O Senhorio De Cristo - 2

“Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque EU O SOU”
João 13:13

No primeiro artigo dos três que elaboramos sobre O Senhorio de Cristo, consideramos o “Conceito Bíblico do Senhorio de Cristo”. Vejamos, neste segundo artigo:

OS FUNDAMENTOS DO SENHORIO DE CRISTO

O Senhorio de Cristo está amplamente fundamentado nas Escrituras com cristalina clareza e fácil compreensão no processo notável da regeneração do pecador. O reconhecimento do Senhorio de Cristo pelo regenerado é prova irrefutável da sua efetiva regeneração. Já contemplamos, nos aspectos conceituais do Senhorio de Cristo, como o plano eterno de Deus, através da notável Obra da Redenção, visava, como resultado final, a capacitação espiritual do regenerado para servi-Lo. Vejamos, agora, três fundamentos básicos do Senhorio de Cristo, que decorrem do próprio processo da regeneração:

  1. RAZÃO SUPERIOR OU DETERMINANTE - Em Atos 2 temos o comovente relato histórico do início da gloriosa Igreja, corpo de Cristo, a qual temos o honroso privilégio de pertencer. Vemos aí o início da nossa história eclesiástica.                                                                                    

    O notável evento ocorreu cumprindo as predições e orientações claras do Senhor Jesus aos Seus discípulos, em Lucas 24:44-49 e Atos 1:6-11. O Senhor Jesus expôs-lhes, com clareza, o soberano querer do Pai sobre o início e a expansão da Igreja através do fiel testemunho que, irrecusavelmente, deveriam dar acerca das verdades evangélicas, atuando na efetiva operação do Espírito, no tempo determinado por Deus.

    Em Atos 2 vemos o cumprimento desse plano. No poder atuante do Espírito, o apóstolo Pedro foi o porta-voz fiel de Deus, na exposição poderosa da mensagem do Evangelho, ao auditório representativo de todas as partes do mundo, reunidos em Jerusalém, no dia de Pentecostes. O resultado final desse histórico e inusitado evento do cristianismo, que marca o alvorecer de sua existência em toda a terra, foi a regeneração de milhares de pessoas para a glória do Senhor!

    A mensagem pregada por Pedro é de conteúdo incomparável! Que mensagem! Como aprendemos nas Escrituras, a regeneração é operação exclusivamente espiritual, cujos agentes efetivos são a Palavra pregada e o Espírito Santo atuante. E foi no final da pregação dessa gloriosa mensagem evangelística que o Senhorio de Cristo é categoricamente afirmado, fundamentando-se no extraordinário processo da regeneração então evidenciado.                            

    Pedro fecha a pregação com a seguinte expressão: “Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que este Jesus, que vós crucificaste, Deus o fez Senhor e Cristo” (Atos 2:36). Note que aí Pedro ultima a poderosa mensagem regeneradora do Evangelho com a declaração peremptória do querer irrecusável de Deus sobre o Senhorio de Cristo (“Deus o fez Senhor”). Jesus Cristo deve ser Senhor porque assim Deus o determina. Essa é a razão “superior ou determinante” do Senhorio de Cristo.                                                                                 

    O Apóstolo Paulo nos transmite esse precioso ensino em Filipenses 2:9-11 ... “Deus O exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo o nome, para ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, no céus, na terra e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é SENHOR, para glória de Deus Pai”.
  2. RAZÃO OBJETIVA - O Senhorio de Cristo é, também, resultante da própria atuação Redentora de Cristo. Por ser Ele o Salvador deve ser o Senhor. O Senhorio de Cristo resulta “do que Ele fez por nós”, aceitando o Calvário, lugar da expiação do nosso pecado e da satisfação da Justiça de Deus, perdoando-nos, justificando-nos e liberando-nos da condenação eterna, “e para nós” deixando o túmulo vazio que nos garante a segurança da ressurreição e da transformação do nosso corpo de corruptível em incorruptível, imortal e glorioso, na esperada volta do Senhor, para arrebatar a Sua igreja – 1 Tessalonicenses 4:13-18.

    O Senhorio de Cristo revela-se evidente e inconfundível através do Seu rico ministério e da Sua eficaz, definitiva e eterna Obra de Salvação do pecador perdido, efetuada em perfeita consonância com os planos de Deus Pai. Assim, constata-se, inconfundivelmente, que Ele deve ser Senhor porque é Salvador.                                                                                                         

    O que podemos contemplar de sobejo, objetivamente, na Sua preciosa atuação Salvadora, leva-nos, irreversivelmente, a declarar e reconhecer o Seu Senhorio. Por isso chamamos a esse fato notável da manifestação da Graça de Deus de “razão objetiva” do Senhorio de Cristo. É o que vemos solenemente declarado pelo repórter angelical, anunciando aos pastores, nas plagas de Belém, o nascimento do Senhor Jesus: “hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, O Senhor” (Lucas 2:11). Já aí, no Seu nascimento, Deus proclama, solenemente, o Senhorio de Cristo, pelo fato de que Ele é o Salvador.

    No Evangelho de João, escrito para demonstrar a Divindade de Cristo e desfazer o erro que os gnósticos procuravam introduzir no seio da Igreja, negando-lhe a divindade, vemos o Senhor Jesus afirmando o Seu Senhorio Divino, atribuindo-Se o sublime nome YHWH (Jeová) que significa “O Deus Eterno” que redime o homem perdido. Esse nome divino, traduzido nas Bíblias pela palavra “Senhor”, que aparece cerca de 6.823 vezes no Velho Testamento, enfatiza a auto-existência ativa e dinâmica de Deus, referindo-se ao Redentor de Israel associado à Sua Santidade (Levítico 11:44-45), ao Seu ódio contra o pecado (Gênesis 6:3-7) e à Sua bondosa provisão de Redenção (Isaías 53:1,5,6 e 10). Em sucessivas e notáveis declarações do Senhor Jesus Ele utiliza a expressão “EU SOU”, que corresponde ao nome de Deus Jeová (YHWH), para Se declarar o divino Senhor, isto é o Deus eterno que redime o pecado, como vemos em João 6:35 (Pão da Vida); 8:12 (Luz do mundo); 10:9 (a Porta); 10:11 (o Bom Pastor); 11:25 (a Ressurreição e a Vida); 14:6 (o Caminho, a Verdade e a Vida); 15:1 (a Videira verdadeira) e João 8:58 (antes que Abraão existisse, EU SOU).                                            

    Em todas essas declarações o Senhor Jesus Se afirma o Divino Senhor (EU SOU) e descreve, sob diferentes aspectos, a Obra da Redenção que efetivou! Ilustra bem esse fato a experiência de Tomé, o que duvidou da declaração dos companheiros, que lhe disseram “Vimos o Senhor”. Ao ver, depois, o Senhor Jesus ressuscitado, de cuja ressurreição ele duvidara, e as Suas mãos traspassadas e o Seu lado ferido, marcas da nossa Redenção, não se conteve e declarou solenemente: “Senhor meu e Deus meu”. Temos ai, bem exemplificada, a “razão objetiva” do Senhorio de Cristo. A pronta resposta do Senhor a Tomé enfatizou a bem-aventurança dos que, mesmo não vendo pelos olhos físicos as marcas da Redenção, podem objetivamente contemplá-la pelos olhos da sua Fé, ao afirmar: “Bem-aventurados os que não viram e creram”. Dirão, então, estes, com toda a força da sua alma: “Senhor meu e Deus meu”.

    Paulo ensina sobre o reconhecimento necessário do Senhorio de Cristo, pela “razão objetiva”, ao afirmar: “ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo, se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte de cruz. Pelo que Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu um nome que está acima de todo o nome” (Filipenses 2:6-9).
  3. RAZÃO SUBJETIVA – A “razão subjetiva” do Senhorio de Cristo define-se pelo nosso inevitável reconhecimento do que o Senhor “está fazendo em nós”. Uma vez redimidos pela Graça do Senhor e feitos novas criaturas por já estarmos em Cristo, devemos passar a experimentar uma real transformação, de nível espiritual, com notórios reflexos positivos na nossa manifestação de vida comportamental. Por isso Paulo diz que, como novas criaturas, “as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios 5:17).                                         

    Embora continuemos a possuir a velha natureza, habitados e operados pelo Espírito Santo, devemos manifestar um comportamento totalmente diferente, pois passamos a ter um “viver cristão” que deve evidenciar o caráter do Senhor Jesus. Maria Madalena, da qual o Senhor expulsara sete demônios, passou a chamá-Lo de “Senhor” em vez de chamá-Lo pelo nome “Jesus”, que era o nome que recebeu para identificar-Se como pessoa humana. Depois de encontrar-se com Jesus Cristo ressuscitado, citou o fato aos discípulos dizendo: “Vi o Senhor”. O que Jesus Cristo nela operara, mudando a sua triste condição de pecadora, a induziu a se referir a Ele, sempre, como “Senhor”.                                                                                

    Saulo de Tarso, filósofo e teólogo, recusava-se, convictamente, a aceitar que Cristo fosse o Ungido de Deus para a salvação dos pecadores e o fato da ressurreição de Jesus Cristo; era ferrenho perseguidor dos cristãos. Mas quando foi surpreendido com a presença de Jesus Cristo ressuscitado, prostrado na terra, vendo-O pessoalmente, experimentou, de logo, uma radical transformação nas suas equivocadas convicções, e, por isso, a Ele dirigiu-se, prontamente, perguntando: “Quem és Senhor?” (Atos 9:5); e, face ao que d’Ele ouviu, perguntou mais: “Que queres que faça Senhor?” (Atos 22:10). O que Cristo logo operou no íntimo de Saulo, transformando-o completamente, induziu-o a referir-se sempre a Ele como “Senhor”, tendo-O como tal em todo o seu extraordinário ministério. Por isso, afirmou mais tarde: “Para mim o viver é Cristo” (Filipenses 1:21) e “Não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20).

    Uma das razões fundamentais do Senhorio de Cristo é, pois, o inevitável reconhecimento dos redimidos pelo que o Senhor está fazendo em nós. Por isso denomina-se “razão subjetiva”.

À luz dos fundamentos do Senhorio de Cristo acima expostos, entendemos bem o significado do que o Senhor Jesus disse aos Seus discípulos em João 13:13 ... “Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque EU O SOU!”

autor: Jayro Gonçalves.