alcançamos o desenvolvimento da vida cristã (Salmo 1:2,3).
9 – Pela Palavra de Deus somos capazes de atingir real êxito na vida (Josué 1:8).
10 – Pela Palavra de Deus estamos capacitados para enfrentar as tentações de Satanás (Efésios 6:11,17).
Muitos sucumbem a qualquer ataque do maligno porque não estão preparados com a Palavra de Deus no coração. Jesus Cristo não argumentou com Satanás, ao contrário, cada vez que foi tentado Ele respondeu com “está escrito”, citando uma passagem das Escrituras.
A história do povo de Israel exemplifica, de modo expressivo, a importância da Palavra de Deus na sua restauração espiritual. Em Neemias, capítulos 8 e 9, verificamos até que ponto a Palavra pode modificar as coisas em nós. Esses capítulos revelam sete atitudes do povo de Israel, pertinentes à Palavra de Deus. Tornaram-se a razão de uma transformação historicamente notável. Vejamos:
1 – “Todo o povo se ajuntou como um só homem... e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro” (v. 8). Vemos aí o “interesse” do povo pela Palavra. Se não manifestarmos interesse pela Palavra, ela nada pode fazer por nós, em nós e para nós.
2 – “Todo o povo tinha os ouvidos atentos ao livro” (v. 3). Vemos aí a “atenção” do povo a todo o conteúdo da Palavra. É muito comum lermos a Palavra de Deus por mera formalidade, desatentos ao seu sagrado conteúdo. A atenção é tanto mais necessária quanto mais queremos torná-la transformadora do nosso caráter.
3 – “Todo o povo se pôs em pé” (v 5). É notável a manifestação de “respeito” do povo para com a Palavra de Deus. Essa atitude se impõe pois ela é a Verdade. O nosso respeito para com a Palavra significa a nossa reverência a Deus.
4 – “E todo o povo respondeu: Amém! Amém!” (v. 6). Temos aí a incondicional “aceitação” do povo acerca de tudo o que lhe foi dito da Palavra de Deus. As contingências do mundo estão levando muitos cristãos a aceitarem parcialmente a Palavra de Deus. A Bíblia não apenas contém a Palavra de Deus, como afirmam alguns teólogos “neomodernos”, mas é, na sua totalidade, a Palavra de Deus, pois resulta do sopro divino aos escritores humanos. É ela, na sua integridade, totalmente inspirada (2 Timóteo 3:14-17). Aceitá-la, apenas, naquilo que não contradiz aos nossos interesses e conveniências é recusá-la. É preciso que a Palavra fale; mas também é preciso que a aceitemos, integralmente, mesmo naquilo em que nos reprove, repreenda e corrija.
5 – “E o povo estava no seu lugar” (v. 7). Vemos, nessa atitude do povo, a “constância” de sua permanência ao redor da Palavra de Deus. Como já dissemos antes, muitos crentes têm períodos em sua vida de grande apego à Palavra de Deus, mas tornam essa experiência intermitente, pois, por circunstâncias adversas, dela se afastam, deixando de usufruir do privilégio do seu ensino precioso. A constância no estudo da Palavra de Deus é imperiosa para que Cristo apareça cada vez mais em nossa própria vida.
6 – “O povo se ajuntou com jejuns e pano de sacos e trazia terra sobre si... se apartaram de todos os estranhos... fizeram confissão de pecados” (9:1-3). A Palavra de Deus reflete como espelho tudo o que somos, mostra-nos o que toma o lugar de Cristo e tudo o que é pecado e que não agrada a Deus. Leva-nos, por isso, naturalmente, a necessária atitude de “confissão” de pecados. Não é crível que alguém se diga estudioso da Palavra de Deus e não passe pela experiência da confissão. Ela manifesta, a cada estudioso, algo que nele não deve existir. Motiva-nos a irrecusável atitude de confissão para que alcancemos a santificação.
7 – “Todo o povo adorou o Senhor Deus” (9:3). É o outro resultado exponencial, na experiência cristã, da influência transformadora da Palavra de Deus na vida daquele que se aplicar no seu estudo: a “adoração”. A adoração é a experiência mais alta e sublime da manifestação humana para Deus, como resultado da misericórdia e da graça de Deus a nosso favor. É o almejo maior de Deus por parte do redimido. Marca, na sequência das experiências sucessivas de caráter espiritual, o ponto culminante. A Palavra de Deus nos conduz à adoração verdadeira.
Aí estão as “sete atitudes” que o povo de Israel adotou como resultado de buscar sinceramente o conhecimento mais amplo daquilo que Deus lhes tinha revelado na Sua Palavra.
Há dois sustentáculos irremovíveis da Palavra de Deus: (1) Ela é ETERNA, a Palavra de Deus dura para sempre (Isaías 40:8); (2) Ela é a VERDADE (João 17:17), portanto infalível (João 10:35). Por isso ela “é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra” (2 Timóteo 3:16-17).
Conclusão – Se quisermos tornar evidente a “realidade de Cristo em nós”, temos que nos empregar no estudo correto da Palavra de Deus. Sigamos o bom exemplo do povo de Israel, na histórica experiência dos tempos de Neemias.