“E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei”
Ezequiel 22:30
Que a meditação nestas coisas encha o nosso ser com a grandeza dos propósitos de Deus em relação a cada um de nós, levando-nos a viver, aqui neste mundo, no temor do Senhor
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”
(1 Tessalonicenses 5:22)
Ronaldo E. Watterson
Nasceu em 21/11/1935, espiritualmente em 1952,
veio para o Brasil em 1960, e faleceu em 30/05/2016
Um dos fatos mais surpreendentes nas Sagradas Escrituras é que Deus desejou, e ainda deseja, ter o homem associado intimamente com Ele. O Onipotente, o único que pode ser realmente independente, condescende ao ponto de querer trabalhar em união com homens mortais. Creio que isso deve causar tanta admiração entre as hostes angelicais, como adoração em corações redimidos! Aquele que, na solidão da eternidade, deitou os alicerces da terra entre os cânticos jubilosos das estrelas da alva (Jó 38:7); Aquele que prende as ondas soberbas do mar dentro dos seus limites decretados (Jó 38:11), e desenrola os céus como tendas para neles habitar (Isaías 40:22); Ele mesmo vem, em graça sem igual, procurar entre os filhos de Adão, um que trabalhe com Ele!
O só pensar que ao homem é permitido estar associado com Deus na realização dos seus propósitos enche o nosso coração de admiração – sim de adoração – mas quando ponderamos a intimidade daquela associação, temos que curvar a nossa cabeça, emudecidos, diante de tamanha graça imerecida! Deus não quer usar o homem como alguém usaria uma ferramenta – uma coisa útil, porém insensível; Ele quer que sejamos cooperadores (1 Coríntios 3:9), portadores como Ele do mesmo jugo (Mateus 11:29); não apenas servos, mas companheiros, sim, amigos íntimos (João 15:14-15). Ele quer que participemos do próprio espírito do Seu trabalho; quer que participemos dos Seus pensamentos, abracemos as Suas ambições; Ele quer trazer-nos para o santuário do céu como intercessores privilegiados. É este aspecto da nossa união com o Senhor que quero salientar neste artigo.
Neste capítulo (Ezequiel 22) Deus faz Israel se lembrar dos seus pecados e fala-lhes como Ele buscava ansiosamente um homem para “tapar a brecha” a fim de que Ele não destruísse a terra (v. 30). Ele procurou, entre os milhares de Israel, um coração no qual haveria, reciprocados, os Seus próprios pensamentos de misericórdia e graça; Ele procurou um intercessor e não achou nenhum.
Ele procurou UM – não dois – pois um homem, ocupado no exercício sagrado de intercessão, pode modificar todo o curso da história. Mas como subestimamos um tal homem! Um pregador eloquente é apreciado; ou até um que diverte os seus ouvintes, e nos esquecemos de que o que realmente precisamos são homens e mulheres que oram!
Bem sei que oramos; pecadores religiosos também oram. Até os pagãos têm as suas orações, mas onde estão os INTERCESSORES? Onde estão aqueles que, como Jacó, lutam com Deus dizendo: “Não te deixarei ir se não me abençoares” (Gênesis 32:26)? Onde estão os imitadores de Samuel, servo este que clamou ao Senhor a noite toda (1 Samuel 15:11)?
É isto que Deus quer! Ele não atende “papagaios” que repetem uma “oração” duas ou três vezes ao dia. Não, meus irmãos. Ele procura um que sente no seu coração o peso e a urgência da presente necessidade, e que, dentro dos limites da capacidade humana, compartilha a compaixão do Salvador que chorou, prevendo a terrível sorte de Jerusalém impenitente.
Considere agora Êxodo, capítulo 32, para ver as qualificações necessárias para que a intercessão seja eficaz. Deus retira o véu e deixa-nos ver as súplicas de um intercessor; aqui estamos na presença secreta do Altíssimo. Um homem intercede e Deus lhe estende o cetro dourado! Que contraste com a cena de Ezequiel 22! Aqui Deus acha um homem para “tapar a brecha”, e que homem! Estude o seu caráter como revelado aqui, e verá as qualificações necessárias para que a sua oração seja ouvida.
Note a sua atitude quando Deus lhe falou do pecado de Israel. Comovido ele pede misericórdia. Nem a promessa que Deus faria dele mesmo uma grande nação levou-o a calar-se. Não procurou honras para si, nem tão pouco para a sua posteridade; procurou a salvação de Israel. Com abnegação total ele lutou com Deus... e PREVALECEU! Com alegria ele teria sofrido – até ao ponto de ser riscado, ele mesmo, do livro de Deus, se com isso o povo fosse perdoado.
Quando, porém, ele entra no arraial, vemos uma mudança surpreendente. Aquele que intercedeu pelo povo perante o Senhor, agora representa o Senhor perante o povo. O coração que se moveu de compaixão no monte, agora arde no arraial. Na presença de Deus ele clamou por misericórdia; na presença dos seus irmãos rebeldes ele administra justiça.
Que combinação rara de virtudes vemos neste homem! Ele sabia manter a verdade em amor; ele odiava o erro, enquanto amava o errado; ele lutou corajosamente contra o afastamento dos princípios divinos, contudo teve compaixão dos que se afastaram. Irmãos, foi este homem que prevaleceu com Deus! Foi um homem em cujo coração havia, em proporções iguais, um profundo amor para com o povo de Deus, e uma repugnância santa pelos seus pecados.
Como é raro hoje em dia este equilíbrio. Muitos deixam os princípios bíblicos por conveniência ou por covardia, convenientemente “esquecendo” os princípios que professam ter aprendido. E a “razão” desta atitude é “amor pelos irmãos”! Por outro lado, há muitos que só pensam em usar a espada; vida ou morte depende de pronunciar o seu Chibolete (Juízes 12:6). Quem não concordar com o seu parecer é cortado, imediatamente, e sem piedade. São fariseus.
Rejeitando esses dois extremos de amor hipócrita e pretensão cruel, Deus ainda procura um homem; um que saiba representá-lo fielmente entre os homens e interceder fervorosamente a favor deles perante o Senhor. Ele procura um, cujo amor aos seus irmãos é igualado pelo seu amor à Palavra de Deus; um que chora no santuário e age com fidelidade em público. Em Ezequiel 22, Deus não achou ninguém e o fim foi desastroso; em Êxodo 32, Ele achou um e a bênção foi alcançada. Mas achará Ele alguém AGORA, na presente necessidade?
Que Deus nos desperte, para compreendermos a situação atual, a fim de que possamos interceder fervorosamente na presença de Deus e pregar corajosamente entre o povo de Deus, para que seja impedida a correnteza forte que está levando muitas igrejas locais ao seio da “Grande Babilônia”.
Informativo IDE, 1991