“não tenhais medo”
Deuteronômio 20:1-4
O “medo” toma conta, inexoravelmente, do comportamento humano, nos dias que correm. O contexto da vida do tempo presente é terrível! Em todas as áreas de atuação do ser humano seja individual ou coletiva, familiar ou social, nacional ou internacional, manifesta-se a síndrome do medo provocada pelas circunstâncias incontestáveis da incompreensão, da maldade, do orgulho pessoal, da disputa de poder, do ciúme, da inveja, do mal querer, da violência e de tantas outras deficiências de caráter.
Vejam o tremendo estado de beligerância em que vivemos nos relacionamentos de toda a sorte, produzindo os dramáticos e contundentes quadros de destruição e miséria, desespero e angústias, que os meios de comunicação exibem a cada dia. São quadros que se demonstram irreversíveis no âmbito das possibilidades e dos recursos do próprio homem.
O desalento é total! A criatura humana vive buscando resguardar-se por todas as formas e a qualquer custo, privando-se da liberdade e do sadio prazer da vida, por causa do medo que tais inevitáveis circunstâncias lhe impõe. A síndrome do medo evidencia-se inextinguível. Acentua-se mais e mais! Por que tem que ser assim? A Bíblia traz luz a respeito. Em Gênesis 3:10 vemos, pela primeira vez, a palavra “medo” na experiência do homem. Adão disse a Deus que o interpelou por ter pecado: “Ouvi a tua voz no jardim e, porque estava nu, tive medo, e me escondi”. A consciência da sua pecaminosidade, face à presença Santa de Deus no jardim, infundiu-lhe o medo que d’Ele o fez esconder.
Desde então essa tem sido a triste signa do ser humano. O medo no comportamento humano tem origem no seu próprio pecado face à irrecusável Santidade de Deus, que repulsa e condena o pecado. Não adianta o homem se esconder de Deus e continuar no pecado. A síndrome do medo se acentuará, jamais o homem encontrará em si mesmo os recursos que a possam afastar, somente Deus pode operar nele a extinção da síndrome do medo! O assunto levou-me a Deuteronômio 20:1-4, onde encontramos lições preciosas sobre a realidade imperiosa da síndrome do medo e o modo como extingui-la. Moisés fala ao povo: “não tenhais medo”, mostrando-lhes como agir para extinguir a síndrome do medo.
1 – Conscientização da realidade da guerra em que nos encontramos (vs. 1 e 2).
Moisés coloca, com transparência, a realidade da guerra que o povo devia encarar. Ao possuir a terra por Deus prometida, não estaria o povo livre do problema terrível dos confrontos com os inimigos que tanto o atormentou por séculos, desde a promessa feita Abraão. Ele tinha que ter a consciência de que a guerra continuaria. Vejam as expressões “peleja contra os teus inimigos” (a expressão “peleja” aparece três vezes e “pelejar” uma vez); “cavalos, e carros, e povo maior em número do que tu”; “contra vossos inimigos” (duas vezes). Como cristãos devemos manter a conscientização de que estamos numa guerra. Temos inimigos e contra eles devemos lutar com denodo e coragem.
A Palavra de Deus nos ensina isso amplamente: João 16:33 “No mundo, passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”; Romanos 7:14-24; 8:5 (a luta da carne contra o Espírito); Efésios 6:10-20 (a armadura do cristão); 1 Pedro 5:8 (o diabo é nosso adversário e anda ao nosso derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar). Paulo declarou, ao termo de seu glorioso ministério, que “combateu o bom combate” (2 Timóteo 4:7). Se quisermos extinguir a síndrome do medo temos que começar por nos conscientizar da realidade da guerra em que estamos como cristãos e das possibilidades que temos, no Senhor, para vencermos (Filipenses 4:13).
Não cometamos o erro de nos esconder de Deus! Devemos ter consciência das três realidades opositoras e, tenazmente, combatê-las: a) – a realidade satânica; b) – a realidade carnal; c) – a realidade mundana. Não admiti-las e não combatê-las fortemente é dar espaço ao inimigo para atuar com êxito e derrotar-nos. Cristianismo não é piquenique nem festa banal para a satisfação e o enlevo da nossa carne, onde o Espírito não atua, mas é guerra permanente contra os inimigos da espiritualidade.
2 – Conscientização da presença do Senhor (v.1).
Moisés estimula o povo a não ter medo dos inimigos “pois o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, está contigo”. A presença do Senhor extingue a síndrome do medo. Vemos em João 20:19-22 que a presença do Senhor ressuscitado no meio dos discípulos, trancados na casa, com medo dos judeus, transformou essa incômoda situação de medo em alegria, paz e poder. Vemos como Jacó, quando fugia com medo de seu irmão Esaú, afastou totalmente a síndrome do medo: “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia” (Gênesis 28:15-16). A consciência da presença do Senhor extingue a síndrome do medo.
3 – Conscientização da companhia do Senhor (v. 4).
Moisés estimula o povo a não ter medo dos inimigos porque “o Senhor, vosso Deus, é quem vai convosco”. A companhia do Senhor extingue a síndrome do medo. Os dois discípulos que iam para Emaús, após o dantesco espetáculo do Calvário, voltavam frustrados e tomados da síndrome do medo. Mas o Senhor ressuscitado, diz o texto em Lucas 24:15, “se aproximou e ia com eles”. A companhia do Senhor mudou o quadro e extinguiu a síndrome do medo. No Salmo 23:4, Davi testemunha: “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não terei medo de mal algum porque tu estás comigo”. A consciência da companhia do Senhor extingue a síndrome do medo. 4 – Conscientização do poder vitorioso do Senhor (v. 4).
Moisés, afinal, estimula o povo a não ter medo dos inimigos porque “o Senhor, vosso Deus, é quem vai ... a pelejar por vós contra os vossos inimigos para vos salvar”. O Senhor é quem peleja por nós e, por isso, a garantia do Seu poder vitorioso extingue a síndrome do medo. Paulo afirma, com a convicção de um guerreiro vitorioso: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31 – leiam todo esse extraordinário cântico de vitória nos vs. 31-39). No versículo 37, ele diz: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”. Em Efésios 6:10 Paulo afirma: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder”. A consciência do poder vitorioso do Senhor extingue a síndrome do medo.
Para concluir, recomendo a leitura de 2 Coríntios 4:7-11.