Ofertar

Atos 20:35: 11:27-30; Romanos 15:26-27; 2 Coríntios 8 e 9; 16:1-5

Introdução – “Mais bem-aventurado é dar que receber” (Atos 20:35). Ainda que essa expressão não combine com o mundo capitalista, ela é pura e verdadeira, pois o supremo exemplo está em Quem a citou, o Senhor Jesus Cristo. Isto está provado em 2 Coríntios 8:9... “conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”. Hoje, por ter Cristo Se entregado completamente sem nada pedir em troca, é que está formada a Igreja pura e santa, da qual, de graça, fazemos parte.

NOSSA RESPONSABILIDADE EM CONTRIBUIR

1. A Bíblia ensina que somos despenseiros de Deus (1 Coríntios 4:1-2) e isto equivale dizer que tudo que somos e temos pertencem a Deus, não a nós, pois somos administradores daquilo que o Senhor nos tem confiado. Segundo escreveu F. B. Meyer: “fomos designados despenseiros; não para entesourarmos, mas para servir ao Senhor... Na terra, o nosso alvo deve ser: usar da melhor maneira possível, o que o Senhor nos concede, a fim de Lhe darmos conta da nossa mordomia, com prazer, para quando Ele vier Lhe prestarmos conta”.

2. Hoje ouvimos no mundo inteiro clamores das igrejas por ajuda na evangelização, no ensino bíblico ou por boas literaturas de graça ou a preço acessível. Ouvimos de países que pouco ou nada sabem sobre a Pessoa e a obra redentora de Cristo e muitos povos nem sequer têm um dos Evangelhos traduzido em seus idiomas. Até mesmo o Brasil é um grande desafio para nós, os salvos. Para que a obra de Deus siga avante mantendo o que já existe e atenda a esses clamores são necessárias duas coisas básicas:

  • É preciso que o elemento humano vá para anunciar, pois este é o canal que Deus usa para evangelizar o mundo, Ele não usa anjos para esse fim, e sim homens e mulheres regenerados pelo poder da Palavra e do Espírito Santo;
  • É necessário dinheiro para a manutenção dos que vão e daquilo que for preciso para a execução da obra. Os recursos deverão sair dos bolsos e bolsas dos crentes como ofertas generosas das primícias de toda a sua renda, e não as sobras, visto que o incrédulo não tem o dever nem responsabilidade nenhuma de financiar a manutenção da obra de Deus, isto é privilégio e dever dos salvos.

EXEMPLOS E PRINCÍPIO BÍBLICO DE CONTRIBUIÇÃO

No Novo Testamento encontramos várias passagens que tratam deste importante assunto que são as ofertas do povo de Deus:

1 – Exemplos das igrejas na contribuição financeira: Atos 11:29 diz: “Os discípulos, cada um conforme as suas posses resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia”. Romanos 15:26... “Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar uma coleta... Isto lhes pareceu bem”. É fundamental observar que a partir do momento que os cristãos em Antioquia tomaram conhecimento da situação dos crentes da Judéia, eles tiveram iniciativa própria, pois o texto não indica que Paulo os tivesse impulsionado nesta tomada de decisão, mas vemos o apoio por ele dado à igreja em Antioquia que o incumbiu, com Barnabé, a levarem a oferta até Jerusalém. Por sua vez, as igrejas da Macedônia e Acaia também desejaram participar da assistência aos santos de forma voluntária e chegaram até a implorar a Paulo e aos seus companheiros de jornada o gozo desse privilégio. Temos a convicção de que Paulo foi orientado pelo Espírito Santo para ajudar as igrejas na maneira como deveriam fazer as coletas e as entregar em Jerusalém e nunca uma apelação pessoal da sua parte.

Tomando estes exemplos, as igrejas de hoje também deveriam ter uma visão mais ampla das necessidades gerais da obra de Deus em todo o mundo e, na presença de Deus, abrir mão de suas aplicações financeiras e distribuí-las com um rio de bênçãos às multidões e não como o mar que só recebe e nunca se dá por satisfeito. Atos 11.30 revela “que eles, com efeito, fizeram”. As igrejas normalmente têm por costume se reunir para tratar de assuntos administrativos, até muitas chamam estas de “reuniões administrativas”, quando normalmente há prestação de contas, balanço financeiro e planejamento para o futuro. Aí perguntamos: Será que é prioridade das igrejas locais nestas reuniões propor a distribuição dos fundos financeiros que estão em caixa para a obra do Senhor? E quando algum irmão propõe tal distribuição qual é a reação dos irmãos? Será que todos se sentem alegres em esvaziar o caixa da igreja deixando um saldo somente para a manutenção mensal? É preciso parar com muita burocracia administrativa nas igrejas locais, estamos precisando de igrejas que façam e não que projetem e não façam. Lembremo-nos dos exemplos das igrejas de Antioquia, Macedônia (Filipenses 4.10-19) e Acaia que a seu tempo não somente planejaram, mas fizeram.

2 – Um fundamento doutrinário para nossa contribuição em nossos dias: Ainda que já mencionasse alguma coisa anteriormente, creio ser preciso abordar mais um pouco este princípio. De quem é o privilégio e o dever de ofertar segundo Atos 11.29? Esse versículo começa dizendo que foram “os discípulos” que contribuíram. A obra de Deus só pode e deve ser mantida pelo povo de Deus. Também é preciso que o recolhimento das ofertas seja da maneira bíblica. Nestes dias de grande afastamento do que a Bíblia ensina, vemos certos tipos de campanhas para arrecadar fundos para diversos projetos da igreja e missões que até se torna inviável condenar as práticas da “igreja católica” que pede e aceita dinheiro de qualquer pessoa, promove suas quermesses e bazares para vender objetos ou alimentos para arrecadar dinheiro. Muitas das nossas igrejas estão fazendo a mesma coisa, somente com um rótulo diferente. Os crentes precisam ofertar sistematicamente e não de vez em quando e assim serão evitados desvios absurdos.

Quais os membros da igreja que devem ofertar conforme Atos 11.29; 1 Coríntios 16:2 e 2 Coríntios 9:7? Em todas essas citações encontramos a expressão “cada um”, e isto nos chama à responsabilidade pessoal e nos ensina que “todos” os crentes numa igreja local têm o mesmo privilégio e responsabilidade em contribuir, seja ele um milionário, classe média ou uma viúva pobre, isto não interessa para Deus e nada servirá de justificativa em Sua santa presença para não ofertar. Com certeza nenhum verdadeiro crente é rico demais para que possa contribuir e ninguém é tão pobre que não o possa fazê-lo, porque a grande questão não é propriamente o quanto ofertamos ao Senhor, mas o quanto seguramos para gastar conosco e a família com coisas de nosso próprio interesse e satisfação.

Qual a porcentagem da contribuição? Em 11:29... “conforme as suas posses”; 1 Coríntios 16:2... “conforme a sua prosperidade” (que será aceita de acordo com o que o homem tem e não segundo o que ele não tem); 2 Coríntios 8:3... “na medida de suas posses”; 2 Coríntios 8:11... “segundo as vossas posses”. Nestes versículos, aprendemos o princípio de uma contribuição conforme as posses (rendas) de cada um, isto quer dizer que de toda e qualquer renda, devemos separar as primícias e entregar ao Senhor em sincera gratidão pela Sua abundância para conosco. Ofertar segundo as posses indica que quem teve qualquer rendimento tem a responsabilidade de proporcionalmente ofertar.

O dízimo foi o mínimo exigido pela lei na Velha Aliança, mas a igreja vive sob a Nova Aliança, debaixo da graça, e nunca devemos estar contentes em contribuir somente com o mínimo da lei. O grande problema é que a maioria dos crentes no mundo inteiro contribui até menos que o dízimo. Extraí do curso bíblico “Princípios da Igreja no Novo Testamento”, página 87, o seguinte: “O crente não está sob a lei, mas sob a graça, portanto o contribuir para o serviço de Deus é inteiramente voluntário, motivado somente pela medida do nosso amor para com Cristo. Sendo o nosso amor pouco as nossas contribuições serão também mesquinhas, mas se amamos verdadeiramente o Senhor Jesus contribuiremos generosamente para o Seu serviço”. Sugiro que adquiram este curso da Escola Bíblica de Carangola.

Quem da igreja administrará as ofertas do povo de Deus? Lemos em Atos 11:30... “enviando-o aos presbíteros por intermédio de Barnabé e de Saulo” (leiam também 2 Coríntios 8:17-23). O exemplo que nos é dado nestes trechos é sobre a questão administrativa. Parece ter havido na igreja em Antioquia unanimidade de que Paulo e Barnabé fossem os encarregados nesta administração, ou seja, eles receberiam o dinheiro da igreja e o levariam para Jerusalém e lá entregariam aos presbíteros a fim de que estes fizessem a distribuição às pessoas. Já em 2 Coríntios 8 notamos que Paulo apelou para Tito chegar até Corinto para ajudar na arrecadação, mas não foi somente ele, pois no versículo 19 é informado sobre um irmão que ficou no anonimato, mas que tanto Tito como ele eram de muita confiança e dedicação e até bem conhecidos e estimados pela igreja local. No versículo 22 encontramos outro irmão que estava qualificado para ajudar aos irmãos em Corinto nesta ministração.

Destes exemplos tiramos a lição que deve haver mais de um irmão que tome conta das ofertas e que estes devem ter vidas consagradas. Com relação à igreja em Corinto, Paulo manifestou uma preocupação bem lógica quando escreveu: “evitando, assim, que alguém nos acuse em face desta generosa dádiva administrada por nós; pois o que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens” (2 Coríntios 8:20-21). Esta deve ser a preocupação daqueles que servem a igreja neste trabalho e que procurem ter não somente uma consciência limpa diante de Deus, mas sejam “transparentes” diante dos demais membros da igreja.

Ninguém deverá contribuir sob pressão ou por obrigação, conforme 2 Coríntios 8:3... “se mostraram voluntários”; 2 Coríntios 9:7... “segundo tiver proposto no coração não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria”; 2 Coríntios 9:13... “pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos”. Uma coisa que me impressiona em 2 Coríntios 8:9 é o que Paulo destaca, no contexto das ofertas, a Pessoa do Senhor Jesus, dizendo: “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”. Isto quer dizer que o Senhor Jesus abriu mão de tudo no céu, tomou um lugar no lar de José e Maria, um dos mais pobres daquela região, Ele nunca teve qualquer bem material para que viéssemos a nos tornar ricos. Irmãos, somos ou não somos ricos? Sendo assim, nosso coração deveria palpitar de tanto gozo e alegria em ofertar ao Senhor com profunda gratidão e adoração como fizeram os irmãos da Macedônia que “manifestaram abundância de alegria e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade” (2 Coríntios 8:2). Este segredo está numa entrega total e completa ao Senhor (2 Coríntios 8:5). Sem esta entrega o crente seja rico, classe média ou pobre, sempre será mesquinho no ofertar.

Qual o dia indicado para a entrega e onde separar? Diz 1 Coríntios 16:2... “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa”. Para muitos, este ponto pode parecer coisa sem muita importância, pois não há nenhum mandamento para a igreja guardar dias como estava ordenado aos judeus, mas para a igreja o primeiro dia da semana (domingo) se tornou marcante pelos seguintes motivos:

  • A ressurreição do Senhor Jesus se deu no primeiro dia da semana (Marcos 16:1-6,9);
  • Por duas vezes, Ele ressuscitado apareceu aos discípulos no primeiro dia da semana (João 20:19,26);
  • O Senhor Jesus Se manifestou a João na ilha de Patmos no dia do Senhor, que é o primeiro da semana (Apocalipse 1:10);
  • Foi nesse dia que a igreja foi formada pelo batismo com o Espírito Santo (Atos 2:1); • É no primeiro dia da semana que encontramos a igreja reunida para o Partir do Pão (Atos 20:7).

De acordo com o Léxico Grego do Novo Testamento, a palavra grega “kuriakon” que quer dizer: “pertencente ao Senhor ou do Senhor”, e nas duas vezes que é usada está associada à Ceia do Senhor (1 Coríntios 11:20), e com o dia do Senhor (Apocalipse 1:10). Pensando na orientação de Paulo em 1 Coríntios 16.1-2 e nos exemplos já citados, chegamos à conclusão que o primeiro dia da semana era um dia muito especial para os cristãos, pois nesse dia manifestavam gratidão ao Senhor pelas inúmeras bênçãos espirituais e materiais recebidas e ofertavam em louvor e adoração ao Senhor que tanto lhes deu. Assim sendo, creio que nossas ofertas, quando destinadas para o fundo geral da igreja, deverão ser feitas somente no primeiro dia da semana, quando há somente os crentes na hora da Ceia do Senhor, isto porque o nosso ofertar faz parte das ações de graça que resultam em adoração ao Senhor, tendo em vista a Sua generosidade em nos ter dado o Seu Filho unigênito (João 3:16; Romanos 8:32; Tiago 1:5).

No primeiro dia da semana o crente participa na Ceia do Senhor, mas antes de sair, em sua casa, com a consciência pura na presença de Deus, ele deve separar a oferta que vai entregar como oferta ao Senhor. Essa quantia deverá ficar o mais secreto possível para com os homens conforme o ensino do Senhor Jesus em Mateus 6.2-4, quando revela que a mão direita e a esquerda, partes do mesmo corpo, não devem saber entre si o que cada uma faz nesse sentido. Como na igreja somos igualmente membros do Corpo de Cristo, o que um irmão ofertar o outro não deverá saber, pois o importante é Deus saber e com certeza Ele recompensará o ofertante.

Quando ofertamos de verdade, além acumularmos tesouros no céu estamos em conseqüência dessa liberalidade fazendo com que a obra do Senhor tenha recursos financeiros suficientes para um extraordinário avanço, não sendo, portanto, necessário qualquer tipo de arrecadação fora do princípio bíblico como vemos em nossos dias igrejas se ajuntarem em “grandes campanhas missionárias” para vender entre os descrentes e os crentes, feijoada, churrasco, pipoca, cachorro-quente, arroz-doce etc, para enviar o lucro apurado dessas atividades aos servos de Deus no campo missionário no Brasil ou no exterior. A meu ver isso é humilhante!