A Caminho do Apocalipse - 17 (1)

Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo” 
Apocalipse 1:3


CAPÍTULO 17 (1)

Após contemplarmos o desenrolar da grande ira de Deus no capítulo anterior, surge agora o último dos quatro grandes parênteses contidos em Apocalipse, que vai do capítulo 17 até o versículo 20 do capítulo 19. Esses interlúdios são postos em permeio à sequência dos acontecimentos apocalípticos a fim de que se destaquem importantes fatos para compreensão do texto sagrado, ao desconsiderá-los alguém poderá cometer grandes equívocos, daí surgirem tantas controvérsias sobre este importante Livro. A sequência natural, após este grande intervalo, será a vinda de Cristo para extinguir o império demoníaco a ser aqui instalado; aplicar severa derrota às duas “bestas”, e estabelecer o Seu Reino milenar, conforme veremos no desenrolar do capítulo 19.

Após a visão dos terríveis juízos que cairão sobre Terra com o derramamento das taças da ira de Deus, um dos sete anjos encarregados de transmitir esses flagelos diz a João: “Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra” (vs. 1 e 2). Não são poucas as polêmicas levantadas acerca dessa “grande meretriz”, todavia, no descortinar dos textos contidos neste e no próximo capítulo, veremos que se trata do “sistema religioso” que será imposto à humanidade incrédula pelo diabólico governante mundial, e do ressurgimento da antiga e quase extinta cidade babilônica que provavelmente será reedificada durante o império da “besta” (v. 18... “A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra”, compare com 18:21...“Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca mais será achada”).

Grande é a quantidade dos comentários sugerindo que essa “grande cidade” seria Roma e me impressiona o esforço que é feito para que haja o ressurgimento do império romano. Como já disse anteriormente, o que restou desse império foi o Vaticano que se tornou o remanescente daquele reino. Os que interpretam como sendo Roma, por certo estão impactados com o teor do versículo 9... “as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis”. Roma é tida como a cidade das “sete colinas”, todavia no mesmo texto há a indicação de que se trata de sete governantes.

A respeito de que esta cidade não seria Roma, diz-nos J. Allen: Os sete montes não são dados como sinal de “identificação” de qualquer cidade. Isto é uma interpolação interpretativa feita por comentaristas e somente deturpa o quadro... Quando a mulher está assentada sobre “as muitas águas” (v. 1), devemos entender isto de forma metafórica, pois este fato é interpretado no v. 15; quando a mulher está assentada “sobre uma besta de cor escarlate”, isto também é simbólico; portanto quando ela está assentada “sobre sete montes”, isto também precisa ser simbólico. Em nenhum desses casos há qualquer justificativa para compreender a localização como literal. A interpretação angelical é clara: “As sete cabeças (simbólicas) são sete montes (metafóricos)... e são também sete reis (históricos)” ... A Babilônia nunca foi destruída da maneira descrita em Isaías, capítulos 13 e 14, e por Jeremias, capítulos 50 a 52, portanto a reconstrução da Babilônia não é meramente uma interpretação possível, mas que o cumprimento das Escrituras exige isto.

Pessoalmente, não entendo a grande discórdia que há entre os comentaristas para “identificar” essa cidade, a meu ver tanto faz que seja Roma ou Babilônia, pois o que importa é o que ela de fato personifica no contexto dos acontecimentos futuros, ou seja, o seu caráter e não a sua localização. Inobstante a isso, convém lembrar que as sete colinas de Roma não mais existem na sua forma original. Além disso, há registros históricos que Jerusalém, à época de João, era conhecida como a grande cidade dos sete montes, talvez, por esta razão, surgem comentaristas que entendem que Jerusalém seria a cidade mencionada neste capítulo. Sem dúvida, grande é a confusão criada em torno deste assunto.

Claro que devemos respeitar os entendimentos em contrário, mas a clareza de interpretação de J. Allen dispensa acréscimos. Portanto, segundo ele, a “grande cidade” não será Roma, mas a antiga cidade babilônica que será reedificada pela “besta” e por certo se tornará a sede do seu governo imperial. Convém lembrar que historicamente algo semelhante já ocorreu através de Constantino que transferiu a sede do império romano, por mais de meio século, para Bizâncio, também conhecida à época como a Nova Roma, chamada após a morte do imperador de Constantinopla, onde hoje é Istambul, a maior cidade da Turquia. Constantinopla rivalizou durante séculos com Roma como capital da cristandade e mesmo depois da conquista muçulmana continuou a ser a sede da igreja “cristã” ortodoxa. Portanto, não seria nenhuma novidade a “besta” estabelecer o seu governo central fora das fronteiras romanas.

Você, caro leitor, poderá ponderar: “Mas o que resta da antiga Babilônia, cujas ruínas se encontram na cidade de Al Hillah, na província Babil, atual Iraque? O que dizer, então, do atual Iraque que se tornou terra arrasada pela recente guerra com a coalizão militar liderada pelos USA?” Há que se considerar algo importante: Como as duas “bestas” terão o poder político de reconstruir o Templo em Jerusalém, no período da tribulação, que não será algo fácil perante os árabes, a reconstrução da Babilônia será uma tarefa mais tranquila, pois será aprazível ao mundo arábico e esta poderá ser uma forma compensatória pelo agrado dado aos judeus. Convém ressaltar que não devemos ficar limitados ao que hoje vemos, pois esses acontecimentos se darão ao longo do período da tribulação, sob o jugo da tenebrosa “besta” que promoverá grandes alterações geopolíticas no mundo atual.

Neste capítulo vemos o sentido “religioso” dessa “grande meretriz” e no próximo capítulo o seu aspecto “comercial”. Por sinal, em nossos dias não estamos tão distantes disso, basta observarmos o rápido crescimento do lucrativo negócio que se tornou o atual segmento tido como religioso, que de espiritual nada tem. Quanto à única religião a ser estabelecida pelas “bestas”, diz W. MacDonald: A babilônia religiosa certamente inclui a cristandade apóstata, tanto católica quanto protestante. É bem possível que represente a igreja ecumênica.

Portanto, as raízes dessa ignomínia já foram lançadas desde o século passado através do movimento ecumênico que conta com participação de várias denominações evangélicas que se submetem ao jugo papal; de fato estão a lançar os fundamentos da “igreja apóstata”. A expressão “muitas águas” revela que esse domínio religioso será global (v. 15... “Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas”), muitos se “embriagarão” com a sua maligna religiosidade cuja influência alcançará um incontável número de pessoas que estará em absoluta desgraça, e o pior, sem se aperceberem disso.

Durante essa visão, João é trasladado em espírito pelo mencionado anjo ao deserto e lá contempla essa “religião apóstata” numa estranhíssima figura de uma mulher, vestida de forma extravagante, montada numa “besta” escarlate repleta de nomes de blasfêmias e que possuía sete cabeças e dez chifres (vs. 3 e 4). A “besta” já é nossa conhecida, é a mesma que vimos no capítulo 13, todavia aqui está com a mesma cor vermelha do “dragão” – o diabo – descrito no capítulo 12, que não deixa de ser um dado revelador, pois está a demonstrar que nesta visão o bestial imperador, sob o comando do seu gestor, já estará no ápice do seu governo sobre as nações que a ele se submeterão.

Essa visão traz, a princípio, a suposta ideia de que esse sistema religioso estará a dominar o império da “besta”, assim como ocorreu ao final do extinto império romano, através da igreja católica. Essa aparência é enganosa, a “besta” não se deixará dominar por aqueles que estão em seu entorno, por isso providenciará que essa religiosidade seja destroçada (v. 16) e exigirá adoração exclusiva, através de si, para aquele que o instituirá – o diabo – conforme visto no capítulo 13. Haverá uma única religião no mundo, cuja cabeça será o diabo.

Em seguida João usa a expressão “mistério”: “Na sua fronte achava-se escrito um nome, mistério: Babilônia, a grande, a mãe das meretrizes e das abominações da terra”, que estava embriagada com o sangue derramado dos santos e das testemunhas do Senhor Jesus (vs. 5 e 6). Quanto a este “mistério”, veremos na segunda parte deste capítulo, “pois nada está oculto, senão para ser manifesto; e nada se faz escondido, senão para ser revelado. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça” (Marcos 4:22-23). Considere atentamente o que você está a ouvir, caro leitor. Permita Deus que assim seja!

 

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autor: José Carlos Jacintho de Campos.