Cristo Amou A Igreja - 04

07/01/1917 – 25/12/2007
Transcrito por autorização especial da Escola Bíblica Emaús ©

CAPITULO 4
A AUTORIDADE DE CRISTO

CRISTO, A CABEÇA

A segunda verdade de que a igreja local deve testemunhar é que Cristo é a Cabeça do Corpo. Como podem os crentes testemunhar deste fato hoje? Obviamente não podem aceitar nenhum líder humano como cabeça da igreja. A violação mais flagrante disto é o chefe de um grande sistema religioso que reivindica ser a cabeça temporal do corpo de Cristo. A maioria dos cristãos hoje reconhece a loucura de tal pretensão, contudo o mal se infiltrou em quase todos os segmentos da cristandade em formas um pouco mais sutis.

A autoridade suprema de Cristo é verdadeiramente reconhecida quando O deixam dominar as atividades da igreja, tanto nas resoluções como na prática. Aos olhos de muitos, isto pode parecer uma coisa vaga e impraticável. Como pode o Senhor, desde o Céu, guiar uma igreja local na terra? A resposta é que Ele nunca deixa de revelar a Sua vontade àqueles que, pacientemente, esperam n’Ele. É certo que isto requer exercício espiritual da parte dos crentes.

Seria muito mais fácil eles próprios resolverem as coisas e fazer os seus próprios planos. Não esqueçamos, porém, que os princípios do Novo Testamento só podem ser postos em prática com o poder do Novo Testamento e esses que estão pouco dispostos a andar no caminho da dependência, oração e da paciente espera, nunca terão o privilégio de ver a Magnífica Cabeça da igreja guiando a igreja local aqui na terra.

A esta altura poderia ser apropriado enfatizar que uma coisa é exaltar a autoridade de Cristo com os nossos lábios e outra coisa reconhecer essa autoridade de um modo prático. Há alguns que aparentemente dariam a vida, se necessário fosse, para defender essa verdade, contudo na prática são virtuais ditadores na igreja. Um homem ou um grupo de homens podem não ter qualquer título ou designação oficial em uma igreja e no entanto dominá-la brutalmente. Diótrefes era um deles (3 João 9-10). Ele amava a preeminência e, maliciosamente, falava contra crentes piedosos como João; não queria recebê-los e expulsava os que os recebiam. Isto equivalia a negar que Cristo é a Cabeça da Igreja.

Talvez uma palavra devesse ser acrescentada acerca da sede da igreja. A palavra “sede” fala-nos do centro de operações e autoridade. A sede da igreja encontra-se onde a Cabeça está, isto é, no Céu. A igreja local não pode aceitar nenhuma organização dominante, como um sínodo, presbitério ou concílio para exercer autoridade sobre uma única igreja ou um grupo de igrejas. Cada igreja é diretamente responsável perante Cristo, Cabeça da Igreja, e não deve aceitar nem praticar seja o que for que negue esse fato.

RECEPÇÃO NA IGREJA

Como já apontamos, a terceira verdade importante em relação à igreja é que todos os crentes são membros do Corpo de Cristo.

É o dever da igreja determinar esta verdade com toda a exatidão e fidelidade. Nenhum ensino ou prática deve negar a unidade de todos os cristãos. Se inquirirmos como é que a igreja local pode dar testemunho desta verdade, somos obrigados a relacionar esse testemunho com as normas que adotam para receber outros em comunhão. São o que chamamos de política de recepção e os seus princípios são claros:

1. REGRA GERAL – O princípio geral é que a igreja deve receber todos os que Cristo recebeu. “Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu, para glória de Deus” (Romanos 15:7). A base da verdadeira comunhão é o fato da pessoa já ter sido recebida no Corpo de Cristo. A igreja local só dá expressão visível para aquele fato ao dar-lhe as suas boas-vindas em seu meio.

2. EXCEÇÕES À REGRA – Porém, esta não é uma regra sem exceção. Há três requisitos adicionais que estão implícitos nos ensinos do Novo Testamento:

      • A pessoa recebida em comunhão deve ter uma vida santa (1 Coríntios 5:11; 10:21). É óbvio que seria dada uma representação muito inexata do caráter santo da igreja receber um devasso, avarento, idólatra, maldizente, beberrão ou roubador.
      • Intimamente ligado a isto, está o fato de ser absolutamente impróprio receber uma pessoa que estivesse sob disciplina em outra igreja local (1 Coríntios 5:13). Isso seria a negação da unidade do Corpo de Cristo (Efésios 4:4). Enquanto o crente disciplinado não for restaurado à comunhão do Senhor e do Seu povo, é considerado como gentio e publicano (Mateus 18:17).
      • Finalmente, a pessoa deve ser sã na doutrina de Cristo: “Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tão pouco o saudeis” (2 João 10). A questão agora é saber o que a expressão “doutrina de Cristo” implica. A explicação não nos é dada na passagem, mas parece-nos que a expressão “doutrina de Cristo” abrange as grandes verdades a respeito da Sua Pessoa e Obra; isto é, a Sua divindade, Seu nascimento de uma virgem, Sua vida impecável, Sua morte propiciatória, Sua sepultura, ressurreição e ascensão, e a Sua segunda vinda.

Para resumir, concluímos que a igreja local deve receber em comunhão todos os nascidos de novo que vivem uma vida santa, que não estão sob disciplina de outra igreja e seguem a sã doutrina.

3. OUTRAS INSTRUÇÕES – As Escrituras, porém, fornecem-nos mais algumas instruções concernentes ao assunto da admissão. A igreja local deve:

    • Receber os fracos na fé (Romanos 14:1). Isto se refere ao cristão que é indevidamente escrupuloso acerca de assuntos que não conflitam com a moral. Por exemplo, o fato de um crente ser vegetariano não deve ser motivo para negar sua recepção em comunhão.
    • Receber sem fazer acepção de pessoas (Tiago 2:1-5). A Bíblia avisa-nos do perigo de manifestarmos consideração especial ao rico e desprezarmos o pobre. Este princípio aplica-se também a casos raciais e aos de nível social ou cultural. A discriminação não é cristã.
    • Receber os crentes tomando por base a vida eterna e não os conhecimentos que tenham (Atos 9:26-28). A comunhão não depende do grau de instrução que alguém tem, mas sim da Pessoa a quem o crente conhece. Assim Apolo foi recebido em Éfeso apesar do seu conhecimento ser bastante imperfeito (Atos 18:24-28).
    • Receber os crentes tomando por base a vida eterna e não as ordenanças. Em parte alguma da Bíblia lemos que o batismo seja a porta de entrada para a igreja. Embora seja certo que todos os crentes devem se batizar (Mateus 28:19), no momento em que dissermos que o crente deve ser batizado para poder ser recebido em comunhão, estamos ultrapassando a própria Palavra de Deus.
    • Receber o crente tomando por base a vida eterna e não o seu serviço. Porque talvez não concordemos com a maneira como alguém serve o Senhor, não é motivo para impedir que o crente seja recebido na igreja local. Em Lucas 9:53 lemos que os samaritanos não receberam o Senhor Jesus porque o Seu propósito era como de quem ia para Jerusalém. O que os levou a tomar aquela atitude foi o seu espírito sectário e não os princípios divinos.
    • Receber o crente sem olhar aquilo que tenha sido antes de se converter.Paulo tinha sido um perseguidor dos crentes, contudo foi recebido sem levarem em consideração o seu passado (Atos 9:27-28). Onésimo fora ladrão, mas Paulo exortou Filemom que o recebesse (Filemom 12, 15 e 17). Quando a igreja fecha as suas portas aos que dantes foram bêbados, jogadores, réprobos, mas agora estão convertidos, perdeu o seu verdadeiro caráter para se tornar num mero clube social.
    • Receber os crentes no Senhor com alegria (Filipenses 2:29). Na realidade podemos dizer que assim como tratamos os membros mais fracos do Seu Corpo assim tratamos o próprio Senhor. “Quando o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste” (Mateus 25:40).
  • 4. COMO SABER SE UMA PESSOA ESTÁ SALVA? – Agora surge invariavelmente a pergunta: “Como pode uma igreja saber que uma pessoa está realmente salva e elegível para ser recebida em comunhão?” Podemos sugerir cinco coisas, pelo menos, pelas quais podemos chegar a uma conclusão mais ou menos segura:
    • O uso de cartas de recomendação (Romanos 16:1). Qualquer crente que vai para uma igreja desconhecida pode evitar muitas dificuldades e dissabores se levar uma carta de recomendação da igreja a que pertence, testificando da sua fé e maneira de viver.
    • O testemunho de duas ou três testemunhas (Mateus 18:16). Se uma pessoa é conhecida de dois ou mais crentes de uma igreja local, ela poderá ser recebida em comunhão mediante a recomendação deles.
    • O testemunho de uma só pessoa, mas que tenha a confiança da igreja. Paulo recomendou Febe aos santos de Roma (Romanos 16:1), e Epafrodito à igreja de Filipos (Filipenses 2:28-30).
    • A reputação de um crente como servo de Cristo (2 Coríntios 3:1-3). Paulo dispensou a carta de recomendação para a igreja de Corinto porque era bem conhecido deles como apóstolo de Jesus Cristo.
    • Uma cuidadosa investigação da própria Igreja. Isto significa que a igreja, talvez através dos seus anciãos, pode interrogá-lo acerca da sua fé em Cristo etc., e da razão da esperança que há nele (1 Pedro 3:15). Logo que estejam convencidos de que ele pertence a Cristo, podem recebê-lo.

5. PROBLEMAS COMUNS – Antes de concluirmos esta seção sobre a recepção, gostaríamos de tratar de outras três questões que frequentemente surgem sobre este assunto:

    • Tem a igreja o direito de julgar se uma pessoa está salva ou não? Neste caso, não somente tem o direito, mas também o dever sagrado, tendo em vista que os crentes não devem ter comunhão com os descrentes (2 Coríntios 6:14-17). É evidente que devem usar todos os meios razoáveis para discernir o estado espiritual dos que procuram juntar-se ao povo de Deus.
    • E se a igreja recebe uma pessoa que, subsequentemente, ensina doutrina errada aos outros crentes? Neste caso o ensino deve ser publicamente refutado pela Palavra de Deus (1 Timóteo 5:20). Uma igreja fiel ao ensino do Novo Testamento só pode funcionar num ambiente de Bíblia aberta. Deve ter anciãos piedosos que saibam apontar o erro e defender a fé (Tito 1:9).
    • Suponhamos que a igreja recebe uma pessoa e depois ela assiste muito irregularmente ou nunca mais volta? Em primeiro lugar devemos salientar que comunhão significa participação ou propriedade em comum entre todos. Os que estão em comunhão devem coparticipar na vida da igreja, arcar com o fardo e responsabilidades e colaborar no trabalho que desenvolvem. A rigor, quem assiste a uma só reunião por semana, não está em comunhão. Quanto a uma pessoa que é recebida, e não volta mais, a responsabilidade é dela. A igreja tem a responsabilidade de lhe dar uma representação fiel e espiritual da igreja. Depois disso ele é forçado a obedecer à verdade.

É claro que o assunto de recepção é algo complicado, e só pudemos mencionar alguns dos seus aspectos mais importantes.

autor: Warren Brown.