Esta mensagem foi ministrada na 38ª Conferência Missionária no Rio de Janeiro (RJ), realizada no dia 7/9/2005. Minha esperança é que o Espírito Santo que me usou para esse ministério, venha da mesma forma usar estes escritos para um despertamento dos servos de Deus a se dedicarem mais a buscar almas para Cristo, e também cuidarem com muito carinho do povo de Deus.
O preparo do servo
Ao se contemplar o chamado de Isaías, o grande servo de Deus, para a obra que realizou, os servos de Deus de hoje poderão aprender muito. É necessário que se aprenda que ninguém deve sair para a obra sem que seja chamado por Deus, pois, como vamos ver, o Senhor chama somente os que foram preparados para isso.
Pode até ser que as pessoas se empolguem com os apelos e relatórios fantasiosos e saiam pensando que o Senhor os está chamando. Alguns, logo de início, descobrem que não se trata de ganho material e na avareza dos seus corações voltam ao serviço secular e, para desculparem suas consciências, dizem: “estamos fazendo tendas”! Infelizmente eles ficam fazendo tendas a vida inteira. Outros, depois de alguns anos, desanimam e abandonam o campo de trabalho voltando para perto de seus familiares. Estes são alguns dos resultados de sair para a obra sem ter sido, de fato, chamado por Deus.
Vamos notar que antes de qualquer outra experiência, precisamos ter:
Uma visão da soberania de Deus.
- Isaías – Ele teve uma experiência fantástica, uma experiência própria com o Senhor. Ele viu o Senhor em Seu esplendor, e disse: “Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono” (Isaías 6:1).
- Manoá e sua mulher – A mulher de Manoá era estéril, eles não tinham filhos, ele era da linhagem de Dã e eram servos de Deus. Antes que fossem usados por Deus para uma grande obra eles tiveram uma visão da soberania de Deus: “Disse Manoá a sua mulher: Certamente, morreremos, porque vimos a Deus” (Juízes 13:22). A soberania de Deus foi vista por eles ao presenciarem o milagre de fazer uma mulher estéril gerar um filho. Para o nosso grande Deus não há impossíveis.
- O apóstolo João – Esse servo do Senhor disse: “Vimos a sua Glória” (João 1:14). Na sua primeira carta ele menciona que os seus próprios olhos contemplaram a majestade do Senhor. Sem dúvida ele se referia à experiência no monte que conhecemos como o monte da transfiguração.
- O apóstolo Pedro – Em sua segunda carta, Pedro diz: “Fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2 Pedro 1:16). Ele também estava no monte santo quando o Senhor Jesus Se transfigurou, abrindo as “cortinas” para que eles pudessem ver o outro lado e contemplar a Sua glória, como o Eterno, cena que Pedro jamais esqueceu. Esse simples pescador foi o grande servo que levou milhares de pessoas a Cristo, era iletrado, sim, mas se vivesse hoje não poderia pregar em todo lugar porque não teria um “preparo teológico”. Esse homem simples teve uma visão da soberania de Deus. Esse era o segredo do seu trabalho tão abençoado.
- Pedro, Tiago e João – Notem o que Paulo escreveu a respeito destes três homens: “quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão” (Gálatas 2:9). Os três eram homens simples, mas tiveram uma visão da soberania de Deus e se tornaram os sustentadores do trabalho de Deus em Jerusalém. O Senhor precisa, hoje, de homens como estes para a manutenção da Sua obra. Não se preocupem se vocês não podem fazer um curso superior, se não foram a um seminário ou escola bíblica, o Senhor poderá usá-los de uma forma muito benéfica para as almas perdidas e para a edificação do povo de Deus.
Uma visão da santidade de Deus
Observem: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6:3). Isaías só pôde ver a sua própria situação depois de contemplar o Senhor no Seu trono e ver o quanto Ele é Santo. “E os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estão cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir” (Apocalipse 4:8). Quando o Senhor Jesus Cristo escrevia à igreja em Filadélfia, Ele Se apresentou como Aquele que é Santo. Durante a Sua vida aqui o Senhor Jesus era como um prumo na vida dos fariseus, mostrava todos os erros deles, por isso eles não o apreciavam. Pedro nos ensina que assim como Deus é Santo, nós também devemos ser santos: “Pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (1 Pedro 1:15). Todo aquele que tem uma visão da santidade de Deus também vai, com certeza, viver uma vida santa.
Uma visão da sua própria condição espiritual
O pecado é o nosso grande problema. Em Isaías 59, o profeta mostra que a mão do Senhor não está encolhida para que Ele não possa abençoar, e nem o Seu ouvido agravado para que não possa ouvir. Nos versos 1 a 3 ele revela aquilo que nos separa de Deus: a nossa iniqüidade, que faz com que o Senhor não ouça as nossas orações. Através desse profeta, Deus faz menção a alguns dos pecados que às vezes são visíveis em nossa vida, mesmo como cristãos: iniqüidade, mentira e maldade. Isaías reconhece o seu pecado: “Sou homem de impuros lábios” (Isaías 6:5). O que será que o levou a afirmar isso? Talvez ele esteja se referindo ao mau uso da sua língua em relação ao próximo.
É muito fácil falar mal dos irmãos. Tiago disse que todos nós tropeçamos no falar, e nos exorta a não falarmos mal dos irmãos: “Irmãos, não faleis mal uns dos outros” (Tiago 4:11). Quantas dificuldades seriam evitadas se atendêssemos a essa importante exortação. Por sua vez, Paulo se referiu também ao mau uso dos lábios: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e, sim, unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Efésios 4:29). A palavra torpe no original, pode ser traduzida por palavra podre, portanto como cristãos não devemos usar uma linguagem suja, devemos, sim, ter cuidado com o que falamos.
Ao contemplar a santidade de Deus, Isaias pôde perceber os seus pecados. Se vivermos com Deus, a vida santa do Senhor fará com que enxerguemos as nossas falhas.
Temos que confessar nossos pecados e ouvir a voz do senhor
“O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”(Provérbios 28:13).
Parece ser mais fácil ocultar o erro do que confessá-lo. Pode ser que vocês que estejam lendo estes escritos tenham escondido seus pecados, suas mulheres e seus filhos não sabem, a igreja não sabe, ninguém sabe, então ficam tranqüilos e esquecem, tudo passou! Será que passou mesmo? Será que vocês podem ficar tranqüilos, em paz? Como diz Salomão, o que encobre a sua transgressão jamais prosperará, pensem nisso! Leiam o Salmo 139 e vejam se é possível esconderem-se de Deus, ou esconderem de Deus alguma coisa.
“Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia” (Salmo 32:3). Essas palavras são de Davi, que foi, sem dúvida, um grande servo de Deus, mas houve um tempo em sua vida que escondeu os seus pecados. É triste ouvir Davi falando que durante esse tempo ele envelheceu precocemente. Não vale a pena deixar os pecados em oculto, é melhor enfrentar a disciplina da igreja e o que os outros irão dizer, e com humildade acertar tudo, do que enfrentar os sofrimentos do presente e as correções no Tribunal de Cristo.
“Ouvi a voz do Senhor”
Notemos que somente depois de passar por esses passos (reconhecer o erro e confessar o pecado) é que Isaías pôde ouvir a voz do Senhor (Isaías 6:8). A comunhão com o Senhor leva-nos a perceber Sua voz. Vejamos os exemplos contidos na Palavra de Deus:
■Samuel – Ainda bem jovem ele não tinha experiência com o Senhor. Teve dificuldade em entender que era o Senhor que estava lhe falando e foi preciso a ajuda de Eli para que ele atendesse a voz do Senhor. Para melhor compreender esse exemplo leiam 1 Samuel 3:1-11.
■Barnabé e Saulo – “E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (Atos:13:2). Percebam por este texto que o Espírito Santo está falando à igreja acerca do chamado de Barnabé e Saulo. A igreja, que vivia com o Senhor, ouviu a Sua voz, eles entenderam perfeitamente o que o Espírito do Senhor lhes estava ordenando. Tanto é que não hesitaram em obedecer à voz de Deus: “Separai-me agora”. Notem a última frase do versículo: “a obra que os tenho chamado”. O Senhor, através do Espírito Santo, tinha falado com esses dois servos antes de falar com a igreja, e o mais bonito de se observar é que ambos viviam envolvidos com as coisas do Senhor e por isso ouviram com clareza a voz de Deus.
■Paulo e Silas – “E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu” (Atos 16:6-7). Nesse exemplo vemos Paulo e Silas que, encomendados pelos irmãos, partiram para pregar a Palavra do Senhor. Por duas vezes, conforme lemos no texto em análise, eles foram impedidos pelo Espírito Santo. Sem dúvida eles ouviram a voz de Deus e entenderam o que o Espírito estava lhes falando. Devemos lembrar que o Espírito Santo habita dentro de cada um de nós, podemos sem muita dificuldade entender a Sua voz, é necessário que cada servo de Deus aprenda a discernir a voz do Senhor dentro de si mesmo.
■Amós – “Mas o Senhor me tirou de após o gado, e me disse” (Amós 7:15). Vejam como Amós tinha certeza do que estava fazendo: “O Senhor me disse”. Ele era um homem simples, um colhedor de sicômoros (um tipo de figo) e trabalhava com o gado, era um homem do campo, porém trabalhador. Sua vida com Deus lhe permitiu aprender a ouvir a Sua voz.
Comparem com Deuteronômio 18:21-22 “Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Sabe que, quando esse profeta falar em nome do Senhor, e a palavra dele não se cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o Senhor não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele”.
“A quem enviarei? E quem há de ir por nós?”
O Senhor tem os Seus poderosos anjos e Ele os usa para determinadas tarefas, mas o pregar aos pecadores foi confiado inteiramente aos homens e mulheres salvos por Cristo Jesus. Vejam o que o Senhor tem dito: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (João 17:18). Vejam ainda: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28:19-20). O Senhor confiou essa missão aos homens salvos, nós não podemos fugir da nossa responsabilidade. Muitos irmãos e irmãs, chamados por Deus, ouviram a Sua voz e disseram: Eis-me aqui, envia-me a mim. Esses que foram chamados permanecem fiéis ao Senhor e fazem a obra com dedicação.
O Senhor quer trabalhadores para Sua seara: “Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Mateus 9:38). É isso que temos que pedir ao Senhor! Trabalhadores, irmãos incansáveis, que vão fazer a obra simplesmente com o desejo de glorificar o nome do Senhor. Os enviados pelo Senhor sempre foram pessoas, às vezes simples, outras vezes sem a chamada cultura secular ou religiosa, cuja fé Nele era notável. Quanto a essas pessoas que no serviço secular eram trabalhadores, vamos observar alguns exemplos:
■Amós – “Respondeu Amós e disse a Amazias: Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta, mas boieiro e colhedor de sicômoros. Mas o Senhor me tirou de após o gado e o Senhor me disse: Vai e profetiza ao meu povo de Israel” (Amós 7:14-15).
■Eliseu – “Partiu, pois, Elias dali e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de bois adiante dele; ele estava com a duodécima. Elias passou por ele e lançou o seu manto sobre ele. Então, deixou este os bois, correu após Elias e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe e, então, te seguirei. Elias respondeu-lhe: Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo. Voltou Eliseu de seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então, se dispôs, e seguiu a Elias, e o servia” (1 Reis 19:19-21). Eliseu estava trabalhando quando o Senhor através de Elias o chamou. Um homem trabalhador, ouvindo a voz de Deus despediu-se de seus pais e seguiu a Elias, tendo sido obediente ao chamado. Abateu os seus bois e queimou os carros, suas ferramentas do trabalho secular, por certo ele não pretendia voltar a esse tipo de atividade nunca mais, mas depender do Senhor para o seu sustento, como de fato foi a sua vida. Ele nos deixa um exemplo de confiança plena no poder do Senhor em suprir as nossas necessidades. Os obreiros nunca deveriam se esquecer desse princípio, se querem ganhar muito dinheiro e ter uma vida abundante neste mundo, nunca digam que foram chamados por Deus para viver em tempo exclusivo. Será que o nosso grande Deus não é capaz de sustentar aqueles que Ele chama e envia ao campo?
■Pedro e André – “Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens” (Mateus 4:18-19) É fácil pensar que aqui foi o momento da conversão desses servos de Deus, mas não foi. Na verdade aqui o Senhor os está chamando para dar todo o seu tempo para a obra de Deus. A conversão deles se deu quando João, o batizador, lhes apontou Jesus Cristo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:37), e eles foram até ao lugar onde o Senhor residia e passaram um tempo com Ele, nessa ocasião se converteram a Cristo. Logo em seguida, André levou Pedro até ao Senhor Jesus Cristo e ali houve a sua conversão, ocasião em que o Senhor mudou o nome de Simão para Cefas, que quer dizer Pedro: “...e o levou a Jesus. Olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)” (João 1:42). A mudança do nome é um forte indício da sua conversão. Quando o Senhor Jesus os chamou para o ministério, eles estavam “lançando as redes”, estavam em atividade, pois eram trabalhadores. Se uma pessoa não gosta de trabalhar e é recomendada à obra por sua igreja, também será preguiçosa na obra de Deus. Se uma pessoa trabalha só quando é forçada pela vigilância dos patrões, será que quando estiver na obra, onde terá que programar o seu trabalho e ninguém a estará vigiando, ela fará o trabalho?
■Tiago e João – “Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes” (Marcos 1:19). Tiago e João eram sócios de Simão e André, eles juntamente com o pai de Tiago e João tinham um empreendimento de pesca (João 1:20). Simão e André foram chamados quando lançavam as redes, Tiago e João quando as consertavam. Esses homens, de fato, eram pessoas simples, mas honradas e trabalhadoras, e o resultado desse chamado já sabemos, eles foram grandes servos de Deus, usados por Ele para ganhar muitas almas para o Reino.
Uma igreja local deve seguir os princípios bíblicos, não deve recomendar à obra uma pessoa somente para se livrar dela. Também não deve recomendar uma pessoa que não gosta de trabalhar e, o mais importante de tudo, se a igreja não consegue ouvir a voz de Deus não deve fazer nada, mesmo que o irmão insista em querer. Por outro lado a igreja deve se dedicar ao Senhor com maior empenho, como a igreja em Antioquia: “E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (Atos 13:2).
Resposta ao chamado do Senhor
“Eis-me aqui, envia-me a mim” (Isaías 6:8).
Todos o que ouvem o chamado de Deus para servir em tempo integral devem:
Ter um propósito firme
“Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” (Lucas 9:62). No contexto deste versículo, o Senhor Jesus está recebendo propostas de pessoas que queriam segui-Lo. Devemos lembrar que enganar ao Senhor é impossível! Enganamos os homens, a igreja local, mas ao Senhor nunca podemos enganar. Se o irmão lança a mão no arado, tem que ser com propósito, tem que ter disposição para fazer o trabalho com dedicação. Olhar para trás pode trazer grandes prejuízos para nós e para obra que estamos a fazer.
Cabe aqui nos lembrarmos dos Israelitas que olharam para trás, os desejos pela vida no Egito voltaram ao coração deles: “E o populacho que estava no meio deles veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos. Agora, porém, seca-se a nossa alma, e nenhuma coisa vemos senão este maná” (Números 11:4-6). Eles erraram por desejar de volta a vida que tinham no Egito. Pode ser que uma pessoa saia para a obra pensando que vai ter muita fartura, muito conforto e, de repente, a coisa é diferente, ele tem o necessário, mas não é só isso, ele quer mais! Então começa a se lembrar do seu trabalho secular, “olhando para trás”. Portanto, o servo de Deus tem que ter um propósito firme.
Desprender-se dos laços comerciais
“Não temas; doravante serás pescador de homens. E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram” (Lucas 5:10-11). Tiago, João e Simão Pedro eram sócios no serviço secular, mas nada os impediu de atender ao chamado do Senhor, “deixando tudo”, para irem à busca das almas perdidas. Muitas vezes o bom lucro é o grande inimigo, pois o lucro maior é aquele que vem do nosso trabalho espiritual. O grande sábio Salomão, usado por Deus, disse: “o que ganha almas é sábio” (Provérbios 11:30). Devemos lutar para ganhar aquilo que não podemos perder.
Desprender-se dos laços amistosos
“Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após Jesus” (Marcos 1:20). A amizade é uma coisa importante na vida de qualquer pessoa, é bom ter verdadeiros amigos, pessoas da nossa confiança, mas quando se trata de atendermos ao chamado de Deus essas amizades não devem interferir. Os amigos que temos no mundo descrente nunca irão compreender que o Senhor está nos chamando para uma obra especial, para eles, o serviço secular é o mais importante. Se vocês têm um bom emprego, eles vão dizer que vocês não podem deixar esse emprego porque poderão não achar outro igual. Se têm uma firma e ganham bem, eles acharão uma loucura deixar isto para se dedicar ao ministério. Jamais eles irão compreender a Obra de Deus. Se vocês ouviram a voz do Senhor, não deixem que suas amizades os desviem do caminho do Senhor.
Desprender-se dos laços familiares
“Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:26). Talvez, para o obreiro chamado por Deus, a parte mais difícil seja a de se desprender dos laços familiares, pois duas famílias estão envolvidas, a do marido e a da esposa. Geralmente as famílias não querem que o servo de Deus vá para longe, outras vezes pensam na perda financeira e, esquecendo-se do lucro espiritual, fazem pressão para que continuem como estão. Nós precisamos entender que embora amemos muito os nossos familiares, o nosso maior amor deve ser para com o Senhor que nos chama à Sua obra. Se não nos desprendermos dos laços familiares, podemos até ir para o campo, quem sabe começar uma igreja, ou ajudar um pequeno trabalho, mas com certeza mais cedo ou mais tarde daremos um jeito de correr para perto da família, ou retornarmos à vida que vivíamos antes de irmos para o campo.
Colocar-se à disposição do Senhor
“Dispõe-te, e vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim” (Jonas 1:2). Jonas ouviu a voz do Senhor o chamando para pregar em Nínive, a grande cidade. Não sabemos ao certo a sua população, mas a Palavra de Deus diz que era uma cidade em que se gastava três dias para percorrê-la. Seus habitantes eram maus, sanguinários (Naum 3:1), quando venciam seus inimigos, cortavam suas mãos, pés, narizes e orelhas, vazavam os olhos dos cativos e faziam pirâmides com as suas cabeças. Parece os nossos dias, quando a maldade impera em todos os cantos, principalmente nas grandes cidades.
Nosso Brasil é muito carente do Evangelho puro, o Evangelho de Cristo, o Evangelho que salva. Será que o Senhor não quer um despertamento da nossa parte para alcançarmos as grandes cidades da nossa pátria? Pense um pouquinho nas grandes cidades do Brasil que ainda não têm um testemunho, pelo menos, do Evangelho puro. Vamos orar para que o Senhor envie trabalhadores à esta grande seara que está madura para a ceifa. Para que homens e mulheres se coloquem a disposição do Senhor para este importante serviço é preciso:
Pôr a vida no altar para Deus
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:1-2). Apresentar o nosso corpo em sacrifício é o mesmo que morrer para o mundo e viver para Deus: “Assim, queimarás todo o carneiro sobre o altar; é holocausto para o Senhor, de aroma agradável, oferta queimada ao Senhor” (Êxodo 29:18). Observem neste texto que o carneiro era inteiramente oferecido a Deus, isso é holocausto. Como no holocausto, devemos oferecer a Deus todo o nosso ser como um sacrifício, isso envolve deixar que o Espírito Santo use nossos lábios, nossos ouvidos, nossas mãos, nossos pés e tudo que é nosso todo para servir a Deus com toda dedicação que Ele merece. Vejamos um grande exemplo:
■Os cristãos da Macedônia – “E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus” (2 Coríntios 8:5). Os irmãos da Macedônia eram pobres ao ponto do apóstolo Paulo querer deixá-los fora da coleta que estava fazendo para ajudar os pobres na Judéia. Eles, por sua vez, imploraram que Paulo os deixasse participar. Como uma pessoa tão pobre pode querer contribuir para a Obra de Deus? O segredo está nestas palavras de Paulo: “deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor”. A vida deles estava no altar! Nós sabemos que no plano sábio de Deus Ele deixou a oportunidade para todos contribuir, uns podiam ofertar um novilho, outros um carneiro, outros um casal de pombos ou um par de rolas, mas o que o Senhor quer é um coração contrito a Ele, como o dos cristãos da Macedônia. Pensem nisso e coloquem-se à disposição do Senhor.
O ensino de Paulo
“Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou” (2 Timóteo 2:4). Paulo usa a figura de um soldado em serviço. O soldado tem que ter uma postura digna, ser submisso aos seus superiores, respeitá-los e não pode se envolver com nada, senão em fazer a vontade do seu superior. Como servos, temos que estar à disposição do Senhor. Se o servo de Deus sentiu o chamado para se envolver somente com a Obra do Senhor, ele não deve voltar atrás nesse compromisso.
■Se ele volta ao trabalho secular, ele não terá o tempo disponível para todo o trabalho que tem que ser feito, e se o objetivo é ganhar almas, por que querer ganhar dinheiro?
■Se ele saiu confiando no sustento vindo da parte do Senhor e volta ao trabalho secular, ele está dizendo na prática que o seu Deus não teve condições de sustentá-lo. Isso é triste demais.
Vejamos um exemplo deste porte, repreendido pelo Senhor Jesus: “Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Disseram-lhe os outros: Também nós vamos contigo. Saíram, e entraram no barco, e, naquela noite, nada apanharam. Mas, ao clarear da madrugada, estava Jesus na praia; todavia, os discípulos não reconheceram que era ele. Perguntou-lhes Jesus: Filhos, tendes aí alguma coisa de comer? Responderam-lhe: Não” (João 21:3-4).
O apóstolo Pedro, quando chamado para servir ao Senhor em tempo exclusivo, deixou tudo e O seguiu, deixou sua profissão e foi trabalhar com o Senhor na propagação da Palavra. Agora o Senhor não está com eles de forma visível, foi morto, mas ressuscitou. Com a ausência visível do Senhor algumas dificuldades foram permitidas, talvez para que eles e nós aprendêssemos a lição. Pedro, que era um líder espiritual, disse: “Vou pescar”. Os que estavam com ele disseram: nós “vamos contigo”. Por que voltaram a pesca? Porque não tinham o que comer. O que fazer quando essas necessidades surgem? Será que devemos logo, e sem mesmo pensar, voltar ao trabalho secular, ou devemos ir ao Trono da Graça e falarmos com o nosso Pai celestial?
Pedro sempre foi muito impulsivo, mas era um líder nato, sua decisão errada levou outros com ele no mesmo erro, pois não confiaram no Senhor, mas em si mesmos. O resultado de quem confia em si mesmo sempre é desagradável. Eles trabalharam a noite toda e nada apanharam. Por certo a fome aumentou muito, agora não somente a fome, mas o cansaço de tentar o que comer sem conseguir, parece mesmo que estão no fundo do poço!
É nessa hora que o Senhor Jesus Cristo aparece para lhes ensinar o que era necessário para uma vida vitoriosa no serviço do Senhor. “Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? Porque sabiam que era o Senhor. Veio Jesus, tomou o pão, e lhes deu, e, de igual modo, o peixe”. (João 21:12-13). O Senhor não pescou, mas tinha pão e peixe para eles comerem. Pedro por certo aprendeu a lição de confiar no Senhor para o seu sustento, pois não lemos de que ele tenha voltado a pescar, ou lançado mão de qualquer outro trabalho para o seu sustento e de sua família. A lição com certeza não foi somente para ele e seus companheiros, seguramente foi para todos os servos que o Senhor têm chamado a servir com tempo exclusivo para a Sua Obra.
Eis-me aqui! Aquele que lança mão do arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus. Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida.