Lucas 14.25-33; João 15.18-20
— Após nos ser demonstrado que quem quiser seguir ao Senhor Jesus com autenticidade terá que arcar com o “custo da separação do mundo”, somos agora levados a contemplar os custos do sofrimento e da renúncia para que o verdadeiro discipulado e o senhorio de Cristo em nossas vidas sejam uma realidade. Permita Deus que assim seja!
2. O CUSTO DO SOFRIMENTO
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Disposição para sofrer o que o Mestre sofreu. Quem se separa do mundo fica sujeito ao ódio e perseguição deste: "Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, eu dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia". Paulo diz que "todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus, serão perseguidos" (2 Timóteo 3.12).
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Discernir o verdadeiro significado da "cruz". Ao discípulo é oferecida uma cruz. Que cruz é essa? É a identificação com Cristo em tudo que a cruz representa para Ele: rejeição, perseguição, zombaria, dor e morte. É sofrer, ou correr o risco de sofrer tudo isso pela causa do Nome de Cristo. A cruz de Cristo acarreta um drástico corte de relações entre o discípulo e o mundo, do qual resultam mútua crucificação e mútua morte: "Longe de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gálatas 6.14).
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Aceitar a cruz como uma conseqüência do discipulado. O discípulo deve reconhecer que a sua identificação com o seu Mestre pode resultar em sofrimento. Embora os discípulos de hoje sofram em maior ou menor medida pelo Nome de Cristo, podemos dizer que não sofremos agora como têm sofrido nossos irmãos em tempos passados e, comparativamente, o sofrimento de hoje nem pode ser considerado como tal. Mas deve-se esperar que tal sofrimento chegue e, se chegar, não é para ser recebido com surpresa: "Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma cousa extraordinária vos estivesse acontecendo..." (1 Pedro 4.12).
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Aceitar a cruz não com mera resignação, mas com calma e alegria. "Ora, quem é que há de vos maltratar se fordes zelosos do que é bom? Mas ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, pois, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados" (1 Pedro 3.13-14). Não há por que nos acovardar ante o sofrimento, principalmente se considerarmos tudo o que Ele sofreu por nós. Nossos sofrimentos nunca seriam demais, se fossem comparados aos dEle.
Mas o discípulo não tem de aceitar o sofrimento com uma passividade pesarosa, mas com alegria pelo privilégio de honrar a seu Senhor: "...Pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação da Sua glória vos alegreis exultando. Se pelo Nome de Cristo sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como alguém que se intromete em negócio de outrem; mas se sofrer como cristão, não se envergonhe disso, antes glorifique a Deus com esse nome" (1 Pedro 4.13-16). Sofrer pelo Nome de Cristo não é uma vergonha, mas uma honra!
No início da história da igreja os discípulos consideravam os sofrimentos por amor de Cristo uma honrosa bem-aventurança. Diante das ameaças, pediam forças ao Senhor para serem-Lhe sempre leais: "Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos Teus servos que anunciem com toda intrepidez a Tua Palavra..." (Atos 4.29). Por outro lado, quando açoitados, regozijaram-se por sentirem-se honrados em sofrer pelo seu Mestre: "E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afronta por esse Nome" (Atos 5.41).
3. O CUSTO DA RENÚNCIA
Lucas 14.25-33
- Pleno reconhecimento do senhorio de Cristo. O verdadeiro discípulo tem de confessar a Cristo como Senhor. A Palavra ordena: "Santificai a Cristo como Senhor em vossos corações" (1 Pedro 3.15). Paulo nos conta como ele fez isto: "...Considero tudo como perda pela sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor" (Filipenses 3:8). Isto implica em absoluta lealdade ao Mestre. Ele diz: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra..." (João 14.23). Nossa resposta ao Mestre deve ser a de Paulo, em Atos 20.24: "Em nada considero a minha vida como preciosa para mim mesmo, contanto que complete com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar do Evangelho da graça de Deus". Notemos bem: Cristo tem de ser Senhor de tudo, ou não será Senhor de nada!
- Supremo amor. Conforme o versículo 26, o amor do discípulo ao Mestre deve estar acima dos mais estreitos laços de família, como pai e mãe, esposa, filhos e irmãos. Não é que ele tenha de repudiar a sua parentela, e, sim, que o seu amor pelo Mestre em comparação com o amor que tem pelos demais pareça ódio. Nenhum parentesco, por íntimo que seja, poderá interferir no amor do discípulo pelo seu Mestre.
- Suprema determinação. Assim como quem quer construir um edifício deve calcular o custo da obra antes de iniciar a construção para não ficar exposto ao ridículo por não poder concluí-la; assim como um rei não cometeria a imprudência de sair para a guerra sem contar os seus homens e avaliar as suas possibilidades, aquele que quer seguir a Cristo deve também avaliar o custo da sua decisão. Só é verdadeiro discípulo aquele que, depois de considerar as suas perdas, lutas e sofrimentos, diz resolutamente: "Senhor, anelo a Ti seguir / E sempre a cruz levar, / De dia em dia amar-Te a Ti, / Viver pra Te agradar". O discipulado é uma opção que tem de ser feita após madura reflexão, com pleno conhecimento das suas implicações. O discípulo tem de estar disposto a seguir a carreira apesar do seu alto custo.
- Suprema rendição. O verdadeiro discípulo tem de render-se integralmente ao Mestre. Nem ele se pertence mais, nem quaisquer das suas possessões. Tudo pertence ao Mestre. Quem não renuncia tudo não pode ser Seu discípulo. Ele tem de negar-se a si mesmo, deixando-se absorver totalmente em Cristo, de tal modo que Cristo esteja vivendo a Sua vida nele. Paulo assim explica esta experiência: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2.20). Diz mais: "... Com toda ousadia, como sempre, também agora será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. Porquanto para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Filipenses 1.20-21).