Fidelidade no exercício do ministério cristão

“Cumpre cabalmente o teu ministério”

2 Timóteo 4:5

 

Impressiona sobremodo, nos dias que correm, a ampla proliferação de locais para o exercício do ministério chamado “evangélico”. As estatísticas dão conta de um vertiginoso crescimento do número de “evangélicos” no Brasil. Cada semana, segundo informação recente da imprensa, muitas portas de galpões, garagens, casas etc., são abertas para as reuniões de exercício do chamado “ministério cristão”. As práticas, algumas muito entusiasmadas e até espalhafatosas, se multiplicam, adotando estratégias e métodos dos mais diversos, que variam ao sabor dos “ministros” que surgem como por encanto.

Será que isso acontece na vontade do Senhor? Será que é isso o que Deus quer? Corresponde esse fenômeno à correta expansão do Evangelho pretendida pelo Senhor e recomendada pelo ensino apostólico? Revela esse múltiplo exercício ministerial a necessária fidelidade aos ditames da Palavra Deus? É autêntico ou não passa da prática de um tremendo embuste, que nada mais significa do que o exercício falso do ministério chamado cristão ou evangélico, visando atender a interesses pessoais e escusos de lucro e de popularidade.

Essa ordem de ideias levou-me à notável recomendação de Paulo em 2 Timóteo 4:5... “cumpre cabalmente o teu ministério”, e a algumas considerações sobre o tema.

“Ministério” é a função de “ministro”. É, também, considerado o tempo durante o qual o ministro exerce a sua função. O termo liga-se mais a atividades de maior responsabilidade e de elevada honra, principalmente de cunho público. Por isso, também, é usado para designação de certas funções religiosas.

Mas o que nos interessa nesta meditação é o seu conceito à luz da Palavra de Deus. A exortação de Paulo, no texto mencionado, conforme o contexto anterior, segue a referência que o apóstolo faz da importância da pregação da Palavra, indispensável instrumento de ensino, de repreensão, de correção e de educação (2 Timóteo 3:16) e à menção da recusa à sã doutrina e da existência de falsos mestres (2 Timóteo 4:1-5), o que nos leva a um importante aspecto do exercício fiel do ministério, qual seja o da Palavra de Deus.

Vejamos três aspectos pertinentes:

Fazê-lo por completo – Cumprir cabalmente o ministério é fazê-lo por completo. Ministrando a Palavra de Deus temos que dizer tudo o que Deus quer e dizer sempre quando Ele quer que falemos. Nem sempre nos é fácil levar uma tarefa até o fim. Por outro lado, há ocasiões em que agimos precipitadamente; neste caso, o melhor que temos a fazer é pararmos com tudo, logo que percebamos que não estamos na vontade do Senhor, e não, teimosamente, prosseguir no “ministério” em que, equivocadamente, nos envolvemos. Muitos dos profetas de Deus foram tentados a desistir do precioso e importante ministério do Senhor, falando ao povo, em razão das sérias oposições que lhes fizeram certas lideranças religiosas, seja porque o ministério os incomodava, seja porque não seguia à sua “cartilha”. O apóstolo Paulo afirmou, quanto ao ministério que Deus lhe entregou: “Eu cri por isso falei” (citando o Salmo 116:10), e acrescentou: “Também nós cremos; por isso, também falamos” (2 Coríntios 4:13). Mais: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus” (1 Coríntios 2:4-5). Paulo cumpriu cabalmente o seu ministério, nesse aspecto, tanto que pôde chegar ao fim de sua vida e declarar: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Timóteo 4:7). Cumprir cabalmente o ministério é fazê-lo por completo.

Fazê-lo com fidelidade – Cumprir cabalmente o ministério é fazê-lo com fidelidade. Isso significa perfeita consonância com os ditames da Palavra de Deus. Não nos cabe “acrescentar” nada, nem tampouco “omitir” algo, ou “distorcer” o sentido do texto sagrado para adaptá-lo às nossas próprias ideias ou opiniões (Apocalipse 22:18). Satanás sempre tem agido no sentido de atuar nessa área do ministério, buscando fazer dos porta-vozes do Senhor instrumentos falhos ou até falsos. Lamentavelmente muitos têm entrado no esquema satânico e o resultado tem sido desastroso, já que o ministério da Palavra nesses termos traz sérios danos à edificação do povo de Deus. Foi por isso que Paulo deixou muitas exortações a respeito. Disse a Timóteo: “Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós” (2 Timóteo 1:13-14). “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com o ensino segundo a piedade, é enfatuoso, nada entende, mas tem mania de questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida, e privados da verdade supondo que a piedade é fonte de lucro” (1 Timóteo 6:3-5). “Dá testemunho solene a todos perante Deus, para que evitem contendas de palavras que para nada aproveitam, exceto para a subversão dos ouvintes. Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Evita igualmente falatórios inúteis e profanos” (2 Timóteo 2:14-16). “E o que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2 Timóteo 2:2). “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste” (2 Timóteo 3:14). A Tito escreveu Paulo sobre as qualificações dos ministros: “apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder, assim para exortar pelo reto ensino como para convencer os que contradizem” (Tito 1:9). A fidelidade no exercício do ministério não comporta motivações exibicionistas e manifestações vaidosas, mas exige sincera humildade. Deve ser feito sem alardes, visando, sempre, o benefício dos que são por ele alcançados e, exclusivamente, a glória do Senhor! Cumprir cabalmente o ministério é fazê-lo com fidelidade.

Fazê-lo com a preocupação do que nos compete no plano do Senhor – Cumprir cabalmente o ministério é fazê-lo com a preocupação do que nos compete no plano do Senhor e não entrar em competição com os outros. Ficamos, muitas vezes, mais preocupados com o ministério dos outros do que com o nosso. Estamos mais interessados em ver o que os outros estão fazendo do que com aquilo que o Senhor tem para fazermos. Esse comportamento afeta e compromete o nosso ministério, privando-nos de cumpri-lo cabalmente. Priva-nos porque nos distraímos com o serviço dos outros e muitas vezes ficamos a gastar o tempo falando do ministério dos outros. Críticas e comentários injustos e infundados demonstram rivalidades, disputas e confrontações de resultados, cujo julgamento cabe ao Senhor e não a nós. Creio que é válido colaborar com os nossos irmãos que labutam como nós no ministério, compartilhando nossas impressões ou opiniões e mesmo críticas construtivas, com amor, em nível de diálogo e respeito mútuo. Mas, muitas vezes, formam-se correntes de opiniões das quais passamos a participar, de cunho polêmico, belicoso e até afrontoso, sustentadas por pareceres pessoais cujo lastro nas Escrituras é duvidoso. Esse comportamento reprovável tira-nos do cumprimento fiel do nosso ministério, para nos colocar na condição de juízes do ministério dos outros. Com isso estaremos fazendo o jogo do inimigo, que é o maior interessado em que cada um deixe de cumprir cabalmente o seu ministério. Devemos lembrar que se a obra não é do Senhor, não há de prosperar. O apóstolo Paulo nos ensina: “Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo; e outro: Eu, de Apolo; não é evidente que andais segundo os homens? Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou; o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho. Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós” (1 Coríntios 3:3-9). Defendendo-se dos que o criticavam no exercício do seu ministério, Paulo afirma: “Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel. Todavia, a mim pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por tribunal humano, nem eu tão pouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as cousas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus... não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um e em detrimento de outro” (1 Coríntios 4:1-6). Cumprir cabalmente o ministério é fazê-lo com a preocupação do que nos compete no plano do Senhor e não entrar em competição com os outros.

Conclusão – Mantenhamo-nos fiéis no exercício de nosso ministério cristão, cumprindo-o cabalmente, isto é, fazendo-o por completo, com fidelidade e com a preocupação do que nos compete no plano do Senhor.

autor: Jayro Gonçalves.