Neemias 3
Em continuação ao artigo "Reagindo às más notícias" sobre os capítulos 1 e 2 de Neemias, vamos analisar aqui os resultados de toda aquela mobilização de obreiros em Jerusalém, quando focalizaram um só alvo – A Reconstrução - e se dispuseram a trabalhar sob a orientação de seu grande líder Neemias e, conseqüentemente, apreciar esta união de forças.
Várias vidas se submeteram ao Senhor e a Sua obra. A união daqueles israelitas foi surpreendente e digna de imitação. Isto tudo começou com uma boa liderança que buscou a Deus. Neemias levou os judeus, os nobres, os magistrados e os demais a entender aquela direção divina (Neemias 2:16-17).
Gostaria de pensar na figura de uma orquestra onde um só músico dá a nota principal para que todos os outros afinem seus instrumentos naquela mesma altura e, assim, estarem prontos para seguir a direção do grande maestro e todas as mudanças que ele os direcionará durante toda a execução da obra. Assim aconteceu com a maior parte daqueles obreiros no tempo de Neemias.
Os obstáculos que encontraram foram muitos, mas com o Sumo Maestro do universo nada lhes foi impossível alcançar. Da mesma forma, se afinarmos nossas vidas segundo o coração de Deus, Ele derrubará todas as barreiras, nos preparando de antemão para enfrentá-las. Lembremo-nos do que o Senhor Jesus disse em Mateus 17:20 “... em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível”. Isto não vem de nós, mas do nosso Deus que quer que mostremos a nossa fé e dependência Nele.
“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus”, diz o escritor em Hebreus 11:6. O nosso desejo deve ser o de agradá-Lo em tudo. A nossa fé e intimidade vêm do conhecimento de Deus. Crescendo neste conhecimento cresceremos na fé, pois, por meio de Cristo, teremos resultados magníficos em nossa vida e na vida daqueles que nos cercam.
Vamos nos aprofundar na reconstrução que temos neste capítulo, onde encontramos nove portas (cada uma com a sua importância). Começaremos analisando o pessoal que construiu o muro e cada uma dessas portas, pois é interessante notar a ordem desta construção e quem estava envolvido.
“Porta das Ovelhas” (Neemias 3:1). Esta foi a primeira porta escolhida, o local por onde as ofertas eram trazidas. Que lugar maravilhoso para começar! Lembra-nos da oferta do Cordeiro de Deus ali figurada. A nossa pedra fundamental, pois tudo começa com Ele e está firmado Nele: “A pedra que os construtores rejeitaram essa veio a ser a principal pedra angular” (Salmo 118:22).
É bom notar também quem estava construindo aquele portão: Eliasibe, o sumo sacerdote, e os sacerdotes. Como no nosso caso, Jesus, o nosso Sumo Sacerdote, tem que estar na liderança, pois a obra começou com Ele e sem a Sua liderança a obra fracassaria. Lemos que eles estavam dispostos a trabalhar até a consagração da obra, porque o desejo que tinham era ver a Casa de Deus reedificada para trazer de volta a união do Seu povo, Israel. Cremos que estes eram os que tinham maturidade e santidade para darem o primeiro passo da consagração.
Na obra do Senhor hoje não há diferença, se o nosso Salvador não for o Sumo Sacerdote e a base do louvor, adoração e edificação em nosso meio, não haverá Glória ao Seu Nome. Quando alguém nos perguntar quem é o responsável pela nossa localidade, como responderemos? Jesus Cristo! Ele sempre deverá ter o primeiro lugar em nosso meio.
Lemos em Mateus 18:20 ... “Porque onde estiveram dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. Ele é o cabeça da igreja, não devemos ter um líder humano. Muitos de nós cometemos este erro achando que temos que ter alguém responsável, quando realmente Ele o é, e nós somos fracos sacerdotes, unidos sob a liderança do Senhor. O sumo sacerdote e os sacerdotes estavam prontos para trabalhar em harmonia com todos os outros de menor nível espiritual.
“Porta do Peixe” (Neemias 3:3). Foi reconstruída pelos filhos de Hassenaá. Depois da consagração vem a alimentação, a vida dos israelitas dependia muito da pesca, além de outras fontes, mas todo o comércio era passado por essa porta. E quanto a nós? Depois da consagração de nossas vidas também precisamos nos alimentar. Para isso temos a Porta de entrada à presença do nosso Deus. Foi-nos dado o Pão da Vida que é o sustento mais forte que podemos ter, como nos é mostrado pelo Espírito do Senhor em Hebreus 5:14 ... “Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal”. A Palavra de Deus é o nosso alimento, figurada por leite e mel.
É bom notarmos que houve muitos que não foram chamados para reconstruir as portas, mas os muros. Isto não foi o menos importante, pois sem esses trabalhadores a cidade não seria fechada. Irmão, mesmo que você não seja um pregador ou ministrante da Palavra, você ainda assim é de muita importância à obra do Senhor. Lembremo-nos do Salmo 84:10b ... “Prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade”. O fato é que você pode ser muito mais importante orando em silêncio, testemunhando aos de fora, fortalecendo a construção que está sendo feita por aqueles que Deus chamou para pregar. Sem os muros a cidade estaria aberta, sem oração e o testemunho de crentes fiéis a pregação não funcionaria também.
Não devemos tomar como exemplo a atitude dos nobres (Neemias 3:5), que “não se sujeitaram ao trabalho do seu senhor”. Quando achamos que somos superiores para nos sujeitarmos a um serviço humilde, lembremos o que Jesus ensinou a Pedro em João 21:22 ... “Respondeu-lhe Jesus: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me”. E também o de Paulo em Filipenses 1:21 ... “Porquanto, para mim o viver é Cristo, e morrer é lucro”. Este deve ser o nosso pensamento, tomar nossa cruz e seguir para Cristo Jesus.
“Porta Velha” (Neemias 3:6). O que podemos dizer sobre esta porta? Algo “velho” necessariamente não, pois isso significa passado. O dicionário diz de algo “que dura por muito tempo.” Porque então pensar que é algo do passado? Essa é a atitude que muitos estão tomando hoje sobre a Palavra do Senhor, querendo modificá-la e adaptá-la para ser mais aceitável pelo mundo dos nossos dias. Será que é isto que cremos? A Palavra do Senhor é imutável! Assim como Ele é o mesmo para sempre, também é a Sua Palavra. Quando modificamos a Sua Palavra não será mais a do Senhor, mas a do homem.
Um arquiteto nos traz uma explicação. Ele trabalhava como inspetor da prefeitura na sua cidade visitando prédios novos e velhos e achou interessante que os defeitos estavam nos prédios mais novos do que nos velhos, porque estes foram feitos com muito mais dedicação e material de primeira. A “Porta Velha” foi restabelecida, o povo de Israel acreditou nas coisas que tinham sido estabelecidas, sabendo que duravam muito. Temos muitos versículos que nos mostram o verdadeiro valor da Palavra do Senhor: Mateus 24:35; 1 Timóteo 1:15; Hebreus 4:12 e Apocalipse 22:7. Para quem deseja mudá-la, recomendo que leia atentamente Apocalipse 22:18-19 antes de tentar.
Nos versículos seguintes de Neemias 3, encontramos uma grande mistura de pessoas trabalhando juntas, fazendo o que era necessário para que não houvesse alguma área descoberta. Observemos a disposição de Uziel, filho de Haraías, um ourives, Hananias, um dos perfumistas, Refaias, maioral da metade de Jerusalém, Salum filho de Halões, maioral da outra meia parte de Jerusalém, com suas filhas. Temos uma variedade de pessoas, todas trabalhando para a edificação da cidade de Jerusalém.
Na obra do Senhor não há diferença, Ele quer que trabalhemos juntos. Tenho certeza que as filhas de Salum não estavam na frente da obra, mas foi anotado que elas fizeram parte dos trabalhadores. Nos versículos 4 e 21 encontramos Meremote, filho de Urias, ele terminou uma parte e depois ajudou na outra. Todos nós temos uma responsabilidade perante o nosso bondoso Deus e Salvador ao tomar nossas cruzes e fazer parte desta grande obra. Como é dito no hino 371 de Hinos & Cânticos: “Há trabalho pronto para ti cristão, que demanda toda tua devoção”, e no coro: “Por Jesus é trabalhar! Prontamente, fielmente, trabalhar! Em servi-Lo, que prazer!”.
“Porta do Vale” (Neemias 3:13). Nesta passagem encontramos duas portas. A primeira, a “Porta do Vale”, foi edificada por Hanum e pelos moradores de Zanoa. “Vale” é um lugar interessante nas Escrituras que aparece em muitos contextos diferentes. Algumas vezes esta palavra vem relacionada à morte e outras como lugar de descanso. Lembramo-nos logo do vale da sombra da morte do Salmo 23. Encontramos Ló, em Gênesis 13:10, no vale do Jordão e o resultado da escolha de Ló foi triste, perdendo ali sua esposa. Também Isaque em Gênesis 26:17-19, no vale de Gerar, onde cavaram um poço de água nascente. Aquele foi um lugar de descanso que é extremamente necessário para retomar as forças. Portanto, temos que perceber como usaremos este tempo, sem abusar! Há momentos na obra do Senhor quando precisamos descer ao vale do descanso ouvindo o Senhor dizer: “Vem descansar em mim!”. Assim ficou pronta a passagem da porta para o vale de descanso dos moradores de Jerusalém. O Senhor provê tudo!
“Porta do Monturo” (Neemias 3:13). Esta segunda porta neste texto é interessante pelo fato de ser o lugar de saída do lixo. Temos momentos em nossa vida quando tantas coisas deste mundo enchem nossas mentes e precisamos esvaziá-las para poder operar na obra de Deus. O nosso Salvador nos preparou a solução conforme lemos em 1 Pedro 5:7 ... “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós”; e em Romanos 12:1-2 ... “apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”.
Não é a experiência da vida cristã que está sendo mostrada aqui? Observem novamente comigo! Nós viajávamos no vale de pecado e da morte, fomos convencidos da necessidade de confessar Cristo Jesus como nosso único e suficiente Salvador, deixando para trás o lixo da nossa vida pecaminosa a fim de encontramos a fonte inesgotável de vida. Ele é o restaurador da nossa vida! O lixo precisa ser retirado para que não venha provocar cheiro desagradável e podridão. Quem ficou responsável por esta porta foi Malaquias, maioral do distrito de Bete-Haquerém.
“Porta da Fonte” (Neemias 3:15). Edificada por Salum, maioral do distrito de Mispa, próxima ao tanque de Siloé e era essencial para tudo. Nós temos a “Fonte da Vida” que encontramos em Cristo Jesus. Ele prometeu à mulher samaritana a fonte para vida eterna (João 4:14). Em Provérbios 14:27 lemos que “o temor do Senhor é a fonte de vida, para evitar os laços da morte”. Também lemos em Apocalipse 21:6 ... “Tudo está feito... a quem tem sede darei de graça da fonte da água da vida”. Temos Nele a cura de nossas deficiências, é só passar pela Porta!
“Porta das Águas” (Neemias 3:26). Pedaías a reconstruiu. Águas, nas Escrituras, são o símbolo da Palavra e do Espírito do Senhor, que são como água em nós, refrigerando e purificando nossas almas, conforme João 3:5 e 7:38, “... do seu interior fluirão rios de água viva.”
É interessante compararmos as Portas da Fonte e das Águas separadamente. A fonte é onde a água tem nascente (Cristo), porém a água também pode ser buscada em qualquer rio. O que significa para nós então? Podemos tomar água a qualquer hora, mas quando lemos nossas Bíblias ou ouvimos a mensagem nas reuniões o Espírito aplica o ensino aos nossos corações. A necessidade de irmos para fonte é um ato determinado, quando separamos tempo para estar com nosso Senhor que é a fonte da vida. Somente lendo ou indo para os cultos não é suficiente, é preciso gastar tempo a sós com Ele, para “fluírem os rios”.
“Porta dos Cavalos” (Neemias 3:28). Chegamos agora para a porta que os sacerdotes edificaram. Cavalos, ensina-nos sobre força, transporte e velocidade. Mostrando que a obra do Senhor não é uma obra parada, fraca e solitária. A providência para esta obra já foi preparada, temos somente que apropriar-nos de forças, meios e velocidade pelo Espírito do Senhor.
“Porta do Oriente” (Neemias 3:29). É muito interessante porque é no oriente que o sol se levanta. Em Lucas 1:78-79 há uma metáfora acerca do Senhor Jesus: “Graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz”. É para nós uma indicação da maravilhosa promessa, completada em Cristo Jesus, em Quem podemos conhecer o calor da Sua presença como o “Sol da Manhã” conosco quando entramos pela “Porta do Oriente” em oração e comunhão com Ele. Esta foi reconstruída por Zadoque e Semaías que era o guarda dessa porta.
“Porta da Guarda” (Neemias 3:31). Nela encontramos Malaquias. Podemos considerar esta como a porta da segurança que temos em Jesus. Ele prometeu nos guardar e proteger, desde o momento em que cremos Nele e em Seu Espírito. Em Efésios 4:4 lemos: “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação”. O princípio deste nosso artigo é a união. Há somente um corpo (união), não há divisão com Deus. Sempre quando há união e colaboração, encontramos fruto para a Glória do nosso Deus e Mestre. Ele é o princípio e o fim deste estudo. É bom notarmos que começamos com a “Porta das Ovelhas” e voltamos para o mesmo lugar. O muro da cidade inteira foi restabelecido, nenhuma brecha foi deixada sem ser construída.
Irmãos, ao participarmos na obra do nosso Deus reconhecendo a liderança do Seu Espírito, trabalharemos juntos e esta obra irá crescer e se fortalecer cada dia mais. Esta é a razão da nossa vida aqui, vamos deixar os Sambalás e os Tobias com seu bando imundo para trás, lembrando, sempre, “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31). Não há inimigo tão grande que possa parar esta obra maravilhosa. Lembrem-se de 2 Reis 6:16, Eliseu respondeu ao temor do seu servo: “Não temas; porque mais são os que estão conosco do que estão com eles”.
Então, o que estamos esperando? Vamos trabalhar até que a casa do Senhor esteja completa para a nossa habitação. Temos muitos vizinhos, membros das nossas famílias e conhecidos caminhando longe de Deus. Vamos fechar as brechas de nossos muros, pois temos uma esperança gloriosa. Por que não mostrar a todos para que venham gozar, juntamente conosco, desta segurança maravilhosa? Isaías 53:11 diz: “Ele verá o fruto do penoso trabalho da Sua alma, e ficará satisfeito”. Como ficamos? Que Deus possa nos abençoar e encorajar para a execução da obra que resta para nós aqui na terra. Que assim seja!