Preservando a nossa identidade I

Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer” 


Neemias 6:3

O texto acima, sugere reflexão profunda, oportuna e necessária sobre o momento eclesiástico atual. O contexto histórico fornecido pelo relato do livro de Neemias, fornece elementos bastantes para se perceber a grandeza do caráter desse grande líder do povo de Deus, dadas as circunstâncias humilhantes que esse mesmo povo experimentava.

Quando Neemias se empenhava, com inusitada aplicação e sacrifício pessoal, na realização do propósito definido pelo Senhor, de atuar no sentido da restauração moral, material e espiritual do Seu povo, muitos foram os obstáculos que se lhe opuseram, vindos de todos os lados, não só dos seus desafetos declarados (porém intentavam fazer-me mal, Ne.6:2), os quais, na verdade, eram inimigos de Deus, bem como dos seus compatriotas, que não entendiam bem os propósitos de Deus para o seu próprio benefício e o modo como Deus atuava através da fiel instrumentalidade de Neemias.

Isso porque estavam muito distanciados do Senhor e tinham perdido a perspectiva correta de todo o projeto abençoado do Senhor para eles mesmos, como povo escolhido, no contexto do mundo da sua época. Aliás, o estado deplorável de decadência material, moral e espiritual da sua triste realidade histórica devia-se, exatamente, a esse motivo.

A solene e histórica declaração de Neemias: “Estou fazendo grande obra, de modo que não poderei descer” foi feita quando instado, astutamente, a se afastar do projeto de Deus, em que estava envolvido, com os seus poucos, fiéis e leais companheiros, e que visava à restauração material, moral e espiritual do Seu povo.

Os argumentos oferecidos pelos “notáveis” e “sábios” Gesém, Sambalá e Tobias (triunvirato diabólico) eram sobremodo ardilosos! Tinham por base a presunção de que o grupo que trabalhava na grande missão, liderado por Neemias, era fraco e não possuía os recursos suficientes para levar a bom termo tão grande empreendimento. Não lhes era difícil argumentar a favor da sua incapacidade pessoal e material para realizar a grande obra e, até, a favor do total fracasso de Neemias e seu grupo!

Tais argumentos, entretanto, embora parecendo lógicos e razoáveis, não tinham qualquer fundamento e não deveriam prevalecer. Por uma razão fundamental: o critério de avaliação que faziam baseava-se, apenas, na perspectiva humana da situação e não levava em conta as possibilidades divinas com que Neemias e o seu grupo contavam.

Na verdade, Neemias estava, totalmente, IDENTIFICADO COM DEUS E COM O SEU PROJETO para realizar aquela grande obra. Somente PRESERVANDO ESSA IDENTIDADE poderiam, ele e o seu grupo fiel, levá-la com sucesso até o fim, para a benção de todo o povo!

O que lhe propunham fazer os “sábios” interlocutores (vem, encontremo-nos na aldeia) não poderia, de forma alguma, ser aceito, sob o risco de pôr a perder o que faziam, sustentados pela provisão e força do Senhor! A proposta, embora aparentemente razoável, afrontava e confrontava todo o projeto de Deus para a realização da grande obra através, da instrumentalidade humana que Ele havia escolhido.

Era, acima de tudo, uma evidente manifestação de não confiabilidade em Deus e nos Seus recursos. E eles são imensos e incomparáveis! Só Ele pode realizar o impossível! Diz a Sua Palavra: “Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus” (Lc.18:27).

Ademais, é a Bíblia que ensina que o critério de Deus não segue a nossa lógica humana: “Deus escolheu as coisas loucas de mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes" (1Co.1:27). Paulo, ainda, ensina, com a força da sua angustiosa experiência de dor e sofrimento: "mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo... Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Co.12:9-10).

Neemias tinha essa perspectiva correta do que Deus é capaz de fazer, quando nos dispomos totalmente em Suas mãos, e admitimos, sem restrições, a verdade da Sua Palavra e confiamos nos resultados, ainda que as circunstâncias se mostrem desfavoráveis, consoante o critério humano de avaliação. Deus já havia definido o que queria, como queria que tudo fosse feito e através de quem deveria ser feito. Por isso não tinha porque deixar de confiar nEle. Estava perfeitamente IDENTIFICADO COM DEUS E COM O SEU PLANO.

Foi por isso que repeliu, com firmeza, a proposta ardilosa dos seus oponentes, dizendo: “NÃO PODEREI DESCER”. Em outras palavras: Prefiro PRESERVAR A MINHA IDENTIDADE! Que decisão acertada e louvável! Ela foi a chave da continuidade da grande obra que Deus se propôs a fazer através dele e do seu pequeno, mas fiel grupo.

 

Ao fazer essa solene declaração Neemias revelou uma das mais notáveis características do seu caráter de homem de Deus, que o credenciava para liderar aquela grande obra, com o beneplácito do Senhor: A sua firme CONVICÇÃO! CONVICÇÃO de que as coisas de Deus deverão ser feitas do modo de Deus, ainda que não o possamos entender, na maneira de Deus e através da instrumentalidade estabelecida por Deus, ainda que esta nos pareça insuficiente, frágil, incapaz e sem condições plausíveis de chegar ao sucesso.

Deus não muda os Seus projetos, ainda que nos pareçam inviáveis. Não nos cabe interferir, com tentativas e alternativas aparentemente razoáveis, no sentido de “auxiliar” a instrumentalidade que Deus estabeleceu para realizar o que se propôs fazer. Sem a convicção da correção do que fazemos jamais poderemos alcançar sucesso. Ele manifestou essa CONVICÇÃO em três aspectos:

  1. Disse: “ESTOU FAZENDO”. Era a convicção manifesta de que estava envolvido por Deus no que fazia e fazendo da maneira como Deus queria. É isso o que importa. Não são as avaliações humanas e os seus critérios usados para dimensionar o que está sendo feito e a maneira como está sendo feito, que devem prevalecer. Os opositores de Neemias podiam avaliá-lo, e o que ele fazia, e concluir, inadvertidamente, que o que estava fazendo não valia nada. Não levaria a nada. Mas a convicção de Neemias era outra. A verdade não era essa! Continuaria a fazer o que estava fazendo, porque sabia que era isso o que Deus queria, e Deus o havia de suprir para chegar ao bom termo. Devemos ter esse tipo de convicção para que Deus possa nos usar na amplitude da Sua vontade e na força do Seu poder, no contexto da Sua amada igreja, mesmo que as avaliações humanas não valorizem o que Deus está fazendo através de nós. Esse aspecto da convicção de Neemias PRESERVAVA A SUA IDENTIDADE.
  2. Disse: “GRANDE OBRA”. Era a convicção manifesta da grandeza da obra em que estava envolvido, apesar do conceito diverso que os seus opositores tinham a respeito. Quando perdemos de vista o valor e a importância do que fazemos, estamos, na verdade, menosprezando o que Deus está fazendo. Porque o que fazemos não é a nossa obra mas é a obra de Deus. Esse é um erro crasso que sempre cometemos. Perdemos a visão da grandeza da obra para nos engrandecermos daquilo que fazemos. Colocamo-nos no centro das realizações, creditando a nós, ao que somos e à nossa capacidade de fazer, o bom resultado que podemos alcançar. Devemos nos lembrar de que somos meros instrumentos de Deus. Quem faz a obra é Deus. Não temos do que nos orgulhar. Diz Paulo: “fazei tudo para a glória de Deus” (1Co.10:31). Como já vimos, Deus usa instrumentalidade fraca. Mas através da fraca instrumentalidade faz uma obra grande. Grande é o Senhor e a Sua Obra! Não nós! No contexto da igreja devemos nos aplicar, com fidelidade, no exercício dos dons que o Senhor nos concede, para a manifestação gloriosa da Sua grande obra, apesar da fraqueza de nossa instrumentalidade pessoal. Se nos fixamos em nossa importância e em nossos recursos pessoais, e se julgamos o resultado pelo que somos e em razão do que podemos oferecer da nossa grandeza pessoal, não vamos longe! Esse aspecto da convicção de Neemias PRESERVAVA A SUA IDENTIDADE.
  3. Disse: “NÃO DESCEREI”. Era a convicção manifesta de que não devia aceitar outra alternativa para chegar ao bom resultado, em razão das opiniões negativas dos seus opositores a respeito do que fazia e do modo como fazia. Tinha a firme convicção de que não deveria abandonar o barco! Aceitar a alternativa proposta seria admitir o total fracasso do projeto de Deus, a insuficiência da sua provisão e a sua assistência permanente. Era pôr em dúvida a própria Palavra de Deus e desconfiar da validade de todo o esquema que o Senhor revelara para que fosse seguido com fidelidade. Felizmente Neemias ficou com tudo o que os opositores apontavam como incoerente, impróprio, insuficiente, ilógico e inadequado. Mas ficou com Deus e com o Seu plano! Manteve a identificação necessária com Ele e com o Seu modelo de trabalho. Recusou, firmemente, o “auxilio” que lhe ofereciam, desde que estivesse disposto a abandonar o que fazia, do modo como fazia (que nada mais era senão o modo de Deus), para aceitar a sua alternativa que diziam ser mais viável, racional e competente! Devemos ter muito cuidado para não aceitar as alternativas que, nos nossos dias, estão sendo, continuamente, propostas para a melhor realização da obra do Senhor no mundo, em lugar do Seu MODELO, que é o da Sua gloriosa e amada igreja local, muitas vezes desconsiderada e pouco valorizada no contexto do movimento evangélico moderno, para servir aos interesses da globalização, à superficialidade doutrinária e à institucionalização dos meios de realização do ministério de Deus. Não devemos descer, nunca, saindo do MODELO do Senhor, sob a alegação infundada da fraqueza das igrejas locais e da sua incapacidade de atuar. Devemos valorizar a igreja local, que é o meio definido pelo Senhor para a Sua grande obra, em todas as suas áreas de atuação, definidas pelo Senhor na Sua Palavra e demonstradas positiva e amplamente na própria história da igreja através dos tempos, desde o seu início. Não se deve medir ou avaliar possibilidades e resultados espirituais com critérios intelectuais, racionais, temporais ou materiais, lógicos à razão humana, mas inválidos do ponto de vista de Deus, para se concitar o povo de Deus a aceitar alternativas institucionalizadas pelos homens. Esse aspecto da convicção de Neemias PRESERVAVA A SUA IDENTIDADE.


O texto da temática adotada para esta matéria é uma ilustração bem oportuna da realidade da Igreja dos nossos dias! Nota-se, melancolicamente, que a Igreja, que é, sem dúvida alguma, o mais extraordinário e único projeto de Deus para a realização do Seu propósito neste mundo, envolvendo os salvos pela Sua Graça, com vistas ao benefício de toda a criatura humana, que Ele tanto ama, a Igreja, repito, tem se afastado de Deus e da Sua Palavra, perdendo a perspectiva correta do Seu MODELO e, conseqüentemente, a sua IDENTIDADE, tanto com o Senhor como com o referido MODELO, no exercício da sua atuação eclesiástica .

Refiro-me à igreja local, que é a expressão visível e concreta dessa notável realidade espiritual! Mais do que nunca, carecemos, urgentemente, de cuidar em PRESERVAR A NOSSA IDENTIDADE. E isso só será possível, a partir do momento em que retornarmos, com humildade, para a Palavra de Deus, com disposição sincera e resoluta de nos apegarmos, apenas, ao MODELO que o Senhor nela estabeleceu para o bom desempenho da Igreja, no rumo correto da Sua vontade Soberana, confiando, sempre, que ele funciona, pois é de Deus e não dos homens.

Temos que nos conscientizar de que não precisamos buscar outros meios e formas, como alternativas válidas de “auxílio” ao sublime e eficaz ministério da Igreja. Não podemos ficar a imaginá-la à deriva, insignificante, limitada e incapaz para o grande propósito divino na terra! Parece incrível que se chegue a esse tipo esdrúxulo de conceito a respeito da igreja local nos nossos dias!

Na verdade, essa atitude serve bem e satisfaz aos desígnios de satanás, opositor ferrenho de Deus e da Sua amada Igreja, pois o que ele mais quer é vê-la inoperante e desviada do seu papel bíblico, definido pelo Senhor.

Ela não é uma organização humana, mas um organismo espiritual. Não é uma formulação societária burocrática secular, mesmo que denominada “sociedade religiosa sem finalidade lucrativa”, mas é uma instituição de Deus!

Quando se inaugurou e começou a atuar, e poderosamente, no tempo certo e na vontade Soberana do Senhor (At.2), não por convenção humana, mas por operação miraculosa e extraordinária do Espírito Santo, não tinha dimensões de grandeza material, intelectual e de qualquer outro tipo. Envolveu pessoas de muitas regiões do mundo de então, de condições pessoais diversas, as quais foram movidas, na sua compreensão e na ação, pelo PODER DO ESPÍRITO SANTO, que o Senhor prometera que viria, não só para operar no seu início, mas, também, na realização da sua missão histórica, até a consumação dos tempos!

Todos os que, então a compuseram, como o corpo de Cristo, e esta é a condição inquestionável de cada Igreja local, à luz da Palavra de Deus, evidenciaram compreensão sobre o propósito do Senhor e sobre a suficiência do Seu valioso suprimento espiritual, capacitando poucas e humildes pessoas, carentes de recursos pessoais, materiais, intelectuais (a maior parte deles), mas, realmente convertidas e com a visão do que Deus queria, para tão grande Obra no mundo.

Estabelecia-se, então, uma notável IDENTIDADE das “novas criaturas” com o seu Senhor (At.2:38) e com o Seu MODELO, exclusivo para a realização sublime da Sua Soberana vontade no mundo! Conhecia o mundo o mais extraordinário projeto de realização na terra, a favor da criatura humana, cuja execução fiel culminaria com resultados que ultrapassam os limites do benefício temporal ou material, para ter dimensões espirituais e eternas!

O Evangelho não se expandiu através de alternativas ao MODELO de Deus, concebidas pelo homem, sob a justificativa simpática e, aparentemente, convincente de se “auxiliar” as ditas pequenas, fracas e pobres igrejas locais, carentes de condições para cumprirem, de per si, com sucesso, a sua gloriosa missão e os ministérios que lhe são destinados na Palavra do Senhor, tais como o evangelismo, a edificação e o ensino do povo de Deus, o exercício da adoração, do louvor e da gratidão a Deus, a expansão da obra missionária, intercedendo, reconhecendo missionários e obreiros, enviando-os e sustentando-os, e, enfim, tudo aquilo que faz parte da sua exclusiva competência realizadora como igreja local.

Toda a sua expansão, durante os primeiros séculos da história do cristianismo, desde a sua inauguração como igreja de Cristo na terra, tem acontecido, com sucesso espiritual, na razão direta da fidelidade e da submissão dos cristãos ao MODELO de Deus: a igreja local. E desde que as alternativas institucionalizadas começaram a acontecer, o trabalho espiritual foi desvirtuado, resultando em desvios sérios da Verdade e a Obra de Deus tremendamente prejudicada.

Tanto que Deus, tem, de tempos em tempos, interferido nesse estado de coisas e restabelecido a ordem da Verdade, através de movimentos de retorno à Palavra com a formação e plantação de igrejas locais, à margem dessas institucionalizações poderosas. E são essas igrejas locais que Deus tem usado para a grandeza da Sua Obra no mundo, pequenas mas poderosas no Espírito, no manejo da Palavra da Verdade e na profícua atuação evangelística pessoal, incluindo a notável e fiel atuação missionária no mundo.


Estou convencido de que o quadro de decadência espiritual e moral que se constata nas igrejas locais, na atualidade, o que, infelizmente, só alguns lamentam, deve-se não ao fato de que as mesmas sejam incapazes, só por si, de cumprirem o seu papel bíblico, pela sua “eventual fraqueza e pobreza”, isto é, não porque o Modelo do Senhor tenha fracassado, mas porque elas acabaram se desviando desse MODELO e se submeteram às institucionalizações de grandeza e de pujança material, intelectual e pseudo-teológica, que se postaram acima delas, e, por isso mesmo, as esvaziaram, totalmente, do seu conteúdo de poder e de capacidade espirituais para corresponderem ao sucesso garantido por Deus, quando as concebeu como instituição eclesiástica divina no mundo.

Esse raciocínio bíblico não exclui a necessidade da inter-comunhão entre igrejas locais, procedimento sadio e proveitoso e não vedado pelo Modelo de Deus. Mas “inter-comunhão” não significa “institucionalização” de poderes paralelos ou acima das igrejas locais, os quais, estes sim, acabam por enfraquecê-las e esvaziá-las, desviando-as dos alvos de Deus, consoante o Seu Modelo.

É extraordinária a experiência histórica do chamado “movimento dos irmãos” (mais propriamente movimento do Espírito Santo) no mundo, durante mais de dois séculos de existência, que tem demonstrado, de forma iniludível e expressiva, a validade do MODELO neo-testamentário da igreja local e de sua forma de atuar.

Milhares têm sido as igrejas locais plantadas, espalhadas por todas as partes do mundo, pequenas, na sua maioria, é verdade, mas de manifestação poderosa e profícua na evangelização e nos outros ministérios que Deus lhe tem deferido pela Sua Palavra, mormente o da expansão missionária, alcançando os rincões mais inóspitos da terra.

Tem sido reconhecido, por todos os segmentos evangélicos que esse “movimento” de Deus, através das suas humildes e singelas igrejas locais, é dos que mais contribuiu para uma eficiente atuação missionária e expansão da VERDADE.

Isso tem acontecido, para a glória do Senhor, através da atuação fiel de servos consagrados, não clericalizados, mas poderosos na capacitação da Palavra e no exercício do poder de Deus, que aceitam o desafio de viver pela fé, chamados pelo Senhor, reconhecidos, enviados e sustentados pelas respectivas igrejas a que pertencem e a quem se reportam, nos termos de At.14:27, aplicados na sua atuação ministerial para a qual foram chamados por Deus, em plena harmonia com a sua igreja local, que os encomendou à Obra.

Não se colocam no campo missionário contando com o “auxílio”, “apoio formal”, “vinculação” ou “dependência” de qualquer entidade institucionalizada, as quais, realmente, jamais existiram e nunca devem ser admitidas, no correto conceito bíblico desse “movimento", pois o mesmo surgiu, resultante da direção e da poderosa atuação do Espírito Santo, e se mantém e se sustenta reconhecendo a exclusividade da igreja local, como instrumento eficaz para a realização de todos os ministérios que o Senhor lhe deferiu na Sua Palavra.

Na época da igreja primitiva, de grande e poderosa atuação, não existiam siglas. E como elas proliferam em nossos dias! Mas uma coisa não está sendo percebida: Tais siglas, que se propõem a “auxiliar” as igrejas locais ditas enfraquecidas e incapazes, na verdade, vão buscar nelas os elementos pessoais de que precisam para realizar os seus objetivos e os recursos materiais que se tornam necessários para se sustentarem (contribuição das igrejas).

Na verdade o que vemos é uma melancólica proposta de alternativas para a atuação da Igreja, não contempladas na Palavra do Senhor, que acabam por enfraquecê-la e desestimulá-la, afetando os seus valores espirituais e de outra ordem e reduzindo as suas possibilidades de atuação, submetendo-a a tutelas não bíblicas e desvirtuando os sublimes alvos que lhe foram estabelecidos pelo Senhor, pois a transformam em mera coadjuvante das realizações que são da sua exclusiva competência.

Todas essas considerações comprovam a oportunidade e a validade do tema proposto à reflexão de todos nós, à luz da histórica, notável e oportuna declaração de Neemias 6:3: PRESERVANDO A NOSSA IDENTIDADE.

Que a lição nos sirva! Avivemos a nossa CONVICÇÃO nos três aspectos apontados na atitude de Neemias. Resgatemos o verdadeiro e autêntico papel da igreja local, nestes tempos de confusão e alternativas. Não nos deixemos levar pelas propostas lógicas, razoáveis e bem formuladas dos “grandes projetos” e das “soluções contextuais”, de caráter globalizante, na presunção equivocada de que as igrejas locais são fracas, incapazes e sem condições de atuar com competência.

O MODELO para a realização do projeto de Deus na terra ainda é a Sua amada Igreja local. Deus não tem outra alternativa:
■O Senhor Jesus afirmou que as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt.16:18).
■É Ele quem a edifica e a usa.
■O Espírito Santo é o Seu Vigário, atuando, com poder, através dos seus membros, os quais Ele supre, distribuindo os dons para o exercício fiel do seu ministério.
■Cristo é a própria Cabeça da Igreja.
■A Palavra de Deus é a sua “cartilha”, orientadora e capacitadora.
■O seu governo há de ser através do Presbitério, pluralista, constituído pelo Espirito Santo e reconhecido pela própria Igreja (At.20:28; 1Tm.3:1-7; Tt.1:5-9; 1Pe.5:1-4).

De que mais precisamos para que ela cumpra a sua vocação celestial? De FIDELIDADE! Digamos às alternativas propostas: “Não poderei descer”. Sim, não desçamos da nossa posição e atuação válidas como igreja local, para nos distrairmos e desviarmos dos alvos do Senhor.

Permitam-me que faça oportuna paráfrase da notável exortação do Senhor ao Seu povo no passado, aplicando-a à igreja local dos nossos dias: "Se a minha “amada igreja”, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra" (2Cr. 7:14).

PRESERVEMOS A NOSSA IDENTIDADE!

NR: este artigo foi publicado inicialmente no Boletim Anual Informativo IDE-2001, e agora o transcrevemos e adaptamos mediante autorização do autor e editor.

autor: Jayro Gonçalves.