3. A INCUMBÊNCIA DOS ESCOLHIDOS
“Para a OBRA que os tenho chamado” – At. 13:2.
“E faze a OBRA” – 1Cr. 28:10; 1Co. 15:58; 1Tm. 3:1,15; 2Tm. 4:1-5.
“Para que VADES E DEIS FRUTOS” – Jo. 15:16.
A) CARACTERÍSTICOS DA OBRA
1. É a “Obra do Senhor", o que significa o trabalho que Ele nos deu para fazer. Podemos fazer muita coisa para o Senhor, até com muito boas intenções, sem estarmos fazendo a obra do Senhor. É somente quando fazemos tudo obedecendo à orientação da Palavra que estamos, de fato, realizando a obra do Senhor.
2. É uma obra de fé. A palavra de encorajamento à firmeza e constância no serviço vem após a estupenda exposição da gloriosa ressurreição do Senhor. É pela fé no Cristo ressuscitado, exaltado e glorificado que podemos trabalhar fiel e intensamente e podemos permanecer "firmes e inabaláveis". Sua Palavra e Suas promessas nos sustentam em nossos esforços no Seu serviço.
3. É uma obra pesada e fatigante. As palavras "trabalho" e "obra" no Novo Testamento, traduzem, na maior parte da vezes, duas palavras gregas: "Ergon" e "Kopos". O vocábulo "Ergon" compreende todo tipo de serviço, inclusive atividade leve e agradável, mas a palavra "Kopos" indica labor fatigante, trabalho pesado e incômodo. Trabalhar na obra de Deus é, de fato, um prazer, mas exige muito dispêndio de energia, pois a sua atividade é, por vezes, difícil, penosa e fatigante. A forma verbal "kopiao", correspondente ao substantivo "kopos", significa trabalhar arduamente, estar sobrecarregado de trabalho, labutar, fatigar-se no labor. Paulo usa este verbo quando diz, em At. 20:34-35, que trabalhou arduamente com as próprias mãos para sustentar-se a si mesmo e aos seus companheiros. E, em Cl. 1:29, falando de seu empenho em ministrar Cristo aos homens, ele afirma: "Para isso é que eu me afadigo, esforçando-me (agonizando) o mais possível". O mesmo pensamento é comunicado em 1Tm. 4:10, onde lemos: "Para este fim é que labutamos". E, em 1Tm. 5:17, Paulo fala sobre presbíteros que se "afadigam na Palavra e na doutrina". Quem quer uma vida cômoda não pode servir a Deus. Convém notar que Barnabé e Saulo foram escolhidos para aquela obra especial porque estavam em plena comunhão e serviço na igreja local em Antioquia. É significativa a menção de que foi quando eles estavam ali servindo ao Senhor que o Espírito Santo os separou.
Isto indica que a igreja local deve ser o centro de irradiação da obra. De Jerusalém, onde começou, ela expandiu-se para muitos lugares. Muitos mudaram-se de Jerusalém e onde foram pregaram a mensagem que conduziu muitas almas ao Salvador, disto resultando o início de uma florescente igreja em Antioquia. A Igreja em Jerusalém não estava alheia ao fato, tanto que, ao ouvir o que se passava, enviou Barnabé para lá, não como chefe eclesiástico, para ditar ordens, mas como um obreiro competente e fiel, para constatar a veracidade das notícias recebidas e estender à igreja ali a mão de comunhão da igreja em Jerusalém.
Tendo a confirmação de que o Senhor estava operando poderosamente ali, Barnabé identificou-se com a novel igreja e partiu em busca de Saulo, com quem trabalhou naquela igreja até que o Espírito Santo os enviou para a sua primeira viagem missionária. É notável que antes daquele chamado Barnabé e Saulo tinham sido enviados a Jerusalém a fim de levar socorro da igreja em Antioquia para os irmãos da Judéia e, como diz Atos 12:25, “cumprida a sua missão, voltaram” à igreja em Antioquia, que os havia enviado. Isto quer dizer que quando se fala em missões, fala-se numa obra da igreja local, da qual não deve ela se omitir.
B) A ESFERA DE AÇÃO DA OBRA
I. A IGREJA DE DEUS (1Tm. 3:15). Cada cristão é feito por Deus um membro da Sua Igreja e é escolhido por Ele para servir nela. Ao nascer de novo cada crente é feito um filho e um sacerdote de Deus, nascido na Sua grande família sacerdotal. Notemos alguns aspectos do exercício desse sacerdócio.
a) A adoração. Cada cristão é um sacerdote santo: "Vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo" (1Pe. 2:5). O ponto culminante da obra de Deus é a adoração, sendo esta a mais elevada ocupação do cristão individualmente e da Igreja como um todo. Deus está procurando antes e acima de tudo adoradores por Ele habilitados a adorar "em Espírito e em verdade” (Jo. 4:23-24).
b) A supervisão (1Tm. 3:1). O episcopado é a tarefa árdua de cuidar do povo de Deus. É uma tarefa confiada por Deus aos "bispos", ou "presbíteros". Eles são identificados como presbíteros em razão de sua experiência e maturidade espiritual – a palavra "presbítero" significa "mais velho"; e são identificados como bispos em razão de sua função de superintender a igreja. Várias palavras bíblicas indicam as funções destes servos de Deus: pastorear, governar, presidir, guiar, governar, cuidar, velar e apascentar. Todos estes vocábulos indicam claramente a pesada tarefa colocada por Deus sobre os ombros destes Seus servos, recomendando-lhes solenemente: "Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiubispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue" (At. 20:28). E mais: "Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangidos, mas espontaneamente, como Deus quer; (3) nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes tornando-vos modelos do rebanho. (4) Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa de glória" (1Pe. 5:2-4). Isto significa que os presbíteros não têm o direito de agir com prepotência sobre o rebanho, tendo em mente que eles não são os proprietários, e, sim, despenseiros, aos quais o Senhor, o Supremo Pastor e legítimo Proprietário, confiou as ovelhas. Eles terão de prestar contas dessa mordomia.
c) A edificação. Cristo tem de ser ministrado entre os santos para a sua edificação na fé e conseqüente crescimento espiritual. Isto deve ser feito pelo ministério fiel da Palavra manifestando as supremas glórias, belezas e perfeições do Senhor Jesus Cristo, o CENTRO para o Qual devem os santos estar voltados. As doutrinas da fé devem ser fielmente expostas a fim de salvaguardar os cristãos do perigo das falsas doutrinas que nos rondam. Todos os privilégios e responsabilidades dos fiéis devem ser claramente apresentados para seu encorajamento, exortação e advertência.
Para o exercício dessa obra Deus tem conferido dons aos Seus servos e cada um deve, com humildade, exercer as suas faculdades espirituais para descobrir qual foi a parte que Deus lhe designou neste maravilhoso plano.
II. O MUNDO PERDIDO (Is. 6:1-8; Mt. 9:36). Quão grande é a necessidade da humanidade! Milhões estão se debatendo nas trevas da ignorância e do pecado e precisam ouvir o Evangelho da salvação. Não podemos pensar nisto sem nos lembrarmos de que o Senhor diz a cada um de nós: “Eu vos escolhi e vos designei para que vades”. Cada um individualmente deve ouvir a voz Divina a dizer-lhe: “O Senhor te escolheu... sê forte e faze a obra"! Para isto Deus fez de cada cristão um sacerdote real: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz" (1Pe. 2:9). Notemos os requisitos indispensáveis à realização desta obra:
a) Visão. Sem uma visão do mundo perdido em seus pecados não teremos condição de evangelizá-lo. Como aconteceu com Isaías, no templo, precisamos de uma visão do alto e de dentro, para, então, alcançarmos a visão das grandes necessidades de fora. A visão da glória de Deus e da nossa miséria e indignidade e a aplicação do Seu recurso purificador abrirá os nossos olhos para vermos o que o Senhor vê – "as multidões aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor" (Mt. 9:36).
b) Compaixão. É preciso ver como o Senhor e sentir como o Senhor. Em Mt. 9:36, lemos que Ele vendo as multidões, compadeceu-se delas. Se não formos possuídos daquela mesma compaixão jamais conseguiremos realizar esta importante obra.
c) Prontidão. Depois de iluminado, despertado e purificado, Isaías respondeu prontamente: "Eis-me aqui, envia-me a mim"! Quando o Senhor chamou os discípulos, prometendo fazer deles "pescadores de homens", eles deixaram imediatamente as suas redes e O seguiram. Sem disposição e desprendimento por parte de cada um de nós a obra não será realizada.
É grande o prejuízo da nossa omissão nesta parte. A Palavra diz: "Como invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem nada ouviram? e como ouvirão SE NÃO HÁ QUEM PREGUE?"
O custo desta obra é muito elevado. Ela exige grande dose de determinação e auto-renúncia, mas o resultado é extraordinariamente compensador: "Os que com lágrimas semeiam, comjúbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes" (Sl. 126:5-6). Tal foi a experiência de Paulo quando, dirigindo-se aos cristãos de Filipos, frutos do seu penoso trabalho, pôde dizer: "Meus irmãos amados... minha alegria e coroa". E, aos crentes tessalonicenses: "Quem é a nossa esperança, ou coroa em que exultamos na presença de nosso Senhor Jesus em Sua vinda? Não sois vós? Sim, vós sois realmente a nossa glória e a nossa alegria"!
Eia, pois, irmãos! Nosso trabalho na "obra do Senhor não é vão. Atendamos, portanto, à Sua chamada e regozijemo-nos no privilégio da Sua sublime escolha. Ouçamos a voz do Espírito: “Apartai-me... para a obra a que os tenho chamado”. Ouçamos a voz do Filho: “Eu vos escolhi e vos enviei...”. Ouçamos a voz do Pai celeste: “O Senhor te escolheu... sê forte e faze a obra"!
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