(ARTIGO ENVIADO EM 29/01/2003)
(Continuação)
2. A SITUAÇÃO NOS DIAS ATUAIS. Devemos esperar que a pregação evangélica seja, em nossos dias, acompanhada dos mesmos atos miraculosos realizados por Cristo e Seus servos nos dias apostólicos? Um estudo atento e honesto das Escrituras nos convencerá que não. Não há prova bíblica de que o miraculoso seja uma característica permanente nas relações de Deus com o homem. É claro que não podemos, nem devemos ter pretensão de limitá-Lo. Ele é Todo-poderoso, imutável e pode, de acordo com a Sua vontade soberana, operar atos miraculosos em qualquer lugar e em qualquer tempo. Contudo, a Sua Palavra nos revela que Ele não operou milagres sempre, mas apenas em épocas especiais, e com um propósito definido.
A primeira grande época foi nos dias de Moisés, com o objetivo de revelar Jeová ao Seu povo que se achava deprimido sob a escravidão no Egito. Após a morte de Josué, o sucessor de Moisés, seguiu-se um longo período de decadência espiritual durante o tempo dos juízes, no qual os milagres, embora não tivessem cessado de todo, eram comparativamente bem raros.
Só nos dias de Elias e Eliseu o Senhor concedeu uma segunda época de operações milagrosas, com o objetivo de despertar o povo que se encontrava mergulhado na idolatria, com o fim de convencê-lo de que Jeová é Deus (1Rs 18.36-39). Dali em diante temos o relato de pouquíssimos milagres, até à chegada da terceira grande época nos dias do Senhor e dos apóstolos, no início da igreja cristã. Já vimos os objetivos dos milagres do Senhor. E eles continuaram nos dias apostólicos para confirmar a autenticidade da sua pregação, sendo o testemunho Divino de que verdadeiramente eles receberam do Senhor a mensagem da "grande salvação" (Hb 2.3-4).
Podemos afirmar com base bíblica que a terceira época passou como passaram as duas primeiras. Paulo ressuscitou a Êutico (At 20.9-12), e curou várias pessoas na ilha de Malta (At 28.8-9). Mais tarde, porém, temeu a possibilidade da morte de Epafrodito, que para ele seria muito triste, prova de que não podia curá-lo, nem ressuscitá-lo (Fp 2.25-27). Não podia curar também a Trófimo, a quem deixou enfermo em Mileto (2Tm 4.20). E a Timóteo, que sofria do estômago e tinha saúde precária, ele recomendou um tratamento natural (1Tm 5.23). Tiago também deixa claro que àquela altura já não vigorava mais o dom de curar, pois ele exorta os crentes a orarem pela cura (Tg 5.13-15).
Tendo Deus nos dado na atualidade tantos recursos, não é justo que recorramos ao milagre, a menos que os meios disponíveis venham a falhar. Em tais casos Deus pode fazer e tem feito curas milagrosas. Conheço várias pessoas que foram desenganadas pelos médicos, as quais o Senhor curou em resposta às orações do Seu povo. Minha inabalável convicção é a de que quer usemos os recursos naturais, quer não, é sempre o Senhor Quem cura.
É bom pensarmos, também, que há um ministério cristão de cura do corpo que tem continuado por longos anos através de irmãos e irmãs abnegados, muitos dos quais deixando as suas pátrias ou cidades de origem e renunciando a todos os privilégios da civilização, vêm trabalhando em regiões inóspitas, desprovidas de quaisquer recursos e, através da medicina e da enfermagem, vêm proporcionando a cura de milhares de enfermos. Nesse estupendo ministério pregando e praticando o amor de Deus eles têm visto a cura do corpo não somente através dos recursos científicos empregados, mas também por exclusiva intervenção divina, quando a cura está além dos recursos disponíveis. Além disto, têm eles presenciado com freqüência o milagre muito maior, que é a transformação de almas perdidas em novas criaturas.
3. E AS POSSESSÕES DEMONÍACAS?
a) A REALIDADE ATUAL DA SUA OCORRÊNCIA. O esforço ferrenho de satanás é incessante. Ele quer anular todo e qualquer esforço que vise à proclamação da Verdade libertadora e o crescimento dos filhos de Deus “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18). Os seus "dardos inflamados" nunca deram trégua aos fiéis.
A Bíblia atribui a satanás vários nomes, dos quais quero destacar alguns. Em 2Co 11.3, Ap 12.9 e 20.2 ele é chamado de serpente, expressão que indica a sua malícia, astúcia e falsidade. Ele é também chamado “o deus deste século” (2Co 4.4), “o príncipe da potestade do ar” (Ef 2.2), “o príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30) e, “o maligno” (Mt 13.19; Ef 6.16; 1Jo 2.13-14, etc.). Esta última palavra resume tudo quanto satanás é e faz. Ele é a personificação do mal em todas as suas formas e procura disseminar o mal onde quer que lhe seja possível.
Ele age muito no campo religioso, onde tem os seus ministros (2Co 11.14-15), seus ensinos (1Tm 4.1), sua sinagoga (Ap 2.9) e seus sacrifícios (1Co 10.20). Isto indica que ele é o autor e inspirador de toda perversão religiosa. Hoje mais do que nunca estamos rodeados de seitas e religiões que, mesmo com a Bíblia nas mãos, estão propagando doutrinas diabólicas. E como as multidões são fascinadas por essas doutrinas!E sua atuação é incessante. Ele não dorme, não tem “descanso semanal” e nem “férias”. A Bíblia nos ensina que ele trabalha de dia e de noite (Ap 12.10). Demônios incontáveis estão a seu serviço hoje.
Portanto, não se pode negar que tais possessões ainda ocorrem. Nos centros espíritas há muito embuste e muita fraude, mas nem todas as manifestações deste tipo que ali ocorrem são irreais, embora sejam todas diabólicas.
b) O PROCEDIMENTO NOS PRIMÓRDIOS DAS IGREJAS. A mensagem do Evangelho foi anunciada inicialmente e confirmada depois pelos que a ouviram, "dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres, distribuições do Espirito Santo segundo a sua vontade" (Hb 2.3-4) Várias curas são relatadas nos Atos dos Apóstolos, onde a expulsão de demônios é relatada no capítulo 8.6-7, em Samaria, no capítulo 16.16-18, em Filipos e no capítulo 19.12, em Éfeso, por ocasião da terceira viagem missionária de Paulo.
Em todos estes casos foi exercitado o dom concedido por Deus ao Seu servo, dom este que conforme já foi mencionado, não existe mais. Portanto, não precisamos esperar que tudo aconteça agora como acontecia naquele tempo. Podem acontecer e têm acontecido intervenções sobrenaturais de Deus nessa área, mas esse, segundo me parece, não é o procedimento normal do Senhor nesta época, visto não ser isto necessário, uma vez que os “propósitos definidos” anteriormente mencionados não mais existem.
c) O DESAFIO DOS NOSSOS DIAS. Não devemos banir definitivamente de nossas mentes o miraculoso. Ninguém de nós duvida, creio eu, que Deus, dentro de Sua soberana vontade pode fazer e faz milagres ainda hoje. É evidente e creio que todos concordamos que a possessão demoníaca existe em nossos dias. E se admitimos este fato, não devemos omitir-nos, mas buscar do Senhor a sabedoria e as forças para enfrentar as situações sempre que necessário.
Mas o que não podemos é atribuir ingenuamente aos demônios todos os casos estranhos que nos deparam. É preciso que tenhamos do Senhor a sabedoria para discernir se o caso é de doença natural, ou ação demoníaca. Por isso precisamos estar sempre em plena sintonia com o Senhor a fim de atinar com a Sua orientação. Devemos ser prudentes, cuidadosos, mas isto não justifica a nossa omissão. Tomei conhecimento dum caso que achei vergonhoso. Uma pessoa afligida por suposta possessão demoníaca procurou socorro numa igreja. Não sei se a possessão era real, ou não, mas sei que os irmãos nem se interessaram pelo caso, simplesmente aconselharam a pobre jovem a procurar outra igreja para tratar do seu problema. Não me parece ter sido esta uma decisão correta.
Nossa tarefa não é expelir demônios. Deus nos chamou para sermos Seus adoradores e proclamadores das gloriosas virtudes do nosso Redentor (Jo 4.23-24; 1Pe 2.4-5, 9-10). Os “especialistas” em exorcismo parecem viver à procura dos demônios. Suas reuniões mais os invocam do que os expelem. Os exorcistas de hoje não podem de forma alguma servir-nos como exemplo.
Todavia, a Bíblia fala-nos sobre a nossa luta “contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12). Isto indica que as hostes do mal funcionam sob uma grande e poderosa organização maligna. Aprendemos em Efésios 2.2 que satanás é “o príncipe”, portanto, o líder dessas hostes. Isto indica que ele exerce influência e tem absoluto controle sobre este sistema de rebelião contra Deus, ao qual a Bíblia chama “o mundo”. João afirma que “o mundo inteiro jaz no maligno” (1Jo 5.19). Desta luta não devemos fugir, mas, como nos ensina Efésios 6.10-17, “fortalecer-nos no Senhor e na força do Seu poder e tomar toda a Sua armadura de Deus para que possamos resistir no dia mau e, depois de termos vencido tudo, permanecer inabaláveis”. Que o Senhor nos ajude e nos revista de poder para sermos “mais que vencedores” nessa tremenda luta na qual estamos envolvidos. AMÉM!