Este livreto foi transcrito mediante autorização especial da Escola Bíblica Emaús ©
Conteúdo
Capítulo 1 – A Igreja que é o Seu Corpo
Capítulo 2 – Grandes verdades acerca da Igreja
Capítulo 3 – A verdade acerca do corpo místico de Cristo
Capítulo 4 – A autoridade de Cristo
Capítulo 5 – O Espírito Santo na Igreja
Capítulo 6 – A disciplina na Igreja
Capítulo 7 – A expansão da Igreja
Capítulo 8 - O sacerdócio de todos os crentes
Capítulo 9 – As ordenanças da igreja
Capítulo 10 – A reunião de oração
Capítulo 11 – Os bispos
Capítulo 12 – Os diáconos
Capítulo 13 - As finanças na igreja
Capítulo 14 – O ministério das mulheres
Capítulo 15 – A responsabilidade do crente perante a verdade
CAPITULO 1
A IGREJA QUE É O SEU CORPO
“Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela” (Efésios 5:25b). Nós, semelhantemente, devemos amá-la e, num certo sentido, deveríamos nos entregar por ela com sacrifício e devoção, em serviço amoroso e alegre, a fim de que a igreja na terra possa progredir, prosperar e triunfar.
O objetivo deste estudo é examinar alguns dos princípios importantes do Novo Testamento que regem o caráter e a conduta da “Igreja que é o Seu Corpo”. Em primeiro lugar trataremos das grandes e imutáveis verdades a respeito da igreja universal, depois mostraremos como cada igreja local é responsável por revelar estas verdades na vida prática.
De início devemos salientar que a posição da igreja nunca deverá ser separada da sua condição correta, e os crentes que compõem a igreja local devem ser sempre, eles próprios, teste¬munhas vivas da verdade. Esta ênfase continuará a ser dada através destes estudos.
Voltando-nos agora para a igreja universal, começaremos por definir e descrevê-la.
No Novo Testamento a palavra igreja refere-se, inquestionavelmente, à corporação universal dos crentes de todos os tempos desde Pentecostes até a segunda vinda de Jesus, ou aos crentes de um determinado lugar, ou seja, a igreja local. O Novo Testamento não sanciona o uso comum do termo igreja para designar os cristãos existentes na terra em determinada época, pois não poderíamos classificá-los como “o corpo” ou “um corpo” de Cristo.
1 – A DEFINIÇÃO DA IGREJA
No Novo Testamento a palavra “igreja” é traduzida da palavra grega “ekklesia”, que significa um grupo de indivíduos chamados para formar uma reunião ou assembleia. Em Atos 7:38, Estevão usou a mesma palavra para descrever Israel no deserto. É também usada no capítulo 19:32, 39, 41 para descrever o tumulto gentílico em Éfeso. Mas no Novo Testamento a palavra é mais frequentemente usada para descrever um grupo de crentes no Senhor Jesus Cristo. Assim, Paulo fala da “igreja de Deus, que ele [Jesus] adquiriu com o seu próprio sangue” (Atos 20:28). Na sua primeira carta aos cristãos de Corinto, o grande apóstolo divide o mundo inteiro em três grupos: judeus, gentios e a igreja de Deus (1 Coríntios 10:32). Outra vez, ele identifica a igreja de Deus compreendendo o grupo de crentes cristãos que ele perseguiu antes da sua conversão (1 Coríntios 15:9).
Já se disse muito que a igreja não é uma organização, mas um organismo. Por isto se entende que ela não é uma instituição sem vida, mas uma unidade viva. É uma comunhão de todos os que participam da vida de Cristo e estão ligados uns aos outros em união viva pelo Espírito Santo. É corretamente descrita como “uma pura comunhão de pessoas sem caráter institucional”.
No Novo Testamento há muitos títulos descritivos da igreja. Uma das melhores maneiras de chegar a uma compreensão da igreja é considerar o que significa cada título. As descrições que mais se destacam são as seguintes:
- UM REBANHO (João 10:16) – A nação judaica era “um aprisco”, a igreja é um “rebanho”. Disse o Senhor Jesus: “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco (Israel); também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um pastor” (João 10:16). A ideia de “rebanho” traz diante de nossas mentes um grupo de cristãos, vivendo em comunhão uns com os outros sob o cuidado carinhoso e terno do Bom Pastor, dando ouvidos à Sua voz e seguindo-O (João 10:3-4).
- LAVOURA DE DEUS (1 Coríntios 3:9) – A Igreja de Deus é o canteiro do Seu jardim, no qual Ele almeja produzir frutos para Sua glória. Aqui assim é colocado diante nós o pensamento de produzir fruto.
- EDIFÍCIO DE DEUS (1 Coríntios 3:9) – Esta expressão retrata Deus como Quem está a realizar o programa de uma construção. Ele está acrescentando pedras vivas à Sua igreja (1 Pedro 2:5). Como é importante que nossas vidas sejam dedicadas ao projeto de construção pelo qual Ele se interessa tão primordialmente!
- O TEMPLO DE DEUS (1 Coríntios 3:16) – A palavra “templo” traz imediatamente à nossa mente a ideia de adoração e nos lembra que a única adoração que Deus recebe hoje é dos que são os membros da igreja.
- O CORPO DE CRISTO (Efésios 1:22-23) – O corpo é o meio pelo qual uma pessoa se expressa. Semelhantemente, o corpo de Cristo é a unidade pela qual atualmente o Senhor escolhe para Se expressar ao mundo. Uma vez entendida esta verdade, um crente nunca mais considerará a igreja como algo de importância secundária, mas se dedicará sem reservas aos melhores interesses do corpo de Cristo.
- UM NOVO HOMEM (Efésios 2:15) – Salienta-se aqui a ideia de uma nova criação. A maior de todas as diferenças entre os homens, aquela entre judeus e gentios, foi abolida na igreja e Deus fez dos dois povos um novo homem.
- UMA MORADA DE DEUS (Efésios 2:22) – Esta expres¬são nos comunica a verdade que Deus agora habita na igreja, ao invés de num tabernáculo ou templo material como no Velho Testamento.
- A NOIVA DE CRISTO (Efésios 5: 25-27; 2 Coríntios 11:2) – Sob este aspecto realça-se a ideia do afeto: “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar, a si mesmo, igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. Se Cristo amou a igreja e Se entregou a Si mesmo por ela, é evidente que a igreja deve dedicar-lhe todo o seu amor.
- A CASA DE DEUS (1 Timóteo 3:15) – Uma casa (ou família) nos lembra de ordem e disciplina. Sugere-se o pensamento de ordem nesta passagem: “Para que saibas como convém andar na casa de Deus” (1 Timóteo 3:15). A disciplina nesta outra: “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus” (1 Pedro 4:17).
- 10. A COLUNA E O ESTEIO DA VERDADE (1 Timóteo 3:15) – Em tempos idos, uma coluna era frequentemente usada para se afixar anúncios ao público. Era um meio de se fazer uma proclamação. A palavra “esteio” significa uma peça de madeira, metal, ferro etc., com a qual se firma ou escora algo. Assim a Igreja de Deus é a unidade que Ele ordenou que fosse usada para proclamar, sustentar e defender a Sua verdade. Portanto, podemos afirmar com toda a segurança que, se os cristãos desejam conformar-se com o propósito e a vontade de Deus, eles devem dedicar os seus melhores esforços para a expansão e bem-estar da igreja.
2 – A MISSÃO DA IGREJA
Muitos se gabam hoje em dia que a missão deles é pregar o Evangelho, e se distanciam de qualquer coisa relacionada com a igreja. Eles deveriam prestar atenção ao fato que o ministério do apóstolo Paulo possuía duas partes: (1) “anunciar entre os gentios, por meio do Evan¬gelho, as inesgotáveis riquezas de Cristo” (Efésios 3:8), e também (2) “demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério”, isto é, estabelecê-los nas grandes verdades da igreja (Efésios 3:9).
3 – A ORIGEM DA IGREJA
Grandes e piedosos homens têm diferido amplamente sobre quando se deu o começo da igreja. Muitos creem que ela é uma continuação ou derivação de Israel do Velho Testamento. Outros asseveram que a Igreja não existia no Velho Testamento, mas que se iniciou na nova dispensação. A favor do último ponto de vista há três considerações:
- Em Efésios 3:4-5, Paulo fala da igreja como um mistério “o qual em outras gerações não foi manifestado aos filhos dos homens, como se revelou agora no Espírito aos seus santos apóstolos e profetas”. Novamente, no versículo 9, ele declara que a igreja é um “mistério que desde os séculos esteve oculto em Deus” (Veja também Colossenses 1:26; Romanos 16:25, 26) Assim, a igreja era um segredo mantido por Deus através dos tempos do Velho Testamento, que não foi revelado até o aparecimento dos apóstolos e profetas do Novo Testamento.
- Em Mateus 16:18, diz o Senhor Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja”. Em outras palavras, a igreja ainda estava no futuro quando o Senhor proferiu isto.
- Em Efésios 4:8-11, Paulo frisa que é o Cristo ressuscitado e ascendido ao céu que dá dons à igreja. Isto depõe fortemente que, se a igreja existiu antes da Sua ascensão, faltavam-lhe dons para sua edificação.
Cremos que é possível, não somente provar que a igreja teve seu início na nova dispensação, mas também que surgiu no dia de Pentecostes (Atos 2:1-4).
Diz-se que o corpo de Cristo foi formado pelo batismo do Espírito Santo (1 Coríntios 12:13). Será possível então sabermos quando se realizou o batismo do Espírito Santo? No livro de Atos 1:5, o Senhor Jesus, imediatamente antes da Sua ascensão, prometeu aos apóstolos: “Sereis batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias”. No dia de Pentecostes “todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem” (Atos 2:4). A igreja já havia surgido definitivamente quando alcançamos Atos 5:11, pois lemos ali que “sobreveio grande temor a toda a igreja”. Isto parece definir certamente o dia de Pentecostes como sendo o dia do nascimento da igreja.
CAPITULO 2
GRANDES VERDADES ACERCA DA IGREJA
Entrelaçadas ao longo do livro de Atos e das cartas (Epístolas) do Novo Testamento há muitas verdades grandiosas relativas à Igreja de Deus. Aqui faremos um breve comentário sobre algumas das mais importantes, com a intenção de desenvolvê-las mais amplamente nos próximos capítulos.
■HÁ UM SÓ CORPO – De acordo com Efésios 4:4 só existe uma igreja. Apesar de todas as circunstâncias que parecem negar isto, o fato permanece que, para Deus, há só um corpo de crentes na terra. Apesar desta igreja nunca ser completamente visível ao homem, ela constitui um corpo de todos, formado pelo Espírito Santo.
■CRISTO É A CABEÇA DO CORPO – Usando a analogia do corpo humano (Efésios 5:23; Colossenses 1:18), Paulo nos ensina que Cristo como Cabeça no céu controla o Seu corpo na terra. A cabeça nos fala de autoridade, liderança e sede do intelecto. A cabeça e o corpo participam da mesma vida, interesses e perspectivas. Como a cabeça não está completa sem o corpo, assim, num sentido muito real, Cristo não está completo sem a Sua Igreja. Assim lemos em Efésios 1:23 que a igreja, como Seu corpo, é o “complemento daquele que cumpre tudo em todas as coisas“. Isto causa o mais profundo respeito e adoração no crente.
■TODOS OS CRENTES SÃO MEMBROS DO CORPO – No momento em que uma pessoa é salva, ela é acrescentada à igreja como membro do corpo (Atos 2:47). Esta união transcende os limites de raça, cor, nacionalidade, temperamento, cultura, nível social, idioma e denominação. Na passagem clássica sobre os membros do corpo de Cristo (1 Coríntios 12:12-26), Paulo nos lembra que há muitos membros no corpo (vs. 12-14). Cada membro tem determinada função no corpo (vs. 15-17), mas nem todos os membros têm a mesma função (v. 19). O bem-estar do corpo depende da mútua cooperação de todos os membros (vs. 21-23). Porque todos os membros precisam uns dos outros, não há razão para descontentamento ou inveja (vs. 15-17), nem para orgulho ou independência (v. 21); Porque todos são membros de um corpo, deve haver entre todos cuidado mútuo, simpatia e alegria (vs. 23-26).
■O ESPÍRITO SANTO É O REPRESENTANTE DE CRISTO NA IGREJA – Depois da Sua ascensão ao céu, o Senhor Jesus enviou o Espírito Santo para ser o Seu representante na terra (João14:16, 26). As atividades do Espírito Santo na igreja se revelam, em parte, pelo fato que Ele conduz os cristãos em sua adoração (Efésios 2:18); inspira as suas orações (Romanos 8:26-27); outorga poder à sua pregação (1 Tessalonicenses 1:5); Guia-os nas suas atividades (Atos 13:2; 16:6-7), tanto de forma positiva (Atos 13:2), como negativa (Atos 16:6-7); levanta anciãos nas igrejas (Atos 20:28); dá dons para o crescimento e efetividade da Igreja (Efésios 4:11) e guia os crentes em toda a verdade (João 16:13).
■A IGREJA DE DEUS É SANTA – Dentre as nações, Deus está chamando um povo para o Seu Nome. Ele os separa deste mundo pecaminoso para Si, e requer como reação deles que suas vidas se caracterizem por uma santidade prática (1 Coríntios 3:17). Só assim é que a igreja pode, com fidelidade, representar um Deus Santo neste mundo corrupto.
■OS DONS SÃO DADOS PARA EDIFICAÇÃO DA IGREJA – A vontade de Deus é que a igreja cresça numérica e espiritualmente. Com este objetivo o Cristo ressus¬citado dá dons à igreja (Efésios 4:11). Estes dons são homens a quem é dada aptidão especial para edificar a igreja. Segundo a lista que encontramos em Efésios 4:11, os dons são apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e ensinadores.
Cremos que os apóstolos e profetas estavam empenhados, antes de mais nada, na fundamentação da igreja (Efésios 2:20). Uma vez lançado o fundamento, cessou a necessidade de apóstolos e profetas neotestamentários e não os temos mais no sentido primitivo das palavras.
Contudo, ainda temos evangelistas, pastores e ensinadores. Os evangelistas saem para o mundo com o Evangelho, trazem os pecadores a Cristo, e depois conduzem-nos à comunhão da igreja local. Os pastores cuidam do rebanho, alimentando e encorajando as ovelhas e protegendo-as do mal. Os ensinadores revelam a Palavra de Deus de uma maneira compreensível e apresentam as doutrinas bíblicas de uma maneira bem equilibrada.
Temos ainda outra lista de dons espirituais em 1 Coríntios 12:8-10: a palavra da sabedoria, a palavra da ciência, fé, cura, operação de maravilhas, profecias, discernimento de espíritos, varie¬dade de línguas e interpretação de línguas. Não existe, necessariamente, contradição entre as duas listas. Em Efésios 4, os dons são pessoas cujas vidas aparentemente são consagradas inteiramente ao evange¬lismo, ensino ou obra pastoral. Em 1 Coríntios 12 os dons são aptidões que não se limitam necessariamente a certos indivíduos, mas que o Espírito Santo pode dar a qualquer membro do corpo de Cristo quando e como Ele escolher. Por exemplo, qualquer homem cristão pode ser guiado pelo Espírito a proferir uma “palavra de sabedoria” ou “palavra de ciência, sem ser exatamente um ensinador. Outro pode levar uma alma a Cristo sem que seja um evangelista.
Em 1 Coríntios 12:28, Paulo fala novamente de apóstolos, profetas, ensinadores, milagres, dons de cura, socorros, governos e varie¬dades de línguas. Aqui inevitavelmente surge a pergunta se ainda hoje temos dons de natureza milagrosa. Em Hebreus 2:4 lemos que Deus usou sinais e maravilhas para autenticar a pregação primordial do Evangelho. Isto se verificou nos tempos em que a Palavra de Deus ainda não estava totalmente disponível em sua forma escrita. Muitos creem que com a chegada da Bíblia completa, cessou a necessidade desses milagres. A Bíblia não esclarece o assunto decisivamente, embora creiamos que estes dons não existem hoje, genericamente falando, não podemos dizer que o Espírito Santo, de forma soberana, não tenha a liberdade de ainda usá-los, especialmente onde as Escrituras são raras. De qualquer forma, os que professam ter estes dons milagrosos devem ter o cuidado de exercê-los de acordo com as instruções da Palavra de Deus (por exemplo, o uso de línguas é regulado em 1 Coríntios 14).
No sentido secundário da palavra, não há dúvida de que ainda temos apóstolos, se apenas queremos dizer homens enviados pelo Senhor. Neste sentido menor também ainda temos profetas, isto é, homens que clamam por Deus contra o pecado e desregramento. Mas repudiamos inteiramente a ideia de que haja homens, hoje em dia, que tenham a mesma autoridade que foi delegada aos primitivos apóstolos, ou que possam falar com a mesma revelação direta e inspirada dos profetas do Novo Testamento.
Na medida em que estes dons ministram, a igreja cresce e os santos são edificados em sua santíssima fé. Os dons são provisão de Deus para a expansão da igreja.
■TODOS OS CRENTES SÃO SACERDOTES DE DEUS – A verdade final que apresentamos em relação à igreja é o sacerdócio de todos os crentes (1 Pedro 2:5,9). No Velho Testamento só eram elegíveis para o sacerdócio um deter¬minado grupo de homens da tribo de Levi, e da família de Aarão (Êxodo 28:1). Nos nossos dias não se requer uma casta especial de homens separada dos outros, nem o uso de vestes distintivas ou privilégios especiais. Todos os filhos de Deus são sacerdotes de Deus com todos os privilégios e responsabilidades que o nome implica.
■A FINALIZAÇÃO E DESTINO DA IGREJA – Como já vimos, a igreja está agora em processo de edificação. Sempre que uma alma é salva, uma pedra viva é acres¬centada à igreja. O edifício cresce silenciosamente sem se ouvir o som do martelo. O Espírito Santo acrescenta diariamente à igreja aqueles que hão de se salvar (Atos 2:47).
A obra estará concluída brevemente. Logo que a última pedra for colocada o Senhor Jesus descerá aos ares. Como que atraída por um ímã divino, a igreja subirá para encontrar-se com o Salvador, e juntos ambos retornarão para as muitas mora¬das da casa do Pai. “E assim estaremos para sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:17).
Será da igreja a abençoada porção de não somente estar com Cristo eternamente, mas também de participar das glórias que Ele ganhou durante a sua carreira terrena (João 17:22).
Por toda a eternidade, a igreja está destinada a ser uma testemunha permanente da glória de Deus, “para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco, em Cristo Jesus” (Efésios 2:7).
Por enquanto, a igreja é a obra-prima de Deus na terra. Ela constitui uma lição objetiva aos principados e potestades nas regiões celestiais da multiforme sabedoria de Deus (Efésios 3:10). Cada crente, pois, deve estar vitalmente inte¬ressado na igreja, e o seu trabalho cristão deve ter como um dos seus objetivos principais a expansão e a edificação da igreja (1 Tessalonicenses 1:6-8; 1 Coríntios 14:12).
CAPITULO 3
A VERDADE ACERCA DO CORPO MÍSTICO DE CRISTO
A primeira verdade que a igreja local tem a responsabilidade de testemunhar é que há um só corpo. Como podem os crentes dar testemunho deste fato hoje?
1. QUE NOME DEVE SER ADOTADO?
Talvez a maneira mais fácil seja não adotarem nomes que os separem de outros crentes. Na igreja de Corinto, alguns diziam que eram de Paulo, outros de Apolo e outros de Cristo. Ao que Paulo responde com veemência: “Está Cristo dividido?” (1 Coríntios 1:10-17).
Nos nossos dias há cristãos que estão divididos em denominações e adotam nomes de países ou de guias religiosos ou, ainda, formas de governo eclesiástico. Todos os que fazem isso negam a unidade do Corpo de Cristo.
O ensino das Escrituras é claro e revela-nos que os filhos de Deus só devem ser conhecidos pelas nomenclaturas que lhes são dadas na Bíblia: crentes (Atos 5:14); discípulos (Atos 9:1); cristãos (Atos 11:26); santos (Efésios 1:1); e irmãos (Tiago 2:1).
Talvez a coisa mais difícil para a vida do cristão seja a de usar a simples identificação de “crente”. Atualmente a grande maioria sente que deve pertencer a alguma igreja organizada e levar outro nome diferente do que está determinado na Bíblia. Quem recusar ser conhecido por qualquer nome que não seja o de um filho de Deus sofrerá repreensão até de outros cristãos e será sempre um enigma na sociedade. Contudo, como podem os crentes proceder de modo diferente e serem consistentes?
Mas é evidente que não basta ter somente uma identificação segundo as Escrituras. É demais possível ater-se estritamente à linguagem bíblica e ainda ser sectário em espírito. Por exemplo, em Corinto alguns diziam: “Eu sou de Cristo” (1 Coríntios 1:12). Talvez se orgulhassem da correção do nome pelo qual se designavam, mas na realidade queriam dizer que eles eram de Cristo com a exclusão dos outros verdadeiros crentes. Paulo achou-os em falta da mesma maneira como os que se diziam leais a si ou a Apolo.
2. QUE DIREMOS SOBRE AS DENOMINAÇÕES?
Quando se expressam dúvidas sobre o grau de obediência às Escrituras exercido pelas denominações, é comum objetar-se que o Senhor tem ricamente abençoado algumas das grandes divisões ou seitas da igreja. Aceitando essa verdade, não deveríamos esquecer que a bênção do Senhor não indica que todos os detalhes têm a aprovação divina. Ele honra a Sua própria Palavra embora muitas vezes a transmissão seja feita com bastantes falhas e imperfeições. Se Deus só abençoasse o que é feito perfeitamente não haveria bênção. Portanto, o fato de um grupo qualquer ter visto a mão de Deus operar no seu meio, não quer isto dizer que Ele aprove tudo o que esse grupo faz. A mensagem é sempre maior que o mensageiro.
A atitude do Senhor para com as divisões na igreja é claramente revelada em 1 Coríntios 3:4... “Porque, dizendo um: eu sou de Paulo; e outro; eu de Apolo; porventura não sois carnais?”As divisões na igreja acarretam grandes males. Criam barreiras artificiais que prejudicam a comunhão; limitam o movimento dos homens de Deus talentosos cujo ministério deveria estar disponível a toda a igreja (3 João 9-10); confundem as pessoas do mundo, levando-as a perguntar: “Qual é a igreja que está certa?”
Em seu famoso trabalho “A Oração do Senhor para os Crentes”, Marcus Rainsford escreveu: “Creio que as seitas e as denominações são o resultado do esforço do diabo para corromper e impedir, tanto quanto possível, a união visível da Igreja de Deus; todas elas têm a sua raiz no nosso egoísmo e orgulho espiritual, em nossa pseuda-autossuficiência e pecado”.
Mais adiante, exclama: “Que Deus nos perdoe pelas nossas divisões e as corrija! Nada dá mais oportunidade ao mundo de fora para nos atacar do que as diferenças entre os que se declaram ser cristãos. As disputas e as contendas entre homens e mulheres de diferentes seitas e denominações da igreja visível de Deus têm sido sempre um dos maiores obstáculos do mundo. Em vez do mundo, ao ver isso, ser compelido a confessar: “Vejam como estes cristãos se amam mutuamente!”, o mundo tem frequentemente tido razão ao dizer: “Vejam como acham defeitos entre si, vejam como se julgam entre si, vejam como se espinafram entre si”!
3. A VERDADEIRA UNIDADE
Os crentes que resolvem testemunhar sobre a unidade do corpo de Cristo encontram grande dificuldade em apartar-se de todas as divisões existentes na igreja e, ao mesmo tempo, cultivar um espírito amável para com todo o povo de Deus.
C. H. Mackintosh, o apreciado autor das “Notas sobre o Pentateuco”, escreveu: “A grande dificuldade é combinar um espírito de intensa separação com um espírito de boa vontade, nobreza e autodomínio, ou como alguém disse: “manter um círculo fechado com um coração aberto”. Isto é realmente difícil. Como a manutenção da verdade de forma rígida e intransigente tende a reduzir o círculo em nossa volta, todos nós precisamos da força expansiva da boa vontade para manter o coração aberto e as afeições calorosas. Se contendermos pela verdade sem boa vontade, daremos apenas um testemunho unilateral e nada atraente. Se, por outro lado, procurarmos mostrar boa vontade em prejuízo da verdade, isso ao fim provará ser apenas a manifestação de uma familiaridade popular à custa de Deus – algo sem valor algum”.
W. H. Griffith Thomas expressou o mesmo pensamento no seu livro “Vida e Obra Ministerial”: Que os princípios sejam firmemente estabelecidos na rocha inconfundível da verdade divina, mas permitindo que a compreensão seja exercida tão largamente quanto possível a todos os que procuram viver e trabalhar para Cristo. Jamais esquecerei as palavras do grande e virtuoso bispo Whipple, de Minnesota, o chamado ‘apóstolo dos índios’, como as ouvi numa ocasião memorável em Londres: ‘Por trinta anos tenho procurado ver o rosto de Cristo naqueles que diferem de mim’.
A mostra visível da unidade do corpo de Cristo não se realiza por meio dos vários concílios ecumênicos sobre os quais tanto se ouve em nossos dias. Tais uniões, concílios ou federações somente têm sucesso quando comprometem as grandes verdades das Escrituras, as congregações cristãs negam o Senhor quando se unem aos que repudiam o nascimento de Cristo de uma virgem, a Sua natureza humana sem pecado, a Sua morte substitutiva, a ressurreição de Seu corpo, a Sua ascensão e exaltação, e o Seu regresso.
A verdadeira base da unidade cristã é a devoção comum a Cristo e à Sua Palavra. Quando a Sua glória é o maior desejo dos nossos corações, então também nos sentiremos atraídos uns para os outros e assim será atendida a Sua oração: “Para que sejam um como nós somos um” (João 17:22).
Como Griffith Thomas disse: “Tem sido observado frequentemente que quando a maré está baixa ficam na praia pequenas poças d’água aqui e ali, separadas por grandes intervalos de areia, e é só quando a maré enche e a todos submerge em seu grande abraço é que aquelas poças se juntam e tornam-se uma só unidade. Assim terá que ser, assim acontecerá com as infelizes separações de coração, ‘nossas infelizes divisões’; a grande maré do amor de Deus fluirá cada vez mais funda e mais cheia em cada uma e em todas as nossas vidas, e no oceano daquele amor se realizará o ideal divino de amor, gozo e paz para todo o sempre”.
Enquanto isso, a responsabilidade das igrejas locais é procurar manter o testemunho da unidade do corpo de Cristo nesta época em que a maior parte da cristandade só serve para negar tal unidade. Elas podem fazer isto mediante a admissão dos seus companheiros crentes em espírito, princípio e prática.
CAPITULO 4
A AUTORIDADE DE CRISTO
CRISTO, A CABEÇA
A segunda verdade de que a igreja local deve testemunhar é que Cristo é a Cabeça do Corpo. Como podem os crentes testemunhar deste fato hoje? Obviamente não podem aceitar nenhum líder humano como cabeça da igreja. A violação mais flagrante disto é o chefe de um grande sistema religioso que reivindica ser a cabeça temporal do corpo de Cristo. A maioria dos cristãos hoje reconhece a loucura de tal pretensão, contudo o mal se infiltrou em quase todos os segmentos da cristandade em formas um pouco mais sutis.
A autoridade suprema de Cristo é verdadeiramente reconhecida quando O deixam dominar as atividades da igreja, tanto nas resoluções como na prática. Aos olhos de muitos, isto pode parecer uma coisa vaga e impraticável. Como pode o Senhor, desde o Céu, guiar uma igreja local na terra? A resposta é que Ele nunca deixa de revelar a Sua vontade àqueles que, pacientemente, esperam n’Ele. É certo que isto requer exercício espiritual da parte dos crentes.
Seria muito mais fácil eles próprios resolverem as coisas e fazer os seus próprios planos. Não esqueçamos, porém, que os princípios do Novo Testamento só podem ser postos em prática com o poder do Novo Testamento e esses que estão pouco dispostos a andar no caminho da dependência, oração e da paciente espera, nunca terão o privilégio de ver a Magnífica Cabeça da igreja guiando a igreja local aqui na terra.
A esta altura poderia ser apropriado enfatizar que uma coisa é exaltar a autoridade de Cristo com os nossos lábios e outra coisa reconhecer essa autoridade de um modo prático. Há alguns que aparentemente dariam a vida, se necessário fosse, para defender essa verdade, contudo na prática são virtuais ditadores na igreja. Um homem ou um grupo de homens podem não ter qualquer título ou designação oficial em uma igreja e no entanto dominá-la brutalmente. Diótrefes era um deles (3 João 9-10). Ele amava a preeminência e, maliciosamente, falava contra crentes piedosos como João; não queria recebê-los e expulsava os que os recebiam. Isto equivalia a negar que Cristo é a Cabeça da Igreja.
Talvez uma palavra devesse ser acrescentada acerca da sede da igreja. A palavra “sede” fala-nos do centro de operações e autoridade. A sede da igreja encontra-se onde a Cabeça está, isto é, no Céu. A igreja local não pode aceitar nenhuma organização dominante, como um sínodo, presbitério ou concílio para exercer autoridade sobre uma única igreja ou um grupo de igrejas. Cada igreja é diretamente responsável perante Cristo, Cabeça da Igreja, e não deve aceitar nem praticar seja o que for que negue esse fato.
RECEPÇÃO NA IGREJA
Como já apontamos, a terceira verdade importante em relação à igreja é que todos os crentes são membros do Corpo de Cristo.
É o dever da igreja determinar esta verdade com toda a exatidão e fidelidade. Nenhum ensino ou prática deve negar a unidade de todos os cristãos. Se inquirirmos como é que a igreja local pode dar testemunho desta verdade, somos obrigados a relacionar esse testemunho com as normas que adotam para receber outros em comunhão. São o que chamamos de política de recepção e os seus princípios são claros:
1. REGRA GERAL – O princípio geral é que a igreja deve receber todos os que Cristo recebeu. “Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu, para glória de Deus” (Romanos 15:7). A base da verdadeira comunhão é o fato da pessoa já ter sido recebida no Corpo de Cristo. A igreja local só dá expressão visível para aquele fato ao dar-lhe as suas boas-vindas em seu meio.
2. EXCEÇÕES À REGRA – Porém, esta não é uma regra sem exceção. Há três requisitos adicionais que estão implícitos nos ensinos do Novo Testamento:
■A pessoa recebida em comunhão deve ter uma vida santa (1 Coríntios 5:11; 10:21). É óbvio que seria dada uma representação muito inexata do caráter santo da igreja receber um devasso, avarento, idólatra, maldizente, beberrão ou roubador.
■Intimamente ligado a isto, está o fato de ser absolutamente impróprio receber uma pessoa que estivesse sob disciplina em outra igreja local (1 Coríntios 5:13). Isso seria a negação da unidade do Corpo de Cristo (Efésios 4:4). Enquanto o crente disciplinado não for restaurado à comunhão do Senhor e do Seu povo, é considerado como gentio e publicano (Mateus 18:17).
■Finalmente, a pessoa deve ser sã na doutrina de Cristo: “Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tão pouco o saudeis” (2 João 10). A questão agora é saber o que a expressão “doutrina de Cristo” implica. A explicação não nos é dada na passagem, mas parece-nos que a expressão “doutrina de Cristo” abrange as grandes verdades a respeito da Sua Pessoa e Obra; isto é, a Sua divindade, Seu nascimento de uma virgem, Sua vida impecável, Sua morte propiciatória, Sua sepultura, ressurreição e ascensão, e a Sua segunda vinda.
Para resumir, concluímos que a igreja local deve receber em comunhão todos os nascidos de novo que vivem uma vida santa, que não estão sob disciplina de outra igreja e seguem a sã doutrina.
3. OUTRAS INSTRUÇÕES – As Escrituras, porém, fornecem-nos mais algumas instruções concernentes ao assunto da admissão. A igreja local deve:
■Receber os fracos na fé (Romanos 14:1). Isto se refere ao cristão que é indevidamente escrupuloso acerca de assuntos que não conflitam com a moral. Por exemplo, o fato de um crente ser vegetariano não deve ser motivo para negar sua recepção em comunhão.
■Receber sem fazer acepção de pessoas (Tiago 2:1-5). A Bíblia avisa-nos do perigo de manifestarmos consideração especial ao rico e desprezarmos o pobre. Este princípio aplica-se também a casos raciais e aos de nível social ou cultural. A discriminação não é cristã.
■Receber os crentes tomando por base a vida eterna e não os conhecimentos que tenham (Atos 9:26-28). A comunhão não depende do grau de instrução que alguém tem, mas sim da Pessoa a quem o crente conhece. Assim Apolo foi recebido em Éfeso apesar do seu conhecimento ser bastante imperfeito (Atos 18:24-28).
■Receber os crentes tomando por base a vida eterna e não as ordenanças. Em parte alguma da Bíblia lemos que o batismo seja a porta de entrada para a igreja. Embora seja certo que todos os crentes devem se batizar (Mateus 28:19), no momento em que dissermos que o crente deve ser batizado para poder ser recebido em comunhão, estamos ultrapassando a própria Palavra de Deus.
■Receber o crente tomando por base a vida eterna e não o seu serviço. Porque talvez não concordemos com a maneira como alguém serve o Senhor, não é motivo para impedir que o crente seja recebido na igreja local. Em Lucas 9:53 lemos que os samaritanos não receberam o Senhor Jesus porque o Seu propósito era como de quem ia para Jerusalém. O que os levou a tomar aquela atitude foi o seu espírito sectário e não os princípios divinos.
■Receber o crente sem olhar aquilo que tenha sido antes de se converter.Paulo tinha sido um perseguidor dos crentes, contudo foi recebido sem levarem em consideração o seu passado (Atos 9:27-28). Onésimo fora ladrão, mas Paulo exortou Filemom que o recebesse (Filemom 12, 15 e 17). Quando a igreja fecha as suas portas aos que dantes foram bêbados, jogadores, réprobos, mas agora estão convertidos, perdeu o seu verdadeiro caráter para se tornar num mero clube social.
■Receber os crentes no Senhor com alegria (Filipenses 2:29). Na realidade podemos dizer que assim como tratamos os membros mais fracos do Seu Corpo assim tratamos o próprio Senhor. “Quando o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste” (Mateus 25:40).
■4. COMO SABER SE UMA PESSOA ESTÁ SALVA? – Agora surge invariavelmente a pergunta: “Como pode uma igreja saber que uma pessoa está realmente salva e elegível para ser recebida em comunhão?” Podemos sugerir cinco coisas, pelo menos, pelas quais podemos chegar a uma conclusão mais ou menos segura:
■O uso de cartas de recomendação (Romanos 16:1). Qualquer crente que vai para uma igreja desconhecida pode evitar muitas dificuldades e dissabores se levar uma carta de recomendação da igreja a que pertence, testificando da sua fé e maneira de viver.
■O testemunho de duas ou três testemunhas (Mateus 18:16). Se uma pessoa é conhecida de dois ou mais crentes de uma igreja local, ela poderá ser recebida em comunhão mediante a recomendação deles.
■O testemunho de uma só pessoa, mas que tenha a confiança da igreja. Paulo recomendou Febe aos santos de Roma (Romanos 16:1), e Epafrodito à igreja de Filipos (Filipenses 2:28-30).
■A reputação de um crente como servo de Cristo (2 Coríntios 3:1-3). Paulo dispensou a carta de recomendação para a igreja de Corinto porque era bem conhecido deles como apóstolo de Jesus Cristo.
■Uma cuidadosa investigação da própria Igreja. Isto significa que a igreja, talvez através dos seus anciãos, pode interrogá-lo acerca da sua fé em Cristo etc., e da razão da esperança que há nele (1 Pedro 3:15). Logo que estejam convencidos de que ele pertence a Cristo, podem recebê-lo.
5. PROBLEMAS COMUNS – Antes de concluirmos esta seção sobre a recepção, gostaríamos de tratar de outras três questões que frequentemente surgem sobre este assunto:
■Tem a igreja o direito de julgar se uma pessoa está salva ou não? Neste caso, não somente tem o direito, mas também o dever sagrado, tendo em vista que os crentes não devem ter comunhão com os descrentes (2 Coríntios 6:14-17). É evidente que devem usar todos os meios razoáveis para discernir o estado espiritual dos que procuram juntar-se ao povo de Deus.
■E se a igreja recebe uma pessoa que, subsequentemente, ensina doutrina errada aos outros crentes? Neste caso o ensino deve ser publicamente refutado pela Palavra de Deus (1 Timóteo 5:20). Uma igreja fiel ao ensino do Novo Testamento só pode funcionar num ambiente de Bíblia aberta. Deve ter anciãos piedosos que saibam apontar o erro e defender a fé (Tito 1:9).
■Suponhamos que a igreja recebe uma pessoa e depois ela assiste muito irregularmente ou nunca mais volta? Em primeiro lugar devemos salientar que comunhão significa participação ou propriedade em comum entre todos. Os que estão em comunhão devem coparticipar na vida da igreja, arcar com o fardo e responsabilidades e colaborar no trabalho que desenvolvem. A rigor, quem assiste a uma só reunião por semana, não está em comunhão. Quanto a uma pessoa que é recebida, e não volta mais, a responsabilidade é dela. A igreja tem a responsabilidade de lhe dar uma representação fiel e espiritual da igreja. Depois disso ele é forçado a obedecer à verdade.
CAPITULO 5
O ESPÍRITO SANTO NA IGREJA
A igreja local, tanto pelo ensino como pela prática, deve testemunhar a quarta verdade vital, isto é, que o Espírito Santo é o Representante de Cristo na igreja. À primeira vista poderá parecer que este fato se sobrepõe ou está em conflito com a doutrina analisada anteriormente que Cristo é a Cabeça da Igreja. Mas ambas as afirmativas são verdadeiras. Cristo é a Cabeça da igreja, mas delegou ao Espírito Santo a função de ser o Seu Agente ou Representante na terra. Portanto, cumpre a cada igreja local dar o devido lugar ao Espírito de Deus.
A ORIENTAÇÃO PRÁTICA
Atos 13:1-4
A igreja deve buscar a direção do Espírito Santo em todos seus empreendimentos, seja ao escolher um local para seu testemunho público, estabelecer os tipos de reuniões a se realizar, discernir os instrumentos humanos a serem usados para ministrar a Palavra de Deus, desembolsar os fundos da igreja, ou administrar a disciplina piedosa.
O ESPÍRITO SANTO É SOBERANO
1 Coríntios 12:11
A igreja local deve sempre reconhecer a soberania do Espírito. Isto significa que Ele pode fazer o que quiser, e que Ele nem sempre escolherá fazer as coisas exatamente da mesma maneira, embora nunca agindo ao contrário da Palavra. Os mesmos símbolos do Espírito usados nas Escrituras – fogo, óleo, água, vento – implicam fluidez, um comportamento imprevisível. Assim, os cristãos sábios serão suficientemente flexíveis para Lhe permitir essa prerrogativa divina.
Era assim na igreja primitiva, mas logo o povo começou a ficar perturbado com reuniões que eram “livres e sociais, com o mínimo de formalidade” e foram acrescentados controles e formalismos, e o ritualismo tomou o poder. O Espírito Santo foi extinguido e a igreja perdeu a sua força.
A EXTINÇÃO DO ESPÍRITO
1 Tessalonicenses 5:19
Este desvio da igreja, obstruindo a liberdade do Espírito pelo predomínio humano, foi descrito por James Denney de um modo persuasivo e claro. O seu artigo é extenso, mas o leitor será amplamente recompensado se o ler e estudar atentamente. Eis o que ele disse sobre o versículo: “Não apagueis o Espírito”:
“... Quando o Espírito Santo desceu sobre a igreja no dia de Pentecostes, foram vistas, por eles, línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles e os seus lábios foram abertos para declarar as maravilhas de Deus. A pessoa que recebia esta prodigiosa dádiva é descrita como uma pessoa fervorosa no Espírito. Naqueles dias, o novo nascimento era a manifestação de uma nova vida (também hoje pode e deve sê-lo), porque gerava na alma pensamentos que até então lhe eram alheios.
"Com o novo nascimento vinha a consciência de novas forças, alcançava-se uma nova visão de Deus, surgia um novo anseio pela santidade e o entendimento abria-se para contemplar as maravilhas das Escrituras e compreender o significado da vida do homem; muitas vezes até se refletia na fluência da Palavra e no entusiasmo do testemunho. Na primeira Epístola aos Coríntios, Paulo descreve uma das primitivas congregações. Os crentes porfiavam em tomar parte audível quando se reuniam; todos queriam coparticipar; um com um salmo ou revelação, outro com profecia ou interpretação.
"Se tais atividades fossem ditadas pelo Espírito Santo todos aproveitariam espiritualmente. Converter-se à fé cristã e aceitar o Evangelho que os apóstolos pregavam significava profunda transformação nos novos convertidos; revolucionava totalmente as suas vidas a ponto de não parecerem os mesmos; tornavam-se novas criaturas e essa nova vida manifestava-se no fervor e no entusiasmo.
"Uma modificação tão extraordinária, contrastando com a velha natureza humana, não podia deixar de ter as suas inconveniências. O crente, mesmo depois de salvo e de ter recebido o Espírito Santo, continuava sendo humano e assim tinha necessidade de lutar contra a vaidade e a estultícia, contra a ambição e o egoísmo.
"A princípio, esse entusiasmo parecia agravar as suas falhas naturais em vez de ajudar vencê-las. Talvez se sentisse impelido a falar em público, visto ter liberdade para fazê-lo, quando talvez tivesse sido melhor ficar calado. No entusiasmo humano era capaz de se exceder ao orar ou ao exortar, atuando de maneira tão estranha que entristecesse os mais espirituais. Talvez, ao homem inquieto por manifestar o que sentia, dissessem: “Tem cuidado! Domina-te! Não te fica bem essas atitudes”.
" Não há dúvida que casos destes teriam ocorrido na igreja em Tessalônica. Nessa igreja havia crentes de todas as idades e temperamentos. Os mais velhos e conservadores contrastavam naturalmente com os mais novos a quem o entusiasmo facilmente se alvoroça. Mas a maneira de pensar ditada pela experiência e temperamento, ainda que não seja para desprezar, é considerada inconveniente por alguns quando comparada com o fervor da mocidade. Devido à idade ou ao temperamento, a atuação de alguns é desprovida de entusiasmo, pois não o sentindo não podem inspirá-lo.
"Não se deve abafar o entusiasmo fervoroso dos novos se este entusiasmo é criado pelo Senhor; é este o significado da expressão: “Não apagueis o Espírito”. O mandamento pressupõe que o Espírito pode ser abafado. Um olhar severo, palavras desdenhosas, silêncio, desprezo propositado, contribuem bastante para apagar o Espírito.
"Todos sabem que quando se acende uma fogueira, ela fumega; não é deitando água sobre ela que a fumaça se expele ou o lume se aviva; é preciso espertar o fogo até que arda bem. Talvez até se consiga fazê-lo arder com maior intensidade, ajustando a lenha e proporcionando-lhe boa tiragem, mas o melhor que se pode fazer, quando uma fogueira está acesa, é deixá-la arder.
"Dum modo semelhante, é o melhor que se pode fazer em relação ao discípulo de Cristo, no seu zelo pelas coisas de Deus. A fumaça faz lacrimejar os olhos, mas por amor do calor, tolera-se se é passageiro. Por isso o preceito apostólico prevê o fervor do espírito – entusiasmo cristão por aquilo que é bom e que edifica – e considera-o como o que de melhor há no mundo.
"Ele pode provir duma pessoa pouco instruída e sem muita experiência, pode essa pessoa incorrer em pequenos erros por ignorar as restrições que as cruéis necessidades da vida impõem ao homem, mas se a obra é de Deus, se o fervor é produzido pelo Espírito Santo, não pode deixar de irradiar luz e poder capazes de fazer transbordar a alma. Como força espiritual vale mais do que toda a sabedoria do mundo.
"Já me referi à maneira como o Espírito Santo pode ser impedido de atuar. É triste verificar na história da igreja uma longa série de transgressões do preceito: “Não apagueis o Espírito”, o que se confirma por uma série de rebeliões contra o Espírito. “Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade”, diz-nos o apóstolo noutra passagem, mas na sociedade a liberdade tem os seus perigos; até certo ponto está em contradição com a ordem.
"Quantas vezes os responsáveis se esquecem de tal fato. Em face disto sucedeu que, logo no princípio, por amor à boa ordem, estabelecem-se regras mais ou menos rígidas que cortam a liberdade do Espírito. Como alguém já disse: Assim como a vara de Arão tragou as outras varas, assim também o “dom de governar” parece ter absorvido os outros dons.
"Os guias da igreja formaram uma classe à parte dos outros membros e assim todo o exercício dos dons espirituais ficou sujeito àqueles. A tradição prevaleceu e a inovação deu origem ao errado dogma de que eles são os únicos depositários da Graça e da Verdade do Evangelho, e que só por seus intermédios os homens poderiam receber o Espírito Santo. Por outras palavras, a ação do Espírito era impedida quando os crentes se reuniam. Era como se colocassem um grande abafador sobre o fervor espiritual que animava os corações dos crentes. Havia homens que impediam o Espírito de se manifestar em fervoroso louvor, oração e exortação, porque não queriam que se perturbasse o cerimonial estabelecido para o culto.
"Assim se impuseram restrições ao culto cristão desde os tempos primordiais. É de se lamentar que tais restrições se mantenham ainda em muitos setores. Acha o leitor que temos nos beneficiado com isso? Creio que não. De vez em quando a prática chega a tornar-se intolerável. Vários grupos se têm levantado em defesa da liberdade do Espírito, opondo-se ao sistema rígido e autoritário que pretende abafar o Espírito ou a sua livre ação na igreja, pois tal sistema sempre conduz ao empobrecimento espiritual da igreja.
"Quer por regras ou programas estereotipados; quer por ritos ou liturgias, a igreja nunca devia impedir a livre operação do Espírito Santo. Como o Espírito Santo deve entristecer-Se com algumas regras fixas em que se determina, por exemplo: Que a reunião siga sempre determinada rotina e sujeita a um horário fixo; que não se admita interferência no programa estabelecido para a reunião de adoração. Regulamentos desta espécie só tendem a diminuir o poder espiritual da Igreja...”.
SE O ESPÍRITO TIVESSE A LIBERDADE DE AGIR HOJE
Poderíamos muito bem pausar aqui para nos perguntar como seria em nossas igrejas locais se realmente confiassem no Espírito Santo para ser o Líder Divino. C. H. Mackintosh dá uma descrição vívida de uma situação ideal: “Temos apenas uma pequena concepção de como uma igreja seria se fosse claramente conduzida pelo Espírito Santo e unida somente a Jesus. Então não teríamos que reclamar sobre as reuniões tediosas, pesadas, improdutivas, irritantes. Não temeríamos uma intrusão não santificada da mera natureza e das suas ações inquietantes – nenhuma oração pré-fabricada – nenhum falar apenas por falar – nenhum hinário aproveitado para encher uma lacuna. Cada um saberia o seu lugar na presença direta do Senhor – cada vaso talentoso seria cheio, provido e usado pala mão do Mestre – cada olho estaria visando Jesus – cada coração ocupado com Ele. Se um capítulo fosse lido, seria a própria voz de Deus. Se uma palavra fosse falada, ela agiria com poder sobre o coração. Se fosse oferecida uma oração, ela levaria a alma até mesmo à presença de Deus. Se um hino fosse cantado, ele elevaria o espírito até Deus e seria como dedilhar as cordas da harpa celeste. Sentiríamos estar no próprio santuário de Deus, saboreando antecipadamente aquele tempo quando vamos adorar nas cortes celestiais e nunca mais sair”.
CAPITULO 6
A DISCIPLINA NA IGREJA
Se for para a igreja local ser uma réplica precisa da igreja de Deus, ela tem que testemunhar uma quinta verdade vital. A Igreja de Deus é santa. Mas como pode demonstrar isto na prática?
A PREVENÇÃO É MELHOR QUE A CURA
Em primeiro lugar, deverá ser feito pelas vidas piedosas dos que estão a ela associados. Isto é fundamental, pois Deus deseja santificação prática (1 Tessalonicenses 4:3). É por isto que as verdades da igreja não recebem um delineamento isolado e distinto em qualquer seção do Novo Testamento. Ao invés disso, são achadas em muitos lugares diferentes e são entremeadas com instruções práticas sobre o modo santo de viver do cristão. O Senhor não quer pessoas que são apenas corretas externamente em sua vida na igreja, mas aquelas cujas vidas são testemunho da verdade.
Com essa finalidade a igreja local deveria prover um abundante ensino da Bíblia. Esta instrução não deveria consistir em meros apanhados daqui e dali, mas de ensino consecutivo e sistemático da Palavra de Deus. Só assim os santos vão receber toda a Palavra na forma equilibrada que Deus a deu. Embora o ensino sadio e sistemático tenha um bem definido efeito preventivo no que diz respeito ao pecado em uma igreja, inevitavelmente toda igreja local terá a responsabilidade de tomar ações disciplinadoras. Sempre que o pecado entra para afetar a paz da igreja ou o seu testemunho dentro da comunidade, deve-se entrar em ação. O julgamento deve “começar pela casa de Deus” (1 Pedro 4:17).
RAZÕES PARA AGIR
A ação disciplinar tem dois principais propósitos: (1) expor e expelir da comunhão os que se dizem cristãos, mas na realidade não foram regenerados – tais pessoas são como é descrito em 1 João 2:19; (2) punir um crente que comete erros de tal modo que provoque a sua restauração ao Senhor e à igreja local. A disciplina de cristãos nunca é uma finalidade em si mesma, mas sempre um meio de efetuar a recuperação espiritual.
GRAUS DE DISCIPLINA
O Novo Testamento descreve vários graus de disciplina. No caso de um irmão que peca contra outro, tal pessoa deveria ser primeiro tratada em particular. Se ele não der ouvidos, então uma ou duas outras pessoas deveriam ir ter com ele. O fracasso em ouvir este testemunho coletivo resulta em ser trazido diante da igreja. Se esta última ação falhar, ele deverá ser considerado como gentio e publicano (Mateus 18:15-17).
Outra forma de disciplina é a admoestação (1 Tessalonicenses 5:14). Deve ser empregada no caso de um irmão insubordinado, isto é, um que recusa a se submeter aos que estão sobre ele no Senhor. Lemos que duas classes de pessoas deverão ser evitadas: um homem que anda desordenadamente (2 Tessalonicenses 3:11,14-15), e os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina (Romanos 16:17).
O que anda desordenadamente é alguém que se recusa a trabalhar, e há outros que criam divisões entre o povo de Deus a fim de atrair partidários e obter lucro material. Um herege deve ser rejeitado depois da primeira e segunda admoestação (Tito 3:10). Existe a forma extrema de disciplina: a excomunhão da igreja (1 Coríntios 5:11, 13). Esta é reservada para quem é sexualmente imoral, cobiçoso, idólatra, injuriador, alcoólatra ou extorsivo.
A IMPORTÂNCIA DA EVIDÊNCIA APROPRIADA
Na questão de disciplina uma importante consideração é verificar com certeza que o caso é tratado corretamente com base em evidência segura. Os princípios gerais que se aplicam nesta consideração estão claramente definidos no seguinte resumo.
“... Nunca deveríamos nos permitir formar, muito menos expressar e agir num julgamento sem o testemunho de duas ou três testemunhas. Não importa quão confiável e moralmente segura alguma testemunha venha a ser, isso não constitui base suficiente para uma conclusão. Podemos estar convencidos em nossas mentes que a coisa é verdadeira porque foi afirmada por alguém em quem temos confiança, mas Deus é mais sábio que nós. Pode ser que a única testemunha seja completamente justa e verdadeira, que ela nunca iria dizer uma mentira ou dar falso testemunho contra qualquer um, tudo isso pode ser verdade, mas temos que nos ater à regra divina: “Da boca de duas ou três testemunhas será estabelecida toda palavra”.
Tomara que isto fosse atendido mais diligentemente na igreja de Deus! Seu valor em todos os casos de disciplina, e em todos os casos que afetam o caráter ou reputação de qualquer um, é incalculável. Antes que uma igreja chegue a uma conclusão ou aja em conformidade com o julgamento em qualquer caso determinado, deveria insistir em receber a evidência apropriada. Se ela não aparece, todos devem esperar em Deus – esperar com paciência e confiança que Ele certamente vai suprir o que for necessário.
Por exemplo, se há algo amoral ou erro doutrinário em uma igreja de cristãos, mas só é conhecido a uma pessoa, ela tem toda a certeza e está perfeitamente convencida do fato, profundamente e completamente, o que fazer? Espere em Deus para um testemunho adicional. Agir sem isto é infringir um princípio divino colocado vez após vez com toda a clareza possível na Palavra de Deus.
A única testemunha deve se sentir entristecida ou insultada porque não foi tomada alguma ação com base no testemunho dela? Seguramente não! Na verdade ela não deve esperar tal coisa, aliás, ela não devia se adiantar como testemunha até poder confirmar o seu testemunho pela evidência de uma outra testemunha ou mais. A igreja deve ser considerada indiferente porque recusa a agir tendo testemunho de uma só testemunha? Não, ela estaria agindo claramente em desobediência tendo em vista o comando divino para que assim o fizesse.
Que se tenha em lembrança que este grande princípio prático não é limitado em sua aplicação a casos de disciplina ou questões concernentes somente a uma igreja local, pois é de aplicação universal. Nunca nos devemos permitir formar um julgamento ou chegar a uma conclusão sem a medida de evidência divinamente designada; se não surgir, e for necessário julgarmos o caso, Deus vai, no devido tempo, fornecer a evidência requerida. Conhecemos o caso de um homem que foi acusado falsamente porque o acusador baseou sua declaração na evidência de um dos seus sentidos; caso tivesse se dado ao trabalho de obter a evidência de mais um ou dois dos seus sentidos, ele não teria feito a declaração ...”.
COMO ADMINISTRAR A DISCIPLINA
Outro aspecto deste assunto que merece consideração cuidadosa é a maneira pela qual a disciplina é levada a cabo. Por exemplo, deveria ser realizada com espírito de mansidão, “e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado” (Gálatas 6:1). Também, deveria ser estritamente imparcial. O fato que um malfeitor está ligado a nós por laços de parentesco, por exemplo, nunca deveria influenciar a nossa decisão do assunto. Não se deve fazer acepção de pessoas (Deuteronômio 1:17; Tiago 2:1).
No caso de excomunhão, ela deverá ser uma ação da igreja e não de qualquer indivíduo (2 Coríntios 2:6). Recorremos novamente a C.H. Mackintosh a respeito do espírito no qual esta forma de disciplina deveria ser efetuada: “... Nada pode ser mais solene ou comovente do que o ato de afastar uma pessoa da Mesa do Senhor. É o último ato triste e inevitável da igreja inteira e deveria ser executado com corações quebrantados e olhos chorosos. Ah, com que frequência acontece o contrário! Com que frequência este dever mais solene e sagrado toma a forma de um simples anúncio que tal pessoa está fora de comunhão. Não é de se admirar que essa disciplina, executada assim, não tem força sobre a pessoa envolvida, nem à igreja. Como então deve ser executada a disciplina? Exatamente como mandado em 1 Coríntios 5. Quando o caso é tão patente, tão claro, que toda a discussão e toda a deliberação se esgotaram, a igreja inteira deveria ser convocada solenemente com o propósito especial, pois, seguramente, é de gravidade e importância suficiente para merecer uma reunião especial.
Todos deveriam, se possível, comparecer e buscar a graça para si, curvar-se diante de Deus em verdadeiro julgamento próprio e comer a oferta pelo pecado. Não se convoca a assembléia para deliberar ou discutir. O caso deveria ser investigado completamente e todos os fatos ajuntados por aqueles que cuidam dos interesses de Cristo e da Sua igreja; quando for completamente estabelecido e a evidência perfeitamente concluída, então a igreja inteira é chamada para executar, em profunda tristeza e humilhação, o ato triste de afastar de entre eles aquele fez o mal. É um ato de obediência santa ao mandado do Senhor ...”
Finalmente, não deveria ser necessário enfatizar que os cristãos não devem difundir o pecado dos seus irmãos aos de fora, mas sim cobri-los com uma capa bondosa de segredo quanto ao pecado e à sua disciplina.
CONCLUSÃO
Somente na medida em que a igreja toma ação resoluta quando for achado pecado em seu meio, pode ela esperar manter seu verdadeiro caráter como a miniatura do santo templo de Deus. Talvez se deva acrescentar aqui que o Novo Testamento assume que cada crente está vinculado a uma igreja local: do contrário ele estaria livre da disciplina de qualquer igreja, e tal liberdade poderia estar cercada com os mais graves perigos para o indivíduo.
CAPITULO 7
A EXPANSÃO DA IGREJA
Outra verdade importante a respeito da igreja que a assembleia local deve pôr em prática é que os dons são dados para edificação da igreja. Visto que edificação implica em crescimento ou expansão, nos ocuparemos agora com o programa de Deus sobre a expansão da igreja.
Hoje a igreja é o meio pelo qual Deus se apraz em espalhar a fé cristã na terra. Cada igreja devia estar sempre preocupada em se espalhar, em alcançar novos territórios, em se propagar, e assim ver outras igrejas estabelecidas.
Como já previamente nos referimos, Cristo, como Cabeça da Igreja, deu dons para que a igreja cresça na medida em que esses dons sejam convenientemente usados.
OS DONS PARA HOJE
Em outro capítulo dissemos que, originalmente, havia cinco dons: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Sugerimos que os primeiros dois relacionavam-se especialmente com a fundação da igreja e que, de um modo geral, a necessidade deles passou logo que toda a Palavra de Deus acabou de ser escrita.
Isto significa que hoje, na igreja, existem três dons: evangelistas, pastores e mestres (notem que os dons são homens, e assim serão considerados no restante deste capítulo). Voltemos agora para o propósito dos dons e como funcionam.
POR QUE OS DONS SÃO DADOS?
O propósito dos dons é revelado em Efésios 4:12-13... “tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo”.
Ao lermos estes versículos nesta versão somos inclinados a pensar que há três razões por que estes dons foram dados, a saber:
■Para o aperfeiçoamento dos santos;
■Para a obra do ministério;
■Para a edificação do Corpo de Cristo.
Mas será mesmo isso que a passagem ensina? Um estudo cuidadoso indica que não. A própria preposição “para” no-lo indica. Não temos, neste versículo, três razões sem nexo a respeito do motivo por que os dons foram dados, mas uma única razão – a edificação dos santos na fé, para que estes, por sua vez, possam fazer obra do ministério (ou serviço), a fim de que o Corpo de Cristo seja edificado numérica e espiritualmente. São os santos que fazem a obra de ministrar.
UMA ILUSTRAÇÃO DESSA VERDADE
Ela pode ser ilustrada por meio de um círculo. O centro do círculo representa, digamos, o dom daquele que ensina. Ele ensina aos que o cercam para que sejam aperfeiçoados, isto é, edificados na fé; estes, por sua vez, vão ministrar a outros. Desta maneira a igreja cresce e se desenvolve. É o método divino de evangelizar o maior número de pessoas no mais curto espaço de tempo.
De acordo com o modelo divino, os evangelistas, pastores e ensinadores têm sempre em mente a ideia de procurar alcançar, treinar e preparar outros para o trabalho do ministério.
Apesar de nem todos os crentes terem dons de evangelista, pastor ou ensinador, todos devem se envolver em serviço para o Senhor. Cada membro da igreja devia ser um verdadeiro adorador de Deus, um conquistador de almas, um estudante da Bíblia, um propagador da Fé.
A importância de tais obrigações é salientada em 2 Timóteo 2:2... “o que de mim ouviste de muitas testemunhas, transmite-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros”.
Este plano produz resultados imediatos e visíveis. Resulta em uma expansão rápida da fé cristã. Individualmente, os crentes amadurecem pelo exercício das funções que Deus lhes dá. Em consequência serão menos susceptíveis de se deixarem desviar pelo ensino errado das seitas heréticas que prevalecem tanto no mundo. E a igreja assim expandindo e amadurecendo dá uma representação mais precisa do Corpo de Cristo na terra.
O SISTEMA COMUM NA CRISTANDADE
Contrastemos com este sistema o que é tão comum na cristandade de hoje. Um homem é escolhido para ser pastor de uma igreja. Ele prega, batiza, dirige a Ceia do Senhor, e de outras formas exerce os deveres religiosos da congregação. O povo escuta os seus sermões, semana após semana, mas infelizmente em grande número dos casos a congregação não está disposta a tomar parte ativa, argumentando que está pagando a outro para fazê-lo.
Em suma tornam-se apreciadores profissionais dos sermões, com pouco conhecimento real das verdades da Palavra de Deus. E o perigo sempre presente é dessa gente, embora criada no meio evangélico, permanecer como meros “meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro” (Efésios 4:14).
Este sistema eclesiástico pode sintetizar-se assim: o pastor tem a sua congregação, que regularmente assiste aos cultos; depois de cada reunião, voltam para suas atividades sentindo pouca ou nenhuma responsabilidade pessoal de fazer qualquer coisa sobre o que ouviram. É claro que, em tais circunstâncias, o pastor está muito limitado no que pode fazer. Por outro lado, se todos os membros da igreja fossem ativos no serviço do Senhor, o progresso seria admirável.
Foram estas considerações que levaram Alexander Maclaren a escrever: “Não posso deixar de acreditar que a prática atual de se limitar o ensino público da igreja a uma classe oficial tem sido nociva. Porque um só homem deve ficar falando o tempo todo, e centenas de pessoas capazes de ensinar ficarem mudas para ouvi-lo ou fazerem de conta que estão? Detesto revoluções forçadas e não creio que nenhuma instituição, política ou eclesiástica, que precisa de violência para ser varrida está pronta a ser removida, mas creio que se o nível da vida espiritual se elevasse entre nós, novos métodos evoluiriam naturalmente, nos quais haveria um reconhecimento mais adequado do grande princípio em que a democracia do cristianismo se baseia, a saber: “Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão”.
EXAME DO SISTEMA ECLESIÁSTICO
Esta discussão sobre o ministério de um só homem na igreja dá relevância às seguintes perguntas: “E o sistema clerical? É bíblico?” Procuraremos responder a estas perguntas pertinentes.
Por “clero” identifica-se uma classe separada de homens ordenados de forma humana para o serviço a Deus, a quem é geralmente outorgada autoridade exclusiva no que diz respeito a pregar, ensinar, batizar e administrar a Ceia do Senhor. Reconheceríamos com prazer que muitos homens que tinham posições clericais foram notáveis servos de Cristo, e foram usados por Ele maravilhosamente. Devemos a eles e ao seu ministério, tanto oral quanto por escrito, uma dívida profunda de gratidão que admitimos com satisfação. Abraçamos prontamente como irmãos todos esses que são crentes no Senhor Jesus. Contudo, devemos encarar honesta e diretamente o fato de que não encontramos a ideia de um clérigo no Novo Testamento. Em nenhum lugar encontramos um homem encarregado de uma igreja.
O QUE DIZ O NOVO TESTAMENTO?
A ideia de uma classe sacerdotal não é apoiada pelo Novo Testamento e cremos que é contrária aos seus ensinamentos.
Em primeiro lugar, viola o princípio do sacerdócio de todos os crentes (1 Pedro 2:5-9). No Velho Testamento havia uma classe separada de homens que atuavam entre Deus e o povo. No cristianismo todos os crentes são sacerdotes, com todos os privilégios e responsabilidades desta posição. Na prática, a ideia do ministério exclusivo de um homem na igreja, impede efetivamente o serviço e a adoração dos sacerdotes cristãos.
Em segundo lugar, o sistema clerical proíbe o livre exercício dos dons na igreja (1 Coríntios, capítulos 12 e 14), pois limita arbitrariamente o ministério sacerdotal a uma pessoa ou grupo de pessoas. Também limita a administração das ordenanças a uma casta sacerdotal, enquanto que as Escrituras não fazem tal distinção.
O princípio de um ministério assalariado, que quase invariavelmente se encontra no sistema clerical, inevitavelmente implica responsabilidade para com uma pessoa ou pessoas mais elevadas. A autoridade superior pode exercer pressão no ministro, impondo-lhe padrões de realização artificiais e não espirituais. Por exemplo, é comum avaliar a efetividade de um homem segundo o número de pessoas que consegue agregar à igreja durante o ano. Não somente é esta uma falsa medida de efetividade ministerial, mas cria uma grande tentação para rebaixar os padrões de admissão de novos membros a fim de exibir um resultado melhor. O servo do Senhor não devia ser amarrado, acorrentado ou embaraçado dessa maneira. Devia sempre ser o homem livre pertencente ao Senhor (Gálatas 1:10).
O clericalismo contribui para o perigo sempre presente de atrair pessoas para o homem ao invés do Nome do Senhor. Se um homem for o poder atrativo numa igreja local, então a atração desaparece quando o homem sai. Por outro lado, se os crentes se reúnem porque o Senhor está no meio deles, então permanecerão fiéis por causa d’Ele.
Na prática, para não dizer na teoria, o clericalismo tem contribuído para efetivamente obscurecer a verdade da liderança de Cristo (Efésios 1:22) e, em certos casos, negá-la completamente.
Se alguém argumentar que os bispos do Novo Testamento são a mesma coisa que o clero dos nossos dias, responderemos que o Novo Testamento tem em vista vários bispos em uma igreja (Filipenses 1:1), e não um único bispo a presidir sobre uma igreja ou um grupo delas.
É inegável que muitos homens em posição clerical são servos talentosos dados por Cristo para a igreja. No entanto, eles não se tornaram dons por nomeação ou ordenação humana, mas por obra do próprio Senhor Jesus. Eles têm a responsabilidade de ministrar de tal forma que os santos sejam edificados para o serviço ativo e não para continuarem na sua permanente dependência.
Os males resultantes de se ordenarem para o ministério homens que não foram chamados por Deus são manifestos e dispensam comentários.
Finalmente, onde um só homem é o principal responsável pelo ministério do ensino na igreja, não há um sistema de controle mútuo e assim há o perigo de interpretações unilaterais, quando não mesmo de má doutrina. Por outro lado, quando o Espírito Santo tem liberdade de falar à igreja por meio de vários dons (pessoas que Ele dá), mais facetas da verdade são trazidas à luz e existe maior imunidade do erro onde todos os santos estão comparando passagens das Escrituras de forma persistente.
CONCLUSÃO
Assim, embora muitas bênçãos tenham vindo através do ministério de homens que representavam o sistema clerical cremos que, além de não ser o melhor que vem de Deus, também é seriamente prejudicial aos melhores interesses da igreja. O método de Deus é que os dons ministrem aos santos, e depois que os santos, por sua vez, vão avante para fazer o trabalho do ministério. A igreja local devia reconhecer este princípio importante, e nada fazer que impeça o seu livre desenvolvimento. Na medida em que os santos ministrem assim, os descrentes serão salvos, os santos serão edificados e novas igrejas virão a existir.
CAPITULO 8
O SACERDÓCIO DE TODOS OS CRENTES
No princípio indicamos sete grandes verdades a respeito da igreja. A sétima e última grande verdade é que todos os crentes são sacerdotes de Deus. Cada igreja local deveria testemunhar esta verdade recusando o reconhecimento de qualquer outro sacerdócio, e animando todos os crentes a exercerem os privilégios e responsabilidades deste cargo sagrado, tanto individual como coletivamente.
UM CONTRASTE
No Velho Testamento lemos que a Lei de Moisés separou a tribo de Levi e a família de Arão para serem os sacerdotes da nação (Êxodo 29:9). Estes homens usavam vestes diferentes, tinham privilégios especiais e constituíam uma casta à parte entre Deus e a congregação de Israel. Só eles podiam entrar no lugar santo e oferecer os sacrifícios prescritos pela Lei.
No cristianismo é tudo diferente. Todos os crentes são sacerdotes segundo o ensino do Novo Testamento:
■ “Vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pedro 2:5);
■“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9);
■“Àquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos fez reino, sacerdotes para Deus, seu Pai, a ele seja glória e domínio pelos séculos dos séculos. Amém” (Apocalipse 1:5-6).
Martinho Lutero seriamente lutava pela verdade de que o sacerdócio é privilégio de todos os crentes. Ele escreveu: “Todos os crentes são, indistintamente, sacerdotes, e que seja anátema assegurar que há outro sacerdote senão o que é cristão; porque será dito sem base na Palavra de Deus, sem nenhuma autoridade salvo as afirmações humanas ou na antiguidade das tradições ou na multidão dos que assim pensam”.
NOSSOS SACRIFÍCIOS
Entre as importantes funções de um sacerdote está a de oferecer sacrifícios. No Velho Testamento os sacrifícios normalmente consistiam em imolar animais. Em contraste, hoje as ofertas do crente são:
■O sacrifício do seu corpo (Romanos 12:1); não um sacrifício morto, mas “vivo, santo e agradável”, oferecido exclusivamente a Deus;
■O sacrifício de bens materiais: “Mas não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com outros, porque com tais sacrifícios Deus se agrada” (Hebreus 13:16);
■O sacrifício de louvor: “Por ele, pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hebreus 13:15). Este sacrifício de louvor deve ser tanto individual como coletivo. Este último, o louvor coletivo em que os crentes gozam de liberdade para tomar parte na adoração pública, foi praticamente eliminado e substituído pelos cultos estereotipados e controlados dos nossos dias. Disto resulta uma geração de sacerdotes mudos – um estado de coisas nunca contemplado nas Escrituras.
OUTROS DEVERES SACERDOTAIS
Entre os outros deveres dos sacerdotes se incluem a oração, o testemunho para glória de Deus e o cuidado do Seu povo. Portanto, os crentes deviam estar praticando continuadamente este serviço sagrado. Eric Sauer diz: “O ensino de todas as Escrituras sobre este assunto (Romanos 8:14, Gálatas 5:18; João 16:13), revela que deve ser praticado em toda a nossa vida, de manhã até a noite, e em todo dia da semana, não só no domingo. Certamente não se limitam ao princípio e ao fim das reuniões da igreja, como os cultos de adoração, de estudo bíblico ou de oração, mas abrangem toda a vida do crente, tanto dentro como fora dos lugares das reuniões, sejam eles salas, salões, capelas ou edifícios. Neste sentido pleno da palavra, todo o povo de Deus do Novo Testamento é “um sacerdócio real e uma nação santa” (Êxodo 19:6; 1 Pedro 2:5-9)”.
NOSSO GRANDE SUMO SACERDOTE
Embora seja verdade que todos os crentes são sacerdotes, também é certo que cada crente precisa de um Sacerdote. Esta necessidade lhe é suprida plenamente no Senhor Jesus Cristo. A Epístola aos Hebreus apresenta Aquele abençoado como o nosso Grande Sumo Sacerdote, Um que pode se compadecer das nossas fraquezas, porque, como nós, “em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hebreus 4:15).
O QUE FEZ A CRISTANDADE
Cada igreja local deveria então reconhecer o Senhor Jesus como seu Grande Sumo Sacerdote, e cada crente como um sacerdote santo e real. Será isto que encontramos na cristandade hoje em dia? Ao contrário, descobrimos que a igreja voltou ao sistema sacerdotal do judaísmo. Enquanto professam que creem no sacerdócio de todos os crentes, muitas igrejas montaram um sacerdócio próprio distinto, em grande parte baseado no sistema mosaico. Assim vemos uma classe de homens separada para o culto divino, uma hierarquia de funcionários da igreja com títulos grandiosos que os distingue dos leigos, e vestes especiais para separar estes homens como se fossem de uma ordem diferente.
Além disso, a igreja emprestou do judaísmo conceitos como edifícios consagrados com os seus altares elaborados, adornos eclesiásticos, objetos materiais para ajudar o culto, um ritualismo impressionante que apela para os sentidos naturais e um calendário religioso com os seus dias santos e épocas.
Acerca desta mistura atroz de judaísmo e cristianismo, o Dr. C. I. Scofield escreve: “Podemos afirmar seguramente que a adoção de costumes e práticas do judaísmo têm feito mais para impedir o seu progresso, perverter a sua missão e destruir a sua espiritualidade do que todas as outras causas juntas. Em vez de prosseguir no seu caminho da separação do mundo que lhe é indicado, e seguir o Senhor segundo a sua vocação celestial, a igreja tem usado passagens das Escrituras que só dizem respeito aos judeus, para justificar o rebaixamento deste seu propósito para uma civilização mundana, aquisição de fortuna, construção de igrejas magníficas, invocação da bênção de Deus sobre os conflitos de exércitos, e divisão da fraternidade cristã em clérigos e leigos”.
O QUE DEVE SER FEITO
Será que Deus não chama o Seu povo hoje para separar-se desta religião de símbolos e tipos, para achar a sua suficiência no Nome do Senhor Jesus? Somente uma igreja assim estará preenchendo completamente a sua parte no sacerdócio geral do Novo Testamento que é, segundo Erich Sauer:
■Uma igreja local com reuniões de oração bem assistidas, cheias do Espírito Santo;
■Uma igreja local com membros que auxiliam praticamente e cooperam com os servos do Senhor na seara mundial;
■Uma igreja local com atividade enérgica e perseverante na disseminação do Evangelho, mediante a distribuição de folhetos, testemunho pessoal e, sempre que possível, reuniões ao ar livre;
■Uma igreja local com um ambiente espiritual de amor cordial onde cada crente procura ajudar os outros com cuidados mútuos e caridade num espírito de oração, considerando-se uns aos outros para se estimularem em amor e boas obras.
■Em uma igreja assim as reuniões e cultos também estarão sob a direção do Espírito Santo, e os dons do Espírito Santo, como distribuídos pelo próprio Senhor, serão desenvolvidos na variedade escolhida por Deus, em comunhão fraternal, na dependência de Cristo, portanto na liberdade santa do Espírito (1 Coríntios 12:4-11; 14:26). E quando a igreja se reúne em volta da mesa do Senhor louvando o sacrifício sacerdotal no Gólgota, a adoração sacerdotal subirá até ao Santuário celestial assim coroando o privilégio do sacerdócio geral da igreja”.
CONCLUSÃO
Com este capítulo, concluímos o assunto do sacerdócio e dos sete pontos vitais acerca da igreja universal que cada igreja local devia retratar e praticar. Desnecessário é dizer que outras verdades poderiam ser mencionadas, mas estas são suficientes para mostrar que a igreja local deve ser a réplica ou miniatura de tudo o que diz respeito ao corpo místico de Cristo no seu todo.
CAPITULO 9
AS ORDENANÇAS DA IGREJA
As duas ordenanças da igreja cristã são o Batismo e a Ceia do Senhor. Encontramos a sua instituição pelo Senhor nos Evangelhos (Mateus 28:19; Lucas 22:19-20); a sua prática pelos primeiros crentes em Atos (10:47-48; 20:7), e expostos nas Epístolas (Romanos 6:3-10; 1 Coríntios 11:23-32).
O BATISMO
• Três batismos
Em consideração ao tema do batismo, devemos notar desde o início que são três as principais formas de batismo encontradas no Novo Testamento.
1. Em primeiro lugar, há o batismo de João (Marcos 1:4). Como precursor do Rei, João exortou a nação de Israel a voltar-se para Deus e dar frutos dignos de arrependimento (Mateus 3:8). Os que vieram a ele confessando os seus pecados, foram batizados com o batismo do arrependimento, e assim se separavam da impiedade em que a nação se encontrava. O Senhor Jesus foi batizado por João, não porque tivesse pecados de que se arrepender, mas a fim de Se identificar com os arrependidos remanescentes de Israel, e assim cumprir toda a justiça (Mateus 3:15).
2. Em segundo lugar, há o batismo do crente (Romanos 6:3-4). Significa identificação com Cristo na Sua morte, como veremos com mais detalhes mais tarde.
3. Em terceiro lugar, há o batismo do Espírito Santo (1 Coríntios 12:13). Este é obra soberana do Espírito de Deus pela qual todos os crentes são incorporados ao Corpo de Cristo.
• Contrastes significativos
Em relação a estes três batismos, devemos notar cuidadosamente o seguinte:
1. O batismo de João não é o mesmo que o batismo do Espírito. Distinguem-se claramente em Mateus 3:11.
2. O batismo de João não é o mesmo que o batismo do crente. Atos 19:1-5 mostra-nos que os crentes que já tinham sido batizados como discípulos de João, tiveram de ser rebatizados com o batismo cristão.
3. O batismo do Espírito Santo não é o mesmo que o batismo do crente. Muitos têm uma ideia vaga que o batismo pela água é uma figura ou símbolo do batismo do Espírito. Na realidade são completamente diferentes. O batismo do Espírito nos fala da incorporação ao Corpo de Cristo, enquanto que o batismo do crente é figura da morte.
Em suma, todas estas três formas de batismo são diferentes, e não devem ser confundidas.
• O batismo do crente
Depois do Dia de Pentecostes não lemos que alguém fosse batizado, senão os crentes no Senhor Jesus. Notemos as seguintes passagens:
• “De sorte que foram batizados os que receberam a sua palavra” (Atos 2:41). • “Quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres” (Atos 8:12). É certo que lemos de famílias inteiras serem batizadas (Atos 16:15; 1 Coríntios 1:16); mas não há qualquer evidência para se supor que estas famílias incluíssem crianças que nunca haviam confiado no Senhor Jesus.
• O seu significado
O significado mais importante do batismo do crente se encontra revelado plenamente em Romanos 6:1-10. Resumamos o ensino desta passagem da seguinte maneira:
1. Quando Jesus morreu, como que as ondas e vagas da ira de Deus passaram sobre Ele (Salmo 42:7); 2. Ele suportou tudo isso como nosso substituto; 3. Porque Cristo morreu realmente em nosso lugar, podemos dizer que morremos, quando Ele morreu; 4. Pela Sua morte, Ele resolveu a questão do pecado para sempre; 5. Assim também morremos em relação ao pecado e às suas consequências. O pecado não tem mais domínio sobre nós (Romanos 6:14); 6. Deus vê cada crente como tendo sido crucificado com Cristo. Tudo o que o homem era como pecador, na carne, foi cravado na cruz (Gálatas 2:20; Colossenses 2:14-15); 7. O batismo do crente constitui uma ilustração dramática do que já se efetuou. Ao descer às águas do batismo, na realidade o crente proclama: Eu merecia a morte por causa dos meus pecados; mas quando Jesus morreu, eu também morri com Ele. O meu homem velho foi crucificado com Ele. Quando Jesus foi sepultado, eu fui igualmente sepultado com Ele, pelo que reconheço agora na minha experiência diária, “o meu velho eu” deve ser removido da presença de Deus para sempre; 8. Assim como Jesus ressuscitou dentre os mortos, também o crente ressurge das águas do batismo. Ao fazê-lo, proclama a resolução de andar em novidade de vida. Não vive mais para agradar a si próprio, mas entrega a sua vida ao Salvador, a fim de que Ele viva a Sua vida no crente.
Assim, podemos dizer que o batismo é uma ordenança que significa o fim do antigo modo de vida. É um ato público de obediência à vontade do Senhor (Mateus 28:19-20), retratando a morte do crente com Cristo. Não tem mérito para salvação, mas é para aqueles que já estão salvos.
• O método
Surgiu uma controvérsia interminável acerca da maneira como o batismo deve ser administrado – por aspersão ou por imersão. Os seguintes fatos ajudam a encontrar a solução:
1. A palavra “batizar” vem do grego, e significa mergulhar, submergir, lavar; 2. Em relação ao batismo de Cristo, lemos: “Batizado que foi Jesus, saiu logo da água” (Mateus 3:16); 3. O próprio João Batista batizava em Enon, perto de Salim, “porque havia ali muitas águas” (João 3:23); 4. Em referência ao batismo do eunuco etíope, está anotado cuidadosamente nas Escrituras que “desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e Filipe o batizou. Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe...” (Atos 8:38-39); 5. Já verificamos em Romanos 6:3, que o batismo ilustra o ato de sepultar. A aspersão não transmite qualquer semelhança de sepultamento, enquanto a imersão o faz com toda a exatidão.
• O que é importante
Ainda mais importante do que o modo de batismo é o estado do coração do batizando. Há milhares de pessoas que foram imersas na água, mas que não foram realmente batizadas. O verdadeiro batizado é aquele que não só cumpriu com a ordenança exterior, mas também cuja vida mostra que a carne, ou velha natureza, foi mortificada. O batismo tem que ser uma questão de coração, bem como uma declaração exterior.
Isto pode se expressar, um tanto explicitamente, parafraseando Romanos 2:25-29 para se referir ao batismo em vez da circuncisão: “O batismo é, na verdade, proveitoso, se guardares o Evangelho; mas se tu recusas o Evangelho, o teu batismo se tornará em nulidade. Se, pois, uma pessoa não batizada obedecer ao Evangelho, porventura a falta de batismo não será reputada como batismo? E se quem não é batizado obedece ao Evangelho, ele julgará a ti, que com a letra e o batismo recusas o Evangelho. Porque não é cristão o que o é exteriormente, nem é batismo o que o é exteriormente na carne. Mas é cristão aquele que o é interiormente, e batismo é o do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus”.
• A administração do ato
A ideia de que o homem tem de ser “ordenado ministro” para poder batizar, não tem base nas Escrituras. Qualquer crente sincero pode batizar.
Nos primeiros dias da igreja, quando um crente era batizado, ele frequentemente passava a ser perseguido e assassinado pouco tempo depois. No entanto, quando outros eram salvos, eles sem hesitação avançavam para tomar o lugar dos mártires, passando pelo batismo. Ainda em nossos dias em determinadas áreas, o batismo é muitas vezes o sinal para o início de terríveis perseguições. Em muitos países o crente é tolerado enquanto se limita a confessar Cristo com os lábios. Mas sempre que O confessa publicamente no ato do batismo, e corta as suas relações com o passado, os inimigos da cruz começam a sua batalha contra ele.
Contudo, seja qual for o custo, cada um que é batizado usufrui da mesma experiência do eunuco etíope acerca do qual lemos que “jubiloso, seguia o seu caminho” (Atos 8:39).
A CEIA DO SENHOR
Este ato solene de recordação foi instituído pelo Senhor Jesus na noite em que foi traído, logo após ter celebrado com os discípulos a última Páscoa. Ele instituiu o que conhecemos como a Ceia do Senhor: “Tomando pão, e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto em meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:19-20).
• Por que é celebrado?
Em seu significado, este sacramento revela-nos pelo menos, quatro fatos importantes:
1. É um Memorial. O Salvador disse: “Fazei isto em memória de mim”. Lembra-nos dos Seus sofrimentos e morte, do Seu corpo oferecido na Cruz, do Seu Sangue derramado. A cena do Calvário com todas as suas conexões sagradas passa pela mente dos que dele participam. 2. Ao lembrarmo-nos assim da Paixão do Senhor Jesus, é quase impossível deixar de adorar e louvar a Deus. Assim a Ceia do Senhor é hora para a adoração pública – tempo para adorar Deus por tudo o que Ele é, e por tudo quanto fez. 3. A Ceia do Senhor é um testemunho público da unidade do Corpo de Cristo. O pão é uma figura do Corpo de Cristo, formado por todos os crentes verdadeiros. Ao participar do pão, o crente testifica que é um com todos os verdadeiros filhos de Deus. Ao participar do cálice, reconhece que é um com todos os que foram purificados no precioso sangue de Cristo (1 Coríntios 10:16-17). 4. Finalmente, a Ceia do Senhor é um constante lembrete de que Aquele que instituiu este Memorial para Si vai voltar. “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Coríntios 11:26).
Assim, o que adora não se limita a olhar para o passado e a meditar na morte de Jesus no Gólgota; não se limita a erguer o seu pensamento para o trono de Deus e a louvá-Lo pela redenção consumada, mas também olha para o porvir, para o momento em que o Senhor, descendo do céu, há de arrebatar o Seu Povo para o Lar Celestial.
• Sua Frequência
As Escrituras não comandam de forma legal a hora e a frequência em que a Ceia do Senhor deva se realizar, mas nos solicitam graciosamente através de passagens como as que seguem:
1. “No primeiro dia da semana, tendo-nos reunido a fim de partir o pão” (Atos 20:7). O primeiro dia da semana é o Dia do Senhor (o domingo). É o dia da Ressurreição do Senhor e dia apropriado para o Seu povo se reunir a fim de adorar e se lembrar do Senhor. 2. Quanto à frequência com que se deve realizar a exortação é: “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice” (1 Coríntios 11:26). No momento em que alguém diga que deve ser observada todas as semanas, todos os meses, ou de três em três meses, está a ir além das Escrituras. Contudo, existe uma forte probabilidade que os crentes primitivos se reuniam semanalmente para lembrar-se do Senhor.
Charles Addon Spurgeon argumentou fortemente pela observância semanal da Ceia do Senhor: “É meu testemunho, e penso que falo a opinião de muitos do povo de Deus aqui presentes, que vindo semanalmente à mesa do Senhor como alguns de nós fazemos, não achamos que o partir do pão tenha perdido a sua significância, ele é sempre novo para nós. Tenho frequentemente comentado à noite no domingo, seja qual for o assunto, se o Sinai tenha trovejado sobre as nossas cabeças, ou tenham as notas comoventes do Calvário penetrado em nossos corações, que parece sempre ser igualmente oportuno nos chegarmos para o partir do pão. A igreja que só parte o pão uma vez por mês devia sentir-se envergonhada, por estragar o primeiro dia da semana despojando-o da sua glória no encontro para comunhão e partir do pão, e na proclamação da morte de Cristo até que Ele venha. Tenho certeza que aqueles que uma vez provaram a suavidade da celebração da Ceia do Senhor todos os domingos, não se contentam em adiá-la para ocasiões menos frequentes”.
Jonathan Edwards também advogou a lembrança semanal do Senhor: “Parece evidente nas Escrituras que os cristãos primitivos costumavam celebrar este memorial dos sofrimentos do seu amado Redentor todos os domingos, e por isso creio que essa prática voltará à igreja de Cristo num futuro próximo”.
• Elegibilidade
Seria quase desnecessário dizer que a Ceia do Senhor é só para cristãos. Só os remidos são elegíveis e aptos a compreender o seu significado sagrado. Os próprios cristãos só devem participar dos emblemas depois de examinarem-se a si próprios (1 Coríntios 11:28). O pecado deve ser confessado e abandonado, e os emblemas devem ser consumidos de maneira digna (1 Coríntios 11:21-22). Todos os que participam sem se examinarem a si mesmos correm perigo de ser disciplinados pelo Senhor (1 Coríntios 11:27,29-32).
É bom não esquecer que é possível comer o pão e beber do cálice sem realmente nos lembrarmos do Senhor. É possível reduzir o memorial a um mero costume se nosso coração não reagir ao que fazemos simbolicamente. Nossas vidas devem estar em comunhão com Deus se formos obedecer, de verdade, às Suas palavras: “Em memória de mim”.
CAPITULO 10
A REUNIÃO DE ORAÇÃO
O Novo Testamento não nos fornece muitos pormenores sobre as reuniões das igrejas locais. Contudo, sabemos que os crentes se reuniam para comunhão, oração, ministério da Palavra e o partir do pão (Atos 2:42), além disso pouco mais nos é revelado. O testemunho do Evangelho parece ter sido praticado por cada cristão fora do recinto em que a igreja se reunia, onde os perdidos podiam ser alcançados, mas sempre com a ideia de trazer os que eram salvos para dentro da comunhão da igreja local.
Nas igrejas primitivas não havia reunião mais importante que a de oração. De fato, a igreja nasceu no despertar de uma reunião de oração (Atos 1:14), e daí em diante os crentes perseveravam em oração (Atos 2:42). Na verdade toda a história da igreja presta homenagem à fidelidade de Deus em atender a oração.
1. Uma promessa especial
É bom constantemente lembrar que a oração coletiva não somente tem a aprovação de Deus, mas a promessa especial de que o próprio Senhor estará presente no meio dos crentes, conforme Mateus 18:19-20, onde lemos: “Se dois de vós na terra concordarem acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.
Esta linguagem é clara, nela não se admite qualquer sombra de dúvida. Temos um compromisso duplo que não pode ser quebrado. Primeiro, que quando dois crentes estão unidos na apresentação de uma petição a Deus, o pedido será respondido. Em segundo lugar, que quando os cristãos estão reunidos no Nome do Senhor Jesus, Ele está lá no meio deles. O problema é que não acreditamos nisso. Se o fizéssemos, nossas reuniões de oração seriam bem assistidas e as igrejas seriam animadas para servir a Deus.
2. Como orar em grupo
Ao tratarmos do assunto da oração coletiva, gostaríamos de apresentar algumas ideias elementares acerca da maneira como deve ser dirigida:
■Em primeiro lugar, só uma pessoa deve orar audivelmente de cada vez. Os outros ficam silenciosos, mas na verdade todos estão orando. Aquele cuja voz é audível está expressando as orações do grupo. Os outros o seguem à medida que ora, e fazem sua aquela oração. Muitas vezes eles expressam essa unidade de espírito, dizendo "Amém".
■Em segundo lugar, desejamos salientar que há uma grande diferença entre recitar orações e orar. Não há nada mais prejudicial à reunião de oração do que uma série de orações ensaiadas, sem que o coração esteja posto nelas. Com demasiada frequência, apenas se percorre uma lista de petições vazias, mas estas orações não passam do teto. As orações dos novos convertidos são geralmente refrescantes, espontâneas e novas. Crentes de mais idade frequentemente caem em um padrão de oração que é inútil para Deus ou para o homem. As reuniões de oração, onde as orações só se fazem por obrigação, deviam acabar.
■O perigo das longas orações deve ser evitado. É certo que as Escrituras nos exortam a “orar sem cessar”, mas isso não dá direito a qualquer crente de tomar quase todo o tempo na reunião de oração. Se as orações forem curtas, mais irmãos poderão tomar parte e assim o interesse aumenta.
Além disso, as orações devem ser definidas. Não ore assim: “Ó Deus, salva as almas de todo mundo” – Melhor seria: “Senhor salva o meu irmão Davi”. E quando Davi se converter você vai saber que a sua oração foi respondida, e você será animado a orar por outros pelo seu nome.
(Nota da Redação: Esta é uma prática bastante usual, a de se orar para que determinada pessoa seja salva, todavia entendemos, segundo as Escrituras, que Deus já fez tudo, compete a nós pregar o Evangelho e o perdido converter-se de livre e espontânea vontade. Com isto se evita que o crente, ao orar, simplesmente deixe nas mãos de Deus e não se empenhe em evangelizar, e que ponha a culpa em Deus se uma pessoa, por quem ora, não venha a se converter).
3. Seja específico
Não há razão para que as reuniões de oração sejam enfadonhas. Há uma abundância de pedidos específicos que podemos trazer diante do Trono da Graça. Aqui estão algumas sugestões:
■Ore por aqueles que estão em autoridade sobre nós, citando-os pelo nome. Ore para que venham a ser salvos, e que possamos levar uma vida tranquila e sossegada, com toda piedade e honestidade (1 Timóteo 2:2). • Ore pelos doentes na igreja. O Senhor sabe quem são, mas talvez alguns dos crentes presentes à reunião não sabem, portanto mencione os seus nomes.
■Ore por pessoas de sua família e amigos descrentes. Nunca devemos nos envergonhar de orar pelos nossos entes queridos nas reuniões de oração. Se realmente desejamos a sua salvação, apreciamos as orações da igreja.
■Ore pelos anciãos da igreja. Eles têm responsabilidades importantes que requerem sabedoria e paciência. Eles merecem o nosso interesse e orações.
■Ore pelos missionários que foram enviados pela sua igreja. Se você se corresponder com eles, mesmo que seja de vez em quando, saberá quais são os problemas que estão enfrentando e quais poderão ser as suas necessidades.
■Ore pelo trabalho da Escola Dominical, pelo superintendente, pelos professores, e pelos rapazes e moças que estudam a Palavra de Deus.
■Ore pelos pobres. Para não envergonhar nenhum que esteja presente seria melhor não mencionar nomes.
■Ore pelos membros da sua igreja que estejam a prestar serviço militar. Eles passam por tentações e provações, e enfrentam muitos perigos. Precisam das suas orações.
■Ore pelos que estão envolvidos na obra do Senhor como evangelistas e professores.
Não nos esqueçamos de incluir “ações de graças” em nossas orações. Isto nos é exortado em Filipenses 4:6... “Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças”. O Senhor espera a devida gratidão do Seu povo. Ser ingrato e esquecer as suas misericórdias, é pecado.
4. Condições importantes
Mas não haverá certas condições a preencher para que as nossas orações sejam ouvidas? Certamente que há:
■Em primeiro lugar, temos de permanecer em Cristo. Ele diz: “Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito” (João 15:7). Permanecer em Cristo é guardar os Seus mandamentos, fazer a Sua vontade e obedecer à Sua Palavra.
■Em segundo lugar, as nossas orações devem ser de harmonia com a Sua vontade: “esta é a confiança que temos nele, que se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 João 5:14). Desde que o delineamento geral da vontade de Deus se encontra na Bíblia, nossos pedidos devem se conformar com ela.
■Em terceiro lugar, os nossos pedidos devem ser feitos em Nome do Senhor Jesus Cristo: “tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (João 14:13). “Em verdade, em verdade vos digo, que tudo quanto pedirdes ao Pai, ele vo-lo concederá em meu nome” (João 16:23). Quando verdadeiramente pedimos em Seu Nome, é como se fosse Ele mesmo a fazer o pedido a Deus.
■• Finalmente, os nossos motivos devem ser puros. Tiago diz-nos que “pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites” (Tiago 4:3). Se os nossos motivos forem egoístas e pecaminosos, não podemos esperar ser ouvidos.
5. Algumas regras para lembrar
Antes de terminar, é preciso mencionar mais algo que se deve ou não fazer a fim de que as nossas reuniões de oração se tornem em “força motriz” da igreja, por exemplo:
■Não ore para ser visto. Lembre-se que os hipócritas gostam de orar às esquinas das ruas para serem vistos pelos homens (Mateus 6:5).
■Não peça a Deus para fazer algo que você mesmo pode fazer. Pedimos a Deus para trazer os incrédulos às nossas reuniões de evangelização, mas será que Ele não espera que usemos os nossos lábios para convidá-los e os nossos carros para trazê-los?
■Tenha cuidado em não pedir algo que você sabe que não deve ter. Deus às vezes concede esses pedidos, mas envia o definhamento para a alma (Salmo 106:15).
■Não desanime se a resposta não vier imediatamente. As respostas de Deus nunca chegam cedo demais, a fim de não perdermos a bem-aventurada experiência de esperar nEle; nunca chegam tarde demais, para não virmos a recear ter esperado nEle em vão.
■Se a resposta de Deus não for exatamente o que você pediu, lembre-se disto: o Senhor reserva-Se o direito de nos dar alguma coisa melhor do que aquilo que Lhe pedimos. Não sabemos o que é melhor para nós, mas Ele sabe, e assim nos dá mais do que pedimos ou pensamos.
Ao terminar, desejamos salientar que não pode haver progresso real na igreja sem oração. Podemos seguir uma rotina e até vermos um resultado aparente, mas nada se faz para Deus se não houver verdadeira intercessão. Se do estudo das Escrituras não tirarmos esta conclusão seremos mais tarde levados a compreendê-lo por imperiosa necessidade.
CAPITULO 11
OS BISPOS
Nenhuma discussão sobre a igreja seria completa sem considerarmos a provisão que Deus fez para a sua assistência espiritual e de supervisão. Veremos que este trabalho é realizado pelos que são reconhecidos como bispos ou anciãos. Desde o início, convêm-nos esclarecer alguns pontos:
1. O que vem a ser um bispo?
Em primeiro lugar, devemos distinguir entre o conceito do Novo Testamento de um bispo com o título usado hoje. No tempo dos apóstolos, o bispo era simplesmente um entre vários outros cristãos maduros em uma igreja local que cuidava do bem-estar espiritual da igreja. Hoje em dia, nos sistemas eclesiásticos, o bispo é um dignitário nomeado para exercer jurisdição sobre muitas igrejas.
No Novo Testamento a palavra “bispo” nunca significa um prelado ou superior eclesiástico. Em 1 Timóteo 3 ou qualquer outro lugar do Novo Testamento nunca denota alguém que tem o encargo sobre a diocese composta de uma determinada zona do país que abrange um número de igrejas com o seu clero.
Segundo o Novo Testamento, os bispos não constituem uma classe de homens para mediar entre Deus e o homem. Talvez tenha sido em reprimenda a tal pretensão que pudesse surgir no futuro que o Espírito de Deus tenha classificado os bispos em segundo lugar, não em primeiro lugar, quando Paulo escreveu à igreja de Filipos: "a todos os santos em Cristo Jesus... com os bispos e diáconos” (Filipenses 1:1).
O pensamento de oficialismo está ausente do Novo Testamento. Em vez de um elevado cargo com títulos magníficos, um serviço humilde entre o povo de Deus nos é indicado. Assim podemos ler: "Se alguém aspira à supervisão, excelente trabalho deseja" (1 Timóteo 3:1). Supervisão é o trabalho, não a dignidade do cargo.
Finalmente, devemos observar, a guisa de introdução, que as palavras “bispo”, “ancião”, “supervisor” e “presbítero” no Novo Testamento referem-se todas à mesma pessoa, como podemos verificar comparando as seguintes passagens:
■Em Atos 20:17, faz-se referência aos anciãos da igreja (há versões que traduzem a palavra por “presbítero” em vez de “ancião”, que significa o mesmo).
■Em seguida, em Atos 20:28, os mesmos “anciãos” ou “presbíteros” são chamados de supervisores, e a palavra traduzida é “bispo”.
■Em Tito 1:5, Paulo instrui para que Tito estabeleça anciãos e no versículo 7 descreve algumas das suas qualificações, referindo-se a eles como “bispos”, indicando mais uma vez que “anciãos” e “bispos” significam o mesmo.
2. Como são selecionados ou designados os bispos
Em última análise, somente o Espírito Santo pode fazer de um homem um ancião (Atos 20:28). A igreja pode se reunir em sessão solene para nomear presbíteros, mas o seu voto não coloca o coração de um supervisor em um homem. A ordem segundo as Escrituras parece ser que Deus faz com que homens sejam supervisores, depois, à medida que executam o seu trabalho, a igreja os reconhece como bispos (ou anciãos), divinamente nomeados.
É certo que Paulo e outros selecionaram ou designaram anciãos (Atos 14:23; Tito 1:5), mas isso foi antes do Novo Testamento estar todo escrito e ao alcance das igrejas. Na falta de instruções escritas sobre as qualificações dos anciãos, as igrejas dependiam dos apóstolos ou nas pessoas nomeadas por eles.
Devemos também notar que Paulo nunca designou anciãos na primeira visita a qualquer igreja; antes esperava até que os anciãos, eleitos por Deus, manifestassem o seu dom pelo seu próprio trabalho. Depois os indicava à igreja para que fossem reconhecidos.
3. As qualificações dos bispos
As Escrituras revelam-nos indubitavelmente as qualificações dum verdadeiro bispo ou ancião. Encontramo-las em 1 Timóteo 3:1-7 e em Tito 1:6-9, e podem ser resumidas da seguinte maneira:
■Em primeiro lugar o bispo deve ser irrepreensível. A sua reputação deve estar muito acima de qualquer crítica. Não diz que é impecável, mas que deve ser irrepreensível. Se contra um homem se provar, publicamente, qualquer acusação, deve se abster de exercer os deveres de ancião.
■Em segundo lugar deve ser marido de uma mulher. Alguns pensam que isto implica que o ancião deve ser casado; a outros que é proibido a um polígamo jamais tornar-se ancião. Podemos definitivamente dizer que o segundo pensamento é verdade, mas é difícil ser dogmático quanto ao primeiro.
■Também deve ser temperante. O ancião não deve ser dado a excessos. Há pessoas que dificilmente se moderam. Caem sempre em extremos. Embora homens assim possam estar na igreja, não podem ser supervisores.
■O ancião deve ser sóbrio (moderado). Deve provar pela sua vida que o cristianismo não é um passatempo agradável ou frivolidade. O ancião luta e vive com as questões eternas.
■Deve ser honesto e também ordeiro. Ser descuidado ou desmazelado não fica bem aos que servem numa casa onde deve haver ordem.
■Depois lemos que deve ser hospitaleiro ou amante da hospitalidade. O seu lar deve estar aberto ao povo de Deus. Deve ser como o lar de Lázaro, Maria e Marta em Betânia – lugar que Jesus tinha prazer em visitar.
■O bispo deve estar apto a ensinar. Conquanto não seja um mestre notável, deve saber manejar suficientemente as Escrituras de modo a poder ajudar o povo de Deus a resolver os problemas que surjam.
■Não dado ao vinho. Qualquer homem que não domina os seus apetites, certamente não é digno dum lugar de confiança na igreja.
■Não deve ser espancador. O sentido literal da palavra é que não deve usar de violência para com os outros. Usar de violência contra o seu subordinado, por exemplo, não é compatível com a supervisão de uma igreja.
■Não deve ser ganancioso. O verdadeiro bispo compreende que o dinheiro deve ser usado para o Senhor e para o progresso da Sua Obra. Um crente ganancioso e cobiçoso é um paradoxo.
■Deve ser paciente. O Mestre era manso e humilde e o servo não é superior ao Mestre. Mansidão e paciência podem não ser virtudes deste século, mas ainda o são no Reino de Deus.
■Não deve ser contencioso. Alguns estão prontos a contender por coisas mínimas e a discutir por causa de assuntos de pouca importância. Isto não seria próprio dum bispo.
■Além disso, não deve ser cobiçoso. Cobiçar é querermos aquilo que Deus nunca quis que possuíssemos. A cobiça é idolatria, porque põe a vontade própria acima da de Deus.
■O ancião deve governar bem a sua própria casa, tendo os seus filhos em sujeição, com toda a modéstia – filhos crentes, que não sejam rebeldes nem desregrados. A necessidade deste requisito é evidente: pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus? (1 Timóteo 3:5).
■Não deve ser neófito. Isto está implicado no termo “ancião”. É necessária a maturidade espiritual. A pessoa pode ser de idade e, contudo, não ter as qualificações para supervisão devido a pouca experiência da vida cristã. O perigo com o neófito é de se ensoberbecer e cair na condenação do diabo.
■Deverá também ter bom testemunho dos que estão de fora. O mundo precisa saber que tem integridade e caráter de um cristão.
■Não deve ser obstinado, nem iracundo, mas deve seguir o bem. Importa ser justo e santo.
■Finalmente, deve reter a palavra da verdade; isto é, ser um defensor da Fé.
Resumindo as qualificações do ancião, podemos dizer que deve ser capaz de exercer domínio próprio, de governar bem a sua própria casa e de lutar pela Verdade de Deus.
Notemos que a Bíblia não diz que bispo deve ser um clérigo ordenado; não diz que tem que ter um diploma universitário; não diz que deve ser um empresário bem sucedido; não importa que tenha influência social ou não. Nada se diz sobre sua aparência pessoal ou seus recursos financeiros. Pode ter deformidade física, ser desajeitado, pobre, de humilde condição, e ainda ser um ancião na igreja de Deus. Meditemos nisto seriamente.
Sem dúvida que um dos maiores males da igreja em nossos dias é o reconhecimento de anciãos sem as indispensáveis qualificações espirituais. Porque um crente tem sucesso nos negócios, ele é projetado a um lugar de liderança na igreja, apesar da sua pouca ou nenhuma espiritualidade. O resultado é uma abundância de tudo aquilo que o dinheiro pode comprar e ausência de poder espiritual.
4. A responsabilidade dos bispos
Em primeiro lugar, devem apascentar o rebanho de Deus (1 Pedro 5:2; Atos 20:28). Eles fazem isto pelo ministério da Palavra de Deus e não implica necessariamente no ministério público, mas pode ser feito em visitas domiciliares.
Em segundo lugar, devem fazer o trabalho dos supervisores que cuidam do rebanho, segundo o que Pedro nos diz (1 Pedro 5:1-4). Que significa isto? Os versículos 2 e 3 explicam o que não significa e também o que significa:
■Não significa serviço imposto, deve ser espontâneo;
■Não é trabalho com fins lucrativos, “nem por torpe ganância”, mas de boa vontade;
■Não significa dominar sobre a herança de Deus. O ancião não é um ditador, nem um capataz, nem um chefe;
■Mas significa ser um exemplo do rebanho. O ancião deve lembrar-se de que o Bom Pastor não impele as suas ovelhas – guia-as. Todo o “pastor subalterno” devia fazer o mesmo. Do ponto de vista humano, parece mais fácil ter uma autoridade humana centralizada na igreja, para que as ordens sejam dadas pelo centro de operações e seja exigida obediência, mas esse não é o caminho de Deus. Os anciãos fazem a supervisão da igreja como exemplos do rebanho.
De uma maneira muito prática, os anciãos estabelecem o ambiente da igreja. Onde houver anciãos piedosos, que deem ao Senhor o primeiro lugar nas suas vidas e que irradiem a graça do Senhor Jesus, aí podemos esperar encontrar uma igreja sadia e espiritual; por outro lado, onde os anciãos se deixem dominar pelas coisas do mundo, ocupando-se com outros interesses externos, a ponto de lhes faltar tempo para ler a Palavra de Deus e orar, é de se esperar encontrar frieza e falta de vida no rebanho.
Os anciãos também são exortados a suportar os fracos: “Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário socorrer os enfermos, recordando as palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber”(Atos 20:35). O contexto implica que deviam estar prontos a ajudar os que estavam em necessidade, contribuindo para o seu sustento. Em vez dos anciãos serem sustentados pelo rebanho, são exortados a repartir o seu sustento com o rebanho.
Finalmente, os anciãos devem reprovar, repreender e exortar (2 Timóteo 4:2, Tito 1:13; 2:15). Tudo o que for contrário à fé deve ser repreendido com toda a autoridade. Todos os que não suportam a sã doutrina devem ser reprovados e exortados. O ancião deve batalhar diligentemente pela fé.
5. Qual deve ser a atitude da igreja para com os anciãos?
Segundo lemos em 1 Timóteo 5:17-18, é evidente que alguns anciãos devem ser ajudados financeiramente pela igreja: “Os anciãos que governam bem sejam tidos por dignos de duplicada honra, especialmente os que labutam na pregação e no ensino. Pois diz a Escritura: Não atarás a boca ao boi quando debulha. E ainda: Digno é o trabalhador do seu salário”.
É igualmente claro nas Escrituras, que outros trabalhavam para assegurar o seu próprio sustento. O próprio Paulo é um exemplo notável disto (1 Coríntios 4:12). Além disso, um ancião não deve ser repreendido asperamente, mas rogado como a um pai (1 Timóteo 5:1). Os crentes não devem admitir acusações contra os anciãos, senão com duas ou três testemunhas (1 Timóteo 5:19).
Os bispos devem ser lembrados, reconhecidos e obedecidos: “Tende-os em grande estima e amor por causa da sua obra” (1 Tessalonicenses. 5:13); “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos falaram a palavra de Deus, e, atentando para o êxito da sua carreira, imitai-lhes a fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.” (Hebreus 13:7-8).
Finalmente, atentemos para a recompensa dos anciãos: “E, quando se manifestar o sumo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1 Pedro 5:4).
CAPITULO 12
OS DIÁCONOS
No nosso estudo sobre os bispos, vimos que a sua função é cuidar dos interesses espirituais e da superintendência da Casa de Deus. Notamos que os bispos também são chamados anciãos, e que há vários bispos numa igreja, em vez de um bispo sobre várias igrejas. Agora vamos estudar quem são os diáconos, e quais as suas funções:
1 – Quem são os diáconos?
A palavra “diácono” significa simplesmente “servo” – um homem que exerce algum ministério ou serviço. A palavra é usada frequentemente no Novo Testamento num sentido geral, por exemplo: uma pessoa devidamente nomeada para exercer autoridade civil nos assuntos públicos é chamada de ministro ou diácono de Deus (Romanos 13:4). Febe é chamada de serva (diaconisa) na igreja em Cencreia (Romanos 16:1). Cristo mesmo é chamado ministro (diácono) da circuncisão, por causa da Verdade de Deus (Romanos 15:8).
A palavra foi aplicada aos sete homens que foram escolhidos para fazer a distribuição dos fundos da igreja (Atos 6:1-7). De fato, a palavra “diácono” não se encontra na passagem referida em nossas traduções, nem o uso da palavra se limita àquelas obrigações. Aplica-se a qualquer espécie de serviço não designado de outra forma.
2 – As suas qualificações
Apesar de não se especificar nas Escrituras as funções dos diáconos, contudo as suas qualificações nos são reveladas explicitamente em 1 Timóteo 3. Principiando no versículo 8 lemos: “Da mesma forma os diáconos sejam sérios, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância, guardando o mistério da fé numa consciência pura. E também estes sejam primeiro provados, depois exercitem o diaconato, se forem irrepreensíveis. Da mesma sorte as mulheres sejam sérias, não maldizentes, temperantes, e fiéis em tudo. Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a seus filhos e suas próprias casas. Porque os que servirem bem como diáconos, adquirirão para si um lugar honroso e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.”
■O primeiro requisito é seriedade ou honestidade. O homem inconstante e frívolo não ganha facilmente a confiança daqueles a quem serve.
■O diácono não deve ser de língua dobre, isto é, não deve ser fingido. O que se diz a uns deve-se dizer aos outros, pois a verdade é sempre a mesma. Honestidade e franqueza são qualidades que se impõem. Se a responsabilidade do diácono for financeira, ele deve usar métodos que não levem ninguém a duvidar ou a suspeitar da integridade do seu caráter.
■Não deve ser dado ao vinho. Ninguém pode confiar numa pessoa que abusa do vinho. A experiência prova que a intemperança e o excesso são inimigos da retidão e da confiança. Arruínam o testemunho do homem como filho de Deus e incapacitam-no para o serviço divino.
■Também não deve ser cobiçoso de torpe ganância. Um espírito avarento é um laço. Se o homem tem o coração posto em acumular riquezas, esta sua ambição contribuirá para que todas as outras atividades da sua vida lhe fiquem subordinadas. O Reino de Deus e a Sua Justiça deixam de ter o primeiro lugar na sua vida, e a sua obra para Deus enfraquece e torna-se inaceitável.
■Deve guardar o mistério da fé numa consciência pura. Isto é importante! Não é suficiente conhecer a Verdade, deve praticá-la com uma consciência livre de ofensa para com Deus. Himeneu e Alexandre conheciam a Palavra de Deus, mas deram lugar ao pecado – desviando-se da verdade e divulgando doutrina falsa (2 Timóteo 2:17). Abafaram a voz da consciência e naufragaram na fé (1 Timóteo 1:19-20). Não há nada que possa substituir uma consciência sensível e vigilante, pronta a discernir o que a Deus é desagradável resistindo ao erro e pugnando pela Verdade.
■Depois lemos: “E também estes sejam, primeiro provados, depois exercitem o diaconato, se forem irrepreensíveis”. Isto é um princípio divino de grande importância. “Estes sejam primeiro provados”. Em outra passagem lemos: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (1 Timóteo 5:22). É uma admoestação para todos nós. Somos inclinados a nos deixar impressionar por uma pessoa que vemos pela primeira vez. O resultado é querermos dar-lhe um lugar de responsabilidade imediatamente. Mais tarde reconhecemos que nos precipitamos, pois “nem tudo o que reluz é ouro”; o mal foi tirarmos conclusões a seu respeito cedo demais.
■Em 1 Timóteo 3:11 lemos: “Da mesma sorte as mulheres sejam sérias, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo”. A referência não é necessariamente às esposas dos diáconos, mas aplica-se às diaconisas, isto é, às mulheres que prestam serviço na igreja local. Febe era uma serva (diaconisa) (ver Romanos 16:1).
■Como no caso dos anciãos, o diácono deve ser marido de uma só mulher, e governar bem os seus filhos e a sua casa. Já nos referimos ao fato de que se o homem não impõe respeito e autoridade em sua própria casa, dificilmente o fará na igreja.
3 - A recompensa dos diáconos
Sua recompensa é dupla. Se servir bem como diácono, alcança boa reputação entre os crentes e uma boa perspectiva de recompensa no Tribunal de Cristo.
Em segundo lugar, adquire para si muita confiança e intrepidez na fé que há em Cristo Jesus. É certo que o mundo considera isto de pouco valor; é místico demais, intangível e vago, mas para o filho de Deus é mais valioso do que o ouro ou as pedras preciosas.
Quanto ao sustento deles, a regra é a mesma dos anciãos. Há alguns que fazem trabalho secular, assim suprem as suas próprias necessidades. Porém outros há que dedicam todo o seu tempo à obra do Senhor; para estes, a regra é: “Aos que anunciam o Evangelho, que vivam do Evangelho” (1 Coríntios 9:14). “E, o que está sendo instruído na Palavra, faça participante em todas as boas coisas aquele que o instrui” (Gálatas 6:6).
4 – Conclusão
Ao terminarmos o nosso estudo sobre os diáconos, chamamos a atenção do leitor, mais uma vez, para Filipenses 1:1. Nesta passagem lemos de três tipos de pessoas na Igreja de Deus: santos, bispos e diáconos. É importante salientar que essas são as únicas classes mencionadas.
A falta de referência a uma classe chamada clero é notável, como Barnes nos aponta em seu comentário sobre o Novo Testamento: “Não há três ordens de clero no Novo Testamento. Em 1 Timóteo 3, o apóstolo Paulo revela expressamente as características dos que têm responsabilidade na igreja, mas menciona só duas classes: bispos e diáconos. Os bispos são ministros da Palavra e têm a seu cargo os interesses espirituais da igreja; os demais são diáconos, dos quais não há evidência de que fossem nomeados para pregar, e não há uma terceira ordem. Não há referência nenhuma acerca de qualquer pessoa superior aos bispos e diáconos. Visto o apóstolo Paulo estar a dar expressas instruções acerca da organização da igreja, uma omissão destas seria inconcebível, se tivesse de haver uma ordem de prelados na igreja. Por que será que o apóstolo nem sequer faz referência a eles nem às suas qualificações? Se Timóteo tivesse de ser um prelado, não teria ele que transmitir o seu cargo a outros? Não deviam ser mencionadas as qualificações particulares de tais homens? Não seria, respeitoso, pelo menos, da parte de Paulo fazer menção a tal cargo, se o próprio Timóteo o exercesse?”.
É evidente que se a organização da igreja, segundo o Novo Testamento, tivesse outra ordem além de bispos (anciãos) e diáconos, Paulo o teria dito nas suas Epístolas.
Os enormes sistemas eclesiásticos de nossos dias foram acrescentados pelos homens, sem qualquer autoridade dada para isso na Palavra de Deus.
CAPITULO 13
AS FINANÇAS DA IGREJA
1. DE ONDE PROCEDEM OS FUNDOS DA IGREJA?
Através de todo o Novo Testamento é determinado e também se deduz que a igreja só deve receber dinheiro dos seus membros. Não lemos em nenhuma passagem que algum descrente contribuísse para sustentar a igreja. A contribuição para a igreja é um ato de adoração, e assim só se limita àqueles que foram remidos com o precioso sangue de Cristo. Nem há qualquer referência que nos mostre que uma igreja local fosse ajudada financeiramente ou subsidiada por qualquer outra igreja ou concílio de igrejas. Cada igreja local devia sustentar-se a si própria. Os principais ensinos do Novo Testamento sobre este importante assunto podem ser resumidos da seguinte maneira:
■Tudo o que o crente tem, pertence a Deus
O crente deve ser despenseiro, da melhor maneira possível, de tudo o que possui para a glória do seu Mestre (Lucas 16:1-12). F.B. Meyer escreveu sobre este assunto: “Fomos designados despenseiros; não para entesourar, mas para servir ao Senhor com tudo o que não é indispensável ao nosso sustento e ao dos nossos entes queridos, segundo a vocação com que Deus nos chamou. Na Terra, o nosso único alvo deve ser: usar da melhor maneira possível o que o Senhor nos concede, a fim de Lhe darmos conta da nossa mordomia, com prazer, quando Ele vier para Lhe prestarmos contas”.
■O crente é instruído a contribuir para a Obra do Senhor.
1. Quando o deve fazer?
“No primeiro dia da semana, cada um de vós, ponha de parte o que puder” (1 Coríntios 16:2);
2. Quanto deve dar?
a) “Conforme tiver prosperado” (1 Coríntios 16:2);
b) Conforme Cristo deu. Ele era rico, mas fez-se pobre, para que fôssemos enriquecidos (2 Coríntios 8:9);
c) Devemos dar do que nos faz falta e não da nossa fartura (Marcos 12:44);
d) Em suma, o crente deve dar liberalmente. O dízimo era o mínimo que o israelita dava. Ele trazia dízimos e ofertas. Nenhum crente, sob a graça, devia ficar satisfeito em contribuir só com o mínimo que a Lei requeria.
3. Com que espírito deve dar?
a) Primeiro deve dar-se a si mesmo ao Senhor (2 Coríntios 8:5), reconhecendo assim que todas as coisas são do Senhor;
b) A contribuição deve ser ditada pelo amor (1 Coríntios 13:3), doutro modo não tem valor;
c) Deve ser feita em oculto (Mateus 6:1-4), tão ocultamente que, usando uma figura de retórica, a mão esquerda não sabia o que fazia a direita;
d) Deve ser feita com alegria, e não com tristeza nem por constrangimento (2 Coríntios 9:7);
e) Lemos que os crentes primitivos vendiam as suas propriedades e partilharam o que era seu com os outros (Atos 2:44-45; 4:31-37). Isto era uma expressão visível da sua verdadeira comunhão espiritual. Em parte nenhuma do Novo Testamento somos ordenados a seguir o mesmo exemplo. Na realidade, as instruções acerca da contribuição pressupõem a posse particular de bens materiais. O ato da igreja primitiva era puramente voluntário. Não deve, pois, ser confundido com monasticismo ou o comunismo dos nossos dias.
4. Qual é a recompensa da dádiva?
a) Quando somos fiéis nas riquezas injustas (isto é, no uso do dinheiro), Deus nos confiará as verdadeiras riquezas (tesouros espirituais) (Lucas 16:11);
b) O fruto abunda para crédito da conta do contribuinte (Filipenses 4:17). Terá um tesouro no Céu (Mateus 6:19-21), porque as suas dádivas serão “como cheiro suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Filipenses 4:18);
c) Os que tratam das finanças da igreja devem usar métodos irrepreensíveis. “Pois zelamos o que é honesto, não só diante do Senhor, mas também diante dos homens” (2 Coríntios 8:21). Dois, pelo menos, devem tomar conta do ofertório. Em Atos 6:1-6 lemos que sete homens foram designados para tratarem da distribuição de fundos entre as viúvas da igreja. As Epístolas não contêm instruções determinando exatamente quantos homens devem lidar com o dinheiro, mas é evidente segundo 1 Coríntios 16:3-4 e 2 Coríntios 8:18-19, que era costume confiar essa responsabilidade a mais de uma pessoa. Na primeira passagem, Paulo diz que mandaria “os” que os Coríntios aprovassem por carta para levar a sua dádiva para Jerusalém, e se valesse a pena ele iria também. Note-se o plural “os que” (v. 3); e “irão” (v.4). Na segunda passagem, Paulo explica que outro irmão fora escolhido para ir com ele para distribuir a dádiva da igreja.
2. O DISPÊNDIO DOS FUNDOS DA IGREJA
O Novo Testamento revela três propósitos especiais para os quais os fundos disponíveis são usados: às viúvas da igreja, aos crentes pobres e aos que dedicam todo o seu tempo à pregação e ensino da Palavra.
a) Para as viúvas da igreja (Atos 6:1-6).
A fim de se qualificar, uma viúva crente tinha de preencher os seguintes requisitos (1 Timóteo 5:3-16):
1. Tinha de estar desamparada, isto é, sem parentes para socorrê-la, e inteiramente dependente do Senhor quanto às suas necessidades (1 Timóteo 5:4-5 e 16);
2. Tinha de ter pelo menos sessenta anos de idade;
3. Devia gozar de boa reputação quanto a: Boas obras; nobre maternidade; hospitalidade; caridade (v. 10).
b) Para os crentes pobres
Na Sua Palavra, Deus exorta-nos muitas vezes a lembrarmo-nos dos crentes pobres (Gálatas 2:10; Romanos 12:13), e no Velho Testamento vemos que a prosperidade material do Seu povo estava intimamente ligada à maneira como tratavam os seus irmãos necessitados (Deuteronômio 14:29).
Pelo ano 45 DC, na Judeia, muitos dos crentes foram atingidos pela miséria. Isto talvez fosse devido à grande perseguição e fome que alastravam por toda a parte. Os crentes em Antioquia ajudaram os irmãos pobres da Judeia, e mandaram o seu auxílio por intermédio de Barnabé e Saulo (Atos 11:27-30). A Igreja em Corinto foi exortada a fazer o mesmo (1 Coríntios 16:1-3; 2 Coríntios 8:8-9). Nós também temos a responsabilidade de cuidar dos necessitados. O Senhor Jesus disse: “Os pobres sempre os tendes convosco” (Marcos 14:7). É bom para uma igreja ter pobres em seu meio de quem pode cuidar mediante um exercício piedoso. Barnes indicou que uma ótima maneira de unir os cristãos e impedir a alienação, ciúme e contenda é ter um objeto comum de caridade, em que todos estão interessados e para o qual todos possam contribuir. Contudo, a igreja não tem a responsabilidade de socorrer os que são pobres por não quererem trabalhar. Neste caso, o decreto divino é: “Aquele que não quer trabalhar não coma” (2 Tessalonicenses 3:10).
c) Para os que dedicam seu tempo à Obra do Senhor
1. É um princípio divino que os que pregam o Evangelho e ensinam a Palavra têm o direito ao apoio dos crentes. “O que está sendo instruído na Palavra faça participante em todas as coisas boas aquele que o instrui” (Gálatas 6:6; 1 Coríntios 9:4-14; 1 Timóteo 5:17-18);
2. Contudo, Paulo preferia frequentemente trabalhar com as suas mãos do que aceitar a colaboração das igrejas (Atos 18:3). As razões eram as seguintes:
a) Para servir de exemplo aos Efésios, a fim de que eles também trabalhando vissem a necessidade de socorrer os enfermos e conhecer o valor prático das palavras do Senhor Jesus: “Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber” (Atos 20:33-35);
b) Para impedir que os críticos em Corinto o acusassem de motivos mercenários (2 Coríntios 11:7-12);
c) Para evitar que os crentes em Tessalônica se sentissem sobrecarregados com o encargo de ajudá-lo (1 Tessalonicenses 2:9; 2 Tessalonicenses 3:7-9). Os crentes daquela cidade eram pobres e estavam a ser perseguidos.
3. A igreja em Filipos foi louvada por ministrar as necessidades de Paulo. Note-se que Paulo não procurava dádivas por causa da sua necessidade, mas porque queria fazer abundar o fruto espiritual para crédito deles (Filipenses 4:10-19).
4. Note-se também que, se por um lado, Paulo nunca dava a conhecer as suas necessidades pessoais, por outro lado não hesitava em mencionar as necessidades dos outros crentes (2 Coríntios 8 e 9). Há, pois, uma grande diferença entre informação e solicitação, como indicou o Dr. Chafer: “Todos concordarão que há necessidade de informação, sem ela não se pode contribuir inteligentemente, mas o problema real se encontra em torno da questão da solicitação”.
3. CONCLUSÃO
Quem lê o Novo Testamento notará quão encantadoramente simples é o financiamento da igreja. Não há regras pesadas e legalísticas nem uma elaborada e complexa organização financeira. Se os simples preceitos das Escrituras fossem observados, dois resultados importantes se seguiriam:
a) As necessidades da igreja seriam supridas liberalmente, sem ser preciso pedir;
b) A igreja não teria que ser censurada pelo mundo como se fosse uma instituição para fazer dinheiro.
CAPITULO 14
O MINISTÉRIO DAS MULHERES
No Novo Testamento temos instruções claras a respeito da posição e do trabalho das mulheres na igreja. Podemos resumi-las da seguinte maneira:
1. A POSIÇÃO DA MULHER
No que diz respeito às questões como a salvação ou a aceitação diante de Deus, a mulher está em pé de igualdade com o homem: “não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28);
Isto, porém, não quer dizer que a diferença entre os sexos foi abolida da igreja. Quando se tratar de assuntos relacionados com a vida diária, as Escrituras distinguem entre o masculino e o feminino. Por exemplo, em Efésios 5 temos a admoestação: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos” (v. 22); “Vós, maridos, amai vossas mulheres” (v. 25);
Portanto, no que diz respeito à sua posição diante de Deus, a mulher é tratada exatamente da mesma maneira que o homem, mas quanto à sua posição na igreja, há uma diferença. Para resumir, a distinção consiste no dever da mulher de estar em sujeição ao homem (1 Coríntios 11:3).
2. ACENTUANDO O QUE É NEGATIVO
Na Palavra de Deus estão exarados especialmente os seguintes preceitos para definir as diferentes maneiras como se manifestam a sujeição da mulher:
■A mulher deve estar calada na Igreja (1 Coríntios 14:34-35). O que esta injunção significa se acha explicado nas seguintes passagens: ■Não lhe é permitido ensinar (1 Timóteo 2:12);
■ Não deve fazer perguntas em público (1 Coríntios 14:35);
■ A mulher deve aprender em silêncio com toda a sujeição (1 Timóteo 2:21).
■A mulher não deve exercer autoridade sobre o homem (1 Timóteo 2:12).
■A mulher não deve profetizar ou orar com a cabeça descoberta (1 Coríntios 11:5). Contudo, isto não quer dizer que a mulher possa orar publicamente na igreja, conforme se compreende por inferência em 1 Timóteo 2:8... “Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar”. Nesta passagem, no original, a palavra “homens” significa o “sexo masculino” em contraste com o feminino. A palavra usada no grego exclui as mulheres.
Se estas instruções forem impostas às mulheres num rigoroso espírito legalista, o resultado é frequentemente duplo:
■Deus não tem prazer numa obediência forçada, que não venha do coração (Salmo 51:17).
■As próprias mulheres tendem a se tornar amarguradas e ressentidas.
Por outro lado, se as razões para essas restrições forem claramente compreendidas, o resultado será uma obediência amável e submissa de coração, o que é de grande valor aos olhos do Senhor (1 Samuel 15:22).
3. AS RAZÕES
Deus condescendeu graciosamente em determinar na Sua Palavra certos princípios fundamentais, a fim de explicar a razão por que as mulheres cristãs devem sujeitar-se aos homens.
■Em primeiro lugar notemos a prioridade do homem sobre a mulher, na ordem da criação: “Primeiro foi formado Adão, depois Eva” (1 Timóteo 2:13). “O homem não proveio da mulher, mas a mulher do homem” (1 Coríntios 11:8). A força do argumento aqui é que Deus quer que se mantenha na igreja a ordem que Ele instituiu na criação, ou seja, o cabeça da mulher é o homem (1 Coríntios 11:3).
■Em segundo lugar, o propósito de Deus na criação indica a autoridade do homem sobre a mulher: “não foi o homem criado por causa da mulher, mas sim, a mulher por causa do homem” (1 Coríntios 11:9).
■Em terceiro lugar, o pecado entrou no mundo quando Eva usurpou a autoridade sobre seu marido Adão: “Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Timóteo 2:14). O Senhor não quer que a Sua nova criação seja maculada por meio deste gênero de insubordinação, e assim instruiu as mulheres a serem submissas.
■Em quarto lugar, Paulo apela para o coerente testemunho das Escrituras do Velho Testamento, para nos mostrar que as mulheres devem estar em sujeição: “estejam submissas como também ordena a lei” (1 Coríntios 14:34). Conquanto isto não se encontre explicitamente em nenhum mandamento, contudo este é o sentido do ensino do Velho Testamento.
4. A CABEÇA COBERTA
A respeito do ensino sobre o dever da mulher cobrir a cabeça, quando ora ou profetiza, Paulo apresenta-nos mais duas razões:
1 - O fato dos anjos estarem observando: “a mulher deve trazer sobre a cabeça um sinal de submissão, por causa dos anjos” (1 Coríntios 11:10). Este versículo parece descrever as hostes angélicas a observarem a ordem de Deus na Terra, e determina que as mulheres devem cobrir suas cabeças como sinal ou crachá da autoridade do homem. Deste modo, os anjos notam que a transgressão de Eva, na primeira criação, não é perpetuada na nova criação.
2 - A lição da própria natureza: “Não vos ensina a própria natureza?” (1 Coríntios 11:14). Na criação original, Deus deu às mulheres uma cobertura distinta – o cabelo comprido. A partir disto, Paulo argumenta que um princípio divino é assim ilustrado, ou seja, que a mulher deve cobrir a cabeça, quando ora ou profetiza (1 Coríntios 11:2-16).
5. ACENTUANDO O QUE É POSITIVO
O fato de a mulher estar em sujeição ao homem pode parecer a alguns como indicação de que ela não tem lugar ou função na economia de Deus. No entanto, as Escrituras contradizem isso, mostrando que o ministério da mulher, apesar de não ser público, é real e importante:
■A sua posição é salva dando à luz filhos (1 Timóteo 2:15). Este versículo, assaz difícil, revela-nos que a mãe piedosa, ainda que impedida do ministério público, não está por isso relegada a um lugar da inutilidade. Cumpre-lhe criar os filhos no temor e admoestação do Senhor. Se ela e o marido perseverarem na fé, talvez um dia ela tenha o prazer de ver seus próprios filhos a pregar e a ensinar a Palavra de Deus. Assim, a expressão “salvar-se-á” pode significar não a salvação da alma ou a salvação da morte física, ao dar à luz filhos, mas a salvação do lugar e privilégio como mulher. Ela não é inútil, pois tem este ministério glorioso: criar filhos para que estes vivam para a glória de Deus.
■No Novo Testamento temos outros exemplos do ministério das mulheres: ■O ministério dos seus bens materiais (Lucas 8:3);
■O exercício da hospitalidade (Romanos 16:1);
■A possibilidade de ensinar as mulheres mais novas (Tito 2:4).
6 – ALGUMAS OBJEÇÕES COMUNS
Levantam-se muitas objeções e perguntas à volta do assunto do ministério das mulheres, entre as quais mencionaremos as seguintes:
Pergunta: Os ensinos de Paulo sobre este assunto não representarão a sua opinião particular, na qualidade de solteirão?
Resposta: Antes ao contrário, são ensinos do Espírito Santo de Deus, ou como Paulo diz em 1 Coríntios 14:37... “São mandamentos do Senhor”.
Pergunta: Será possível Paulo ter-se referido meramente aos costumes locais do seu tempo sem pensar que esse estado de coisas seria aplicável a nós, hoje em dia?
Resposta: A primeira Epístola aos Coríntios não foi escrita somente à Igreja de Deus em Corinto, mas a “todos os que em todo lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1 Coríntios 1:2). Portanto, as suas instruções têm uma aplicação universal.
Pergunta: Não parece que, em 1 Coríntios 11:16, Paulo quer indicar que as coisas que vinha a ensinar não eram obrigatórias nem eram praticadas nas Igrejas de Deus? (“se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem tampouco as Igrejas de Deus”).
Resposta: Tal interpretação visa a minar a inspiração e autoridade da Bíblia. O que o versículo diz é que a contenção a respeito destes mandamentos do Senhor, não era costume nas igrejas. As igrejas aceitavam os mandamentos do Senhor e obedeciam sem discutir ou contradizer o que lhes era ensinado.
Pergunta: Visto que o cabelo da mulher lhe foi dado por véu, não é esse o único véu requerido?
Resposta: Em 1 Coríntios 11 lemos acerca de dois véus. O cabelo da mulher é mencionado no versículo 15 como sendo um véu natural, mas o versículo 5 refere-se a outro véu. Se quiséssemos admitir que o cabelo, por si só, servia de véu na igreja, teríamos que ler o versículo 6 assim: “Portanto, se a mulher não se cobre com o seu cabelo, tosquie-se também; se, porém, para a mulher é vergonhoso ser tosquiada ou rapada, cubra-se com o seu próprio cabelo”. Obviamente esse significado é impossível. Só pode significar que uma cobertura é necessária além do cabelo.
Pergunta: As instruções acerca das mulheres estarem caladas na igreja (1 Coríntios 14:34) não constituem uma mera proibição para não tagarelarem ou bisbilhotarem durante a reunião da Igreja?
Resposta: Não! A passagem diz: “Não lhes é permitido falar”. No Novo Testamento, no original, a palavra traduzida como “falar” nunca significa “tagarelar” ou “bisbilhotar”. A mesma palavra é usada por Deus em 1 Coríntios 14:21... “Por homens de outras línguas... falarei a este povo”.
Muitas outras perguntas poderiam ser feitas, tais como: Deve a mulher dar o seu testemunho em público? Deve falar do seu trabalho missionário, cantar solos etc.? Quando os casos individuais não são tratados especificamente na Bíblia, os princípios gerais da Palavra de Deus devem ser usados.
Assim, num caso duvidoso, deveríamos perguntar:
■Usurpa isto a autoridade do homem?
■Está a mulher a tomar a direção?
■Está ela a ensinar a Palavra?
Como estas coisas são proibidas, devíamos evitar tudo que seja uma violação ao espírito destes ensinos da Palavra de Deus.
7 – A SABEDORIA DE DEUS É MANIFESTA
O propósito de Deus em nos revelar estas instruções, visa ao bem do Seu Povo e a glória de Deus. Onde a Sua Palavra foi negligenciada e voluntariamente violada, surgiram contendas e desordem. O mal efetivo das mulheres assumirem autoridade e ensinar em público pode ser visto em muitas seitas, de forma especial no Adventismo do Sétimo Dia, Teosofia e a chamada Ciência Cristã, movimentos estes, dentre outros, em que as mulheres tomaram parte preponderante.
Por outro lado, não há nada mais lindo e agradável do que se ver mulheres cristãs ocupando o lugar que Deus lhes designou, exibindo “um espírito manso e tranquilo” (1 Pedro 3:4).
CAPITULO 15
A RESPONSABILIDADE DO CRENTE PERANTE A VERDADE
Nos capítulos anteriores tratamos da igreja, tanto no seu aspecto universal como local. Procuramos descobrir os princípios que devem reger a igreja tal como são ensinados no Novo Testamento, e compreender a simplicidade, o zelo e a espiritualidade da igreja nos tempos apostólicos. Agora trataremos da pergunta: Como se pode aplicar isso aos crentes nos dias atuais?
1 - A IGREJA HOJE
Para podermos responder a pergunta formulada, é necessário olharmos, primeiramente, para o estado da igreja nos nossos dias. Por todos os lados constatamos apostasia, falha e ruína.
Existem vastas organizações eclesiásticas reunindo riquezas materiais e influência política, mas geralmente destituídas de poder espiritual. Encontramos o denominacionalismo e o sectarismo reclamando a lealdade e o apoio dos seus adeptos, contudo apresentando um aspecto falso e pervertido da igreja. Notamos que a igreja nas suas reuniões ocupa-se com uma liturgia sem vida e um ritualismo que amortece a alma, oferecendo ao povo sombras em vez de Cristo.
Vemos um sistema clerical que reduziu o leigo médio em um sacerdote mudo, se não em uma simples máquina automática operada com dinheiro. Encontramos igrejas arrolando salvos e perdidos, uns verdadeiros crentes e outros sem qualquer união vital com o Salvador vivo. Finalmente encontramos igrejas que se deixam corromper pelo fermento do modernismo substituindo a mensagem da Graça Redentora por um evangelho social.
2 – A NECESSIDADE DE SEPARAÇÃO
Se perguntarem o que deve fazer o verdadeiro crente que se acha nessa situação, só há uma resposta: Separe-se dela! Siga avante até Ele fora do arraial! A Palavra de Deus é intransigente, sem dó nem piedade, em sua insistência que os crentes se afastem de qualquer forma de mal – eclesiástica, doutrinária ou moral: “Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos; pois que sociedade tem a justiça com a injustiça? ou que comunhão tem a luz com as trevas? Que harmonia há entre Cristo e Belial? ou que parte tem o crente com o incrédulo? E que consenso tem o santuário de Deus com ídolos? Pois nós somos santuário de Deus vivo, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Pelo que, saí vós do meio deles e separai-vos, diz o Senhor; e não toqueis coisa imunda, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo Poderoso” (2 Coríntios 6:14-18).
É em vão argumentar que o verdadeiro crente deve permanecer numa igreja corrompida para ser porta-voz de Deus lá dentro. Meyer comenta: “Não há um único herói ou santo, cujo nome brilha nas páginas inspiradas, que tenha corrigido o sistema corrupto em seu tempo a partir de dentro: todos, sem exceção alguma, têm levantado o grito: “Saiamos do arraial”!”. O homem que entra no mundo para levantar o seu nível logo estará abaixo do seu nível anterior. A posição mais segura e forte é fora do arraial. Arquimedes disse que podia mover o mundo, se apenas lhe fosse dado um ponto de apoio fora dele. Do mesmo modo um pequeno número de servos de Deus também pode influenciar o sistema no seu tempo, se apenas se assemelharem a Elias, cuja vida foi gasta completamente fora da jurisdição da corte e do mundo nos seus dias.
Macintosh declara: “Para todos os que argumentam a favor de continuarem numa posição eclesiástica que sabem ser errada, o profeta Samuel responde enfática e poderosamente: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de carneiros” (1 Samuel 15:22)”.
3 – E AGORA?
Mas falta responder a pergunta: Que há de fazer a pessoa depois de ter obedecido à injunção bíblica: “Saí do meio deles”? Em resposta, podemos sugerir o seguinte plano bíblico:
■Reunir-se em simplicidade cristã com um grupo de crentes que pensam da mesma forma.
■Reunir-se a Cristo somente; fazer que Ele seja a única atração. Conquanto deste plano não resulte o ajuntamento de multidões, pelo menos fornecerá um núcleo de crentes fiéis, que não se deixará facilmente levar por provações ou desânimos.
■Quanto ao lugar das reuniões, uma casa serve muito bem para esse fim, e as Escrituras fornecem-nos muitos exemplos disso (Romanos 16:5; 1 Coríntios 16:19; Colossenses 4:15; Filemon 2). Os que exigem um edifício esplêndido com ferramentas religiosas nunca descobriram a autossuficiência da Pessoa do Senhor Jesus Cristo, em Nome de Quem o Seu povo se reúne.
■Não adotar nenhum nome ou norma que poderia excluir qualquer verdadeiro cristão da comunhão.
■Não adotar qualquer filiação denominacional, e firmemente recusar qualquer controle ou interferência exterior que venha desrespeitar a soberania da igreja local.
■Resistir à tendência constante de permitir que o ministério flua para as mãos de um só homem, mas fazer com que o Espírito Santo possa usar os diferentes dons que Cristo deu à igreja, e possibilite a manifestação ativa do sacerdócio de todos os crentes.
■Reunir-se regularmente com os demais para oração, estudo da Palavra, partir do pão (Ceia do Senhor) e comunhão. Depois, empenhar-se num esforço ativo de evangelização, tanto individual como coletivamente.
■Em suma, procurar reunir-se com os demais crentes como faziam as igrejas do Novo Testamento, no verdadeiro sentido da palavra, representando fielmente o Corpo de Cristo e obedecendo aos mandamentos do Senhor.
4 – OS QUE SAÍRAM
É interessante notar que isto está sendo feito por cristãos em todo o mundo hoje. Sem qualquer outro livro de orientação senão a Bíblia, tem se verificado que estes princípios são de origem divina, e os têm seguido, apesar do opróbrio e das calúnias. Não aceitam outra autoridade, senão a de Cristo; nenhuma comunhão senão a do Seu corpo; nenhuma sede senão a do Seu trono. Procuram humildemente testemunhar da unidade do Corpo de Cristo.
Na sua comunhão, procuram suprir um santuário para os verdadeiros cristãos que se encontram oprimidos pelo modernismo e males relacionados com ele. Não há um manual na Terra que forneça uma lista destas igrejas; não há nada de natureza terrena que as una. A sua unidade é unicamente aquela que é formada e mantida pelo Espírito Santo, e lhes satisfaz que assim seja.
Não há razão por que centenas de congregações semelhantes não sejam formadas pela grande Cabeça da igreja através da atuação sacrificial e com oração do Seu povo. Onde os cristãos alcançam esta visão e estão dispostos a sofrer por ela, o Senhor recompensará a sua atuação e esforços, e preencherá os seus almejos pela Sua glória.
Será possível que mesmo nas vésperas da volta do Senhor, estamos prestes a ver uma grande revolta dirigida pelo Espírito Santo contra o cristianismo apóstata, e um novo e refrescante movimento da Sua graça, formando pequenas congregações independentes de cristãos que amam a Bíblia?
Que Aquele que amou a Igreja e Se entregou a Si mesmo por ela, realize esta Obra para a Sua própria glória!
Nota da Redação: Promovam este excelente curso por correspondência que é editado pela Escola Bíblica Emaús. Entrem em contato com o irmão Warren Brown pela Caixa Postal 464, Franca-SP, 14400-970, telefone (16) 3703-1034 ou e-mail: wjbrown.frc@netsite.com.br">wjbrown.frc@netsite.com.br