O mundanismo

Donde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura, não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que vossos membros guerreiam?

Tiago 4:1.

O mundanismo é um sistema de vida que apenas valoriza os bens materiais, e cuja satisfação concerne aos bens e prazeres deste mundo. O capítulo 4 da epístola de Tiago expõe alguns dos aspectos mais nocivos do mundanismo que, se não estivermos atentos, podem surgir entre crentes, com graves conseqüências para nós e para as igrejas onde nos reunimos. Vamos acompanhar de perto o ensino de Tiago, percorrendo este capítulo.

As guerras consistem em um estado de agressividade declarada entre grupos de pessoas ou nações que podem durar por muito tempo, até que um dos protagonistas se renda ou ambos façam um acordo de paz. As pelejas são batalhas, lutas, disputas ou discussões entre indivíduos, grupos ou exércitos. Assim, as guerras podem ser uma sucessão de pelejas.

No mundo os partidos políticos se cindem e pelejam entre si, dentro de uma sociedade um grupo se lança contra outro, dentro de uma empresa há uma batalha entre o capital e a mão-de-obra e pelejas entre partidos internos. Os que sobem pela escada social pisam nas mãos dos que parecem estar impedindo o seu progresso e se encontram em baixo. É como o homicídio, usado aqui mais num sentido figurado (v.2, NVI): a ira, os ciúmes e a crueldade gerados por essa ambição equivalem a um assassínio.

Esse tipo de ambição é mundanismo, e penetra nas igrejas locais: esta carta de Tiago foi endereçada aos crentes.

Entre os cristãos, e mesmo dentro das igrejas, podem tragicamente existir guerras e pelejas, que surgem, às vezes devido a uma defesa apaixonada de pontos de vista contrários, ou a ambição por conseguir prestígio ou por conflitos de interesse. Os “deleites, que nos vossos membros guerreiam” são os prazeres sensuais, aquilo que agradam aos olhos e aos ouvidos, e a ambição de participar deles. Como estes desejos não são do Espírito, mas do mundo, eles são parte da velha natureza e nunca podem ser satisfeitos.

Somos instruídos a levar nossos desejos ao Senhor em oração. A resposta poderá ser positiva, negativa, ou algo diferente, e devemos aceitá-la. Se a resposta for negativa, a razão poderá ser que estamos pedindo pela coisa errada, com a intenção de usá-la em nossos prazeres, porque Deus conhece os nossos corações. Quando nosso pedido for recusado, devemos em um caso assim ser humildes o suficiente para aceitar o fato que estamos sendo egoístas.

A ganância, a cobiça e a inveja emanam do desejo de ter cada vez mais e do nosso ciúme de outros, e são origens de altercações e combates entre crentes. No entanto, o verdadeiro prazer não é encontrado na abundância do que possuímos, pois devemos nos contentar em ter sustento e com que nos cobrirmos (1 Timóteo 6:8).

O apego desordenado às coisas materiais é condenado como idolatria espiritual. Deus quer que O amemos primeiro e acima de tudo, por isso quando nos prendemos às coisas passageiras deste mundo estamos sendo desleais a Ele. A cobiça é uma espécie de idolatria, porque significa que desejamos muito ter o que Deus não quer que tenhamos. Fazemos um ídolo para nós ao dar maior valor às coisas materiais do que à vontade de Deus. Cobiça, portanto, é idolatria, e idolatria é infidelidade espiritual ao Senhor, ou adultério espiritual.

A citação no versículo 5 “Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?” não é encontrada no Velho Testamento, sendo que o versículo que mais se aproxima é “o SENHOR, teu Deus, é um Deus zeloso no meio de ti” (Deuteronômio 6:15). O Espírito Santo só passou a habitar sistematicamente nos homens depois do batismo do dia de Pentecostes.

A frase pode estar sendo usada para indicar o ensino de modo geral nas Escrituras: o Espírito Santo que Deus nos deu não produz os ciúmes que causam as contendas, mas zelosamente nos impele para que nos devotemos totalmente a Cristo. Mas como no original grego não se usavam letras maiúsculas, é possível que essa citação seja uma condenação ao espírito competitivo do mundo que estaria habitando em nós, um espírito de fortes ciúmes, de cobiça e inveja, que é a causa de toda a nossa infidelidade a Deus.

Embora tendo essa disposição natural para o mal, não somos deixados para tratar sozinhos da nossa ambição egoísta, pois Deus dá mais graça e força sempre que for necessário: “Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hebreus 4:16).

Pedir auxílio a Deus requer humildade, reconhecendo nossas próprias limitações e necessidades, e admitindo que Deus é o Provedor: “Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes”. Há seis degraus a subir após um verdadeiro arrependimento do mundanismo:

  1. Submissão a Deus: admitindo a Sua autoridade, ouvi-Lo e obedecê-Lo com toda humildade.
  2. Resistência ao diabo: defendendo nossa posição com a Espada do Espírito, fechar nossos olhos e ouvidos às suas sugestões e tentações. Ele então fugirá de nós.
  3. Aproximação de Deus: pedindo perdão a Ele em oração e lançando o nosso fardo sobre Ele. Ele nos perdoa e nos restaura.
  4. Lavagem das mãos (ações) e coração (motivos, desejos): abandonando o pecado, arrependidos, por dentro e por fora. Os pecadores devem desistir das más ações, e os “de duplo ânimo” (dúplices têm a mente dividida entre Deus e o mundo) devem purificar o seu coração.
  5. Entristecimento: refletir tristemente em nosso mau comportamento, convencidos do nosso fracasso, tendência ao pecado, fraqueza, frieza e improdutividade. Humildemente chorar por causa do nosso materialismo, secularismo e formalismo. O arrependimento piedoso se manifestará desta forma.
  6. Humilhação à vista do Senhor: admitindo nossa nulidade em relação à Sua glória e grandiosidade.

Se formos censuradores de nossos irmãos, falando mal deles, estaremos assumindo uma posição de juiz, e não temos direito a ela. O Senhor Jesus disse “o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo” (João 5:22). Antes de nos comprazermos em criticar os outros, respondamos às seguintes perguntas:

  • Que bem fará ao nosso irmão?
  • Que bem fará a nós próprios?
  • Que glória haverá para Deus nisso?

O maior de todos os mandamentos é que amemos ao nosso próximo como a nós mesmos. Falar o mal contra um irmão não é amá-lo, e nesse sentido nos colocamos acima da lei: falamos mal da lei e julgamos a lei. Quem faz tal coisa arroga a si a posição de juiz ao invés de alguém que será julgado. Está usurpando um direito que pertence somente a Deus.

Outro pecado de arrogância é fazer um planejamento autoconfiante, jactancioso, independente de Deus. Os detalhes do exemplo dado por Tiago cabem bem num planejamento empresarial de nossos dias: tempo (hoje ou amanhã), recursos humanos (nós), lugar (tal e tal cidade), duração (gastar um ano ali), atividade (comprar e vender) e resultado planejado (fazer lucro). Não se dá qualquer consideração à vontade de Deus. Tomar uma resolução de fazermos nós próprios alguma coisa sem referência à vontade de Deus é pecaminoso, e temos o exemplo das cinco ações de Lúcifer (Isaías 14:13,14). É errado assumir que “amanhã” é coisa certa, pois o futuro está nas mãos de Deus. Se Ele quiser, vai acontecer.

Devemos viver e falar levando sempre em conta que Deus governa nosso tempo aqui no mundo. A atitude certa a tomar, dito audivelmente ou não, é “se o Senhor quiser” com respeito a todos os nossos planos para o futuro. Os apóstolos se expressavam assim (Atos 18:21, 1 Coríntios 4:19, 16:7, Hebreus 6:3). É uma arrogância assumir que nada vai interferir em nosso programa, como se fôssemos proprietários do nosso futuro. Isto é bazófia, e é mau porque Deus é deixado de lado.

Saber fazer o bem e não fazê-lo é pecado: nesse contexto fazer o bem é colocar Deus dentro de todo o aspecto de nossas vidas, sabendo que somos dependentes dEle. Pecamos quando sabemos que devíamos fazer isso, mas não o fazemos. Significa também deixar de fazer algo que é bom: surgindo uma oportunidade de fazer o bem, devemos aproveitá-la. É nossa obrigação sempre agir corretamente conforme nosso conhecimento. Se falharmos em fazer o bem, estaremos pecando contra Deus, estaremos em falta com nosso próximo e perdermos a oportunidade de fazer uma boa ação.

Extraído dos comentários sobre o livro de Tiago no site www.fatos-biblicos.info
autor: R David Jones.