O uso do véu (3)

1 Coríntios 11:2-16

O USO DO VÉU ATRAVÉS DA HISTÓRIA DA IGREJA

Até agora me esforcei para dar sólida fundamentação bíblica à doutrina do uso do véu. Tendo visto qual era a prática da igreja primitiva quanto ao uso do véu, vejamos o que, desde a antiguidade, os reconhecidos mestres de ensino bíblico pensavam sobre essa doutrina.

DO CRISTIANISMO PRIMITIVO ATÉ A REFORMA

Clemente de Alexandria (c. 150 – c. 215 A.D.): “Mulher e homem devem ir à igreja vestidos decentemente... porque este é o desejo da Palavra, uma vez que é decente que ela ore coberta”... “Por causa dos anjos... que ela se cubra”. [1]

Tertuliano(Cartago; c. 160 – c. 220 A.D.): “O homem cristão... não está sob nenhuma obrigação de usar uma cobertura” e a cabeça da mulher “deve trazer o véu”. [2]

Hipólito(teólogo romano; 170-236 A.D.): “Que todas as mulheres tenham as suas cabeças cobertas”. [3]

Ambrosiastro(um dos primeiros comentaristas bíblicos; c. 366-384 A.D.): Ao se referir à submissão feminina, ele afirma que “uma mulher, portanto, deve cobrir sua cabeça... na igreja...”. [4]

João Crisóstomo(Líder em Constantinopla, conhecido como “João Boca de Ouro”; c. 349-407 A.D.): Para o homem: “Não vos... cobrireis... ao orar diante de Deus, para que não insulteis tanto a vós quanto Àquele que vos honrou” Igualmente, a mulher deveria acrescentar uma cobertura de vestuário ao seu cabelo comprido para que “não apenas a natureza, mas também a sua própria vontade tome parte em seu reconhecimento de sujeição”. [5]

Severiano de Gabala(pregador em Constantinopla; m. 408 A.D.): Após afirmar sua crença de que os anjos (v. 10) devem estar presentes “quando o Espírito está operando”, ele escreve que “por esta razão as mulheres devem estar cobertas”. [6]

Agostinho(teólogo e escritor na África romana; 354–430 A.D.): “Não é adequado, mesmo às mulheres casadas, que descubram suas cabeças, já que o apóstolo orienta as mulheres a manterem suas cabeças cobertas”. [7]


Tomás de Aquino (filósofo e teólogo; 1225–1274 A.D.): “É relativo à dignidade de um homem [8]... não usar uma cobertura em sua cabeça... para mostrar que ele está imediatamente sujeito a Deus; mas a mulher deve usar uma cobertura para mostrar que, além de Deus, ela é naturalmente sujeita a outro”. [9]

DA REFORMA AOS ÚLTIMOS 100 ANOS

Martinho Lutero(teólogo alemão e “pai” da Reforma Protestante; 1483-1546): Em referência ao v. 10, Lutero afirma que “as mulheres devem... cobrir-se com um véu por causa dos anjos”. [10]

Hugh Latimer(capelão do rei Inglês Eduardo VI e mártir sob Maria I; c. 1487-1555): “Paulo disse que ‘uma mulher deve ter um poder na sua cabeça”. O que é isto, ter um poder na sua cabeça? É uma figura de linguagem na Escritura... ter um sinal e símbolo de poder por cobrir sua cabeça... Ele, então, expressa preocupação com o fato de que as mulheres cristãs dos seus dias estavam usando a cobertura sobre a cabeça como um item de moda ao invés de um símbolo significativo descrito pela Escritura. [11]

A Confissão de Augsburgo (afirmação doutrinal das igrejas Luteranas; 1530): “Paulo ordena, em 1 Coríntios 11:5, que as mulheres devem cobrir suas cabeças na congregação... É devido que as igrejas observem tais ordenanças em nome do amor e da tranquilidade”. [12]

John Cotton(clérigo e colonizador inglês; 1584–1652): “Todos os membros da igreja... devem se reunir... os homens com suas cabeças descobertas, as mulheres cobertas”. [13]

William Quelch(pastor britânico; c. 1590–1654): “Os próprios apóstolos de Cristo... ordenaram esta regra para todas as igrejas... as mulheres devem velar ou cobrir suas cabeças, sempre que elas aparecerem na congregação”. [14]

John Bunyan(escritor e pastor na Inglaterra; 1628–1688): “Por esta causa deve a mulher ter poder”, isto é, uma cobertura na sua cabeça, “por causa dos anjos”... Parece-me que, santas e amadas irmãs, vocês devem ficar contentes de usarem este poder ou distinção”. [15]

John Edwards(pastor e autor teológico; 1637-1716): “A vontade de Paulo é que os homens coríntios, que eram convertidos e santos, deviam estar com a cabeça descoberta em suas assembleias religiosas. E de Paulo os cristãos em geral receberam e praticaram este uso... As igrejas cristãs hoje se conformam a este uso... Aquilo que o Apóstolo entrega neste capítulo a respeito do comportamento das mulheres nas igrejas não era apenas para as mulheres daquele tempo, mas é obrigatório até o dia de hoje. Todas as mulheres cristãs estão comprometidas, em virtude do que o Apóstolo diz aqui, de sempre estarem com suas cabeças cobertas no tempo de oração e outros exercícios religiosos... Mas, alguém dirá, ‘O argumento do Apóstolo não terá valor agora, se cobrir a cabeça não é um sinal de sujeição [na nossa cultura]’... E respondo, as mulheres cristãs devem... observar a injunção do Apóstolo [por razões além da questão da submissão, porque]... há outras razões, que sempre terão valor... [No que concerne à menção de Paulo aos ‘anjos’ no v. 10] esta razão é perpétua”. [16]

Charles Spurgeon(pregador batista britânico; 1834–1892): “A razão pela qual nossas irmãs aparecem na Casa de Deus com suas cabeças cobertas é ‘por causa dos anjos’. O apóstolo diz que uma mulher deve ter uma cobertura na cabeça por causa dos anjos”. [17]

Presbiterianos de Londres (1844): Um grupo de pastores associado à Assembleia de Westminster afirmou que a autoridade de Deus deve ser a base do governo da Igreja universalmente,[18] e que a “luz da natureza” é uma expressão de Sua autoridade. Como um exemplo disto, eles escreveram que “no caso dos hábitos de homens e mulheres nas assembleias públicas de suas igrejas, que as cabeças das mulheres devem estar cobertas, e as dos homens, descobertas, durante a oração...”. [19]

Thomas Teignmouth Shore(capelão real britânico; 1841–1911) anotou que o uso da cabeça coberta continuou em “eras sucessivas” após o tempo de Paulo. Ele escreveu que “até o dia de hoje o costume universal [continua], nos lugares cristãos de culto, de mulheres estando cobertas e homens, descobertos”. [20]

Alice Morse Earle(historiadora e autora americana; 1851–1911): Em seu livro de 1903, intitulado Two Centuries of Costume in America [Dois Séculos de Costume na América], ela afirma: “Uma coisa singular deve ser notada nesta história – que com todos os caprichos da moda, a mulher nunca violou a lei Bíblica que a ordena cobrir sua cabeça. Ela nunca foi aos cultos da igreja com a cabeça desnuda”. [21]

UMA TRANSIÇÃO NO ÚLTIMO SÉCULO

No começo do século XX, a cultura ocidental dominante começou a se opor à ideia de que as mulheres deveriam usar a cabeça coberta na igreja. Contudo, mudanças generalizadas na prática da Igreja não se seguiram imediatamente. Em 1920, um médico e escritor britânico anotou: “Mesmo nos dias de hoje a injunção de São Paulo é ainda observada pela cristandade”. Na década de 30, um pastor canadense foi destaque em um grande jornal metropolitano simplesmente porque ele começou a permitir que as mulheres fossem à igreja sem nada nas suas cabeças.

Ao mesmo tempo, o pastor admitiu que esta não era a prática histórica da Igreja – que, desde que Paulo escreveu aos coríntios, o cristianismo tomou estas instruções sobre o uso da cabeça coberta como aplicáveis às “mulheres cristãs de todas as terras e através de todas as eras”. Similarmente, em 1964, um proeminente teólogo britânico anotou que esta prática “persistiu até o tempo presente”.

R. C. Sproul(teólogo e pastor, n. 1939): “Durante os meus anos de high school [ensino médio], quando eu ia à igreja no domingo de manhã, eu nunca via uma mulher naquela igreja (era uma igreja presbiteriana tradicional) cuja cabeça não estivesse coberta com um chapéu ou véu. Este é um daqueles costumes que simplesmente desapareceu da maior parte da cultura cristã”.[22] “Nós estamos persuadidos de que o mandado bíblico ainda está em vigor... Se há alguma indicação de uma ordenança perpétua na Igreja, trata-se daquela que é baseada em um apelo à Criação... E acho que não importa nem um pouco se é um lenço, um véu..., mas eu penso que o símbolo deve permanecer intacto, como um sinal de nossa obediência a Deus”. [23]

R. C. Sproul Jr.(teólogo e autor n. 1965): “A igreja rejeitou esta prática nos últimos trinta ou quarenta anos, não por causa de uma nova revelação interpretativa, mas por causa da pressão do mundo” De maneira geral “até 50 anos atrás, todas as mulheres – em todas as igrejas – cobriam suas cabeças... O que aconteceu nos últimos 50 anos? Nós tivemos um movimento feminista”.[24] “Eu acredito em cabeças cobertas na igreja” “Ele [Deus] nos diz que nossas esposas devem estar com as cabeças cobertas... Nossa família tem seguido esta prática”. “Alegra-me, também, ousadamente sugerir que virtualmente todos os cristãos, desde o tempo da epístola de Paulo até cerca de meio século atrás, concordam comigo neste assunto”. [25] Hoje, algumas pessoas aceitam que maridos têm autoridade sobre suas mulheres, mas não podem suportar ter uma mulher reconhecendo publicamente esta autoridade da maneira que Paulo descreve, isto é, cobrindo sua cabeça como um símbolo de submissão... Temo que muitos de nós que não honramos a Deus com nossas cabeças estejamos honrado a Deus com nossos lábios, mas não com nossos corações. [26]

J. Robertson McQulkin(reitor universitário n. 1927 – 03/06/2016): “Historicamente, os evangélicos creram que Deus comunicou a verdade entre os homens de tal maneira que ela pudesse ser compreendida e servir como um guia divino para o pensamento e a vida... mas, talvez por causa da influência do pós-modernismo, [agora nós temos uma] casa evangélica dividida... Alguns entre nós nos tornamos relativistas moderados, concedendo mais e mais terreno para o reino da incerteza... [por exemplo] nós desistimos do... uso da cabeça coberta... Agora nós somos desafiados por companheiros evangélicos para desistir de Adão e Eva, de papéis distintos no casamento, de limitações ao divórcio, de uniões exclusivamente heterossexuais, do inferno, da fé em Jesus como o único caminho para aceitação de Deus e – o que é mais essencial – de uma Bíblica inerrante”. [27]

John Murray (teólogo escocês, professor de Princeton, fundador de seminário; 1898–1975): “Como Paulo apela para a ordem da criação, é totalmente indefensável supor que o mandamento e o seu motivo tenham apenas relevância local ou temporal. A ordem da criação é universal e perpetuamente aplicável, como também são as implicações das condutas dela decorrentes”. [28]

William MacDonald(reitor do Emmaus Bible College e autor; 1917 – 2007): “Paulo ensina a subordinação da mulher ao homem indo de volta à criação. Isto deveria deixar de lado, para sempre, qualquer ideia de que este ensino sobre a cobertura da mulher era algo adequado culturalmente àqueles dias, mas que não é aplicável a nós hoje”. [29]

Charles C. Ryrie(autor, professor e reitor de seminário; n. 1925): “As mulheres devem usar véus ou coberturas no encontro da igreja, e os homens, não. As razões de Paulo são baseadas na teologia (autoridade, v. 3), na ordem da criação (vv. 7-9), e na presença de anjos na reunião (v. 10). Nenhuma destas razões estava baseada em costumes sociais contemporâneos”. [30] O comando de Paulo “não estava conectado com alguma peculiaridade local de Corinto”. [31]

CONCLUSÃO

Queridos irmãos e queridas irmãs, espero que tenham percebido que por mais de 1900 anos nas igrejas de diversas denominações as irmãs usavam cobertura na cabeça. Percebam que não foram os irmãos que iniciaram os trabalhos do nosso contexto (Irmãos) que inventaram de estabelecer o uso do véu. Eles apenas deram continuidade no que era comum a toda a cristandade desde o primeiro século. O que vimos foi que a maioria das igrejas abandonou a doutrina do uso do véu e nós somente a mantivemos. Infelizmente, hoje, em várias igrejas do nosso contexto, há líderes fazendo a mesma coisa, pois querem igualar-se às denominações, já que nenhuma delas observa o uso do véu.

Entre os leitores há líderes de igreja, há maridos, há esposas e filhas. A decisão de obedecer ou não é de cada um e cada um responderá ao Senhor pela sua decisão. Encerro citando um versículo que está em 1ª Coríntios onde Paulo faz um sério alerta sobre o que a eles estava ensinando: "Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo" (1 Coríntios 14:37).

 


[1] Clemente, Hypotyposes (Livro 3). Citado por Ecumênio (comentarista do Século X).

[2] Tertuliano, De Corona, Capítulo 14.

[3] The Apostolic Tradition of Hippolytus of Rome (18:4).

[4] Ambrosiastro (ed. Gerald Bray), Commentaries on Romans and 1-2 Corinthians (InterVarsity Press, 2009), p. 172.

[5] João Crisóstomo, Homily 26 (1st Corinthians 11:2-16). Philip Schaff, A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church (New York: Charles Scribner's Sons, 1889), pp. 153-154.

[6] “Fragmenta in epistulam i ad Corithios,” ed. K. Staab, Pauluskommentar aus der griechischen Kirche aus Katenenhanschriften gesammelt (Aschendorff: Münster, 1933), 262. Traduzido em: A. Philip Brown II, A Survey of the History of the Interpretation of 1 Corinthians 11:2-16 (Aldersgate Forum, 2011), p. 7.

[7] Santo Agostinho, Epistula CCXLV.

[8] Aquino explica “dignidade” como o relacionamento do homem debaixo de Deus e o homem sendo a “glória de Deus” (v. 7).

[9] Thomas de Aquino (Fabian Larcher, trad.), Commentary On the First Epistle to the Corinthians. Aquino apresenta sua própria explicação de por que bispos, freiras e cantores de seus dias não estavam contrariando a instrução de 1 Coríntios 11 quando usavam (ou não) uma cobertura em suas cabeças.

[10] John H Treadwell, Martin Luther (London: Marcus Ward & Co, 1881), p. 217.

[11] The Sermons of Hugh Latimer, Volume 1 (London: J. Scott, 1758), p. 280-281.

[12] Confissão de Augsburgo, Artigo 28:54-55.

[13] John Cotton, The True Constitution of a Particular Visible Church (Samuel Satterthwaite, 1642). 

[14] William Quelch, Church-Customs Vindicated (London: M.F., 1636), p. 16-20.

[15] John Bunyan, Henry Stebbing, “A Case of Conscience Resolved (Women's Prayer Meetings)” in The Entire Works of John Bunyan, Vol 4 (London: City Road and Ivy Lane, 1860), p. 418.

[16] John Edwards, An Enquiry Into Four Remarkable Texts of the New Testament (J. Hayes, 1692), pp. 125 & 130-135.

[17] Charles Haddon Spurgeon, Spurgeon's Sermons on Angels, (Kregel Academic, 1996), p. 98.

[18] O documento indica que ele está se referindo: “não a igrejas, mas à igreja, no número singular, ou seja, de uma... [não apenas] a igreja de Corinto, ou qualquer uma igreja particular, mas apenas daquela única Igreja geral sobre a terra.”

[19] Thomas Henderson, ed, The Divine Right of Church Government (New York: R. Martin & Co, 1844), cp. 3.

[20] C.J. Ellicott, ed, A New Testament Commentary for English Readers, Volume 2 (Cassell & Company, 1884), p. 330.

[21] Alice Morse Earle, Two Centuries of Costume in America (1620-1820), Vol 2 (The Macmillan Company, 1903), p. 582.

[22] R.C. Sproul, Now, That's a Good Question! (Tyndale House Publishers, 2011), p. 347.

[23] R. C. Sproul, Now, That's a Good Question!, pp. 347-348. Sproul ainda afirma sua crença de que o uso da cabeça coberta é um comando universal em: Knowing Scripture (Downers Grove, IL: Intervarsity Press, 1977), p. 110; “Table Talk Magazine” (Coram Deo), 17-21 de junho de 1996.

[24] R.C. Sproul, Jr., Should Christians Only Sing Psalms in Local Churches? (Christianity.com).

[25] 321 blog de R.C. Sproul Jr.: 13 de gosto de 2013, 28 de agosto de 2012, 18 de abril de 2012.

[26] Gary Sanseri, Covered Or Uncovered (Milwaukie, OR: Back Home Industries, 1999), x.

[27] Robertson McQuilkin and Bradford Mullen, “The Impact of Postmodern Thinking on Evangelical Hermeneutics” in the Journal of the Evangelical Theological Society (Vol. 40/1, março de 1997), p. 69–82.

[28] John Murray, “A Letter To The Evangelical Presbyterian Church” in Presbyterian Reformed Magazine (inverno de 1992).

[29] William MacDonald, Believer's Bible Commentary (Nashville, TN: Thomas Nelson Publishers, 1995), p. 1786.

[30] The Ryrie Study Bible Expanded Edition (Chicago: Moody Press, 1995), p. 1832.

[31] Charles Ryrie, The Role of Women in the Church, First Edition (Moody Publishers), p. 74; Charles Ryrie, The Pauline Doctrine of the Church (Bibliotheca Sacra 115:457, janeiro de 1958).

autor: Jabesmar Aguiar Guimarães.