“… o povo tinha ânimo para trabalhar"
Neemias 4:6b
A época conturbada que vivenciamos, notoriamente pressionada pelas circunstâncias tão opressivas e desalentadoras que são impostas ao comportamento do ser humano, em todas as áreas de sua atuação, o tem levado ao desânimo e à desastrosa indolência. Nesse quadro deplorável em que o povo se situa, falta-lhe “ânimo para trabalhar”. Não escapa a essa dramática situação o comportamento da igreja em geral. Constata-se nessa área acentuado desânimo para trabalhar.
O contexto histórico do povo israelita, relatado no capítulo 1 do livro de Neemias era dos mais dramáticos. A descrição que Neemias recebeu da situação e do estado de espírito dos israelitas em Jerusalém, capital do reino de Judá, era desoladora: “estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas queimadas”.
As atitudes essenciais adotadas por Neemias e pelo povo, no contexto infeliz em que se encontravam, resultaram numa notável reversão desse quadro, como se vê das informações do relato no livro. O “ânimo para trabalhar”, então alcançado, levou Neemias e o povo ao bom êxito, no seu ardente desejo de restauração.
Com base no relato, apontamos sete atitudes essenciais que levaram o povo, sob a liderança de Neemias, ao “ânimo para trabalhar” e ao consequente bom êxito.
1. Confissão sincera do pecado (1:6-7) – Não há dúvida de que o povo chegou àquela situação humilhante por causa do pecado cometido contra Deus. Diz Provérbios 28:13... “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”. O primeiro passo foi corretamente dado por Neemias. Admitiu, expressamente, perante o Senhor, que haviam procedido corruptamente contra Deus e que não tinham guardado os mandamentos, nem os estatutos, nem os juízos ordenados através de Moisés. Esconder o pecado, não confessá-lo e não deixá-lo, anula a prosperidade espiritual e impede que alcancemos a misericórdia do Senhor. Afirma 1 João 1:9... “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça”. O “ânimo para trabalhar” para o Senhor só nos virá depois que, sinceramente, assim agirmos.
2. Oração fervorosa ao Senhor (1:4-6,11; 4:9) – Neemias sentiu profunda tristeza com o relatório recebido da ampla miserabilidade do povo, pondo-se logo a lamentar, por alguns dias, a sua deplorável situação. Buscou, então, ardentemente, perante o Senhor, uma saída para o grave problema. Jejuou e orou, dia e noite, implorando-Lhe a reversão daquele triste quadro. É impressionante ver no livro de Neemias como a oração era sempre o primeiro e válido recurso de que Neemias e o povo se valiam para mudar situações adversas! O livro começa e termina com oração. Não davam um só passo na direção da restauração material, moral e espiritual sem antes se empregarem, intensamente, no exercício da oração. Que o exemplo nos sirva para sairmos do marasmo espiritual e da pecaminosa inércia em que nos encontramos e impedem o ânimo indispensável para as realizações que o Senhor tanto deseja que aconteçam através da nossa instrumentalidade. Veja o exemplo da igreja primitiva em Atos 4:31.
3. Convicção da vontade de Deus (2:12) – Neemias revela essa convicção nos seguintes termos: “o que o meu Deus me pusera no coração para fazer” (v. 12). Sem essa indispensável convicção jamais poderia o povo ter sido estimulado ao ânimo necessário para o trabalho frutífero. Essa convicção veio porque Neemias mantinha íntima comunhão com o Senhor. Ele chegou a Jerusalém, cenário melancólico da miserabilidade material e espiritual que experimentavam, onde esteve por três dias. Foi um precioso tempo de comunhão com Deus, buscando a Sua Soberana vontade. Por isso, teve a convicção da vontade de Deus, o que, posteriormente, passou a todos. O “ânimo para o trabalho” nos virá quando estivermos convictos de que o que fazemos é a vontade de Deus. Essa convicção acontecerá de fato, no exercício de íntima e permanente comunhão com Deus. Veja Mateus 26:42b (exemplo de Jesus Cristo) e Salmo 40:8. 1 João 2:17 afirma: “o que faz a vontade de Deus permanece eternamente”.
4. Convicção da presença atuante de Deus (2:18) – Neemias disse a todos: “como a boa mão do meu Deus estivera comigo”. Essa afirmação de convicção de Neemias ao povo foi um forte subsídio para animá-lo a trabalhar com bons resultados. A prova disso está na pronta resposta do povo ao seu discurso: “Disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as mãos para a boa obra” (v. 18). O Senhor cumpre o que promete. Em Mateus 28:20b o Senhor afirma: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. O nosso “ânimo para o trabalho” sustenta-se nessa gloriosa promessa. A convicção da presença de Deus na peregrinação de Jacó mudou o rumo de sua vida (Êxodo 28:13,16).
5. Disposição pessoal e aplicação total de suas forças (2:18) – A resposta pronta e clara do povo à convocação de Neemias para o trabalho foi: “Disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as mãos para a boa obra” (v. 18). Que animadora resposta! A disposição pessoal para a edificação foi imediata. A aplicação de suas forças foi total, pois se declararam prontos e empregarem tudo o que pudessem, ou mesmo que estivesse além de suas naturais possibilidades, para que a obra chegasse a bom termo. É nesse estado de espírito que o ânimo atua para o trabalho com sucesso. Não seja a nossa resposta ao apelo de Deus, para a realização da Sua gloriosa obra, uma simples e pontual manifestação emotiva de disponibilidade pessoal, e nem uma declaração apressada de emprego de todos os nossos recursos no seu trabalho, que o tempo e os fatos supervenientes façam esquecer. O ânimo para trabalhar resulta de nossa verdadeira consagração, em que pesem as circunstâncias adversas e as fortes oposições que possam surgir. Veja Isaías 6:8 e Atos 26:19.
6. Confiança incondicional no poder realizador de Deus (2:20; 4:20) – Quando os adversários tiveram ciência do que estava acontecendo, tentaram, solertemente, derrubar o ânimo para o trabalho que se manifestava no comportamento do povo. À zombaria e ao desprezo, à insolência e ao descrédito que manifestaram, respondeu o povo com notável declaração da confiança que depositavam no poder realizador de Deus, afirmando: “o Deus do céu é quem nos dará bom êxito” (2:20). Quando a pressão aumentou, pondo em risco as suas vidas pelas sérias ameaças feitas pelo inimigo, disseram: “O Senhor pelejará por nós” (4:20). Somente chegaremos ao “ânimo para trabalhar” com amplo sucesso, quando assumirmos atitude de absoluta confiabilidade no poder realizador de Deus. Veja Efésios 3:16,20 (oração de Paulo); Filipenses 4:13; e Romanos 4:21... ”Abraão estava plenamente convicto do poder realizador de Deus".
7. Resistência firme ao inimigo e destemor na adversidade (4:13,14,17 e 21) – O “ânimo para trabalhar” brotou de forma exuberante, quando opuseram firme resistência às sérias ameaças feitas pelos adversários e demonstraram o seu destemor a toda a sua força opositora. Notável e pronta reação tiveram em tais circunstâncias adversas. Assumiram posição “por famílias, nos lugares baixos e abertos, por detrás do muro, com as suas espadas e as suas lanças e os seus arcos” (v. 13). O grande líder Neemias então lhes falou: “não temais, lembrai-vos do Senhor, grande e temível” (v. 14). Em 4:17 e 21 lemos o testemunho da corajosa atitude do povo: “cada um com uma das mãos fazia a obra e com a outra segurava a arma” (v. 17); “Assim trabalhávamos na obra; e metade empunhava as lanças desde o raiar do dia até ao sair das estrelas” (v. 21). É claro que o inimigo não quer que nos animemos para trabalhar. Ele atua com todos os recursos possíveis para se opor ao nosso envolvimento consagrado na obra do Senhor. Sabe bem ele que o “ânimo” é a grande ferramenta do sucesso no “trabalho”. O que nos cabe fazer perante toda a sua atuação opositora e ameaçadora é resistir-lhe (Tiago 4:7) e nos revestir “de toda a armadura de Deus, para podermos ficar firmes contra todas as ciladas do diabo” (Efésios 6:11) .Veja Romanos 8:31,37; João 16:33 e o ensino de Paulo em 2 Coríntios 4:7-10.
O resultado da adoção dessas sete atitudes resultou na expressiva declaração em 4:6: “O povo tinha ânimo para trabalhar”. Houve uma reversão completa do quadro melancólico de derrota e de frustração em razão do ânimo que adquiriram para o trabalho frutífero. Todo mundo sabe que sem “trabalho” não há realizações nem conquistas e sem “ânimo” não há resultados favoráveis.
O estado de anemia espiritual a que o povo chegara havia anulado as forças e o entusiasmo para ultrapassarem as adversidades e alcançarem uma completa restauração material, moral e espiritual. Tudo mudou porque Neemias soube incutir no povo o “ânimo” que havia perdido para o árduo “trabalho”. O registro final triunfante não poderia ser outro: “Assim, edificamos o muro, e todo o muro se fechou até a metade da sua altura”!
Conclusão – Destaco a expressão muitas vezes repetida no livro de Neemias: “muros derribados e portas caídas”. Ela define, com propriedade, a situação lamentável de muitos que hoje se identificam como cristãos, mas que vivem sem nenhuma espiritualidade, no caos da inércia e da total inutilidade para a obra do Senhor. Deus não está sendo glorificado! O povo de Deus não está sendo abençoado! Os muros estão derribados! As portas estão caídas! Impõe-se, urgentemente, a reversão desse funesto quadro. É tempo de restauração! Busquemo-la com sinceridade de propósito, adotando os sete passos vistos no digno exemplo de Neemias e do povo, que resultou em “ânimo para trabalhar”! Só com ânimo espiritual no trabalho alcançaremos resultados frutíferos.