Adoração é a mais elevada ocupação da Igreja de Deus e do crente de forma individual. O Senhor não procura evangelistas, pastores ou mestres, pois estes Ele os dá à Igreja, mas procura “Adoradores” (João 4:23). Somente quando a Igreja considera a adoração a sua tarefa prioritária é que ela está melhor equipada para a execução de sua tarefa de evangelizar o mundo. Somente depois de cumprir o seu ministério como “sacerdócio santo” (1 Pedro 2:5), é que a Igreja está em condições para o cumprimento do seu “sacerdócio real” de anunciar o seu Senhor (1 Pedro 2:9).
Mas o que é adoração? É um ato de tão elevada expressão que, por maior esforço que façamos, encontraremos dificuldade em defini-lo. É um ato de contemplação de Deus. A alma piedosa, aproximando-se do Criador e contemplando, pela fé, a beleza, a glória, a majestade e a perfeição infinitas do Supremo Criador, derrama-se perante Ele em ardente amor, prestando-lhe toda a homenagem e toda a honra a Ele devidas por ser Ele Quem em verdade é (Deus). Adoração é o reconhecimento e exaltação à natureza e atributos devidos somente a Deus.
Notemos, primeiramente, as condições para a adoração. Podemos apresentar pelo menos três condições para uma adoração aceitável:
- A Regeneração – O homem natural não tem capacidade própria para adorar a Deus; nem mesmo tem direito aos privilégios do Reino de Deus. O Senhor não aceita a adoração de quem não se submete aos termos da Sua aliança (Salmo 50:16-17). O pecador não regenerado não pode ver o Reino de Deus (João 3:3). O homem natural não pode compreender as coisas espirituais (1 Coríntios 2:12-16);
- A Adoração em Espírito (João 4:24) – Isto significa adoração de conformidade com a natureza de Deus. Deus é espírito e, em razão disto, somente pode ser adorado “em espírito”;
- A Adoração em Verdade (João 4:24) – Isto diz respeito aos motivos e à vida do adorador. Se quanto à natureza do culto temos de adorar em espírito, quanto aos motivos temos de adorar em verdade; temos de trazer à presença de Deus um espírito cheio de sinceridade, honestidade e verdade.
Portanto, um culto formal, orientado por uma “ordem” humanamente estabelecida, pode ser muito atraente e bonito, mas não é culto verdadeiro. A adoração a Deus não consiste em rituais complicados e cerimônias pomposas. Esses artifícios humanos podem, quando muito, provocar emoção e, não raro, salvam as aparências, satisfazem o orgulho e vaidade humanos, mas não alegram o coração de Deus.
Deus quer ser adorado em espírito, e para que isto se tornasse possível foi que Ele nos conferiu uma natureza espiritual mediante o novo nascimento. Compete-nos, pois, desenvolver essa natureza, para que melhor possamos cultuá-Lo. A vida de um adorador deve ser coerente com a sua profissão de fé; o culto que ele presta deve expressar o seu verdadeiro amor para com Deus. Todo adorador que não esteja empenhado em consagrar todo o seu ser a Deus em amor não está prestando uma adoração verdadeira.
Deus é santo, justo, verdadeiro, e todo aquele que não se empenha em amoldar-se aos padrões de justiça, santidade e verdade inerentes ao caráter de Deus, não pode adorá-Lo em verdade, pois não está sendo honesto para com Ele. Portanto, a adoração em espírito conforma-se à natureza de Deus e a adoração em verdade conforma-se ao caráter de Deus. Podemos adorá-Lo em espírito porque Ele nos deu a natureza espiritual; podemos adorá-Lo em verdade porque Ele nos deu o Seu Espírito, no poder do Qual podemos desenvolver as qualidades de caráter por Ele requeridas: A responsabilidade individual de adorar a Deus. Cada cristão deve ter a consciência de ser um adorador a quem “Deus procura” (João 4:23).
Infelizmente, um grande número de crentes tem a ideia errônea de que é só na reunião pública que se pode cultuar a Deus. Sem dúvida o serviço de adoração coletiva é um grande privilégio que nenhum cristão verdadeiro deveria perder. É uma grande bênção compartilhar do ajuntamento dos cristãos como um sacerdócio santo para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1 Pedro 2:5).
É claro que cada crente, como sacerdote que é, deve reunir-se com os irmãos para adorar, mas isto não o exime da sua responsabilidade individual de adorar. Quem não se exercita individualmente no sublime privilégio da adoração, não exercerá essa tarefa a contento no culto coletivo. A adoração que o crente presta pessoalmente, a sós com Deus, é um excelente exercício espiritual. Quanto mais exercitados forem os membros de uma Igreja na adoração a sós com Deus, tanto melhor será a adoração coletiva dessa Igreja, mais espiritual, mais inteligente e objetiva. O adorador cristão, e somente ele, pode oferecer um culto espiritual e inteligente, em contraste com o culto formal, cheio de ritualismo complicado e cerimonialismo pomposo, onde os participantes “adoram o que não sabem” (João 4:22).
Os benefícios da adoração. Embora o objetivo do adorador seja dar, e não, receber, o fato é que ele é grandemente beneficiado. Basta examinarmos atentamente Isaías 6:1-8 e ficaremos inteiramente convencidos disto. Vejamos quais são os benefícios:
Visão do Senhor – “Eu vi o Senhor” disse Isaías. De fato, adoramos a Deus quando O vemos com os olhos da fé. Vemo-Lo através do Senhor Jesus Cristo, a Sua mais perfeita, expressiva e sublime revelação. É a contemplação da Majestade, da glória, do poder da beleza e santidade do Senhor, que nos prende em profunda e reverente adoração: “Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o Teu Nome!” (Salmo 8:1); “Vinde, cantemos ao Senhor… porque o Senhor é o Deus supremo e o grande Rei acima de todos os deuses”. D’Ele é o mar, pois Ele o fez; obra de Suas mãos os continentes. Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemo-nos diante do Senhor que nos criou” (Salmo 95:1-6).
Ao meditarmos na infinita sabedoria dos Seus conselhos e na magnitude do Seu amor, só podemos dizer: Ao “Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos” (Romanos 11:33-36; Romanos 16:25-27 e Judas 24-25). A visão diária e constante do Senhor vai nos transformando gradativamente à Sua própria imagem, tornando-nos cada vez mais chegados a Ele e cada vez mais cônscios da Sua vontade (Romanos 12:2 e 2 Coríntios 3:18).
Consciência da Própria Indignidade – “Ai de mim! Estou perdido! Sou homem de lábios impuros”, disse Isaias. É precisamente isso que cada crente sincero tem de reconhecer na presença do Senhor. Perante Ele não temos de que nos orgulhar, pois somos, de fato, pecadores indignos. Porém, há recurso para permanecermos na presença do Senhor e o adorarmos aceitavelmente. Somos idôneos para adorar porque o Cordeiro de Deus fez expiação pelos nossos pecados, dos quais nos purifica pelo Seu sangue. Não somos dignos, mas Ele o é! Não temos méritos, mas Ele os tem! A brasa viva que purificou os lábios do profeta é uma figura do sacrifício purificador do Senhor Jesus Cristo, o Qual, voluntariamente submeteu-Se ao fogo consumidor do juízo Divino contra os nossos pecados.
O fato é que o adorador, mirando-se à luz da infinita santidade de Deus, compreende toda a sua miséria; compreende que não é superior aos seus irmãos. Notemos que Isaías, antes de mencionar a indignidade do seu povo, lamentou a sua própria indignidade. Esse é o resultado lógico e inevitável na vida de quem regularmente se põe a sós com Deus para adorá-Lo. O crente altivo, orgulhoso e cheio de si, não é, por certo, um cristão exercitado na adoração a Deus, pois a convivência íntima com o Senhor leva-nos a reconhecer quão fracos somos e faz-nos mais simpáticos para com os nossos irmãos.
Habilitação para o Serviço – Depois de contemplar o Senhor, reconhecer a sua indignidade e submeter-se à purificação do Senhor, o profeta ouviu o chamado: “A quem enviarei?” e prontificou-se a atender. É na presença do Senhor que o Seu servo recebe habilitação para o serviço. Portanto, quanto melhor adorador um cristão for, melhor obreiro será. É notável como os serafins usavam as seis asas que possuíam: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam. Isto nos ensina que a adoração precede ao serviço. Dois terços da capacidade dos serafins eram utilizados para adoração e um terço apenas para serviço.
Quão bom seria se nós, hoje em dia, empregássemos a mesma proporção! O verdadeiro adorador torna-se consequentemente um obreiro zeloso e ativo, cheio de visão da glória do Senhor, da sua própria necessidade espiritual, dos infalíveis recursos do Senhor e da grande necessidade da obra.