Ética cristã ─ a falsa e a verdadeira

─ Em 9/10/2001, recebi esta matéria do querido e saudoso irmão Paulo Jones, que a enviara a mim e ao também querido e saudoso irmão Luiz Soares, dando-nos o privilégio de fazer uma revisão nos manuscritos iniciais do livro que estava preparando acerca da ética cristã nos negócios. O nosso amado irmão Paulo partiu para a Glória e nos deixou este material que não podemos deixar de publicar, pois certamente será de grande edificação para o povo de Deus. Permita Deus que assim seja! J.C. Jacintho.

A ÉTICA CRISTÃ NOS NEGÓCIOS

“Você tem alguma convicção religiosa?” – perguntou o executivo que procurava uma nova secretária.

“Sim, mas o senhor pode ficar tranqüilo”, afirmou a candidata ao cargo, “eu não permito que minha religião interfira no meu trabalho”.

Já admitida, verificou-se que a secretária professava ser cristã e era membro de uma igreja cristã. Afinal de contas, há alguma relação entre ser cristão e a forma de se conduzir no ambiente de trabalho?

O incidente acima ilustra uma postura muito comum entre as pessoas que se denominam cristãs: sua “religião” não interfere nos seus negócios ou no seu trabalho; em muitos casos, tão pouco em seus relacionamentos familiares ou sociais. Sua vida está dividida em dois compartimentos estanques: a vida “religiosa” e a vida “secular”.

Para estas pessoas, a vida religiosa cristã, geralmente herdada dos pais, é para ser praticada normalmente aos domingos e dias religiosos especiais (Natal, Páscoa, dias santos etc). Consiste em ser membro de uma igreja cristã freqüentar os seus cultos e seguir os seus ritos (com ênfase especial ao rito do batismo) e na eventual prática de boas obras. Esperam que, assim fazendo, estão garantindo uma vida eterna no futuro, na presença de Deus, no Céu.

Já a vida secular é a que deve ser vivida nos outros dias da semana. Tem pouca ou nenhuma ligação com a vida religiosa. Cobre todas as outras atividades dos seres humanos sobre a face da terra: vida familiar, social, estudos, trabalho, negócios. Todos com sua “ética” própria.

Este é um falso cristianismo! Mas, infelizmente, é o praticado pela maioria das pessoas do mundo chamado cristão. É a negação do cristianismo encontrado claramente na Bíblia, a Palavra de Deus, a qual é, pelo menos na teoria (e, infelizmente, muitas vezes somente na teoria), a base das religiões cristãs.

O verdadeiro cristianismo bíblico se caracteriza por ser uma FÉ individual que transforma o indivíduo, restabelece o relacionamento com Deus e define os princípios de todos os tipos de relacionamento entre as pessoas: familiares, sociais, profissionais, etc.

Não é herdada, não se baseia na filiação a qualquer igreja, ou em batismos, freqüência a cultos ou observância de ritos religiosos e tão pouco na realização de boas obras, embora tudo isto tenha o seu devido lugar na vida do cristão. A genuína fé cristã permite a certeza, entre outras coisas, de uma vida eterna pós-morte física, na presença de Deus, no Céu.

Esta fé é integral, não se divide em compartimentos, e sua vivência prática repercute em TODOS os aspectos da vida humana, 24 horas por dia, 7 por semana, durante toda a sua existência.

O verdadeiro cristão, no sentido bíblico desta palavra, é a pessoa que crê (tem fé) na pessoa e obra do fundador do cristianismo, Jesus Cristo, reconhecendo-O como seu Salvador pessoal e tornando-O Senhor de sua vida.

A fé cristã baseia-se nas seguintes certezas principais, reveladas na Bíblia, a Palavra de Deus:

  1. A existência de um único Deus, um Ser espiritual, eterno - que não teve começo e não terá fim - que tudo pode, está em todo lugar e tudo sabe, criador do universo e tudo o que nele há, inclusive o ser humano. Este Deus é um Ser moral, que distingue o certo do errado, o bem do mal, sendo Ele próprio totalmente puro, justo e amoroso. É um ser triuno, revelando-Se às Suas criaturas como Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo.
  2. A criação do ser humano por Deus, composto de corpo, alma e espírito, com o objetivo de gozar um relacionamento íntimo (comunhão) com Deus, vivendo com o propósito de glorificar a Deus, através da exaltação da natureza e caráter do Ser Divino. Dotado do direito de escolha, não sendo robôs, os seres humanos optaram e continuam optando por desobedecer a Deus, seguindo suas próprias inclinações e desejos, praticando o mal, criando seus próprios deuses, afastando-se cada vez mais dos objetivos para os quais Deus lhes deu vida. Como conseqüência, perderam aquilo que de mais precioso tinham, a comunhão com Deus, pois a natureza divina, de justiça, não tolera a presença do mal.
  3. O restabelecimento desta comunhão perdida, por iniciativa exclusiva de Deus. Manifestando o imenso amor de Deus, Deus, o Filho, deixou o lar celestial e veio ao mundo, para cumprir a obra que fora planejada por Deus, o Pai, desde a fundação do mundo. Nasceu de uma virgem, Maria, por ação do Espírito Santo. Recebeu o nome de Jesus Cristo (Messias Salvador). Viveu entre nós, satisfez a justiça de Deus entregando Sua vida, sem pecado, em morte humilhante, em substituição da vida dos seres humanos pecadores. Foi ressuscitado, como prova do poder de Deus sobre a morte, e voltou aos céus onde intercede por Seus seguidores. Algum dia voltará, não mais como Salvador, mas como Juiz e Rei.
  4. O nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristocumpriram fielmente todas as profecias que haviam sido feitas, séculos antes de Sua vinda, por homens que falaram inspirados por Deus. Jesus Cristo realizou muitos milagres e sinais que demonstram claramente Sua natureza divina e repetidas vezes declarou o objetivo de Sua vinda, como nas Suas palavras nos trechos que selecionamos abaixo:
    •  “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele” (João 3:16-17).
    •  “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6).
    •  “Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (João 10:10).

É cristã, portanto, a pessoa que ouve essas verdades; reconhece sua condição de afastada da comunhão com Deus em função de seus pecados; arrepende-se dos mesmos e confia (crê) na obra de resgate realizada por Jesus Cristo na cruz do Calvário, recebendo-O como seu Salvador pessoal, e colocando-O como Senhor de sua vida.

A partir deste ato de fé - que Deus chama de “conversão” (mudança de direção) – a pessoa cristã “nasce de novo”: começa a viver uma nova vida, sob nova direção, a de Deus, com novos valores e novos objetivos.

Diz o apóstolo Paulo: “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade” (Efésios: 4:22-24). Esta nova vida do cristão deve “interferir” na prática da sua vida profissional, de negócios. Se não fora assim, Deus não teria incluído tantos ensinos acerca disto em Sua Palavra.

O ser humano normal gasta, nos dias atuais, em média, de metade a dois terços da sua vida terrena em atividades profissionais. E o Senhor Jesus Cristo, ao assegurar que veio para que tivéssemos vida, e a tivéssemos plenamente, certamente não excluiu parcela tão significativa de nossa vida desta condição.

Surge, portanto, a definição da “Ética Cristã nos Negócios”: “É o conjunto dos valores morais e princípios ideais que os cristãos devem observar no exercício de uma profissão ou no desenvolvimento dos seus negócios”.

 

autor: William Paulo Jones.