CAPITULO 9
AS ORDENANÇAS DA IGREJA
As duas ordenanças da igreja cristã são o Batismo e a Ceia do Senhor. Encontramos a sua instituição pelo Senhor nos Evangelhos (Mateus 28:19; Lucas 22:19-20); a sua prática pelos primeiros crentes em Atos (10:47-48; 20:7), e expostos nas Epístolas (Romanos 6:3-10; 1 Coríntios 11:23-32).
O BATISMO
• Três batismos
Em consideração ao tema do batismo, devemos notar desde o início que são três as principais formas de batismo encontradas no Novo Testamento.
1. Em primeiro lugar, há o batismo de João (Marcos 1:4). Como precursor do Rei, João exortou a nação de Israel a voltar-se para Deus e dar frutos dignos de arrependimento (Mateus 3:8). Os que vieram a ele confessando os seus pecados, foram batizados com o batismo do arrependimento, e assim se separavam da impiedade em que a nação se encontrava. O Senhor Jesus foi batizado por João, não porque tivesse pecados de que se arrepender, mas a fim de Se identificar com os arrependidos remanescentes de Israel, e assim cumprir toda a justiça (Mateus 3:15).
2. Em segundo lugar, há o batismo do crente (Romanos 6:3-4). Significa identificação com Cristo na Sua morte, como veremos com mais detalhes mais tarde.
3. Em terceiro lugar, há o batismo do Espírito Santo (1 Coríntios 12:13). Este é obra soberana do Espírito de Deus pela qual todos os crentes são incorporados ao Corpo de Cristo.
• Contrastes significativos
Em relação a estes três batismos, devemos notar cuidadosamente o seguinte:
1. O batismo de João não é o mesmo que o batismo do Espírito. Distinguem-se claramente em Mateus 3:11.
2. O batismo de João não é o mesmo que o batismo do crente. Atos 19:1-5 mostra-nos que os crentes que já tinham sido batizados como discípulos de João, tiveram de ser rebatizados com o batismo cristão.
3. O batismo do Espírito Santo não é o mesmo que o batismo do crente. Muitos têm uma ideia vaga que o batismo pela água é uma figura ou símbolo do batismo do Espírito. Na realidade são completamente diferentes. O batismo do Espírito nos fala da incorporação ao Corpo de Cristo, enquanto que o batismo do crente é figura da morte.
Em suma, todas estas três formas de batismo são diferentes, e não devem ser confundidas.
• O batismo do crente
Depois do Dia de Pentecostes não lemos que alguém fosse batizado, senão os crentes no Senhor Jesus. Notemos as seguintes passagens:
• “De sorte que foram batizados os que receberam a sua palavra” (Atos 2:41). • “Quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres” (Atos 8:12). É certo que lemos de famílias inteiras serem batizadas (Atos 16:15; 1 Coríntios 1:16); mas não há qualquer evidência para se supor que estas famílias incluíssem crianças que nunca haviam confiado no Senhor Jesus.
• O seu significado
O significado mais importante do batismo do crente se encontra revelado plenamente em Romanos 6:1-10. Resumamos o ensino desta passagem da seguinte maneira:
1. Quando Jesus morreu, como que as ondas e vagas da ira de Deus passaram sobre Ele (Salmo 42:7); 2. Ele suportou tudo isso como nosso substituto; 3. Porque Cristo morreu realmente em nosso lugar, podemos dizer que morremos, quando Ele morreu; 4. Pela Sua morte, Ele resolveu a questão do pecado para sempre; 5. Assim também morremos em relação ao pecado e às suas consequências. O pecado não tem mais domínio sobre nós (Romanos 6:14); 6. Deus vê cada crente como tendo sido crucificado com Cristo. Tudo o que o homem era como pecador, na carne, foi cravado na cruz (Gálatas 2:20; Colossenses 2:14-15); 7. O batismo do crente constitui uma ilustração dramática do que já se efetuou. Ao descer às águas do batismo, na realidade o crente proclama: Eu merecia a morte por causa dos meus pecados; mas quando Jesus morreu, eu também morri com Ele. O meu homem velho foi crucificado com Ele. Quando Jesus foi sepultado, eu fui igualmente sepultado com Ele, pelo que reconheço agora na minha experiência diária, “o meu velho eu” deve ser removido da presença de Deus para sempre; 8. Assim como Jesus ressuscitou dentre os mortos, também o crente ressurge das águas do batismo. Ao fazê-lo, proclama a resolução de andar em novidade de vida. Não vive mais para agradar a si próprio, mas entrega a sua vida ao Salvador, a fim de que Ele viva a Sua vida no crente.
Assim, podemos dizer que o batismo é uma ordenança que significa o fim do antigo modo de vida. É um ato público de obediência à vontade do Senhor (Mateus 28:19-20), retratando a morte do crente com Cristo. Não tem mérito para salvação, mas é para aqueles que já estão salvos.
• O método
Surgiu uma controvérsia interminável acerca da maneira como o batismo deve ser administrado – por aspersão ou por imersão. Os seguintes fatos ajudam a encontrar a solução:
1. A palavra “batizar” vem do grego, e significa mergulhar, submergir, lavar; 2. Em relação ao batismo de Cristo, lemos: “Batizado que foi Jesus, saiu logo da água” (Mateus 3:16); 3. O próprio João Batista batizava em Enon, perto de Salim, “porque havia ali muitas águas” (João 3:23); 4. Em referência ao batismo do eunuco etíope, está anotado cuidadosamente nas Escrituras que “desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e Filipe o batizou. Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe...” (Atos 8:38-39); 5. Já verificamos em Romanos 6:3, que o batismo ilustra o ato de sepultar. A aspersão não transmite qualquer semelhança de sepultamento, enquanto a imersão o faz com toda a exatidão.
• O que é importante
Ainda mais importante do que o modo de batismo é o estado do coração do batizando. Há milhares de pessoas que foram imersas na água, mas que não foram realmente batizadas. O verdadeiro batizado é aquele que não só cumpriu com a ordenança exterior, mas também cuja vida mostra que a carne, ou velha natureza, foi mortificada. O batismo tem que ser uma questão de coração, bem como uma declaração exterior.
Isto pode se expressar, um tanto explicitamente, parafraseando Romanos 2:25-29 para se referir ao batismo em vez da circuncisão: “O batismo é, na verdade, proveitoso, se guardares o Evangelho; mas se tu recusas o Evangelho, o teu batismo se tornará em nulidade. Se, pois, uma pessoa não batizada obedecer ao Evangelho, porventura a falta de batismo não será reputada como batismo? E se quem não é batizado obedece ao Evangelho, ele julgará a ti, que com a letra e o batismo recusas o Evangelho. Porque não é cristão o que o é exteriormente, nem é batismo o que o é exteriormente na carne. Mas é cristão aquele que o é interiormente, e batismo é o do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus”.
• A administração do ato
A ideia de que o homem tem de ser “ordenado ministro” para poder batizar, não tem base nas Escrituras. Qualquer crente sincero pode batizar.
Nos primeiros dias da igreja, quando um crente era batizado, ele frequentemente passava a ser perseguido e assassinado pouco tempo depois. No entanto, quando outros eram salvos, eles sem hesitação avançavam para tomar o lugar dos mártires, passando pelo batismo. Ainda em nossos dias em determinadas áreas, o batismo é muitas vezes o sinal para o início de terríveis perseguições. Em muitos países o crente é tolerado enquanto se limita a confessar Cristo com os lábios. Mas sempre que O confessa publicamente no ato do batismo, e corta as suas relações com o passado, os inimigos da cruz começam a sua batalha contra ele.
Contudo, seja qual for o custo, cada um que é batizado usufrui da mesma experiência do eunuco etíope acerca do qual lemos que “jubiloso, seguia o seu caminho” (Atos 8:39).
A CEIA DO SENHOR
Este ato solene de recordação foi instituído pelo Senhor Jesus na noite em que foi traído, logo após ter celebrado com os discípulos a última Páscoa. Ele instituiu o que conhecemos como a Ceia do Senhor: “Tomando pão, e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto em meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:19-20).
• Por que é celebrado?
Em seu significado, este sacramento revela-nos pelo menos, quatro fatos importantes:
1. É um Memorial. O Salvador disse: “Fazei isto em memória de mim”. Lembra-nos dos Seus sofrimentos e morte, do Seu corpo oferecido na Cruz, do Seu Sangue derramado. A cena do Calvário com todas as suas conexões sagradas passa pela mente dos que dele participam. 2. Ao lembrarmo-nos assim da Paixão do Senhor Jesus, é quase impossível deixar de adorar e louvar a Deus. Assim a Ceia do Senhor é hora para a adoração pública – tempo para adorar Deus por tudo o que Ele é, e por tudo quanto fez. 3. A Ceia do Senhor é um testemunho público da unidade do Corpo de Cristo. O pão é uma figura do Corpo de Cristo, formado por todos os crentes verdadeiros. Ao participar do pão, o crente testifica que é um com todos os verdadeiros filhos de Deus. Ao participar do cálice, reconhece que é um com todos os que foram purificados no precioso sangue de Cristo (1 Coríntios 10:16-17). 4. Finalmente, a Ceia do Senhor é um constante lembrete de que Aquele que instituiu este Memorial para Si vai voltar. “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Coríntios 11:26).
Assim, o que adora não se limita a olhar para o passado e a meditar na morte de Jesus no Gólgota; não se limita a erguer o seu pensamento para o trono de Deus e a louvá-Lo pela redenção consumada, mas também olha para o porvir, para o momento em que o Senhor, descendo do céu, há de arrebatar o Seu Povo para o Lar Celestial.
• Sua Frequência
As Escrituras não comandam de forma legal a hora e a frequência em que a Ceia do Senhor deva se realizar, mas nos solicitam graciosamente através de passagens como as que seguem:
1. “No primeiro dia da semana, tendo-nos reunido a fim de partir o pão” (Atos 20:7). O primeiro dia da semana é o Dia do Senhor (o domingo). É o dia da Ressurreição do Senhor e dia apropriado para o Seu povo se reunir a fim de adorar e se lembrar do Senhor. 2. Quanto à frequência com que se deve realizar a exortação é: “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice” (1 Coríntios 11:26). No momento em que alguém diga que deve ser observada todas as semanas, todos os meses, ou de três em três meses, está a ir além das Escrituras. Contudo, existe uma forte probabilidade que os crentes primitivos se reuniam semanalmente para lembrar-se do Senhor.
Charles Addon Spurgeon argumentou fortemente pela observância semanal da Ceia do Senhor: “É meu testemunho, e penso que falo a opinião de muitos do povo de Deus aqui presentes, que vindo semanalmente à mesa do Senhor como alguns de nós fazemos, não achamos que o partir do pão tenha perdido a sua significância, ele é sempre novo para nós. Tenho frequentemente comentado à noite no domingo, seja qual for o assunto, se o Sinai tenha trovejado sobre as nossas cabeças, ou tenham as notas comoventes do Calvário penetrado em nossos corações, que parece sempre ser igualmente oportuno nos chegarmos para o partir do pão. A igreja que só parte o pão uma vez por mês devia sentir-se envergonhada, por estragar o primeiro dia da semana despojando-o da sua glória no encontro para comunhão e partir do pão, e na proclamação da morte de Cristo até que Ele venha. Tenho certeza que aqueles que uma vez provaram a suavidade da celebração da Ceia do Senhor todos os domingos, não se contentam em adiá-la para ocasiões menos frequentes”.
Jonathan Edwards também advogou a lembrança semanal do Senhor: “Parece evidente nas Escrituras que os cristãos primitivos costumavam celebrar este memorial dos sofrimentos do seu amado Redentor todos os domingos, e por isso creio que essa prática voltará à igreja de Cristo num futuro próximo”.
• Elegibilidade
Seria quase desnecessário dizer que a Ceia do Senhor é só para cristãos. Só os remidos são elegíveis e aptos a compreender o seu significado sagrado. Os próprios cristãos só devem participar dos emblemas depois de examinarem-se a si próprios (1 Coríntios 11:28). O pecado deve ser confessado e abandonado, e os emblemas devem ser consumidos de maneira digna (1 Coríntios 11:21-22). Todos os que participam sem se examinarem a si mesmos correm perigo de ser disciplinados pelo Senhor (1 Coríntios 11:27,29-32).
É bom não esquecer que é possível comer o pão e beber do cálice sem realmente nos lembrarmos do Senhor. É possível reduzir o memorial a um mero costume se nosso coração não reagir ao que fazemos simbolicamente. Nossas vidas devem estar em comunhão com Deus se formos obedecer, de verdade, às Suas palavras: “Em memória de mim”.
Nota da Redação: Promovam este excelente curso por correspondência que é editado pela Escola Bíblica Emaús. Entrem em contato com o irmão Warren Brown pela Caixa Postal 464, Franca-SP, 14400-970, telefone (16) 3703-1034 ou e-mail: wjbrown@com4.com.br