“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual Ele comprou com o seu próprio sangue”
Atos 20:28
A OBRA DOS PRESBÍTEROS (anciãos) (III)
5. O quinto aspecto da obra dos presbíteros: “trabalhar” laboriosamente
Evidentemente que “trabalhar” deve ser uma característica de todo o verdadeiro cristão, pois a ninguém é dado omitir-se na faina cristã, pois cristianismo é luta, é trabalho constante. É através do trabalho que o cristão se credencia às maiores responsabilidades e privilégios na obra do Senhor, como já amplamente temos exposto.
Mas no líder, que tem a responsabilidade no governo da igreja local, essa característica não pode deixar de existir de forma alguma. Ensina-nos Paulo em 1 Timóteo 5:17... “devem ser considerados merecedores de dobrada honra os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se ‘afadigam’ na palavra e no ensino”. A expressão no grego que se traduz por “afadigam” é “kospiao”, que também pode ser traduzida por “trabalho fatigante”. A “dignidade” que aqui se refere o apóstolo Paulo decorre da qualidade do trabalho do presbítero. E a ênfase é o esforço grande que caracteriza o estudo da Palavra e o seu fiel ensino.
O apóstolo Paulo se refere a esse aspecto em sua fala aos presbíteros de Éfeso em Mileto: “Vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer aos necessitados, e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: mais bem-aventurado é dar do que receber” (At. 20:34-35). Aí Paulo está a se referir, inclusive, ao trabalho manual, esforço físico feito com vistas ao bem do rebanho do Senhor e o bom desenvolvimento de seu serviço.
O trabalho do ancião não é apenas o de assistir as chamadas reuniões dos “irmãos responsáveis” (curioso nome que se dá, em muitas igrejas locais, às reuniões dos tais chamados “dirigentes do trabalho”), nem, tampouco, às denominadas “reuniões de negócios”, para se discutir os negócios da igreja local ou, ainda, dar regras para os outros cumprirem, fiscalizando o seu comportamento, para verem até que ponto a sua autoridade de “dirigentes” é reconhecida.
O seu dever é trabalhar entre os santos, no sentido do ensino de Paulo: “... apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder, assim para exortar pelo reto ensino como para convencer os que contradizem” (Tito 1:9). É, também, seu dever sempre servir no espírito de humildade como recomenda Pedro: “... cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua Graça” (1 Pedro 5:5). O trabalho implica dedicação, empenho e perseverança nas duras fainas da obra do Senhor.
6. O sexto aspecto da obra dos presbíteros é “administrar”
Escrevendo a Tito, disse o apóstolo Paulo: “Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como ‘despenseiro’ de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância” (Tito 1:7). A palavra grega que aí se traduz “despenseiro” é “oikonomos”, que também tem o significado de “gerente”, “mordomo” e “administrador” de qualquer espécie. O sentido original indica alguém que fica encarregado da propriedade, por ordem de seu proprietário.
Essa palavra nos sugere que a igreja é a “família de Deus”, sobre a qual os presbíteros ou anciãos estão colocados para o melhor funcionamento dessa casa. A figura era a do escravo na antiguidade, ao qual era conferido o titulo de “despenseiro”. Como “administrador” era responsável perante o proprietário, com outorga de parcela de autoridade na direção da casa; por isso, os demais servos estavam na obrigação de lhe prestarem obediência. Na realidade, porém, esse “administrador” não tinha vontade própria, mas era, apenas, representante da vontade do seu senhor.
Dessa figura se tiram lições espirituais preciosas: o presbítero ou “supervisor” necessita possuir “qualidades administrativas”, além de mostrar-se apto na pregação da Palavra e no ensino da doutrina cristã. Nem todos os presbíteros precisam dessas qualidades no mais alto grau; alguns deles são levantados, principalmente, como “mestres”, mas outros recebem a responsabilidade de guiar a igreja local e de administrar os seus negócios.
O Senhor Jesus usou a expressão em Lucas 12:42... “quem é, pois, o mordomo fiel e prudente a quem o Senhor confiará os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo”. A mesma ideia se encontra no texto paulino em 1 Coríntios 4:1-2... “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e ‘despenseiros’ dos ministérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel”.
A Igreja local é a “casa de Deus”. Assim a chama Paulo quando adverte a Timóteo sobre a responsabilidade do seu prosseguimento: “Para que, se eu tardar, fique ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (1 Timóteo 3:15). A administração da “casa de Deus” é da responsabilidade precípua do presbítero.
Paulo usa a expressão “cuidará da igreja de Deus” (1 Timóteo 3:5) quando alude à qualificação do presbítero como quem tem o bom governo de sua própria casa. O “ecônomo” deve ser fiel em seus atos. Deve ser equitativo na distribuição dos bens espirituais recebidos de Deus, para que Ele seja glorificado e a igreja abençoada, agindo como bom despenseiro da multiforme Graça de Deus (1 Pedro 4:10).
Deus deseja que a Sua casa seja mantida limpa, conservada com a dedicação para a Sua glória e honra. A separação do pecado deve ser hábito dos membros da igreja (2 Coríntios 6:16). A administração da casa de Deus implica, também, com esta situação necessária ao bom desempenho da igreja local.
Os presbíteros estão ligados aos deveres que dizem respeito, em primeiro lugar, ao bem espiritual dos crentes e, em segundo lugar, com as coisas temporais.