Vimos na crônica anterior, sob o mesmo tema (1), considerações bíblicas que demonstram à saciedade a grande importância e a essencialidade do exercício do “amor”, como propósito eterno de Deus para com a Sua criatura.
Vejamos, agora, objetivamente, como deve “agir” a nova criatura, restaurada a sua capacidade de amar, para cumprir fielmente a sua responsabilidade de “amar o próximo”. Três são as atitudes essenciais que lhe cabem:
1 – Valorizar a alma alheia
Em Mateus 16:26, diz o Senhor Jesus: “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” Depreende-se dessa Escritura que a alma humana tem valor inestimável. Nenhum valor humano, por mais substancial ou maior que seja, pode ser comparado com o valor da alma do homem.
O valor da alma independe de posição social, cultural, posses patrimoniais, raça, religião e tantas outras características distintivas do ser humano. Perante Deus o homem tem grande valor, pois é Sua criatura amada, apesar do seu pecado. Todos pecaram e destituídos (mas são carentes) estão da glória de Deus (Romanos 3:23). O salário do pecado é a morte (Romanos 6:23). “Como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12). Verificamos, assim, que a condição de todos os homens perante Deus é a mesma: é universal.
Mesmo nessa triste condição, Deus valoriza, tremendamente, a alma alheia, pois ama a Sua criatura e quer vê-la restaurada, redimida totalmente, capacitada para cumprir a sua vocação celestial. Não há valor patrimonial humano que se compare ao valor da alma humana! Por isso, afirma Paulo que “Deus, nosso Salvador... deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:3,4). Já vimos que Deus tem provado o Seu amor pela criatura, apesar do seu pecado, em que Cristo morreu por nós, sendo ainda pecadores. (Romanos 5:10). Podemos vislumbrar no sacrifício de Jesus Cristo para o nosso resgate o valor imenso que a alma tem para Deus. “Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro que fostes resgatados do vosso fútil procedimento... mas pelo precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mácula; o sangue de Cristo” (1 Pedro 1:18,19). Que preço inestimável pagou o Senhor pelo resgate da nossa alma!
Se Deus valoriza tanto a alma alheia, cabe-nos, também, já privilegiados pela nova vida que pela Graça nos concedeu, resgatados pelo alto preço que o Calvário representou, a responsabilidade de “amar o nosso semelhante”, valorizando-lhe a alma com o mesmo critério de valoração que moveu o coração de Deus. A alma alheia vale mais que o mundo inteiro!
2 – Priorizar o nosso próximo no exercício do nosso amor
É tendência do comportamento humano se priorizar em detrimento do semelhante. O egoísmo e o egocentrismo são marcas proeminentes do porte do homem natural.
Não é assim que deve agir o homem espiritual. Deus, no Seu infinito amor, priorizou o homem na sua condição de perdido, para favorecê-lo com a manifestação da Sua maravilhosa Graça. Paulo ensina: “Não julgou ele (Cristo Jesus) como usurpação o ser igual a Deus, antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homem; e, reconhecido em figura humana, tornou-se obediente até morte e morte de cruz” (Filipenses 2:5-8). Que sublime retrato da pessoa divina do Senhor Jesus, priorizando, humildemente, o homem na sua necessidade espiritual, perdido e sem esperança, ao fazer-se, Ele mesmo, Deus que era, homem desprezado pelos homens, servo submisso à vontade do Pai e, humilhando-se até a morte de cruz, assumir espontaneamente o lugar mais ignóbil que um homem poderia aceitar, o lugar de maldição, o fez sem levar em conta que era Deus (e nunca deixou de ser Deus!), não julgando que o fato de ser Deus pudesse ser usado em benefício próprio, e fosse algo de que não pudesse abrir mão, em benefício da redenção espiritual do homem.
Se o Senhor Jesus Cristo agiu assim, priorizando a esse ponto a criatura humana, como não agirmos, também, da mesma forma, adotando a prática do amor para com o próximo, priorizando-o, mesmo em detrimento dos nossos interesses mais próximos e, humanamente, importantes.
O amor ao próximo inclui solidariedade ativa, altruísmo manifesto, desprendimento aprazível dos nossos próprios interesses, para favorecer, antes de tudo, o nosso próximo, tão carente dessa nossa manifestação de amor.
A priorização do nosso semelhante, evidenciada pelo exercício abnegado do nosso amor verdadeiro, é o modo pelo qual cumpriremos bem a nossa responsabilidade de cristãos. Afinal, como já vimos, é mandamento grande e primeiro do Senhor, amarmos o nosso próximo como a nós mesmos, mandamento que, não por acaso, se repete inúmeras vezes na Palavra de Deus! O Senhor Jesus ilustrou bem essa necessária atitude do verdadeiro cristão, ao contar a parábola do bom samaritano (Lucas 10:29). Nessa estória interessante, o Senhor respondeu ao interprete da Lei, que O interrogou, para se justificar, sobre quem seria o seu próximo, após dEle ouvir que devia amar o próximo como a si mesmo. Realçou o Senhor a atitude do samaritano, que agiu movido pelo amor, priorizando o seu próximo, passando por cima de circunstâncias que justificariam, no caso, a sua natural insensibilidade pela necessidade do mesmo. Não foi o que fizeram o sacerdote e o levita (ilustrando a religiosidade vã que não prioriza o homem, na sua necessidade espiritual, mas os seus imediatos interesses), embora deles era de se esperar que fizessem exatamente o que o estranho samaritano fez. A recomendação peremptória do Senhor foi: “Vai e procede tu de igual modo”. Ajamos de acordo com essa recomendação do Senhor.
3 – Levar o próximo ao exercício sincero da fé cristã
Toda realização humana tem como alvo um “bom resultado” a ser alcançado. O amor de Deus para conosco tem propósito bem definido. Assim o declara João: “... para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).
No exercício do nosso amor para com o próximo deve-se sempre almejar um bom resultado, sob pena de tornar infrutíferos os nossos esforços e atitudes. A nossa responsabilidade, nesse caso, se cumpre plenamente quando o exercício de nosso amor ao próximo alcançar o bom resultado de levá-lo à Fé cristã. Levado por nós a Cristo, encontrará o caminho direto e seguro para a conquista da nova vida nEle, no exercício de fé sincera e fundamentada na Palavra.
Paulo testifica da sua atuação pessoal no ministério, quando afirma: “Pois o amor de Cristo nos constrange” (2 Coríntios 5:14), referindo-se à tremenda responsabilidade que sentia de ser instrumento de bênção para os que estavam longe do Senhor e sem a convicção da Salvação, trazendo-os à fé cristã que a opera eficazmente. Chama a isso o “ministério da reconciliação”, consistente em toda a Obra de Redenção, ou seja, a morte de Jesus Cristo por todos, “para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (v. 15). Que sublime alvo o de Paulo, constrangido pelo amor! Diz-se embaixador em nome de Cristo, como se Deus falasse por seu intermédio (v. 20), no exercício sublime do ministério da reconciliação do homem com Deus, ministério que Deus lhe entregou (v. 18). Afirma, mais, que Deus lhe confiou a palavra da reconciliação (v. 19). Mostra o seu ardente desejo de bom resultado do exercício do seu amor ao próximo, rogando ao Senhor a reconciliação dos que buscou alcançar com o seu precioso ministério (v. 20b).
Paulo testemunha assim, o bom cumprimento da sua responsabilidade, a de levar o seu próximo, pelo exercício do seu amor por ele, ao resultado necessário e abençoado da fé cristã.
Conclusão – Procuremos fazer do exercício do nosso amor ao próximo, um instrumento adequado para a regeneração do pecador, cumprindo a responsabilidade que a condição de cristãos nos incumbe.