"Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres " (Jo.8:36)
Sei que o tema é considerado polêmico, mas é oportuno. O mês de abril, no Brasil, tem muito a ver, historicamente, com esse tema. Foi por essa época, em tempos idos, que em busca da liberdade o sangue de heróis banhou a terra da nossa Pátria. A liberdade chegou mais tarde, mas as bases foram lançadas com o martírio de alguns nessa época do nosso calendário. O lema "liberdade ainda que tardia", vem de então e ficou indelevelmente registrado na nossa história de independência, tremulando na bandeira de Minas Gerais, berço do movimento chamado de "Inconfidência".
"Liberdade" é um dos anseios mais acentuados do ser humano. Desde os primórdios da sua existência isso tem sido evidenciado. Já na infância, o ser humano conduz a sua atitude para agir com liberdade. Ninguém quer ser controlado, tutelado, monitorado, ninguém quer ter dono e submeter a outros o seu modo de agir. Esse sentido de "independência" é da natureza humana e se revela nas diversas áreas de atuação do homem, seja como indivíduo, como no contexto nacional, social, familiar, político, e até religioso. As aspirações de liberdade são notórias e constantes e têm sido a razão dos grandes e sangrentos conflitos humanos, escrevendo as páginas mais negras da história.
Mas é bom ressaltar que nem sempre a busca sacrificial da “liberdade” significa um “bom combate”. Muitas vezes vai na direção maldosa e danosa do ser humano. E até mesmo o tradicional princípio filosófico que afirma que “a liberdade de um sempre deve se limitar à liberdade do outro” não tem sido respeitado, e o que se vê é um atropelando o outro, sem escrúpulos, na busca do exercício da sua própria liberdade e do seu próprio espaço. Lamentavelmente, essa é também a melancólica constatação no ambiente chamado cristão.
Mas o que é "liberdade"? Na verdade muitos em nome da "liberdade" praticam "libertinagem". O conceito humano de "liberdade" é a faculdade de uma pessoa fazer ou deixar de fazer, por seu livre arbítrio, qualquer coisa; faculdade de cada um decidir pelo que entende ou pelo que lhe convém (Caldas Aulete). Esse conceito humano leva o homem ao exercício da "libertinagem" que é devassidão, impudícia, licenciosidade, desregramento de costumes, etc.
Do ponto de vista de Deus as coisas não são assim. Jesus Cristo abordou o assunto conceituando a "liberdade" de modo a tornar o seu exercício uma bênção e não um processo de degradação. Em João 8:32-36, onde Ele expôs o assunto contestando o conceito religioso de "liberdade" dos judeus, temos alguns aspectos que devem ser levados em conta:
- A liberdade é a experiência que resulta do conhecimento da Verdade (a Palavra do Senhor) e não da faculdade de fazer o que se quer ou de decidir pelo que se entenda - Isso implica, necessariamente, em se pôr em prática os ditames da Palavra de Deus, que é a Verdade e que deve ser obedecida em todas as áreas do nosso comportamento, como padrão único e exclusivo da vida cristã. O conhecimento da Verdade só se alcança quando a praticamos e não, apenas, quando dela temos ciência. Veja o que disse o Senhor Jesus na oportunidade: “se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos” (v. 31).
- A faculdade de fazer o que se quer ou de decidir como se entende não elimina o fato inexorável da pecaminosidade humana, que sempre representa terrível escravatura - Por mais livre que o homem se julgue, no seu comportamento humano nunca se livrará, só por isso, da condição de escravo do pecado. A inevitável prática pecaminosa, decorrente da nossa própria natureza, anula a possibilidade da experiência da verdadeira liberdade. A pecaminosidade controla os pensamentos, o comportamento (as ações) e os resultados da atuação humana.
- A religiosidade formal (filhos de Abraão) não significa exercício de verdadeira liberdade - A petulância e o orgulho de muitos “religiosos” confrontam com a experiência correta de liberdade, na medida em que a sua atitude é meramente formal, egoísta, superficial e hipócrita, e não de autêntica “espiritualidade”. A religiosidade é mera solução humana para a necessidade espiritual do ser humano. Carece, por isso, de autenticidade espiritual, pois não significa “novo nascimento” ou nova vida em Cristo (2Co.5:17). Devemos ser “espirituais” e não “religiosos” e, só assim, estaremos usufruindo legítima liberdade.
- Só uma submissão total ao Senhor, como filhos de Deus, traz-nos experiência de liberdade - É importante que vivamos sob o constante Senhorio de Cristo, no sentido da experiência de Paulo quando afirma: “não vivo mais eu mas Cristo vive em mim” (Gl.2:20). Essa atitude só será alcançada quando: (a) reconhecemos que só o Senhor pode (Lc.4:18), isso implica no exercício de nossa fé; (b) rendemos, integralmente, o nosso ser a Ele (Mt.11:28), isso implica em real e constante experiência com Cristo; (c) submetemos ao Senhor o controle total de nossa experiência de vida, em todas as áreas pertinentes (Jo.15:5).
Devemos cuidar, seriamente, para que em nome de uma falsa "liberdade", não ajamos como libertinos! Completamos esta reflexão com o precioso ensino de Pedro: "Vivam como pessoas livres, mas não usem a liberdade, como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de Deus" (2Pd.2:16 - NVI).
NOTA Este artigo foi redatado e publicado novamente em 01/09/2016 sob o mesmo nome.