A Responsabilidade do Cristão Perante o Mundo - 7

E, assim, se alguém está em Cristo é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” 2 Coríntios 5:17

Conferência proferida pelo irmão Jayro Gonçalves no Congresso das Igrejas dos Irmãos de Portugal em 17/04/2010

III – O MUNDO COMO SISTEMA PECAMINOSO – DEVEMOS REJEITÁ-LO, VIVENDO EM SANTIDADE

1. Conceito básico

Consideramos, até agora, o mundo em dois conceitos diferentes: como “espaço terrestre” por nós ocupado, no qual nos cumpre testemunhar do Evangelho, e como “o nosso próximo” a quem devemos amar.

Vejamos agora o mundo como o “sistema pecaminoso”, ampla e fortemente atuante na experiência da realidade existencial do homem. Foi arquitetado habilidosamente, infiltrado e estabelecido sorrateiramente na Terra por Satanás, para influenciar negativamente o comportamento do homem, e levá-lo a se conduzir contra a vontade de Deus, para longe dEle e à perdição eterna.

Um ardiloso esquema para a destruição dos valores morais e espirituais do ser humano atuou com sucesso desde o início da criação, conseguindo, numa gestão enganosamente hábil, abalar a credibilidade da criatura no Seu Criador, levando-a à desobediência e à consequente separação e à alienação de Deus. A consequência foi trágica, pois o homem, além de despojado daqueles valores, viu também anulada a possibilidade de ser instrumento da realização dos Seus propósitos, razão da sua existência. Além disso, perdeu a vida eterna que possuía, consequência pré-estabelecida por Deus, pelo cometimento voluntário do seu pecado, ficando sujeito, como justo e merecido castigo, à morte física, espiritual e eterna.

Trágica situação por causa do sucesso conseguido por Satanás na execução do seu sistema pecaminoso. E continua ele a atuar maldosamente, operando eficazmente seu diabólico sistema para a desgraça e degradação do ser humano, até e enquanto o Senhor lhe permite. O Senhor Jesus referiu-Se a essa sistemática ação diabólica e ao seu agente, o Diabo, que chamou de ladrão, nestes termos: “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir” (João 10:10). A Bíblia diz mais: “O mundo inteiro jaz no maligno” (1 João 5:19), reportando-se ao fato de que o ser humano está sob a ação perniciosa do maligno. Cuidemos para que não nos atinja e nos prejudique espiritualmente!

 2. Consciência das realidades opositoras, produzidas pelo “sistema pecaminoso”

A melhor estratégia do inimigo para derrotar o seu adversário é fazê-lo ignorar a sua existência e os seus artifícios cuidadosamente sistematizados para a ação destruidora. Anulada a consciência da existência do inimigo e do seu ardiloso sistema de ação, tem este o caminho fácil para dominar e derrubar o adversário, agindo de forma sub-reptícia, surpreendendo-o e apanhando-o desprevenido, sem recursos de defesa.

Devemos, pois, estar bem conscientes das realidades opositoras à nossa realidade espiritual, para que não sejamos apanhados de surpresa e cheguemos ao vexame de acachapante derrota na vida espiritual, imposta pelo inimigo mor de nossas almas: Satanás!

Infelizmente, vivemos época de um cristianismo anêmico e pouco interessado quanto a essas verdades consagradas nas Escrituras. É lamentável ver-se uma total indiferença quanto à necessidade da consciência das realidades opositoras à nossa realidade espiritual, por parte de muitos cristãos e, até, de lideranças evangélicas, o que resulta em inevitável e deplorável derrota na vida espiritual. Chegam alguns até, em reprovável tom de deboche, a negar a existência de Satanás, que é o que ele mais deseja que aconteça, para favorecê-lo na ação perniciosa de envolver os cristãos em seu sistema pecaminoso e derrotá-los fulminantemente.

Vejamos as três realidades opositoras das quais devemos ter consciência, para não sermos envolvidos pelo sistema pecaminoso administrado por Satanás. Na verdade os três aspectos se relacionam estreitamente e compõem o referido sistema pecaminoso.

1. Consciência da realidade satânica - Como acima já afirmamos, o que mais Satanás quer é que o ignoremos, inclusive a sua própria existência, e, como já dissemos, há os que negam a própria existência de Satanás. É lamentável! Isso serve bem à maldosa intenção do inimigo de afetar negativamente a nossa espiritualidade. A realidade satânica é abundantemente explicitada nas Escrituras. Do Gênesis ao Apocalipse deparamo-nos com ele, pessoal ou figuradamente, agindo perniciosamente para “matar, roubar e destruir”, com artifícios eficientes do seu sistema pecaminoso.

É denominado nas Escrituras como “adversário”, “caluniador”, “sedutor”, “astuto” e até como “anjo de luz”. Manifesta-se das mais diversas formas, como pessoas, animais, coisas etc., disfarçando-se de várias maneiras, para poder se aproximar e atuar com sucesso. Adota meios de atuação diversificados que mistificam e enganam, com os recursos ignóbeis de ciladas e ardis. Pedro nos adverte que “o diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando para devorar” (1 Pedro 5:8).

Já vimos acima que Senhor Jesus o identifica como “ladrão” que “vem somente para roubar, matar e destruir”. Temos exemplos na Bíblia de sua atuação envolvendo pessoas, com clara intenção de desmoralizá-las e derrotá-las em seus bons propósitos. O Senhor Jesus disse a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou, para vos peneirar como trigo!” (Lucas 22:31). Referiu-Se ao fato de que O haveria de negar, o que aconteceu (Lucas 22:54-62). O Senhor identificou Satanás falando pela boca de Pedro, quando este O reprovou por falar sobre Sua morte e ressurreição, dizendo-lhe: “Arreda, Satanás” (Mateus 16:23). Lemos em Lucas 22:3 que “Satanás entrou em Judas”, referindo-se à decisão deste de trair Jesus Cristo.

A realidade satânica está sobejamente provada nas Escrituras. Não podemos ignorá-la para que não sejamos vítimas do sistema pecaminoso urdido e administrado por Satanás.

2. Consciência da realidade carnal – Em que pese termos nascido de novo e agora sermos uma nova criatura, não podemos ignorar que continuamos com a velha natureza. A Bíblia nos ensina que há três condições possíveis na realidade humana: o “homem natural”, aquele que ainda não nasceu de novo; o “homem espiritual”, que nasceu de novo e não vive na carne que ainda está nele; e o “homem carnal”, o que nasceu de novo, mas não vive no Espírito, mas na carne.

A realidade carnal é claramente afirmada na Palavra de Deus. Paulo escrevendo aos cristãos de Corinto diz-lhes: “não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo” (1 Coríntios 3:1). Adiante escreve: “Porquanto havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?”.

A carnalidade nada mais é do que a cobiça de nossos desejos e paixões da carne. Pedro refere-se aos que o Senhor reserva, sob castigo, para o Dia do Juízo, declarando-os como aqueles que, segundo a carne, andam em imundas paixões (2 Pedro 2:10). Em Romanos 7:18, Paulo fala que na sua carne não habita bem nenhum, pois querer o bem estava nele, não, porém, o efetuá-lo. Em Romanos 8:8, ele afirma que os que estão na carne não poderão agradar a Deus.

Todos esses textos dão-nos a convicção da realidade carnal, que faz parte do sistema pecaminoso ministrado por Satanás. Não podemos, pois, ignorá-la, para não darmos lugar para o diabo agir.

3. Consciência da realidade mundana – A realidade mundana é também ingrediente muito bem manipulado por Satanás para nos emaranhar no sistema pecaminoso e nos anular espiritualmente.

Tiago ensina: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus?” (Tiago 4:4). Está aí bem definida a condição do mundano: Infiéis! Ser mundano é adotar no nosso comportamento, que deve ser espiritual, a maneira de viver do próprio mundo, com os seus métodos e atitudes pouco recomendáveis, inteiramente incompatíveis com os que decorrem da agência do Espírito. Agir de conformidade com o mundo é ser inimigo de Deus.

Fujamos do porte mundano que forma no sistema pecaminoso, articulado e administrado por Satanás, em detrimento de nossa espiritualidade.

autor: Jayro Gonçalves.