Uma versão editada dos
Princípios da Igreja no Novo Testamento de Arthur G. Clarke
Autorização concedida pela John Ritchie Christian Publications
Traduzido por R. David Jones
CAPÍTULO 6
A COMUNHÃO
O SIGNIFICADO DA COMUNHÃO
A palavra "comunhão" significa a "partilha" entre pessoas que têm um interesse comum em algo. No Novo Testamento a palavra grega é koinonia, também traduzida como "comunhão" ou "comunicação".
A comunhão cristã é baseada no interesse que cada crente tem na pessoa e obra de Cristo. Não é baseada em nacionalidade, condição social, objetivos culturais ou acordos políticos, como pode acontecer no mundo. Comunhão cristã é o privilégio de todos os que são santificados (separados) pela fé em Cristo Jesus (1 Coríntios 1:2; Atos 26:18) e, assim, chamados para a comunhão do Filho de Deus (1 Coríntios 1:9). Compartilhando uma fé comum (Tito 1:4), desfrutamos uma salvação que é comum a todos nós (Judas v.3).
Por um curto período no início da história da Igreja os crentes compartilhavam as suas posses entre si (Atos 2:44-45; 4:32). Um interesse comum os ajuntava em uma santa comunhão, unidos na adoração, no testemunho e em fazer o bem (1 João 3:14, 16-18). [1]
A comunhão estabelecida por Deus é eterna. Como a apreciamos agora depende de nosso estado espiritual. É mostrada mediante servir ativamente o Senhor e encontrar-se com o Seu povo (Tiago 2:20; Filemom vs. 4 a 7).
A verdadeira comunhão mantém o povo de Deus junto (Hebreus 10:24-25; Atos 2:42). Os crentes não devem passar de um grupo de cristãos para outro, talvez para provar um ensino que é mais agradável ao seu gosto. Observe as palavras "os seus" (Atos 4:23), e "um de vós" (Colossenses 4:9,12) - era permanente. Mas é mais do que assistir às reuniões ou apenas compartilhar da Ceia do Senhor. É estar envolvido em todo o trabalho da igreja local.
CARACTERÍSTICAS DA COMUNHÃO CRISTÃ
1. É uma comunhão com Deus (1 João 1:1-7).
Temos o privilégio de comunhão:
- Com o Pai (v. 3), que compartilha o Seu Filho amado conosco;
- Com o Filho que compartilha o conhecimento do Pai conosco (v. 3, com João 1:18);
- E com o Espírito Santo, que nos permite entrar em comunhão com Deus e uns com os outros (2 Coríntios 13:14).
A condição essencial é andar na luz (vs.5-7, compare com Efésios 5:6-14; Romanos 13:12). A comunhão é interrompida pelo pecado, mas o caminho da restauração é descrito em 1:9 – 2:2.
A consequência dessa comunhão é descrita em 2 Pedro 1:3-4 – obtemos mais e mais semelhança com Deus na medida em que acatamos a exortação nos versículos 5-8 que seguem. Veja também 1 Pedro 1:3, 15-16. Uma criança deve crescer na semelhança dos seus pais.
2. É uma comunhão com os apóstolos (1 João 1:3).
Através de seus escritos compartilhamos com eles do seu conhecimento pessoal de Cristo, Suas palavras e Seus caminhos (vs. 1-3). Essas coisas são chamadas a doutrina de Cristo (2 João vs. 9-11). É a doutrina dos apóstolos a que se refere Atos 2:42 que constitui a base da comunhão cristã.
3. É uma comunhão com os santos.
Filipenses, às vezes chamada de "epístola da comunhão cheia de gozo" diz-nos que isto é:
- A comunhão de salvação (1:7): "participantes... da graça" abrange toda a gama de bênçãos espirituais (Efésios 1:3).
- A comunhão de serviço (1:5): para exemplos, ver 4:3; Filemom v. 17; 2 Coríntios 8:23.
- A comunhão de espírito (2:1): no contexto, ”espírito" significa o espírito do cristão. O Espírito Santo proporciona harmonia para essa comunhão. Harmonia de espírito não significa que todos agem da mesma maneira. Os cristãos diferem muito uns dos outros em seu caráter, como também os apóstolos, mas a harmonia é possível.
- A comunhão de sofrimento (3:10; 1:29-30). Compare com Hebreus 10:33; Apocalipse 1:9; 2 Coríntios 1:5-7; 1 Pedro 5:9. Há muitas provações e dificuldades na vida que os cristãos compartilham.
- A comunhão de posses (4:14; comparar com Hebreus 13:16). Isto inclui as necessidades dos mais pobres entre o povo de Deus (Romanos 12:13, 15:26; 2 Coríntios 8:1-5; 1 Timóteo 6:18), e também os servos de Deus que não têm outra fonte de renda (Filipenses 4:14-16; Gálatas 6:6; 1 Timóteo 5:17).
A Ceia do Senhor tem sido chamada de "ponto focal" da comunhão cristã – veja 1 Coríntios 10:16-17. Nem a Ceia nem mesmo o batismo criam a comunhão, mas essas ordenanças expressam a comunhão. E os que estão nessa comunhão têm a responsabilidade de ficar separados de tudo o que é contrário à vontade do Senhor. Isso significa que não podemos participar de outras comunhões, tais como:
- A comunhão com os demônios – a idolatria, o espiritismo, o ocultismo, a bruxaria etc. (1 Coríntios 10:18-22; 2 João vs. 9-11);
- A comunhão com o mundo (1 João 5:19) – todo o sistema organizado do mundo, social, político e religioso: (2 Coríntios 6:14 a 7:1; Efésios 5:10-11; 1 João 2:15; Romanos 12:2; Tiago 4:4);
- A comunhão com os pecados (1 Timóteo 5:22; Romanos 13:14; 2 João v. 11). Lemos sobre os pecados de uma "igreja prostituta" e suas "filhas" em Apocalipse 18:4, 14:8 e 17:1-6. Estas e outras Escrituras nos ensinam que, mesmo agora onde prevalecem as condições do mal, os cristãos leais devem separar-se.
A COMUNHÃO NA IGREJA LOCAL
A assembleia local não é como uma organização feita pelo homem em que uma pessoa pode ser introduzida e eleita por seus membros. A recepção de um crente em uma igreja local é em nome de Cristo, como de alguém que pertence a Ele, e não em nome da igreja ou com base em qualquer outra coisa (Romanos 15:7). "Receber em comunhão" significa reconhecer a comunhão que já existe entre o indivíduo e Deus. Devemos receber todos a quem Deus já recebeu, com reservas quanto à sã doutrina e prática consistente (Romanos 14:3).
Duas classes de crentes são reconhecidas em Romanos 14 e 15, os "fortes" e os "fracos" (14:1; 15:1). Os fortes devem apoiar os fracos, não fazê-los tropeçar, pois isso é um assunto sério diante do Senhor (1 Tessalonicenses 5:14; Romanos 14:13-21; 1 Coríntios 8:9-13). Aquele que é fraco na fé deve ser acolhido, mas não para "disputas duvidosas", isto é, não com o propósito de examinar as suas opiniões, ou de julgar as convicções da sua consciência (Romanos 14:1). Os fracos são os crentes que sinceramente possuem escrúpulos sobre assuntos de menor importância. Eles podem ainda não ter entendido a "liberdade para a qual Cristo nos libertou" (Gálatas 5:1). Ou podem até ser legalistas, que colocam restrições desnecessárias sobre si mesmos e aos outros, e muitas vezes se consideram ser os realmente fortes!
Pode ser encontrada fraqueza física naqueles que são muito jovens, ou que têm algum tipo de doença ou deficiência. É o mesmo em assuntos espirituais. A igreja local deve ser um berçário para os bebês em Cristo, uma casa de repouso para os fracos, e um campo de treinamento para todos. Na família de Deus existem vários estágios de crescimento espiritual – "criancinhas, jovens, pais" (1 João 2:12-14). Todos os Seus filhos devem estar em comunhão feliz, sem nenhum espírito duro e intolerante com ninguém. A comunhão da igreja local deve incluir todos os crentes igualmente.
A fraqueza deve ser distinguida do pecado. Os pecados devem ser tratados, mas as fraquezas devem ser suportadas (Romanos 15:1-3). Fraquezas podem ser encontradas naqueles que foram educados desde a infância em conexão com uma igreja local, verdadeiramente convertidos, mas não totalmente ensinados. Esta fraqueza também pode ter resultado da falha dos anciãos em verificar que um ensino equilibrado é dado, ou em não dar atenção a tal ensino. Uma condição similar é encontrada às vezes entre os cristãos criados em igrejas denominacionais. Eles acham difícil abandonar ideias e práticas erradas que lhes foram ensinadas no passado. Quando recebidos em uma igreja local, é necessário um tratamento sábio e compassivo, para que possam ser instruídos mais perfeitamente no caminho do Senhor (Atos 18:25).
Geralmente há dois tipos de cristãos para serem recebidos em uma igreja local:
1. Os novos convertidos (Atos 2:41,47, 5:14, 11:24).
Esses convertidos depois de batizados foram introduzidos para a comunhão dos crentes locais, e foram incluídos em todos os privilégios e responsabilidades relacionados com a comunhão (Atos 2:41-42).
2. Crentes vindos de outros lugares.
Para receber os crentes que não são bem conhecidos, são necessárias certas coisas.
- Introdução pessoal por alguém na igreja local que os conhece suficientemente bem. Assim aconteceu com Paulo (Atos 9:27);
- Cartas de recomendação de outras igrejas ou de servos de Deus bem conhecidos (2 Coríntios 3:1-2; Atos 18:27; Romanos 16:1; Colossenses 4:10; Filemom vs. 12,17). Este princípio foi integralmente reconhecido por Paulo, embora pessoalmente não precisasse de tal carta. No caso de alguém que é desconhecido, uma carta de recomendação dá confiança no caráter da pessoa por parte de quem já o conhecia. Não devemos esquecer que mesmo o nosso Senhor apresentou Suas credenciais quando veio entre homens que não O conheciam (João 5:30-37);
- Comprovação satisfatória. Nem sempre é possível a produção de uma carta de recomendação. Um filho de Deus pode ser prejudicado se lhe for recusada a admissão apenas por uma questão de manter uma regra local. Os anciãos devem lhe fazer algumas perguntas que nenhum cristão sensato vai se ressentir se forem feitas com cortesia. O nome e a origem da pessoa devem então ser levados ao conhecimento da assembleia de modo que sinceras boas-vindas possam lhe ser dadas pelos membros da igreja. Se cristãos desejarem ligar-se permanentemente com a igreja local, deve se permitir um prazo para a manifestação de alguma possível objeção. Isso, é claro, só pode ocorrer com base em motivos bíblicos válidos. [2]
Para comunhão com a igreja local deve haver evidência de salvação, sanidade de doutrina e consistência de vida. O batismo por si só não é suficiente, embora seja necessário para a obediência aos mandamentos do nosso Senhor. Embora os anciãos assumam a liderança nestas questões, deve-se lembrar de que toda a assembleia recebe um crente (ou o afasta 1 Coríntios 5:4). O Diótrefes descrito em 3 João v. 9 agiu com arrogância e independência – esta foi uma negação do senhorio de Cristo.
A comunhão em uma igreja local pode ser quebrada por pecado ou perturbada por discórdia. Quando alguma ofensa envolve outros, ela deve ser enfrentada, e em seguida tratada de acordo com o procedimento ensinado na Palavra de Deus (Mateus 18:15-17). Infelizmente muitas discórdias são frequentemente mesquinhas e banais. Quem semeia discórdia é chamado de pessoa vil nas Escrituras. Se essa discórdia for semeada entre os irmãos aquele que perturba a harmonia é fortemente repreendido por Deus (Provérbios 6.12 14, 16, 19). Filipenses 4:5 mostra o que deve ser encontrado entre o povo de Deus – a moderação ou gentileza, ser bondoso e razoável, cedendo aos outros sem se prender aos seus próprios direitos.
Nota de rodapé [1]
Isto não era comunismo como algumas pessoas nos diriam, pois foi um acordo inteiramente voluntário. O comunismo tira à força de um para distribuir aos outros – o Estado toma a propriedade e os poderes do povo, até mesmo toma o domínio sobre as próprias pessoas.
Nota de rodapé [2]
Se alguém vem de outra igreja local sem uma carta de recomendação, os anciãos devem indagar se está sob disciplina. Ninguém nesta situação deve ser recebido, pelo menos até que uma investigação tenha sido feita. Seria melhor primeiro persuadir essa pessoa a buscar a reconciliação com a igreja local de origem. A experiência nos diz que as pessoas com segundas intenções dificilmente se associam com uma igreja conduzida pelas Escrituras. As exceções devem ser tratadas quando necessário, como quando o mal, moral ou doutrinário, se manifesta (Atos 8:21). Os anciãos são responsáveis em guardar a igreja local de ensino errado e de má moral, mas não devem ir além disso para impor restrições sobre a liberdade de um cristão de agir como ele crê que a Palavra de Deus permite.
PARA ESTUDO ADICIONAL
- Anote outras palavras que significam "comunhão".
- Em Atos 13:1 somos informados sobre algumas pessoas da igreja em Antioquia. Veja os seus nomes e perceba como eram todos diferentes. O que os unia?
- Observe os diferentes tipos de homens que se tornaram discípulos do Senhor Jesus (Lucas 6:13-16). Por que eles formaram um grupo? Observe como ele se expandiu para incluir outros em Atos 1:13-14.
- Anote as coisas descritas em Filipenses que marcam a comunhão cristã. Além disso, observe os tipos de comunhão que os cristãos devem evitar. Tudo isso é verdade com você?
- Que coisas podem estragar e dividir uma comunhão? Como podemos evitá-las?
- Explicar o que 2 Coríntios 3:1-2 significa.
PONTOS PARA LEMBRAR
- A comunhão cristã é compartilhar com Deus e com o Seu povo tudo o que é ensinado nas Escrituras.
- Comunhão cristã é um círculo do qual o Senhor Jesus Cristo é o centro.
- O gozo da comunhão depende da nossa própria condição espiritual.
- A comunhão com Cristo e Seu povo exige a separação do mal.
- Em uma igreja local, a comunhão é compartilhada na prática entre todos os seus membros.
- Os crentes são recebidos na comunhão de uma igreja depois de ser salvos e batizados.
- Os visitantes a uma igreja devem trazer com eles uma carta de recomendação de sua própria igreja local.
- A comunhão na igreja é preciosa e deve ser preservada e promovida por todos. Ela demanda compromisso e continuidade
- É muito sério alguém perturbar ou prejudicar a comunhão.