Breve histórico da vida de um obreiro

por seu filho primogênito, José Augusto Garcia

Francisco Alves Garcia (1928 – 2018), mais conhecido como "Sô Chico", nasceu aos 17 de junho de 1928, em Penha do Capim, distrito do município de Aimorés (MG). Teve uma adolescência e início de juventude conturbada, envolvida com as coisas deste mundo tenebroso.

Em 3 de julho de 1948, aos 20 anos de idade, casou-se com Maria Augusta de Jesus, da mesma região, e tiveram cinco filhos: José Augusto Garcia, João Augusto Garcia, Josias Augusto Garcia, Joel Augusto Garcia e Neuza Augusta Garcia.

Após a mudança com a família para a região de Córrego do Palmital (ES), conheceu o Evangelho das Boas-Novas da salvação em Jesus Cristo. Teve um encontro pessoal com o Senhor Jesus Cristo e se tornou membro da igreja que se reunia naquela localidade, da qual foi membro por muitos anos.

Foi um ótimo carpinteiro. Ainda em minha fase de criança lembro-me das derrubadas de madeiras, o aparelhamento artesanal das peças de madeira e a construção de casas, tulhas, currais etc.

Com uma situação econômica difícil, tornou-se inviável permanecer trabalhando na região em seu ofício para sustentar a família.  No início do ano de 1960, na esperança de novos horizontes e tendo um dos irmãos, José Alves Garcia, morando na cidade de Belo Horizonte (MG), resolveu "tentar a sorte” (termo que era usado para alguém que deixava sua localidade em busca de melhorias em outras cidades) e saiu com a família no encalço do irmão já casado e estabilizado, em busca de abrigo e de melhores condições de emprego. Foi assim que ele chegou com a família nessa grande capital.

Nesse tempo começou com a família a reunir-se com os irmãos na casa da família Otto Brits, na Rua Chapecó 534, Prado, Belo Horizonte, que recebiam em seu lar um grupo de irmãos e irmãs, uma vez que ainda não havia uma casa de oração construída.

Após uns dois anos, um grupo de irmãos que morava na região de Contagem (MG) e adjacências e que se reunia com a família Otto Brits, resolveu comprar um lote no Bairro das Indústrias, divisa entre as duas cidades, e lá eles começaram a construção de uma casa de oração para os cultos a Deus. Foi um período difícil que contou com a ajuda de todos e em pouco tempo já havia um grupo de servos do Senhor Jesus reunindo-se no local. A inauguração desse local de reunião aconteceu em 1963.

Homem do mato, matuto, pacato, acostumado com facão, machado, serra, serrote e martelo, ferramentas que o consagraram como um engenheiro do mato, homem iletrado, semianalfabeto, que com a graça de Deus, orações e aflições aprendeu na própria Bíblia um pouco do alfabeto, que lhe permitiu apregoar o Evangelho ao rico, ao pobre e aos sem teto, o amor de Deus manifestado em Seu Filho Jesus Cristo, que transforma o perdido em pecador arrependido.

Por algum tempo trabalhou em indústrias na tentativa se suprir as necessidades básicas da família, com o passar do tempo, entendendo que não era o suficiente, resolveu migrar sozinho para São Paulo em busca de tempos melhores. Num acidente no manuseio de uma serra elétrica perdeu um dedo de uma das mãos, comprometendo também o sistema de articulação, tornando-o incapacitado para o serviço na indústria.

De volta a Belo Horizonte, começou a viajar pelos interiores de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, visitando igrejas e irmãos, começando assim um trabalho itinerante de evangelização, priorizando as regiões menos alcançadas pelo Evangelho e com maiores necessidades de ouvirem as Boas-Novas da salvação através de Jesus. As viagens se estenderam para as regiões Norte e Nordeste do país, que o levaram a entender o chamado de Deus para o ministério da evangelização.

Em 3 de setembro de 1977, a igreja localizada no Bairro das Indústrias, em Belo Horizonte, em reunião administrativa, resolveu recomendá-lo ao ministério em tempo exclusivo. Nestes 41 anos de ministério, revirou o Brasil de Norte a Sul e de Leste a Oeste. Sua característica era ir aos lugares que "ele mesmo contava", aonde outras pessoas dificilmente iriam.

Como não deixou escrito, não sabemos ao certo por quantos estados, cidades, distritos e povoados ele passou, mas, de uma coisa sabemos, ele muito trabalhou, não somente no Brasil, mas até suas fronteiras passou. Não só pregava o Evangelho da graça, mas também colocava a mão na massa. Foram várias construções erguidas, várias noites mal dormidas, enfrentadas por um guerreiro do Senhor que não media esforços, não tinha chuva nem sol que desviasse seu objetivo de fazer conhecido o Evangelho de Cristo ao pecador perdido.

Uma frase para definir meu pai: Um homem trabalhador, desapegado das coisas terrenas para servir unicamente ao Senhor.

autor: José Carlos Jacintho de Campos.