1 Coríntios 15:20-28
Neste mês de março o mundo religioso cristão celebra a paixão e a ressurreição de Cristo. A ressurreição de Cristo é o fato proeminente da obra da Redenção do pecador. Boa oportunidade para se refletir sobre o precioso ensino de Paulo, no texto acima mencionado, a respeito da “ressurreição de Cristo”, que sustenta a “esperança cristã”. Depois de ter exposto sobre as consequências da negação da ressurreição de Cristo, Paulo aponta, com argumentos fortes, para as consequências da ressurreição de Cristo, a fim de enfatizar a gloriosa “esperança do cristão” que se assenta, alegremente, na segurança da ressurreição de Cristo. O que ele procura passar é que a ressurreição de Cristo implica, necessariamente, com a ressurreição dos cristãos. Ao fazê-lo, reporta-se à ordem dos acontecimentos dos últimos tempos acentuando que todas as coisas serão, então, submetidas a Cristo e a morte, afinal, subjugada. É um lindo quadro, pintado por Paulo, com pinceladas de grande efeito, da final e completa supremacia de Deus. O assunto é tratado evidenciando a alta significação do presente modo de viver do cristão, da compreensão dos grandes acontecimentos que hão de ter lugar no fim desta era.
Vejamos três aspectos aí versados por Paulo:
1. A ressurreição à luz do fato das “primícias” (v. 20) – As “primícias” era uma das importantes festas do povo de Israel (Levítico 23:9-14). As “primícias” compreendiam o primeiro feixe da colheita, que era trazido ao templo e oferecido ao Senhor (Levítico 23:10-11). Num sentido consagravam toda a colheita. Além disso, “primícias” implicavam na existência de frutos posteriores. Ambas as ideias estão implícitas na expressão “Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem”. É verdade que Cristo não foi o primeiro a ressuscitar dos mortos. Ele próprio ressuscitara alguns, mas todos esses tornaram a morrer. A ressurreição de Cristo foi para uma vida que não conhece morte! E, nesse sentido, foi Ele o primeiro, o precursor de todos os que haveriam de estar nEle. É o penhor e uma prova da ressurreição do Seu povo! Como o Cordeiro de Deus, Jesus morreu na Páscoa. Como o primeiro feixe (primeira colheita), Cristo ressuscitou dentre os mortos, três dias depois, no primeiro dia da semana. A ressurreição de Cristo é um sinal, uma garantia, um protótipo da ressurreição vindoura. É a garantia de que Deus nos dá de que, também nós, um dia, seremos ressuscitados, como parte daquela safra futura. Paulo usa, no final do v. 20, a expressão “primícias dos que dormem”. Temos aí, um particípio passado denotando a continuidade do estado dos fiéis que partiram. Para os crentes a morte não passa de um “sono”. O corpo dorme, mas a alma está com o Senhor (2 Coríntios 5:1-8; Filipenses 1:21-23). Por ocasião da ressurreição o corpo vai ser “acordado” e glorificado (1 Tessalonicenses 4:13-14). Aleluia!
2. A ressurreição à luz da realidade adâmica (vs. 21-23) – Paulo passa a argumentar com a realidade adâmica. Vê em Adão um tipo de Jesus Cristo através de contraste: “em Adão” x “em Cristo”. Ele desenvolve este assunto em Romanos 5:12-21 (leia). Na expressão “em Adão todos morrem”, Paulo se refere à mortalidade da raça, pelo parentesco que nos liga ao progenitor da raça, apontando para o mal espiritual do qual a morte física é, a um tempo, o símbolo e a pena. Estamos envolvidos com Adão numa solidariedade de culpa! Mas, da mesma forma como o pecado trouxe inauditas consequências do mal, assim a obra expiatória de Cristo trouxe inauditas consequências do bem! Que extraordinário contraste evidenciando a notável esperança do cristão: a certeza da sua própria ressurreição! O primeiro Adão foi feito da terra, mas o Último Adão, Cristo, veio do Céu (vs. 45-47). O primeiro Adão desobedeceu a Deus e trouxe pecado e morte para o mundo, mas o Último Adão obedeceu ao Pai e trouxe justiça e vida (“todos serão vivificados em Cristo”). É importante distinguir as duas vezes em que a expressão “todos” é aí empregada. A primeira vez (“todos morrem”) refere-se à humanidade inteira, pois todos estamos em Adão. A segunda vez (“todos serão vivificados em Cristo”) refere-se, apenas, a todos os que estão em Cristo. O versículo não dá qualquer apoio ao “universalismo”. Em Adão, todos os que devem morrer, morrem; em Cristo, todos os que devem viver, vivem. A expressão “serão vivificados” refere-se a algo mais do que a ressurreição como tal. Inclui a ideia da “vida abundante” que Cristo traz a todos que nEle estão.
Concluindo esse argumento, Paulo destaca que há “uma ordem” a ser observada no acontecimento. A palavra “ordem” (gr=tagma), originalmente, um termo militar que se referia a um destacamento de soldados, mas veio, posteriormente, a ter um sentido generalizado. O que Paulo agora faz é separar Cristo dos homens, depois de, no versículo 21, tê-Lo ligado a eles. Deus estabeleceu uma ordem, ou seja, uma sequência, no fato inconteste da ressurreição. Não existe nas Escrituras uma “ressurreição geral” (veja João 5:25-29 e Apocalipse 20). A expressão “vinda”, no final do versículo 23, é “parousia” (gr), que significa, basicamente, “visita” ou “presença”, usada pelos cristãos para se referirem à volta do Senhor. Assim, a expressão “na sua vinda” refere-se ao segundo advento. Quando o Senhor voltar nos ares, levará a Sua Igreja para o céu, ocasião em que ressuscitará dentre os mortos todos os que nEle têm confiado e todos os que têm morrido na fé cristã (1 Tessalonicenses 4:13-18). A isso chamou o Senhor de “a ressurreição da vida” (João 5:29). Quando o Senhor retornar à Terra, em julgamento, os perdidos vão ser ressuscitados na “ressurreição do juízo” (João 5:29; Apocalipse 20:11-15). Ninguém, na primeira ressurreição, estará entre os perdidos e, da mesma forma, ninguém, na segunda ressurreição, estará entre os salvos.
3. A ressurreição à luz da Soberania de Deus no Seu reino (vs. 24-28) – Quando Cristo vier para julgar, banirá o pecado, durante mil anos, e estabelecerá o Seu Reino (Apocalipse 20:1-6). Os cristãos reinarão com Ele e participarão da Sua glória e autoridade. Esse reino é profetizado no Velho Testamento e é chamado de “milênio” (latim= mille, annum). Após o “milênio” haverá mais uma rebelião contra Deus (Apocalipse 20:7-10), que Jesus Cristo a derrubará pelo Seu Poder. Os perdidos serão, então, ressuscitados, julgados e lançados no lago de fogo. Então, a própria morte (“último inimigo”) será lançada no inferno e o último inimigo será destruído (gr=katargeo). O Senhor Jesus Cristo terá colocado todas as coisas debaixo de Seus pés! Ele entregará o reino ao Pai e, então, o estado eterno virá. O “novo céu e a nova terra” serão introduzidos (Apocalipse 21 e 22). Jesus Cristo reina, hoje, nos céus, e toda a autoridade está “sob os seus pés” (Salmo 110; Efésios 1:15-23). Satanás e o homem ainda são capazes de exercer suas escolhas, mas o Deus Soberano está no controle de tudo. Jesus Cristo está entronizado hoje nos céus (Salmo 2). A ressurreição dos salvos ainda não aconteceu, nem a ressurreição dos perdidos (2 Timóteo 2:17-18). Ninguém sabe quando Cristo voltará para buscar a Sua igreja, será num momento, num abrir e fechar de olhos (1 Coríntios 15:52). Cabe a nós estarmos prontos para aquele evento glorioso (1 João 2:28-29). O pensamento de Paulo é que Cristo, afinal, terá plena e completa autoridade sobre todas as coisas e sobre todos os homens e que Ele, então, “entregará” essa autoridade, esse domínio, a Seu Pai. Quando Cristo voltar, será para reinar com majestade (1 Tessalonicenses 1:7 e seguintes). Tudo que se opõe a Deus será, afinal, subjugado. Assim Paulo fala de Cristo como Quem reduz a nada “todo principado, bem como toda potestade e poder”. Estas três palavras, provavelmente, não são empregadas para definir com precisão várias espécies de autoridade, mas a colocação delas juntas dá ênfase à ideia de que, naquele dia, não haverá poder governante de qualquer espécie que não fique completamente subserviente a Ele. A expressão “houver destruído” é tradução do verbo “kartageo” (gr), cujo significado aí é “tornar nulo e vazio”, “tornar inoperante”. Note, nesse trecho, como o pronome pessoal “ele” às vezes se refere a “Deus o Pai” e outras vezes se refere a “Deus o Filho” [convém que ele (Cristo) reine, até que ele (Deus) haja posto todos os inimigos debaixo dos seus pés (dele, Cristo)]. O próprio Filho Se sujeitará (a Deus) que tudo pôs sob Ele (Cristo). A relação entre Cristo e o Pai, expressa nesta passagem, é do maior valor para nós na formulação da doutrina da Santíssima Trindade. Temos aí uma amostra da “subordinação do Filho” (expressão teológica), mas isto não colide de modo algum com a crença na plena deidade de Cristo, o qual participa com o Pai da “substância” da Divindade. A “subordinação” diz respeito ao “ofício” não à “pessoa”. A referência é à obra de Cristo, como Redentor e como Rei no reino de Deus. Ele foi designado para essas funções pelo Pai (v. 27).Paulo não está falando da natureza essencial, quer de Cristo quer do Pai, ele está falando da obra que Cristo realizou e, ainda, realizará. Ele morreu pelos homens e resuscitou. Retornará e subjugará todos os inimigos de Deus. O clímax de Sua obra toda virá quando Ele entregar o reino Àquele que é a origem de todas as coisas. Tendo-Se tornado homem para a realização dessa obra, tomou a Si certa sujeição que, necessariamente, se imprime nessa obra, até à consumação, inclusive. O propósito disto “é para que Deus seja tudo em todos”.
Conclusão: Que as nossas reflexões nestes dias sobre a ressurreição de Cristo nos estimule a uma vida cristã consagrada a serviço do Mestre e alimente em nós, fortemente, a bendita esperança da nossa própria ressurreição!