Conseqüências De Uma “União De Igrejas”
No artigo anterior vimos que as igrejas de Deus afastaram-se gradativamente do modelo que Deus estabelecera. Afastamento do modelo pode produzir um crescimento numérico, mas sem dúvida, traz um enfraquecimento espiritual.
Alguns irmãos, que zelam pelo rebanho, estão sentindo esta fraqueza, e também a necessidade de fazer algo para melhorar a situação. Já temos visto como, no passado, este reconhecimento de fraqueza levou muitos irmãos à conclusão de que era necessário formar um corpo que pudesse coordenar as atividades destas igrejas. Desta forma, afastaram-se ainda mais do modelo. O resultado sempre foi desastroso!
Hoje sentimos a fraqueza das igrejas; é inegável. Que sejamos guardados para não cairmos no mesmo erro dos irmãos dos séculos passados. Precisamos entender que esta fraqueza que vemos por toda parte é resultado do afastamento do modelo, e uma união feita por nós vai piorar ainda mais a situação; a solução é reconhecer o nosso desvio, e voltar à simplicidade do modelo que está nas Escrituras. É um paradoxo, a união divide:
1 - Uma união de igrejas, seja qual for o seu nome, é divisória. Independente dos seus propósitos, ela divide, pois inclui algumas igrejas e exclui outras. Mesmo se ela quer incluir todas as igrejas, ela levanta barreiras pelos estatutos que regem as suas atividades. As igrejas que não as aprovam, não se filiam a ela, e a união torna-se em algo sectário e exclusivista.
2 - Uma união de igrejas não guarda a unidade do Espírito. As Escrituras são claras neste ponto. "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres …" (I Cor. 12:13). Efésios confirma e enfatiza: "Há um só corpo e um só Espírito …" (Ef. 4:4). Neste contexto, somos exortados a "guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz" (Ef. 4:3).
Note bem que temos que guardar uma unidade que já existe — não fazer uma unidade. Observe também que esta unidade é do Espírito — jamais foi feita pelos homens ou registrada em Cartório. Seus laços são espirituais.
Fazem parte desta unidade todos os salvos desde aquele dia de Pentecostes, do qual lemos em Atos 2, até o arrebatamento dos que são de Cristo. Portanto, esta unidade é composta de pessoas, não de igrejas. Não é um grupo de congregações unidas pelos homens, mas é uma multidão de pessoas, unidas pelo Espírito. Não é a soma de todos os membros das igrejas, pois muitos salvos já estão na glória. Outros salvos ainda vivos, não estão em comunhão numa igreja local, por várias razões; e alguns membros das igrejas locais não estão incluídos na unidade do Espírito, pois são joio — meros professos.
Formar uma união de igrejas, portanto, é desprezar ou ignorar a unidade do Espírito, pois, ao invés de guardar aquela unidade que o Espírito criou, forma-se outra que não é co-extensiva com a que é do Espírito. Formar uma união de igrejas, dividindo o povo de Deus, é desobedecer o mandamento: "Procurai guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz".
3 - Um dos objetivos de qualquer união de igrejas é coordenar o trabalho destas igrejas para que seja mais eficiente. Pensa-se que tal união resultará num trabalho mais organizado e melhor planejado, produzindo maior crescimento.
Há muito perigo nisto! Não é assim que Deus faz o Seu trabalho. Ele usou Gideão com apenas trezentos homens para derrotar um inimigo fortíssimo. Ele entregou Sua mensagem ao Sumo Sacerdote através de um menino, Samuel. Ele confiou a tarefa de pregar o Evangelho ao mundo inteiro a um pequeno grupo de homens "sem letras e indoutos", e sem qualquer expressão social; Ele escolhe as coisas fracas, sim, as desprezíveis para confundir as fortes. Na verdade, os Seus pensamentos não são os nossos (Is. 55:8). A fraqueza (aos olhos dos homens) das igrejas locais não é um empecilho para a realização dos propósitos de Deus; pelo contrário, é o meio pelo qual Deus aperfeiçoa a Sua força, para que nenhuma carne se glorie perante Ele.
CONCLUSÃO: Mais uma vez, estamos vendo as igrejas em vários países, buscando uma nova forma de ser. Estão vendo a inegável fraqueza do testemunho, e a grande inércia e desânimo que tomou posse de muitas igrejas. Querem fazer algo para melhorar. A intenção é louvável; a única solução é humilhar-nos perante Deus, reconhecer que a fraqueza atual é conseqüência do nosso desvio do modelo bíblico, e retornar à simplicidade daquele modelo. "Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo" I Cor. 10:15.