A Participação Dos Obreiros No Serviço De Deus - 3

1 Timóteo 2.15; 1 Coríntios 14.40

Transcrito por Hacy Senghi Soares

Este estudo não tem em vista a parte técnica propriamente dita da homilética, isto é, a arte de preparar e apresentar sermões. O que temos em mira nesta série de estudos é apresentar ao leitor algumas sugestões práticas que poderão ajudá-lo a participar publicamente com maior acerto nas várias reuniões da igreja, para maior proveito de todos. Quem toma parte pública nas reuniões precisa saber qual é a reunião de que está participando, a fim de que as suas expressões sejam apropriadas a cada ocasião.

O leitor não encontrará aqui um comentário das lições, mas um simples esboço, cuja finalidade é ajudá-lo a lembrar-se da matéria apresentada.

6. NOÇÕES GERAIS SOBRE O SERMÃO

O vocábulo vem do latim, “sermone”, onde tem o sentido de “conversação”. Hoje tem como sentido principal um discurso ou prédica de cunho religioso. É o seguinte o critério geral de classificação do sermão:

  • Quanto à MATÉRIA, pode ser doutrinário, tipológico (tratando dos tipos bíblicos e suas aplicações), histórico, profético (enfocando as mensagens proféticas), escatológico (tratando das últimas coisas: morte, ressurreição, volta do Senhor, juízo, fim da era e estado eterno), ou biográfico.
  • Quanto à FINALIDADE, pode ser didático (visando ao ensino), exortativo, evangelístico ou apologético (em defesa da Verdade). Às vezes, em reuniões mistas, podem ser combinadas as finalidades didática e evangelística.
  • Quanto à FORMA, pode ser expositivo, textual ou tópico, que são as formas mais comuns e, por isso, mais práticas. Explicaremos isto nas “Considerações Finais”.

7. A ELABORAÇÃO DO SERMÃO

O sermão simples compõe-se de três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.

  • Na INTRODUÇÃO o pregador anuncia o seu assunto e procura preparar os seus ouvintes, despertando neles o interesse pela mensagem que vai ser apresentada.
  • No DESENVOLVIMENTO deve o pregador argumentar, comprovar e esclarecer o texto, passagem ou tema proposto. Para isto pode usar ilustrações, que podem ser extraídas tanto da Bíblia, quanto da História, de fatos da época ou de histórias hipotéticas que possam tornar mais claras as lições que ele queira transmitir. Cuidado para não tomar a maior parte do tempo com ilustrações, nem apresentar ilustrações que antes compliquem do que ajudem o entendimento do ouvinte. Deve também dividir o assunto, dando título a cada divisão, e subdividi-lo para efeito de explicação de cada título. Tais divisões podem ser anunciadas na introdução e, neste caso, têm de ser seguidas para não frustrar o ouvinte.
  • A CONCLUSÃO é a aplicação prática das verdades apresentadas. Ela apela ao ouvinte para aceitá-las e agir de acordo com elas. O alvo de uma pregação é confirmado na conclusão, a qual pode ser precedida de uma breve recapitulação.

8. A ESQUEMATIZAÇÃO DO SERMÃO

  • Descobrir pela pesquisa, meditação e oração, o assunto, texto ou passagem que deseja focalizar. “Que quer o Senhor que eu diga?”
  • Ler várias vezes o trecho e anotar todos os pensamentos que sobre ele ocorra. Procurar no dicionário bíblico e no de português, o sentido das palavras não entendidas.
  • Relacionar os pensamentos e formar com eles as devidas divisões e subdivisões, selecionando as ilustrações, caso sejam necessárias. Isto deve ser feito tendo em vista o alvo da mensagem, que deve ser naturalmente alcançado na conclusão.
  • Veja o primeiro sermão nas “Considerações Finais”. No trecho indicado (1 João 3.11-18) percebe-se facilmente que o tema dominante é o amor e no v. 18 temos uma excelente sugestão temática: “Exortação ao amor”. Vamos elaborá-lo juntos: 
    V. 11 – “Amai-vos uns aos outros” é uma mensagem ouvida desde o princípio. Portanto, há muitos anos. 
    V. 12 – Caim, por não amar, matou a seu irmão. Nisto ficou provado que ele não era de Deus, mas do maligno. 
    Vv. 13-15 – É natural que o mundo odeie o crente, mas este, por ser crente, deve naturalmente amar, pois do contrário permanece na morte, é assassino e não tem a vida eterna. 
    V. 16 – Cristo mostrou-nos Seu amor ao dar a Sua vida por nós e isto deve inspirar-nos a fazer o mesmo pelos irmãos. 
    Vv. 17-18 – Se amamos verdadeiramente nossos irmãos, não vamos abandoná-los quando eles mais precisam de nós, pois isto prova que o amor de Deus não está em nós.Tal tipo de amor é falso, pois é só “de palavra e de língua”.
  • Examine a seguir, o esboço “Exortação ao Amor” e veja como o sermão foi estruturado ao redor destes pensamentos, evoluindo numa seqüência natural até chegar à conclusão. E é bom notar que a conclusão, neste caso, foi tirada do próprio trecho, constituindo-se na sua última divisão.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Temos procurado apresentar apenas breves sugestões e noções gerais que podem ser úteis ao pregador no preparo de seus sermões; por isto não temos nos alongado em explicações complicadas, que somente poderiam ser apreendidas por quem possui um preparo acadêmico.

Cabe-nos, agora, apresentar algumas sugestões sobre a apresentação do sermão, explicar as três formas de sermão que foram mencionadas e apresentar um exemplo de esboço para cada uma daquelas formas.

1 – RECOMENDAÇÕES:

Não deve o mensageiro dar uma longa explicação do que será o seu sermão antes de ler o trecho no qual o mesmo será baseado, pois ele posteriormente terá de repetir tudo. As explicações preliminares devem ser dadas na introdução.

O pregador deve sempre estabelecer um alvo para a sua mensagem e nunca ficar rodeando por toda a Bíblia falando de todos os assuntos sem deixar uma mensagem definida. Sua pregação deve levar o ouvinte a uma conclusão. Por isso ele precisa fazer uma introdução e desenvolver o tema ou trecho proposto, para então, encerrar com as lições, exortações ou apelos cabíveis.

Convém evitar a “conclusão falsa”. Quando anunciar a conclusão, não comece uma nova pregação, conclua. Uma recapitulação resumida dos pontos apresentados é sempre boa, mas só isso. Evite apelos excessivos e violentos. Deixe ao Espírito Santo a tarefa que Lhe pertence, de convencer as almas. Um apelo discreto pode ter cabimento, se Deus assim dirige, mas não se deve forçar as emoções dos ouvintes, provocando falsas decisões.

2 - FORMAS GERAIS DO SERMÃO:

Podemos classificar os sermões genericamente em três formas principais:

  • Expositivo – trata-se da exposição de uma passagem da Palavra, apresentando as verdades nela contidas.
  • Textual – é o sermão baseado num trecho curto ou num só versículo da Palavra.
  • Tópico - é o sermão em torno de uma doutrina, tema ou personagem.

Esta classificação é, naturalmente resumida, apresentando apenas a idéia geral.

3 - EXEMPLOS DE SERMÕES ESBOÇADOS:

O primeiro exemplo é expositivo, o segundo textual e o terceiro tópico.

─ EXORTAÇÃO AO AMOR – 1 João 3.11-18

Introdução: O mundo é indiferente para com as necessidades do seu semelhante, embora fale em amor. Precisamos impedir que esse espírito nos domine. O texto ensina:

I – O AMOR É UMA MENSAGEM ANTIGA – (v. 11)

  • Deus o ensinara através de Moisés – (Levítico 19.18)
  • Cristo o praticara e ensinara enfaticamente aos discípulos – (João 13.34-35; 15.8-17)
  • Quer se referisse à Lei, quer ao ensino de Cristo, era mensagem antiga. Já tinha pelo menos cinqüenta anos.

II – O AMOR PÕE À PROVA A REALIDADE DA CONVERSÃO – (vv. 12-15)

  • Quem ama é de Deus, quem não ama é do maligno. É uma prova concreta (v. 12).
  • Não é conhecimento, nem serviço, mas é o amor que indica se somos filhos de Deus (vv. 14-15; João 13.34-35).
  • O mundo odeia naturalmente; o cristão deve amar naturalmente (v. 13).

III – CRISTO É A MAIS EXPRESSIVA MANIFESTAÇÃO DE AMOR – (v. 16)

  • O Seu amor é o maior de  todos – (João 15.13).
  • Manifestou-se de modo prático – “Deu a vida por nós!”
  • Deve ser imitado – “Devemos dar a vida pelos irmãos”. Ele é nosso Exemplo!

 IV - A CONCLUSÃO LÓGICA – (vv 17-18)

  • O amor é prático. Manifesta-se em obras de beneficência em favor do semelhante.
  • Não é mero tema de poesia ou cântico – “de palavra e de língua”, mas é ação proveniente de um coração regenerado – “de fato e de verdade”.

─ CRISTO NO MEIO – João 20.19-21

Introdução – Cristo deve ocupar o centro de nossas afeições e empreendimentos.

I – NO MEIO REVELANDO PODER

  • Poder que O levantou do túmulo.
  • Que Lhe permitiu passar pelas portas trancadas, varando as paredes.
  • Poder que Ele quer comunicar a todos quantos O recebem.

II – NO MEIO OUTORGANDO PAZ

  • Nos Seus lábios era mais que mera saudação. Ele pode dar paz aos homens.
  • Paz prometida – (João 14.27).
  • Paz conquistada pela cruz – (Colossenses 1.20; Efésios 2.14), “mãos e pés”, as “credenciais”.
  • Com Ele “no meio” há paz verdadeira.

III - NO MEIO INFUNDINDO ALEGRIA

  • “Vendo-O, alegraram-se os discípulos”.
  • A alegria da Sua presença espanta todo o temor. Esqueceram-se dos perigos.
  • Somente com Ele “no meio” pode haver alegria verdadeira.

─ O REAVIVAMENTO

Introdução – Ninguém ousaria negar a urgente necessidade de reavivamento espiritual em nossos dias. É preciso, porém, que o procuremos na fonte certa e pelo caminho certo.

I – SUA NECESSIDADE

  • Há acentuado desinteresse pelas coisas de Deus. Religião domingueira para salvar aparências; participação rotineira e meramente formal; superficialidade. Deus não está satisfeito – (Isaías 1.10-15; 29.13).
  • Falta espírito de renúncia. Há inversão da ordem: “CRISTO, os irmãos e eu”. O “eu” quer predominar e ser honrado. Negócios, diversões e conforto estão ocupando o primeiro lugar. Deus condena esse espírito (Ageu 1.4). Há rixas e contendas, inimizades pessoais, contrariando Romanos 12.8 e Efésios 4.2. Está faltando uma ENTREGA TOTAL (Filipenses 3.8-10; Gálatas 2.19-20).
  • Falta paixão pela causa de Deus. 1 - Pelas almas perdidas (Romanos 1.14-16; 1 Coríntios 9.16). 2 - Pela edificação dos santos (Filipenses 1.12-14; 20-25; Gálatas 4.19-20).
  • Há indiferença: Que é que tem? (Malaquias 1.6: 2.17; Apocalipse 3.17).
  • Falta exemplo das lideranças (1 Pedro 5.1-4). Falta coragem para denunciar o mal e o mundanismo.

II – O SEU CAMINHO

  • Tem de começar no indivíduo (Isaías 6.5-8).
  • Tem de começar de dentro para fora.
  • Tem de resultar de um profundo senso de culpa, seguido de sincero arrependimento (Salmo 51.1-6; Daniel 9.5, 6, 13).

III – OS SEUS AGENTES

  • A Palavra de Deus – Não há possibilidade de reavivamento genuíno à margem da Bíblia (2 Timóteo 3.14-16; Neemias 8.5-9).
  • O Espírito Santo – Os mesmos agentes da regeneração são os agentes do reavivamento (Zacarias 4.6; Efésios 5.18-20).

 

 

autor: Luiz Soares.