2 Coríntios 2:14 a 3:3
No trecho acima, Paulo apresenta argumentos notáveis que estabelecem a confiabilidade do ministério evangelístico que incumbem ao cristão:
a) O triunfo incomparável do Evangelho
b) A fragrância do Evangelho personificado no cristão
c) A autenticidade divina da pregação do Evangelho
d) A verdadeira carta de recomendação: fruto do Evangelho manifesto no cristão
Vejamos como ele expõe esse assunto:
1. O triunfo incomparável do Evangelho (v. 14) – A expressão "triunfo" é um vocábulo, no original, que sugere os cortejos triunfais dos generais e imperadores romanos, trazendo os seus cativos em grandes fileiras. Alguns seriam sacrificados aos deuses, outros seriam galardoados com a vida. A expressão aparece, mais uma vez, somente em Colossenses 2:15. Paulo se considera a si mesmo como escravo (conforme Romanos 1:1), levado triunfalmente no séquito de Cristo (Efésios 4:8). Destacamos os seguintes pensamentos desse texto precioso:
A vitória pertence a Deus – Paulo diz que é "Deus que... nos conduz em triunfo". É fato planejado pelo Pai, antes da fundação do mundo, cumprido no tempo certo, por Ele determinado;Foi ganha em Cristo – Jesus Cristo foi o fiel executor do plano do Pai. A vitória foi ganha no Calvário e se manifesta na vida vitoriosa de cada um de nós.Os crentes dela participam – Paulo afirma: "nos conduz". Todo o crente está colocado dentro do privilégio de ser conduzido em triunfo. Não se refere Paulo aí à ressurreição futura, mas a experiência presente de vitória, através da manifestação do Evangelho em nós e através de nós (Romanos 8:37).
a) A notícia dessa vitória é sempre divulgada – Paulo afirma que é "manifesta em todo o lugar". Por onde andar o cristão fiel estará manifestando a notícia da vitória do ministério evangelístico.
b) Deve motivar nossa constante gratidão a Deus – Paulo começa por dizer "Graça... a Deus". Nunca devíamos deixar de manifestar nossa gratidão a Deus pelo privilégio de sermos conduzidos em triunfo, como resultado da eficácia do ministério do Evangelho!
c) A perpetuidade da vitória – Note que Paulo afirma "sempre". O que Deus faz é definitivo e irremovível!
2. A fragrância do Evangelho personificado no cristão (vs. 15-16) – As expressões "fragrância" (v. 14) e "perfume" (v. 15) são, originalmente, a mesma palavra, relacionada com os sacrifícios (veja Gênesis 8:21; Êxodo 29:18), e aqui é introduzida ao lembrar-se Paulo do incenso que se usava nos préstitos triunfais. O apóstolo tinha espalhado por toda a parte o conhecimento de Deus, assim como o turiferário disseminava a fragrância do incenso. Nós somos para com Deus o "bom perfume em Cristo". Refere-se o texto aí à atuação dos mensageiros evangelísticos. A pregação da Palavra produz um duplo efeito:
a) "Tanto nos que são salvos" – Traz vida (João 3:19; 9:39; 15:22; 16: 8 e seguintes; Atos 13:4 e seguintes; 28:25, 28); os que aceitam a Palavra são "salvos".
b) "Como nos que se perdem" – Cheiro de morte para a morte, como consequência da recusa em ouvir a Palavra. A expressão "de morte para a morte" provavelmente indica a transição da morte espiritual (Efésios 2:1) para a morte eterna (Apocalipse 2:11; 20:14; 21:8).
3. A autenticidade divina da pregação do Evangelho (v. 17) – O apóstolo, de modo algum, atenua o rigor da mensagem do evangelho para fazê-la mais aceitável ao pensamento humano. A expressão original (gr=kapeleou) tem o sentido de "adulterar", referindo-se a atuação dos caixeiros-viajantes que enganam a respeito da mercadoria oferecida, para conseguir vendê-la. É o que muitos hoje estão a fazer com o Evangelho, falsificando-o para alcançarem seus desígnios interesseiros e não o desígnio nobre do Senhor, isto é o evangelho ao gosto do freguês! A autenticidade divina da mensagem pregada por Paulo se definia em quatro aspectos:
a) Origem – Falava da parte de Deus
b) Manifestação – Falava na presença de Deus
c) Esfera de ação – Falava de Cristo (conforme 13:3)
d) Atitude – Falava com sinceridade
3. A verdadeira carta de recomendação: Fruto do Evangelho manifesto no cristão (3:1-3) – Era prática a recomendação de ensinadores a outras igrejas (Atos 18:27). Parece que alguns mestres haviam visitado Corinto, levando tais cartas, talvez escritas pelos presbíteros de Jerusalém. Paulo argumenta que a posse de tais documentos não garantia a verdade do ensino do mestre que os exibisse. O melhor julgamento era através do fruto do seu trabalho. Assim, os que se haviam convertido por seu ministério em Corinto eram a sua carta, a qual, se devidamente lida, era suficiente recomendação.
A obra do Espírito nas vidas dos coríntios era recomendação suficiente para o trabalho de Paulo. Sob o novo concerto estabelecido pelo sangue de Cristo (Mateus 26:28), o Espírito Santo escreve a lei de Deus, não em tábuas de pedra, conforme ocorreu no Sinai (Êxodo 31:18), mas nas "tábuas do coração". Por isso, o crente tem a lei de Deus no coração e, pelo poder do Espírito, consegue guardá-la (ver Jeremias 31:33; Ezequiel 11:19).
Essa lei interior consiste em amar a Deus e ao próximo (Mateus 22:34-40; Romanos 13:8-10). Da expressão "outra vez", repetida em 5:12, pode-se concluir que os mestres, oponentes de Paulo, o estavam acusando de haver recomendado a si próprio, e então lembravam que essa credencial não inspirava muita confiança, comparada com as cartas que eram portadores. Mais adiante, em 10:12, Paulo faz voltar contra eles essa acusação. A expressão "manifestos como cartas de Cristo" é uma frase impressionante, que se refere à mensagem proclamada pelo testemunho da vida do crente, quando dirigido pelo "Espírito do Deus vivente".
Conclusão: Deus nos quer ver envolvidos, totalmente aplicados e eficientes, no exercício do glorioso ministério evangelístico. É privilegio inaudito participar do mesmo. Devemos nele nos empregar resoluta e consagradamente, descansados na sua incontestável confiabilidade, fundamentadamente exposta por Paulo no seu precioso ensino ora exposto.