1 Tessalonicenses 1:1-10
II. A ABNEGAÇÃO DO AMOR
Reporta-se Paulo, agora, à segunda característica da Igreja em Tessalônica como MODELO, dizendo: “à abnegação do vosso amor” (v. 3). O AMOR é outra das chamadas virtudes cristãs (1 Coríntios 13:13).
- O AMOR é a marca dos grandes! Dos que realizam sem o detestável recurso da prepotência ou do autoritarismo. É a arma mais poderosa das realizações que valem a pena. Que constroem. Que ficam. Que não se apagam. Monumentos indestrutíveis da história verdadeira da grandeza do ser humano! O AMOR não é mero sentimento. É atitude! O AMOR é, acima de tudo, um ingrediente primordial da ação Divina! Veja João 3:16... “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Vemos aí claramente evidenciada a espontânea atitude Divina, desinteresseira, graciosa e sacrificial (conforme Romanos 5:8). Em toda a Sua manifestação de vida humana o Senhor Jesus foi a personificação essencial do AMOR. Mesmo nas atitudes em que teve de repreender, censurar, reprovar e até, castigar, fê-lo com uma indisfarçável e sublime atitude de amor! (João 5:14; 3:1). Isso não significou Seu comprometimento, ou transigência com o pecado, e com os erros de comportamento que feriam a ética de Deus.
Ele foi rigorosamente intransigente com o cometimento de pecado, mas nunca, ao manifestar essa intransigência, deixou de amar, pois a aplicação da disciplina necessária, subsequente à efetiva exortação, não é dispensável à santidade que Deus exige do ser humano, assim o impunha.
- Deus nos criou no AMOR, com capacidade para AMAR e com vocação eterna de AMAR, pois fomos criados à Sua imagem e semelhança. Deus é AMOR (1 João 4:8,16). O propósito básico de Deus ao criar o ser humano, claramente definido na Bíblia, foi para que O amasse e amasse ao seu próximo. O Senhor Jesus deixou isso bem claro em Mateus 22:34-40.
Aí vemos alguns princípios fundamentais da essencialidade do exercício do AMOR pela criatura, na realização do sublime propósito de Deus para o homem:
a) O homem DEVE (mandamento maior) amar a Deus, em manifestação integral do seu ser: de todo o seu coração (emoção); de toda a sua alma (vontade); de todo o seu entendimento (intelecto). Note o sentido necessário da “totalidade” do seu ser no exercício essencial do amor pelo ser criado para com o seu Criador: “todo o seu coração”, “toda a sua alma” e “todo o seu entendimento”. O amor só é AMOR quando a atitude é integral e total! Não se pode amar pela metade! Ou se ama totalmente ou não se ama! Esse é o exemplo notável do amor de Deus para conosco!
b) O homem DEVE (ainda mandamento maior, porque, embora sendo o segundo na enunciação, no dizer de Cristo é semelhante ao primeiro) AMAR ao SEU PRÓXIMO. O paradigma do Senhor para o exercício desse tipo de amor é sobremodo desafiante e nos compromete tremendamente! Diz o Senhor: “como a ti mesmo”.
c) A autêntica ESPIRITUALIDADE só pode ser alcançada através do exercício do AMOR. É o que se depreende do dizer de Cristo no verso 40... “destes dois mandamentos dependem TODA A LEI E OS PROFETAS”. Jesus Cristo está enfatizando a inutilidade da religiosidade aparente sem o exercício do amor! Por isso ela se torna vã! A expressão “lei e profetas” define o exercício religioso, tão ao gosto dos religiosos hipócritas do seu tempo, sem nenhum resquício de amor em suas atitudes. Para Deus isso vale nada! É esse um mal de todos os tempos. Vemos, hoje, muitos com aparência de religiosidade, mas carentes do essencial para dar autenticidade ao seu comportamento cristão: o AMOR. Deus não quer “religiosos”, mas "espirituais” e a espiritualidade só se alcança com o exercício efetivo do amor a Deus e aos outros!
- O apóstolo Paulo deixa-nos uma recomendação de profundo conteúdo espiritual para o comportamento cristão quando escreve as exortações finais para a Igreja em Corinto: “todos os vossos atos sejam feitos com amor” (1 Coríntios 16:14). Que notável exortação! Quando levamos a sério essa advertência oportuna de Paulo, nossa vida tem sentido verdadeiro. Passa a valer a pena perante Deus e aos nossos semelhantes! Não é fácil, mas é essencial. Que o Senhor nos ajude a alcançar esse tipo de atitude.
- Cabe-nos ainda conferir o que ensina o notável “apóstolo do amor”, o evangelista João, em sua preciosa e amorável primeira carta (1 João 4:7-21). Destacamos, apenas, alguns pontos importantes:
a) Deus é AMOR – vs. 8,16;
b) O AMOR procede de Deus – vs. 7, 8;
c) O AMOR é provisão graciosa de Deus. Veja o verbo: “enviado” (v.9) e “enviou” (v. 10);
d) Só os nascidos de Deus podem AMAR – v. 7;
e) A prática do AMOR está ligada ao conhecimento de Deus – vs. 7,8;
f) O AMOR é dever pessoal – vs. 11, 20, 21. Veja as expressões “devemos” e “ame”; este último verbo está no modo imperativo. Veja, ainda, as passagens paralelas: Lucas 6:32-36; João 13:3; Romanos 12:9-10;
g) O AMOR exige comunhão com Deus – vs. 12, 13, 15, 16. Veja nesses versículos a expressão “permanecer”: Deus permanece em nós; permanecemos nEle; quem permanece no AMOR permanece nEle;
h) O AMOR produz confiança – v. 17;
i) O AMOR afasta o medo – v. 18;
j) O AMOR aperfeiçoa-se em nós – vs. 12, 17, 18.
- Oferecemos “quatro” testes do nosso AMOR:
a) Quem ama ocupa a sua mente com a pessoa amada – Salmo 143:5; 48:9; 1 Coríntios 2:16; Colossenses 3:2;
b) Quem ama busca conhecer mais a pessoa amada – Filipenses 3:8-10; 1 Pedro 4:8; 2 Coríntios 2:13-14 (“manifesta em nós a fragrância do seu conhecimento”);
c) Quem ama se entristece quando peca contra a pessoa amada – Neemias 1:3-11; 1 João 1:5-10; 2:15-17;
d) Quem ama tem prazer em obedecer à pessoa amada – Salmo 1:2; 1 João 2:5-6.
- Ao mencionar a Igreja de Tessalônica como “Modelo de Igreja” o apóstolo Paulo qualifica o seu AMOR com a expressão “ABNEGADO” (latim = “abnegatto”). Ele diz: “da abnegação do vosso amor” (v. 3). Essa expressão dá uma cor bem forte e muito especial ao exercício do amor dos tessalonicenses. A expressão “abnegado” é composta do prefixo “ab”, o qual, no latim, tem o sentido de “ausência” e da palavra “negado”, cujo sentido é “recusar”, “renunciar”, “abster-se”. Essa palavra composta significa, pois, abster-se totalmente, renunciar de forma irreversível. O seu conceito traz implícita a ideia de “sacrifício”.
Um bom exemplo é o de Abraão, quando renunciou o seu filho Isaac, dispondo-se a sacrificá-lo, por amor a Deus, amor tão grande que o fez disposto a obedecer ao Senhor, aceitando o pagamento do alto preço que lhe foi cobrado. “Abnegar-se” é renunciar a sua própria vontade, a favor da vontade de outro. Um desprendimento total e desapego completo de tudo que não diga respeito a Deus e ao Seu propósito para as nossas vidas. Foi o que aquela igreja modelar demonstrou. Que exemplo notável para nós! É, historicamente, uma das principais virtudes do exercício consagrado do ministério.
- Apresentamos “cinco” aspectos da ABNEGAÇÃO DO AMOR:
a) A “abnegação do amor” permite que possamos ENTENDER as situações, sejam elas quais forem, no necessário exercício do AMOR;
b) A “abnegação do amor” permite que o cristão SUPORTE as incompreensões, indiferenças, contestações e até perseguições que, muitas vezes, ocorrem no seu exercício necessário do amor;
c) A “abnegação do amor” faz com que, no necessário exercício do amor, o cristão BUSQUE a restauração dos outros, mesmo quando caídos por comprometimento consentido com o pecado, inclusive, na aplicação necessária da disciplina bíblica (Hebreus 12:5-12);
d) A “abnegação do amor” faz com que, no exercício necessário do amor, o cristão RENUNCIE aos seus próprios interesses em jogo, a sua vontade própria, as suas perspectivas vantajosas, para realizar e sustentar a felicidade dos outros;
e) A “abnegação do amor” faz com que, no exercício do amor, o cristão PRIORIZE sempre o outro, as suas carências, as suas necessidades, os seus problemas, as suas angústias e as suas perplexidades, aplicando-se, totalmente, com todos os recursos pessoais e materiais ao seu alcance, para solucionar, em primeiro lugar, a situação do seu semelhante.