“Enchei-vos do Espírito Santo”
Efésios 5:18
A semana santa faz-nos pensar no valor extraordinário da obra redentora efetuada por Cristo no Calvário, favorecendo-nos com a indizível bênção da salvação eterna. Nada pode ser comparado ao benefício da Graça de Deus!
Através dela um pacote de benefícios espirituais nos é graciosamente concedido. Entre eles, o da habitação do Espírito Santo é de valor inestimável. Muito próximo do Calvário, o Senhor Jesus garantiu a habitação em nós, os que cremos, da definitiva e permanente habitação do Espírito Santo (João 14:16-17), Consolador e Conselheiro que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece.
Tornando-nos filhos de Deus, por ouvirmos e crermos na Palavra da Verdade, o Evangelho que nos salvou, fomos selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção do corpo (Efésios 1:13-14). Que privilégio incomparável! A redenção que obtivemos pela fé na obra do Calvário não se deu através de valores materiais perecíveis, como ouro ou prata, mas pelo precioso sangue de Cristo (1Pedro 1:18).
Isso nos compromete seriamente com Deus. Paulo nos adverte que somos santuário do Espírito Santo, que habita em nós, e que não somos de nós mesmos. Fomos comprados por alto preço e, por isso, devemos glorificar a Deus por meio do nosso corpo (1Coríntios 6:19-20). Deus espera de nós completa e sincera consagração pela manifesta e plena atuação do Espírito Santo que em nós habita.
Há diferença entre “ser habitado” pelo Espírito e “ser cheio” do Espírito Santo (plenitude). Todo verdadeiro crente no Senhor Jesus é habitado pelo Espírito, ainda que a sua vida manifeste conduta carnal. Entretanto, “ser habitado” pelo Espírito não significa “ser cheio” do Espírito.
A plenitude do Espírito Santo é uma operação que depende da atitude e do comportamento do crente. Não se alcança a plenitude do Espírito buscando tomar porções do mesmo, mas permitindo-Lhe, através de nosso porte espiritual, o controle do nosso viver cotidiano. Em nós é que estão a possibilidade e os meios que permitem que o Espírito nos encha.
Há três barreiras humanamente invencíveis que nos impedem de viver consagradamente e de gozar contínua vitória:
- Falta de FORÇA para vencer a tentação;
- Falta de PODER para o serviço;
- Falta de CAPACIDADE para suportar grandes provações ou sofrimentos alegremente.
O Espírito Santo, entretanto, nos dá possibilidades de superá-las, mas somente aos que se submetem inteiramente à vontade de Deus. Essa submissão, no sentido mais amplo, identifica a plena consagração do crente, operada pela ação plena do Espírito em nós.
Vejamos três aspectos sobre a consagração:
1. O significado da consagração – Destacamos três expressões que sintetizam, em três passos sucessivos, o significado da verdadeira consagração:
- RECONHECER QUE DEUS É SENHOR (1 Coríntios 6:19-20) – É necessário que reconheçamos que Deus é o Senhor do nosso corpo e do nosso espírito. Enfim, de todo o nosso ser. Sem esse reconhecimento não chegaremos a real consagração. Nascidos de novo, os nossos corpos se transformam em santuário de Deus. É o que nos ensina Paulo em 1 Coríntios 6:19-20.
- APRESENTAR OS NOSSOS CORPOS A DEUS (Romanos 12:1; 2 Coríntios 8:5) – Em Romanos 12:1 Paulo ensina sobre a imprescindibilidade de apresentarmos os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Essa atitude representa o culto racional (inteligente). Enquanto não apresentarmos os nossos corpos a Deus, com disponibilidade sacrificial e total, não haverá consagração verdadeira. Em 2 Coríntios Paulo informa como os crentes, acima do seu comprometimento financeiro, priorizaram a entrega dos seus próprios corpos ao Senhor. Devemos ter presente que, além do reconhecimento de que todo o nosso ser pertence ao Senhor, devemos, também, colocá-lo sob o Seu amplo e total controle. Consagração é muito mais do que simplesmente dar a Deus “isto” ou “aquilo”, mas darmo-nos, integralmente, ao Senhor.
- APLICAR-SE NA REALIZAÇÃO DA VONTADE DE DEUS (Romanos 12:2; Gálatas 5:24; 1 João 2:6) – Se já reconhecemos que o nosso ser pertence a Deus, e se já o apresentamos ao Senhor para que tenha o total controle sobre ele, torna-se imperioso que evidenciemos, nos atos de nossas vidas, aplicação efetiva na realização da Sua soberana vontade. Os três textos mencionados (Romanos 12:2; Gálatas 5:24; 1 João 2:6) informam as atitudes que consubstanciam essa aplicação:
- Não conformação com o mundo;
- Crucificação da carne, com as suas paixões e concupiscências;
- Andar como Cristo andou.
São essas três atitudes que caracterizam a nossa aplicação ampla e desprendida na realização da vontade de Deus, indispensável à experiência da verdadeira consagração. Devemos, pois, aplicar-nos honestamente, pondo, diariamente, a nossa vida, em conformidade com a vontade de Deus.
2. As bases de uma vida consagrada – Há dois fundamentos de uma vida consagrada:
- O RECONHECIMENTO DE NOSSA PRÓPRIA FRAQUEZA (João 15:5; Romanos 7:18-24; 2 Coríntios Co 12:9) – No primeiro texto (João 15:5), o Senhor Jesus deixa claro que nada, absolutamente nada, podemos fazer sem Ele. Evidência de nossa absoluta fraqueza e da ampla possibilidade de realizações na nossa total dependência d’Ele. No segundo texto (Romanos 7:18-24), Paulo enfatiza esse mesmo aspecto na sua própria experiência. Dá Paulo, aí, um testemunho do reconhecimento da sua própria fraqueza, atitude imprescindível como base de uma vida consagrada. No terceiro texto (2 Coríntios 12:9), Paulo afirma que o poder só se aperfeiçoa na fraqueza; gloriando-se Paulo na fraqueza obtinha que nele repousasse o poder de Cristo. Não devemos confiar em nós mesmos, pois essa é a atitude negativa que nos afasta da consagração. A base de uma vida consagrada é o reconhecimento de nossa própria fraqueza.
- CONSAGRAÇÃO NÃO É UMA “BOA OBRA” QUE NOS FAÇA MERECER AS BÊNÇÃOS DE DEUS, MAS A OPERAÇÃO DA SUA GRAÇA ATRAVÉS DE NÓS (1 Coríntios 15:10) – Tanto a vitória como o poder para o serviço são inteiramente resultados da “Graça”. É preciso que o crente tenha sempre isto em mente, como nos ensina Paulo. Nesse trecho ele descreve esse aspecto da sua vida consagrada quando diz que “pela graça de Deus sou o que sou”. A graça de Deus que lhe foi concedida não se tornou vã; em razão dela trabalhou muito mais do que todos os outros apóstolos; conclui afirmando: “Todavia não eu, mas a graça de Deus comigo”.
Procuremos, pois, buscar essas duas bases de uma vida consagrada: o reconhecimento de nossa própria fraqueza e a Graça de Deus operando com poder em nossa vida.
3. A condição da verdadeira consagração – A condição da verdadeira consagração foi estabelecida pelo Senhor Jesus em Lucas 14:25-33. Três vezes, nesse texto, o Senhor afirma: “não pode ser meu discípulo”. Quem não pode ser Seu discípulo?
- O que não aborrece os que lhe são caros, permitindo, assim, que o vínculo de parentesco o impeça de ser seguidor de Cristo;
- O que não toma a própria cruz para ser seguidor de Cristo, não aceitando a necessária resignação sofredora que o verdadeiro discipulado, inevitavelmente, lhe impõe;
- O que não renuncia a tudo quanto tem, deixando de priorizar o Senhor em sua experiência de vida, recusando-se a nela tê-Lo como exclusivo e prioritário (Lucas 9:23).
Essas são as condições que o Senhor Jesus define como essenciais para a experiência da verdadeira consagração. A verdadeira “consagração” deve, necessariamente, condicionar-se a um total “desprendimento”, a um total “sacrifício” e a um total “esvaziamento” dos valores temporais a que tanto nos apegamos.
Conclusão: Deus nos ajude a permitir que o Espírito Santo nos leve à “consagração”, atendidos os três aspectos considerados: o seu “significado”, as suas “bases”, e as suas “condições”. Consagração só se alcança na experiência da plenitude do Espírito. Ele quer nos encher, mas cabe a nós dar-Lhe os meios para que, efetivamente, nos encha. Na experiência notável da consagração alcançaremos FORÇA para vencer as tentações, PODER para o serviço correto e eficaz, e CAPACIDADE para suportar as grandes provações e os sofrimentos alegremente.