Colossenses 2:6-7
No texto acima, o apóstolo Paulo aborda um tema que demonstra ser de notória atualidade na experiência da vida eclesiástica. Nele o apóstolo manifesta o seu grande desejo de ver o processo do progresso espiritual operando nos colossenses. O tema tem a ver com o confronto da “religiosidade” com a “espiritualidade”. Representa esse confronto, no contexto da vida eclesiástica, desde os primórdios da Igreja, um sério problema para o processo do progresso da sua “espiritualidade”. Constatamos, mais do que nunca, a realidade dessa grave situação nos dias que correm. O grande problema atual na vida da Igreja é a sua acentuada “religiosidade” em lugar da necessária “espiritualidade”.
Deus quer “espirituais”, não “religiosos”. Ilustra bem essa assertiva o registro em 1 Samuel 16:7, palavra solene do Senhor ao profeta Samuel, por ocasião da escolha daquele que deveria ser o sucessor do rei Saul, já por Ele recusado: “...o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração”. “Religiosidade” é aquilo que o exterior evidencia, com ausência de “autêntica espiritualidade”, no comportamento do cristão. Nesse sentido temos o ensino de Pedro: “seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível de um espírito manso e tranqüilo, que é grande valor diante de Deus” (1 Pedro 3:4). Paulo se reporta à triste realidade da falta de “espiritualidade” da igreja em Corinto, quando afirma: “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais” (1 Coríntios 3:1). Onde há “carnalidade” não há “espiritualidade”; apenas mera “religiosidade”.
“Espiritualidade” é um processo dinâmico que pressupõe “progresso”; deve ser crescente e não tem limites. Alcança-se a “espiritualidade” com atitudes “espirituais”. Note em 1 Pedro 2:1:2 os verbos “despojai-vos” (dos pecados) e “desejai” (o genuíno leite espiritual).
Como se desenvolve o processo do “progresso da espiritualidade”? Temos a resposta no que Paulo ensina em Colossenses 2:6-7:
1 – O início do processo do progresso espiritual – “recebestes a Cristo Jesus, o Senhor”. Consoante João 1:12, “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber aos que crêem no seu nome“. O “receber a Cristo” acontece com o sincero exercício da fé no nome do Senhor Jesus, opera a “nova vida” e, conseqüentemente, o início da “espiritualidade” (2 Coríntios 5:17). Receber a Jesus Cristo não significa uma adesão formal, mas uma entrega total ao seu “Senhorio” (veja o texto: “recebestes a Jesus Cristo, O SENHOR”). Não é tê-Lo como um visitante ilustre, ou uma companhia eventual; nem um arrimo oportuno nos momentos de dificuldades e de carências físicas ou materiais supervenientes. Não é só recebê-Lo como “Salvador”, mas, também, como o “Senhor” absoluto do nosso “ser”, “fazer” e “estar”. Veja Romanos 14:9, Filipenses 1:20-21 e Gálatas 2:20.
2 – O desenvolvimento do processo do progresso espiritual – “assim andai nele”. O verbo “andar” tem o sentido de locomoção física, mas é usado amplamente na Bíblia para ilustrar o caráter de alguém, ou seja, o seu modo de “ser”, “de fazer” ou “de estar”. Veja Efésios 4:1; 5:15. Assim, “andar nele”, no ensino de Paulo, define o indispensável desenvolvimento do processo do progresso espiritual no comportamento do cristão, no mais amplo sentido. Significa identificar-se com Cristo em toda a manifestação do seu caráter. Isso se constata claramente no exemplo de Paulo quando afirma: “para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1:21). Veja 2 Coríntios 2:14-16, 3:18. Identificar-se com Cristo é:
- Andar segundo o Seu ensino – Mateus 11:29, “aprendei de mim”
- Andar seguindo o Seu exemplo – Lucas 9:23, “siga-me” (1 João 2:6; 1 Pedro 2:21)
- Aceitar a Sua Soberania – João 15:5, “sem mim nada podeis fazer”
3 – Os fatores do processo do progresso espiritual – “nele radicados, e edificados, e confirmados na fé”. Paulo menciona aí três fatores do processo do progresso espiritual:
- Radicados – Esse verbo nos leva à expressão “raiz”, e fala da base na qual se fundamenta o processo do progresso espiritual do cristão: a obra de Cristo (o Calvário e o túmulo vazio) que viabilizou a nossa Redenção e se tornou, por isso, em importante fator desse processo de progresso espiritual. O pecado levou o homem à morte espiritual. A nossa fé na obra da Redenção faz-nos nascer de novo e readquirir a vida eterna, revitalizando-nos espiritualmente. Veja João 10:10; 5:24; 11:25-26; 14:19.
- Edificados – Esse verbo nos fala do edifício que o processo do progresso espiritual constrói para ser, como diz Paulo, em Efésios 2:21-22, o “santuário de Deus”. A estrutura desse edifício é o “fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular, no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor”. Constata-se aí o valor da Palavra de Deus como fator do processo do progresso espiritual.
- Confirmados – Esse verbo conduz-nos à idéia de acabamento, ou seja, o nível mais alto do processo do progresso espiritual. Esse nível é alcançado pela operação plena do Espírito Santo, que se torna importante fator do processo do progresso espiritual. Veja João 14:1-6,17,26, 16:13; Efésios 5:18 (“enchei-vos do Espírito”).
4 – As evidências do processo do progresso espiritual – “tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças”. Paulo identifica aí três preciosos resultados do processo do progresso espiritual:
- A instrução – O processo do progresso espiritual conduz o cristão ao discernimento espiritual e passa pela informação correta (conhecimento), pela aplicação prática do conhecimento adquirido (sabedoria) e, finalmente, pela capacitação plena (entendimento espiritual). É o ensino precioso de Paulo em Colossenses 1:9.
- O crescimento – O processo do progresso espiritual conduz o cristão à maturidade espiritual, ou seja, como afirma Paulo, “à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo... cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:13-15).
- As ações de graças – O processo do progresso espiritual produz no cristão a necessária atitude de gratidão, exercício espiritual de solene importância, muito apreciado pelo Senhor (1 Tessalonicenses 5:18).
Conclusão – Deus quer “espirituais”, não “religiosos”. A “religiosidade” no comportamento eclesiástico dos dias atuais, afeta seriamente a realização do propósito do Senhor para a Sua amada Igreja. Busquemos, no processo do progresso espiritual o cumprimento desse propósito, seguindo o ensino de Paulo em Colossenses 1:10, “a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus”.