07/01/1917 – 25/12/2007
Transcrito por autorização especial da Escola Bíblica Emaús ©
CAPITULO 5
O ESPÍRITO SANTO NA IGREJA
A igreja local, tanto pelo ensino como pela prática, deve testemunhar a quarta verdade vital, isto é, que o Espírito Santo é o Representante de Cristo na igreja. À primeira vista poderá parecer que este fato se sobrepõe ou está em conflito com a doutrina analisada anteriormente que Cristo é a Cabeça da Igreja. Mas ambas as afirmativas são verdadeiras. Cristo é a Cabeça da igreja, mas delegou ao Espírito Santo a função de ser o Seu Agente ou Representante na terra. Portanto, cumpre a cada igreja local dar o devido lugar ao Espírito de Deus.
A ORIENTAÇÃO PRÁTICA
Atos 13:1-4
A igreja deve buscar a direção do Espírito Santo em todos seus empreendimentos, seja ao escolher um local para seu testemunho público, estabelecer os tipos de reuniões a se realizar, discernir os instrumentos humanos a serem usados para ministrar a Palavra de Deus, desembolsar os fundos da igreja, ou administrar a disciplina piedosa.
O ESPÍRITO SANTO É SOBERANO
1 Coríntios 12:11
A igreja local deve sempre reconhecer a soberania do Espírito. Isto significa que Ele pode fazer o que quiser, e que Ele nem sempre escolherá fazer as coisas exatamente da mesma maneira, embora nunca agindo ao contrário da Palavra. Os mesmos símbolos do Espírito usados nas Escrituras – fogo, óleo, água, vento – implicam fluidez, um comportamento imprevisível. Assim, os cristãos sábios serão suficientemente flexíveis para Lhe permitir essa prerrogativa divina.
Era assim na igreja primitiva, mas logo o povo começou a ficar perturbado com reuniões que eram “livres e sociais, com o mínimo de formalidade” e foram acrescentados controles e formalismos, e o ritualismo tomou o poder. O Espírito Santo foi extinguido e a igreja perdeu a sua força.
A EXTINÇÃO DO ESPÍRITO
1 Tessalonicenses 5:19
Este desvio da igreja, obstruindo a liberdade do Espírito pelo predomínio humano, foi descrito por James Denney de um modo persuasivo e claro. O seu artigo é extenso, mas o leitor será amplamente recompensado se o ler e estudar atentamente. Eis o que ele disse sobre o versículo: “Não apagueis o Espírito”:
“... Quando o Espírito Santo desceu sobre a igreja no dia de Pentecostes, foram vistas, por eles, línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles e os seus lábios foram abertos para declarar as maravilhas de Deus. A pessoa que recebia esta prodigiosa dádiva é descrita como uma pessoa fervorosa no Espírito. Naqueles dias, o novo nascimento era a manifestação de uma nova vida (também hoje pode e deve sê-lo), porque gerava na alma pensamentos que até então lhe eram alheios.
"Com o novo nascimento vinha a consciência de novas forças, alcançava-se uma nova visão de Deus, surgia um novo anseio pela santidade e o entendimento abria-se para contemplar as maravilhas das Escrituras e compreender o significado da vida do homem; muitas vezes até se refletia na fluência da Palavra e no entusiasmo do testemunho. Na primeira Epístola aos Coríntios, Paulo descreve uma das primitivas congregações. Os crentes porfiavam em tomar parte audível quando se reuniam; todos queriam coparticipar; um com um salmo ou revelação, outro com profecia ou interpretação.
"Se tais atividades fossem ditadas pelo Espírito Santo todos aproveitariam espiritualmente. Converter-se à fé cristã e aceitar o Evangelho que os apóstolos pregavam significava profunda transformação nos novos convertidos; revolucionava totalmente as suas vidas a ponto de não parecerem os mesmos; tornavam-se novas criaturas e essa nova vida manifestava-se no fervor e no entusiasmo.
"Uma modificação tão extraordinária, contrastando com a velha natureza humana, não podia deixar de ter as suas inconveniências. O crente, mesmo depois de salvo e de ter recebido o Espírito Santo, continuava sendo humano e assim tinha necessidade de lutar contra a vaidade e a estultícia, contra a ambição e o egoísmo.
"A princípio, esse entusiasmo parecia agravar as suas falhas naturais em vez de ajudar vencê-las. Talvez se sentisse impelido a falar em público, visto ter liberdade para fazê-lo, quando talvez tivesse sido melhor ficar calado. No entusiasmo humano era capaz de se exceder ao orar ou ao exortar, atuando de maneira tão estranha que entristecesse os mais espirituais. Talvez, ao homem inquieto por manifestar o que sentia, dissessem: “Tem cuidado! Domina-te! Não te fica bem essas atitudes”.
" Não há dúvida que casos destes teriam ocorrido na igreja em Tessalônica. Nessa igreja havia crentes de todas as idades e temperamentos. Os mais velhos e conservadores contrastavam naturalmente com os mais novos a quem o entusiasmo facilmente se alvoroça. Mas a maneira de pensar ditada pela experiência e temperamento, ainda que não seja para desprezar, é considerada inconveniente por alguns quando comparada com o fervor da mocidade. Devido à idade ou ao temperamento, a atuação de alguns é desprovida de entusiasmo, pois não o sentindo não podem inspirá-lo.
"Não se deve abafar o entusiasmo fervoroso dos novos se este entusiasmo é criado pelo Senhor; é este o significado da expressão: “Não apagueis o Espírito”. O mandamento pressupõe que o Espírito pode ser abafado. Um olhar severo, palavras desdenhosas, silêncio, desprezo propositado, contribuem bastante para apagar o Espírito.
"Todos sabem que quando se acende uma fogueira, ela fumega; não é deitando água sobre ela que a fumaça se expele ou o lume se aviva; é preciso espertar o fogo até que arda bem. Talvez até se consiga fazê-lo arder com maior intensidade, ajustando a lenha e proporcionando-lhe boa tiragem, mas o melhor que se pode fazer, quando uma fogueira está acesa, é deixá-la arder.
"Dum modo semelhante, é o melhor que se pode fazer em relação ao discípulo de Cristo, no seu zelo pelas coisas de Deus. A fumaça faz lacrimejar os olhos, mas por amor do calor, tolera-se se é passageiro. Por isso o preceito apostólico prevê o fervor do espírito – entusiasmo cristão por aquilo que é bom e que edifica – e considera-o como o que de melhor há no mundo.
"Ele pode provir duma pessoa pouco instruída e sem muita experiência, pode essa pessoa incorrer em pequenos erros por ignorar as restrições que as cruéis necessidades da vida impõem ao homem, mas se a obra é de Deus, se o fervor é produzido pelo Espírito Santo, não pode deixar de irradiar luz e poder capazes de fazer transbordar a alma. Como força espiritual vale mais do que toda a sabedoria do mundo.
"Já me referi à maneira como o Espírito Santo pode ser impedido de atuar. É triste verificar na história da igreja uma longa série de transgressões do preceito: “Não apagueis o Espírito”, o que se confirma por uma série de rebeliões contra o Espírito. “Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade”, diz-nos o apóstolo noutra passagem, mas na sociedade a liberdade tem os seus perigos; até certo ponto está em contradição com a ordem.
"Quantas vezes os responsáveis se esquecem de tal fato. Em face disto sucedeu que, logo no princípio, por amor à boa ordem, estabelecem-se regras mais ou menos rígidas que cortam a liberdade do Espírito. Como alguém já disse: Assim como a vara de Arão tragou as outras varas, assim também o “dom de governar” parece ter absorvido os outros dons.
"Os guias da igreja formaram uma classe à parte dos outros membros e assim todo o exercício dos dons espirituais ficou sujeito àqueles. A tradição prevaleceu e a inovação deu origem ao errado dogma de que eles são os únicos depositários da Graça e da Verdade do Evangelho, e que só por seus intermédios os homens poderiam receber o Espírito Santo. Por outras palavras, a ação do Espírito era impedida quando os crentes se reuniam. Era como se colocassem um grande abafador sobre o fervor espiritual que animava os corações dos crentes. Havia homens que impediam o Espírito de se manifestar em fervoroso louvor, oração e exortação, porque não queriam que se perturbasse o cerimonial estabelecido para o culto.
"Assim se impuseram restrições ao culto cristão desde os tempos primordiais. É de se lamentar que tais restrições se mantenham ainda em muitos setores. Acha o leitor que temos nos beneficiado com isso? Creio que não. De vez em quando a prática chega a tornar-se intolerável. Vários grupos se têm levantado em defesa da liberdade do Espírito, opondo-se ao sistema rígido e autoritário que pretende abafar o Espírito ou a sua livre ação na igreja, pois tal sistema sempre conduz ao empobrecimento espiritual da igreja.
"Quer por regras ou programas estereotipados; quer por ritos ou liturgias, a igreja nunca devia impedir a livre operação do Espírito Santo. Como o Espírito Santo deve entristecer-Se com algumas regras fixas em que se determina, por exemplo: Que a reunião siga sempre determinada rotina e sujeita a um horário fixo; que não se admita interferência no programa estabelecido para a reunião de adoração. Regulamentos desta espécie só tendem a diminuir o poder espiritual da Igreja...”.
SE O ESPÍRITO TIVESSE A LIBERDADE DE AGIR HOJE
Poderíamos muito bem pausar aqui para nos perguntar como seria em nossas igrejas locais se realmente confiassem no Espírito Santo para ser o Líder Divino. C. H. Mackintosh dá uma descrição vívida de uma situação ideal: “Temos apenas uma pequena concepção de como uma igreja seria se fosse claramente conduzida pelo Espírito Santo e unida somente a Jesus. Então não teríamos que reclamar sobre as reuniões tediosas, pesadas, improdutivas, irritantes. Não temeríamos uma intrusão não santificada da mera natureza e das suas ações inquietantes – nenhuma oração pré-fabricada – nenhum falar apenas por falar – nenhum hinário aproveitado para encher uma lacuna. Cada um saberia o seu lugar na presença direta do Senhor – cada vaso talentoso seria cheio, provido e usado pala mão do Mestre – cada olho estaria visando Jesus – cada coração ocupado com Ele. Se um capítulo fosse lido, seria a própria voz de Deus. Se uma palavra fosse falada, ela agiria com poder sobre o coração. Se fosse oferecida uma oração, ela levaria a alma até mesmo à presença de Deus. Se um hino fosse cantado, ele elevaria o espírito até Deus e seria como dedilhar as cordas da harpa celeste. Sentiríamos estar no próprio santuário de Deus, saboreando antecipadamente aquele tempo quando vamos adorar nas cortes celestiais e nunca mais sair”.
Nota da Redação: Promovam este excelente curso por correspondência que é editado pela Escola Bíblica Emaús. Entrem em contato com o irmão Warren Brown pela Caixa Postal 464, Franca-SP, 14400-970, telefone (16) 3703-1034 ou e-mail: wjbrown@com4.com.br">wjbrown@com4.com.br