“Se alguém quiser vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”
Lucas 9:23
2. REJEIÇÃO – “dia a dia tome a sua cruz”.
Rejeitar nem sempre parece ser a melhor atitude quando consideramos as coisas apenas do ponto de vista humano. Os critérios do Senhor são diferentes porque os valores, do ponto de vista de Deus, também diferem dos nossos conceitos, estes sempre afetados pela nossa natureza carnal, imediatista e interesseira. O Senhor define essa atitude essencial do discipulado verdadeiro com a expressão: ”negue-se a si mesmo”.
Para se praticar, corretamente, o “discipulado verdadeiro”, há que se exercer firmemente a “rejeição” em três aspectos:
- Rejeitar as CONDIÇÕES do mundo: O mundo tem muito a ver com a natureza carnal do ser humano, afetado pela pecaminosidade, e lhe oferece múltiplas condições de sucesso temporal, mas tais condições não podem ser aceitas pelo cristão autêntico. Ao “verdadeiro discípulo” cabe distingui-las e rejeitá-las para poder agir espiritualmente e não na carne, alcançando os alvos do propósito de Deus em sua vida cristã. O apóstolo João define bem esse tipo de comportamento espiritual, de repulsa às condições do mundo, na atitude do “verdadeiro discipulado”: “Não ameis as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo o amor do Pai não está nele; porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procedem do Pai, mas procedem do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade do Pai, permanece eternamente” (1 João 2:15-17). Alguns exemplos notáveis de rejeição das condições do mundo, na Bíblia, são expressivamente ilustrativos:
- Rejeitar as VANTAGENS do mundo: Não só condições, que lhe são próprias, o mundo também oferece vantagens ao comportamento do cristão para dissuadi-lo do “discipulado verdadeiro”, que muitas vezes aparentemente são irrecusáveis. O verdadeiro cristão tem que saber discernir espiritualmente tais ofertas “vantajosas” para poder rejeitá-las, com firmeza, a fim de manter-se fiel no exercício da vontade do Senhor. A nossa tendência natural, por força da atuação da nossa carne, é sempre no sentido de ver as vantagens que podemos obter nesta ou naquela atitude que se nos oferece ao comportamento, agindo com precipitação e imediatismo pecaminosos que nos afastam da necessária atuação espiritual e fiel do “discipulado verdadeiro”. Temos que estar vigilantes em nossas atitudes, assumindo resolutamente a atitude proposta pelo Senhor Jesus de tomarmos, a cada dia, a nossa cruz. Moisés nos oferece exemplo digno de rejeição às vantagens do mundo, consoante lemos em Hebreus 11:24-25... “pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado, porquanto considerou o opróbrio de Cristo, por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão”. Note que esse tipo de rejeição implicava no suporte de situação bastante penosa (“maltratado junto com o povo de Deus”), mas revelava uma ampla visão das bênçãos compensadoras do Senhor (“maiores riquezas do que os tesouros do Egito”; “contemplava o galardão”). Que experiência notável é obtida pelos que se portam com fidelidade nessa área, optando pela rejeição das vantagens do mundo! São dignos do “verdadeiro discipulado” e por isso serão honrados pelo Senhor.
- Aceitar a REJEIÇÃO do mundo: Esse é mais um aspecto que implica com a rejeição do mundo no exercício do “discipulado verdadeiro”. É necessária total disposição em aceitar a rejeição do mundo. O Senhor Jesus, em Sua oração intercessória da qual fomos alvo, em João 17, afirmou: “não quero que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou” (João 17:15-16). É no mundo que temos que atuar, por isso o Senhor orou para que não sejamos tirados do mundo, mas como não somos do mundo, o mundo nos rejeita. Por isso o Senhor orou para que sejamos guardados do mal com que o mundo busca nos atingir quando nos rejeita. Ele afirma que também não é do mundo. Entenda-se por “mundo” todo o sistema pecaminoso controlado pelo príncipe deste mundo, satanás, e do qual participam todos os que não querem saber de Deus e nem da Sua Palavra e, por isso, nos rejeitam. Essa atitude necessária de “rejeição do mundo” foi também por Ele corajosa e firmemente adotada, tanto que acabou sendo injustamente (do ponto de vista humano) crucificado no Calvário. Aceitando a rejeição do mundo, estaremos nos identificando com o Senhor e nos capacitando para um “discipulado verdadeiro”. Por isso o Senhor Jesus nos adverte solenemente: “no mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33).
a) José (Gênesis 39:7-23) – rejeitou as condições mundanas da mulher de Potifar; chegou a ser injustamente penalizado pela sua atitude fiel, mas, ao final, o Senhor o honrou sobremaneira.
b) Daniel (Daniel 1:8) – “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então pediu ao chefe dos eunucos que permitisse não contaminar-se”. Deus honrou a firme atitude de Daniel, rejeitando as condições mundanas que lhe foram oferecidas.
c) O Senhor Jesus (Mateus 4:3-11) – Vemo-Lo, durante o período de tentação no deserto, rejeitando firmemente as propostas satânicas. Veja a proposta de satanás em Mateus 4:9... “tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”. Satanás fez esse desafio ao Senhor depois de Lhe mostrar todos os reinos do mundo e a glória deles (Mateus 4:8). Sabemos que satanás é o príncipe deste mudo e está sempre a oferecer ao cristão as suas condições para o sucesso temporal do mesmo. Devemos rejeitar as suas condições mundanas para exercermos o “discipulado verdadeiro”, com o resultado das bênçãos do Senhor.