1 Samuel 7:1-17
No período carnavalesco costuma-se realizar retiros espirituais para que os cristãos, longe do estrepitoso e libertino movimento mundano, façam reflexões profundas em íntima comunhão com Deus, que os ajudem a manter-se no rumo correto da vida espiritual. Lembrei-me, por isso, de Mispa, que foi um marco importante na história do povo de Israel, por ser um lugar de experiências muito especiais na sua relação com Deus.
O nome Mispa aparece algumas vezes, embora não se referindo sempre à mesma localidade (Juízes 10:17; 11:29; 20:1). A menção em 1 Samuel 7:1-17 refere-se a que ficava a cerca de 12 km ao norte de Jerusalém e 5 km de Gibeá, a leste do rio Jordão. ”Mispa” significa “torre de vigia”. Era lugar de congregação (vs. 5-6) do povo de Deus, para auto-reflexão, comunicação com o Senhor, acerto de atitudes, correção de rumos, decisões importantes, devoção ao Senhor e experiência de vitória. Ilustra a importância da nossa condição em Cristo, coletivamente considerada, como o “povo de Deus”, e a necessidade de buscarmos, em harmonia e em plena comunhão, no Espírito, sob a autoridade e orientação do Senhor, as experiências necessárias para uma correta manifestação de vida espiritual vitoriosa.
Vejamos as lições preciosas que Mispa nos oferece:
1. Lugar de oração (vs. 5 e 8)
Samuel era um profeta de oração (1 Samuel 8:6; 12:19-23, conforme Jeremias 15:1). Quando não há lugar para a oração na vida da Igreja a bênção não é alcançada. A oração é recomendada e exemplificada pelo Senhor Jesus Cristo (Mateus 5:44; 26:41; Lucas 6:12; 18:1). É recomendada e exemplificada também pelos apóstolos (Atos 9:11; 10:2-9; 20:36; Efésios 6:18; Colossenses 1:9; 1 Tessalonicenses 3:10; 5:17; 1 Timóteo 2:8; Tiago 5:16; Judas 20).
2. Lugar de arrependimento (v. 6)
A expressão “arrependimento perante o Senhor” evidencia a necessidade do “arrependimento” na experiência da vida cristã. Na Bíblia o “derramamento perante o Senhor” é um sinal de “arrependimento” (1 Samuel 1:15 e Salmo 62:8). O arrependimento é essencial para uma vida transparente e maleável nas mãos de Deus. Restaura em nós as condições necessárias para alcançarmos a capacitação espiritual de que precisamos para servir corretamente ao Senhor e andar em retidão.
3. Lugar de contrição (v. 6)
Note no texto a expressão: “jejuaram naquele dia” (v. 6). Não haverá acerto na vida espiritual se não estivermos dispostos a uma autêntica e absoluta contrição. A atitude de “jejuar” diz respeito a uma contrição verdadeira, pois implica em renúncia de coisas essenciais e naturais para se alcançar uma profunda meditação na Palavra e íntima comunhão com Deus (Levítico 16:29; Neemias 9:1; Esdras 8:23). Não é a atitude física ou o ato formal e ritualmente praticado que é essencial ou que significa alguma coisa na contrição, mas a atitude interior que o ato representa, acompanhado da intensa expectativa íntima da atuação favorável de Deus na vida espiritual. Veja mais: Ester 4:3; Salmo 35:13; 69:10; Daniel 6:18; 9:3; Mateus 17:21 e Atos 14:23.
4. Lugar de confissão de pecados (v. 6)
Diz o texto: “ali disseram: Pecamos contra o Senhor” (v. 6). O pecado interrompe a nossa comunhão com Deus e anula a nossa instrumentalidade, tornando ineficaz qualquer serviço que pretendamos fazer para o Senhor (Romanos 3:12... “à uma se fizeram inúteis”; Isaías 59:2... “as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus”). Veja ainda: Juízes 10:10 e Neemias 1:6. Só há uma solução para esse sério problema: “o que encobre as suas transgressões, jamais prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Provérbios 28:13). João exorta, seriamente, a esse respeito, em 1 João 1:8-10, de onde destaco: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. A eficácia do perdão, já concedido pelo Senhor no Calvário, viabiliza-se somente quando confessamos, objetiva e sinceramente, o nosso pecado, com arrependimento sincero e desejo firme de deixá-lo. É triste ver como muitos querem atuar no meio do povo de Deus, comprometidos com o pecado e indiferentes à sua condição pecaminosa, não se preocupando em alcançar a purificação necessária à sua capacitação espiritual, para ter a aprovação de Deus e alcançar os frutos da santificação. O povo de Deus compreendeu isso e fez de Mispa o abençoado lugar de confissão de pecados!
5. Lugar de oferta sacrificial ao Senhor (v. 9)
Diz o texto: “Tomou, pois, Samuel um cordeiro... e o sacrificou em holocausto ao Senhor” (v.9). São poucos os que estão dispostos a pôr sua vida sobre o altar. Queremos aproveitar a graciosa oferta que de Si mesmo fez o Senhor Jesus Cristo sobre o altar, mas não nos dispomos a oferecer algo em holocausto ao Senhor, para corresponder à necessidade nossa de total consagração a Ele! Só apresentando os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável ao Senhor, estaremos prestando-Lhe o “culto racional” (Romanos 12:1-2). E quando Paulo fala em “sacrifício do corpo”, ele não está se referindo somente a constrangimentos e aflições físicas que possamos suportar pelo testemunho de Jesus Cristo no mundo, mas o propósito sincero, espontâneo e alegre da renúncia e privação de valores que prezamos muito para a nossa satisfação pessoal, e dos quais, por isso, não queremos dispor, para colocá-los sobre o altar. Paulo disse: “em nada considero a vida preciosa para mim mesmo”. Veja mais: 1 Coríntios 6:19-20.
6. Lugar da resposta do Senhor (v. 9)
Diz o texto: “E o Senhor lhe respondeu”. Quão confortadoras são estas palavras! Elas inspiram toda a nossa confiança no Senhor e a certeza de que podemos pedir-Lhe com garantia de resultado favorável. Pode a resposta do Senhor não ser aquela que esperamos, mas sempre há de ser a melhor que Ele tem para nós! Veja as seguintes passagens: Salmos 99:6; 65:2; Mateus 7:7-8; 1 João 5:14-15. Nele nós podemos confiar!
7. Lugar de vitória (vs. 10-14)
Diz o texto: “foram derrotados” (v. 10); “e os derrotaram” (v. 11); “Ebenezer... até aqui nos ajudou o Senhor” (v. 12); “os filisteus foram abatidos... porquanto foi a mão do Senhor contra eles todos os dias” (v. 13); “os territórios delas arrebatou Israel da mão dos filisteus” (v. 14). Mispa foi lugar de vitória total! Paulo afirma: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31). “Somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou” (Romanos 8:37). A vitória está garantida e tem dimensão eterna (1 Coríntios 15:57). “Graças, porém, a Deus, que em Cristo sempre os conduz em triunfo” (2 Coríntios 2:14).
Conclusão: As lições de Mispa devem nortear-nos para que busquemos as experiências com Deus que nos capacitam a uma vida espiritual correta e profícua, que essas lições também nos levem a alcançar, com eficiência, os alvos que o Senhor tem para cada um de nós.