“... ele é o pai de todos os que creem... Ele é o pai de todos nós. Como está escrito: Eu o constitui pai de muitas nações. Ele é o nosso pai aos olhos de Deus, em quem creu”
Romanos 4:11,16,17-NVI
Neste mês festeja-se no Brasil o “dia dos pais”. Esse evento, destacando a importância da figura do ”pai”, no contexto da sociedade humana, levou-me a pensar em Abraão. Foi chamado por Deus para ser “pai de numerosas nações” (Gênesis 17:4). Disse-lhe, então, o Senhor: “Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão: porque por pai de numerosas nações te constitui” (v. 5). Não houve, não há e nunca haverá na terra um ser humano com tantos filhos!
Paulo se reporta ao fato para nos ensinar sobre o valor da fé. Romanos 4 deixa claro que Abraão fez jus a essa privilegiada e incomparável condição, pela manifestação da vontade exclusiva e Soberana de Deus, porque nEle creu. Não a obteve por qualquer solene proclamação de autoridade temporal, mas por determinação divina, à vista da sua inusitada manifestação de fé, crendo incondicional e irrestritamente nas promessas de Deus.
Ao se referir ao fato, Paulo esclarece que tal excepcional filiação (filhos de Abraão) foi adquirida unicamente pela fé, exercida tanto pelos incircuncisos (não judeus) como pelos circuncisos (os judeus), que não somente são circuncisos, “mas também andam nos passos da fé”. Por isso afirma: “Portanto, ele é o pai de todos os que creem” (Romanos 4:11 e 12). A bênção conferida por Deus a Abraão, porque creu, é estendida a todos os Seus filhos, porque creem (Gênesis 12:1-3).
A extraordinária história da vida de Abraão se deve ao seu digno exemplo de fé, evidência fundamental do seu comportamento humano. Em Romanos 4:18-25 Paulo põe em destaque sete características desse digno exemplo de fé, para nos estimular a também adotá-las em nossos passos de fé.
Na verdade, como afirmado em Hebreus, ”sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11:6). Pela fé obtemos bom testemunho (vs. 1 e 39), que é a atitude de vida que Deus mais espera dos Seus filhos; ela nos faz entender as verdades reveladas pela Palavra de Deus (v. 3), ainda que aparentemente absurdas, sendo o melhor suporte para o exercício correto da razão humana. Por isso a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos (v. 1). E nos conduz à abençoada atitude de completa obediência e submissão ao Senhor, como fez Abraão, quando chamado (v. 8).
Vejamos as sete características evidenciadas no digno exemplo de fé do pai Abraão:
1. A FÉ É A EXPECTATIVA CERTA DO IMPOSSÍVEL – “Abraão, esperando contra a esperança, creu” (v. 18 NVI). Cumprir o que Deus prometia a Abraão, do ponto de vista humano, era absolutamente impossível em razão das irreversíveis condições pessoais dele e da sua esposa, nenhuma esperança poderia haver de que pudesse ter muitos filhos e se tornar uma grande nação. Mas Abraão creu em Deus e isso mudou totalmente o quadro. A sua fé fez com que ele tivesse esperança, contra a esperança! Abraão creu em Deus, embora essa promessa fosse impossível de se cumprir. E porque a sua fé era forte, ele nem se preocupou com o fato de que já era velho demais para ser pai, na idade de 100 anos, e que Sara, sua mulher, aos 90 anos, também era velha demais para ter filhos. Para Deus tudo é possível (Mateus 19:26). Veja Mateus 17:20, 21:21. A fé é a expectativa certa do impossível. Mantenhamos a fé sempre viva e forte, alimentando a esperança das realizações dos fatos humanamente impossíveis, porque podem ser viabilizados por Deus!
2. A FÉ É INCOMPATÍVEL COM A DÚVIDA – “mesmo assim, não duvidou” (v. 20 NVI). Do ponto de vista humano, Abraão teria tudo para pôr em dúvida o que Deus lhe prometia. Como vimos antes, as circunstâncias da sua condição humana, bem como as de sua esposa, eram flagrantemente contrárias à viabilidade do cumprimento das promessas do Senhor. Duvidar em tais circunstâncias não seria anormal. Mas ele não se deixou levar pela dúvida. Ele creu. Não se deixou levar pela incredulidade. A dúvida anula a fé. O Senhor Jesus recriminou, fortemente, a dúvida manifestada por Tomé sobre o glorioso fato da Sua ressurreição, a ele divulgado pelos seus companheiros. Disse-lhe, então, o Senhor: “não sejas incrédulo, mas crente. Porque me viste creste? Bem-aventurado os que não viram e creram” (João 20:27-29). A atitude incrédula de Tomé lhe valeu o estigma de “o discípulo duvidoso”. A Fé é incompatível com a dúvida. Não permitamos que a dúvida sobre o que Deus nos fala pela Sua Palavra nos leve à incredulidade, anulando o exercício da nossa fé!
3. A FÉ VALORIZA A PALAVRA DE DEUS – “nem foi incrédulo em relação à promessa de Deus” (v. 20-NVI). A Fé autêntica pressupõe base segura. A base segura e eficaz da nossa fé é a Palavra de Deus. Nela encontramos as promessas do Senhor que nos asseguram o resultado positivo da fé que nelas depositamos. A fé não se recusa a enfrentar a realidade, mas ultrapassa todas as dificuldades, olhando para Deus e Suas promessas. A Palavra de Deus é a Verdade (João 17:17). Abraão ouviu do Senhor promessas indizíveis, através das quais seria constituído pai de numerosas nações. As circunstâncias não favoreciam qualquer viabilidade de cumprimento das mesmas. Mas ele valorizou a palavra de Deus, crendo firmemente no que o Senhor lhe falou. A fé operante valoriza a Palavra de Deus! A nossa fé deve ser o resultado da valorização do que Deus nos fala pela Sua Palavra. Devemos mantê-la firme nas promessas do Senhor!
4. A FÉ É UMA EXPERIÊNCIA DE PODER – “pela fé, se fortaleceu” (v. 20). Porque Abraão creu, teve extraordinária manifestação do poder de Deus em sua experiência de vida abençoada. Quando andamos no exercício da fé somos revestidos do poder de Deus para as realizações múltiplas da atuação do Onipotente através de nós. A fé abre o espaço que o Senhor quer ter para a ampla atuação do Seu poder em nós e através de nós. Esse suprimento valioso da nossa espiritualidade é o Espírito Santo que em nós habita (João 14:16-17). Paulo, incomparável homem de fé (disse ao fim de sua vida: ”guardei a fé” – 2 Timóteo 4:7), em circunstâncias de vida adversas e opressoras (na prisão), afirmou: “tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). O poder que experimentava em tais circunstâncias era o resultado de sua firmeza de fé. Orou pelos efésios: “para que... vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé” (Efésios 3:16-17). A essa mesma igreja disse: “sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” (Efésios 6:10). Como? Paulo informa: “embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (v. 16). João ensina: “esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 João 5:4). O Senhor Jesus ensina: “Tudo é possivel ao que crê” (Marcos 9:23). A fé é uma experiência de poder! Busquemo-lo, exercitando constante e corretamente a nossa fé, para tê-lo como útil suprimento de uma vida espiritual vitoriosa!
5. A FÉ GLORIFICA O SENHOR – “dando glória a Deus” (v. 20). Abraão deu glória a Deus porque tinha fé que Deus cumpriria as Suas promessas. Enquanto as obras são as tentativas humanas de reivindicar direitos sobre Deus, a fé dá glória ao Seu Nome, pela segurança inquestionável do seu fiel cumprimento. O exercício da fé realiza a vocação do cristão, que é a de glorificar a Deus. Deus é Glória e nos criou à Sua imagem e semelhança para que O glorifiquemos. No Salmo 8 lemos que fomos feitos um pouco menor do que os anjos e de glória e honra coroados (v. 5). O pecado nos destituiu dessa glória e nos impediu de glorificar a Deus (Romanos 3:23). Mas, como novas criaturas, somos recapacitados a glorificá-Lo. Em 1 Coríntios 6:19-20, Paulo nos adverte que somos o santuário de Deus e que o Espírito Santo habita em nós. Não nos pertencemos mais, pois fomos comprados por preço. Devemos, por isso, cumprir a vocação restaurada pela Graça, glorificando a Deus através de nossos corpos. Pela fé nos tornamos novas criaturas e, vivendo no exercício da fé, somos levados a glorificar o Senhor. Por isso dizem as Escrituras que “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11:6). E a melhor maneira de agradá-Lo é glorificá-Lo! A Fé glorifica o Senhor! Façamos de nosso corpo um instrumento permanente de Glória para o Senhor, através do exercício correto de nossa fé!
6. A FÉ TRAZ CONVICÇÃO – “estando plenamente convicto de que Ele era poderoso para cumprir o que prometera” (v. 21). A Fé traz convicção do poder realizador de Deus, através de nós. Abraão era um homem que tinha plena convicção do poder realizador de Deus através de sua vida. Ele estava absolutamente certo de que o Senhor tinha todo o poder para fazer qualquer coisa que prometesse, envolvendo a sua pessoa humana. Nada esperava que acontecesse como resultado de sua própria e exclusiva capacidade. Não era autossuficiente nem autoconfiante. A sua fé era incompatível com tal atitude presuntiva. Deus poderia usar os seus recursos pessoais, mas a convicção que resultava da sua fé era de que tudo somente se realizaria a contento pela direta operacão do poder de Deus na sua atuação humana. Essa convicção era plena. Isso chama-se dependência total do Senhor (veja Hebreus 11:8-9). Essa característica de sua fé foi uma notável antecipação do princípio ensinado por Jesus Cristo aos seus discípulos a respeito desse assunto. Disse o Senhor: “sem mim nada podeis fazer” (João 15:5). A Fé traz convicção do poder realizador de Deus, através de nós! Vivenciemos a Fé de forma ampla, para que seja essa a nossa convicção, a serviço do Senhor!
7. A FÉ OPERA A JUSTIFICAÇÃO – “em consequência, isso lhe foi creditado como justiça” (vs. 22-25). A fé nos capacita à prática da justiça. Um dos grandes benefícios de ordem espiritual que Abraão usufruiu foi o de ter sido chamado “justo”, pois creu na obra redentora de Cristo, que justifica aquele que nela crê, séculos antes dela ter ocorrido! Essa extraordinária atitude de fé não só o justificou como o fez capaz de, pela fé, viver na justiça. A expressão “justiça”, na Bíblia, significa o “padrão de Deus” para o nosso viver. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus para vivermos na justiça, isto é, no Seu padrão. O pecado nos desajustou, tornando-nos injustos. Perdemos também, por isso, a capacidade para vivermos na justiça. Pela Graça de Deus, através da Obra redentora no Calvário, foi-nos aberta a possibilidade de sermos declarados “justos” (justificação) e capacitados a vivermos na justiça. Paulo afirma: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1). Em Romanos 4:23-24 (NVI), Paulo diz: “As palavras “lhe foi creditado” não foram escritas apenas para ele, mas também para nós, a quem Deus creditará justiça, a nós que cremos”. A fé opera a justificação e nos capacita à prática da justiça! Louvemos a Deus pela justificação obtida pela fé. Mas vivamos em correta e permanente atitude de fé, para sermos capacitados a vivermos na justiça!