A coroa da glória

1 Pedro 5:1-4

Certamente o assunto que tomamos como tema é de muita importância, visto que trata da recompensa aos anciãos que servirem de acordo com a soberana vontade de Deus. Ao discorrer sobre o assunto, é meu desejo trazer aos anciãos, incentivo para que continuem fazendo o serviço com muito amor e dedicação, e, aos crentes das igrejas locais de nosso contexto, um reconhecimento do valor destes que velam pelas almas de cada um como quem tem a responsabilidade de prestar contas (Hebreus 13:17).

No tempo em que vivemos, notamos com preocupação e tristeza que muitos irmãos e igrejas estão a desviar, deixando-se levar por pensamentos denominacionais, dividindo o povo de Deus em clero e leigos. Para evitarmos este erro, se faz necessária a volta à Palavra de Deus.

Os nomes usados para descrever a liderança da igreja local

De início é importante lembrarmos que os nomes: “ancião", “presbítero" e “bispo", referem-se à mesma pessoa. Atos 20:17 usa o nome “anciãos" na versão ARC, e “presbíteros" na versão ARA e, referindo-se ao mesmo grupo no v.28, chama-os de “bispos”, os quais são exortados a pastorearem o rebanho de Deus, estando em plena harmonia com “pastores” na ARC e “guias” na ARA, citados em Hebreus 13:7,17, porque estes guias pastoreiam o rebanho de Deus (João 21:16; 1Pedro 5:2). Em nenhum lugar no Novo Testamento, estes nomes são usados como títulos dignitários, mas para descrever o serviço ou caráter da pessoa que faz o trabalho.

A pluralidade também é destaque como se pode observar ainda em Atos 20.17 ao mandar Paulo a Éfeso chamar os presbíteros da igreja, aí notamos que igreja está no singular e presbíteros no plural. Com este exemplo e outros mais, fica claro que em cada igreja local, nunca deve ter um só irmão no exercício da liderança, mas mais do que um, exceto no começo duma igreja quando há somente um irmão, depois a quantidade dependerá do seu número de membros.

Ainda em Atos 20:28, aprendemos pela exortação de Paulo aos anciãos de Éfeso, que a constituição dos bispos numa igreja local é obra exclusiva do Espírito Santo, quando os exorta: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus”. Não existe nenhum fundamento bíblico para que se eleja, por voto direto ou indireto, um ancião ou alguém com título de pastor numa igreja.

Apascentar e pastorear o rebanho de Deus:

Encontramos estas duas ordens do Senhor Jesus, a Pedro, em João 21:15-17. Apascentar é levar ao pasto, sustentar, nutrir, e pastorear é conduzir, cuidar, guardar e proteger o rebanho. Nestas duas ordens notamos a meta do trabalho dos anciãos numa igreja local: como apascentadores eles devem alimentar o rebanho com a genuína Palavra de Deus, oferecendo alimentação adequada, leite ou sólido, dependendo da faixa etária espiritual do crente (Tito 1:9; Hebreus 5:13-14).

Como pastores, os anciãos devem estar apercebidos quando alguém do rebanho apresenta qualquer sintoma de enfermidade espiritual e logo tomar as providências necessárias, indo ao encontro deste para aplicação do remédio certo na hora certa para que o mal não se agrave e chegue a afetar outros, bem como guardar o rebanho de Deus protegendo-o dos ataques do inimigo, vindo tanto de fora como de dentro da própria igreja (Atos 20:29-30).

Para o desenvolvimento e firmeza da igreja é necessário que em cada uma haja anciãos que apascentem e pastoreiem o rebanho. Podemos perceber que apascentar e pastorear o rebanho de Deus não é tarefa fácil e é por isso que o Espírito Santo é quem constitui homens devidamente qualificados para esse trabalho (1 Timóteo 3:1-7; Tito 1:5-9).

O cuidado dos presbíteros para com a igreja:

Pelo que Paulo expressa em 2 Coríntios 11:2; 12:15,20-21 e Gálatas 4:18-20 etc., temos a ideia de como um ancião sofre por se preocupar em zelar pelo rebanho. Sem dúvidas de que ainda nestes últimos tempos há muitos que estão com zelo ardente cuidando do rebanho que pertence a Deus, a Quem em breve terão que prestar contas, mas, às vezes, são mal compreendidos e criticados pelo próprio rebanho.

Como ilustração de como o trabalho é duro e da incompreensão por parte de muitos, farei menção de Gênesis 31. Este capítulo narra quando Labão persegue a Jacó, e os seus, no retorno a Canaã. Nesse contexto, chegamos aos versículos 36 a 42, quando Jacó, irado contra Labão, proferiu um desabafo mostrando a ele seu zelo e cuidado pelo rebanho nos 20 anos que o serviu, tendo seu salário mudado por dez vezes (v. 41).

Para mim o versículo 40 é um perfeito retrato do trabalho árduo dos presbíteros no cuidado do rebanho de Deus, quando disse: “De maneira que eu andava, de dia consumido pelo calor, de noite, pela geada; e o meu sono me fugia dos olhos”. Experiências idênticas a de muitos anciãos, em zelo e cuidado para com o rebanho de Deus nos nossos dias.

Quanto esforço e abnegação são necessários para o exercício deste tão importante serviço nas igrejas, pois muitos são parecidos com Labão que nunca reconheceu o trabalho de Jacó, procurando sempre prejudicá-lo. Muitos crentes não conseguem ver o serviço e o cuidado dos anciãos para com o rebanho, só enxergam os erros e sabem falar mal e criticar, se esquecem de que estes presbíteros não são super-homens infalíveis, são homens como qualquer outro, sujeitos a acertos e a erros.

Surge uma pergunta: Como os anciãos devem realizar seu trabalho?

A resposta encontra-se em 1 Pedro 5:1-3, onde encontramos três recomendações de Pedro, sendo que cada uma apresenta primeiro o aspecto negativo e, em seguida, o positivo, como segue:

No versículo 2, Pedro recomendou aos presbíteros que pastoreassem o rebanho de Deus “não por constrangimento, porém espontaneamente como Deus quer”. Pedro, que também era presbítero, exorta aos seus colegas a não fazer o serviço do Senhor por mero dever e obrigação, mas com espontaneidade. Também não fazer o trabalho por sórdida ganância, isto é, por mera remuneração como mercenários, mas devia fazê-lo de boa vontade, pensando somente no agradar a Deus e no bem do rebanho e não no lucro advindo do trabalho. No versículo 3, encontramos mais uma recomendação aos anciãos, dizendo que não deveriam se colocar acima como dominadores ou donos do rebanho, mas como exemplos.

A recompensa do trabalho dos anciãos:

Antes de ver como Pedro encerra esse assunto no versículo 4, gostaria que ficasse claro que nem todos os chamados de presbíteros nas igrejas, os são de fato, mas Deus conhece cada coração e sentimento:

1. Há aqueles que nunca foram e nem serão presbíteros, apenas estão nas igrejas, ostentando orgulhosamente o título a eles conferidos, e não têm nenhum cuidado ou compromisso com o rebanho.

2. Há os que são de fato presbíteros, levantados pelo Espírito Santo, reconhecidos pela igreja, mas não têm cuidado algum do rebanho, vivem a correr atrás, apenas, dos seus interesses pessoais.

3. Há também os presbíteros de fato e de verdade, fiéis, que se desdobram em zelo e cuidado em favor do rebanho.

Infelizmente, não tem como mudar por completo esta situação, mas no tribunal de Cristo todas as coisas serão esclarecidas e aqueles que eram meros presbíteros nominais, serão repreendidos pelo Senhor por buscarem apenas a ostentação de um título.

Para os presbíteros, que apesar de terem sidos separados e constituídos pelo Espírito Santo, nunca se dedicaram ao rebanho de Deus, preferiram cuidar de seus negócios, de sua família, do bem-estar e lazeres, sem se importar, de fato, no cuidado do rebanho, o Senhor tratará com estes, como sendo servos negligentes e receberão d’Ele Sua reprovação.

Agora, quanto àqueles que se abnegaram, se sacrificaram de muitas coisas lícitas para dedicarem-se ao cuidado do rebanho do Senhor, estes sim receberão a aprovação do Senhor Jesus dando-lhes o maior prêmio que é a “IMARCESCÍVEL COROA DA GLÓRIA”.

Conclusão de 1Pedro 5, observando agora o versículo 4, Pedro encerra o assunto estimulando aos presbíteros a terem seus olhares fixados no arrebatamento da igreja dizendo: “Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória”. Sem dúvida que esta promessa, serviu e continua servindo de estímulo aos anciãos a continuarem empenhados neste trabalho, a semelhança de um atleta lutando segundo as normas a fim de ser coroado (2 Timóteo 2.5).

Amados irmãos presbíteros, colocados nas igrejas locais pelo Espírito Santo, para apascentar e pastorear nestes dias tão difíceis da igreja na terra, que façam o trabalho do Senhor conforme ensinado, não fugindo das regras (doutrinas), pois certamente receberão, no tribunal de Cristo e das Suas próprias mãos, a “imarcescível coroa da glória”, que alegremente poderão depositá-las diante do trono, reconhecendo que Deus é digno de toda honra, glória e poder (Apocalipse 4:4,9-11).

O tratamento da igreja para com seus anciãos:

Segundo o ensino de Paulo em 1 Tessalonicenses 5:12-13, os crentes devem acatar com estima estes irmãos que trabalham entre eles. Estes trabalhadores não possuem carteira assinada, não gozam os benefícios da lei, não procuram status, mas muitas vezes abstêm-se de um descanso, de um convívio maior com a família etc., para servir ao rebanho, e quantas vezes não são reconhecidos, sendo até desprezados por alguns.

No versículo 13, Paulo continua: “e que os tenhais com amor e máxima consideração”. No final do versículo anterior ele havia dito “vos presidem no Senhor e vos admoestam”. Toda repreensão, guiando e reconduzindo alguém errado para o caminho certo, dói, e muitos passam a sentir antipatia pelos que foram admoestá-los. Pensando nisto, foi que Paulo exortou os crentes de Tessalônica a amar com a máxima consideração os presbíteros por causa do trabalho que realizam.

Em Hebreus 13:17-24, podemos notar dois aspectos importantes que devem ser observados e praticados pelos crentes em relação aos anciãos. No versículo 17, os crentes são exortados a obedecerem e a se sujeitarem aos seus guias, e dá os motivos: Primeiro, é porque “velam por vossas almas”, isto é, vigiam constantemente; e acrescenta: “como quem deve prestar contas”. Segundo, é “para que façam isto com alegria e não gemendo”.

Talvez a palavra “incentivo” caberia muito bem aqui, porque quando os anciãos estão prestando seu serviço à igreja, em vez de críticas, rebeldia e insubmissão, verem os crentes alegres, prontamente aceitando as correções e obedecendo aos ensinos, isto lhes será um incentivo, um encorajamento para continuar fazendo o serviço com mais alegria, amor e dedicação.

O escritor aos Hebreus encerra o versículo dizendo que caso os anciãos façam o serviço gemendo, resultará somente em perda para a igreja. Irmãos, que Deus nos livre de atitudes de rebeldia e desobediência aos que Ele tem posto como liderança em cada uma das nossas igrejas.

Resta-nos considerar o versículo 24: “saudai a todos os vossos guias". Deixar de saudar qualquer crente por não se simpatizar com ele é uma atitude anticristã. Quando se trata dos anciãos então, é ainda pior, pois está se colocando contra aqueles a quem o Espírito Santo tem posto na igreja para apascentar e pastorear.

Irmãos, o princípio para a igreja continua o mesmo hoje, e por não observar estas ordens dadas pelo Espírito Santo é que muitas igrejas, lamentavelmente, têm chegado a uma verdadeira falência espiritual em condutas completamente contrária a sã doutrina.

Terminando este artigo, é minha oração e desejo, que o mesmo sirva para trazer ao povo de Deus um genuíno despertamento, voltando-se ao princípio bíblico de deixar a cargo do Espírito Santo a escolha da liderança em qualquer igreja local, pequena ou grande, para que tenham discernimento do Espírito Santo para o reconhecimento dos verdadeiros anciãos em suas localidades. Que em cada uma tenha uma pluralidade de presbíteros e não um só. Que o povo de Deus possa dar o devido valor e reconhecimento aos seus guias espirituais que tanto se esmeram no serviço do Senhor. Que os anciãos façam o trabalho do Senhor fielmente, olhando somente para o Senhor Jesus que é o Supremo Pastor, O qual dará a recompensa, a imarcescível COROA DA GLÓRIA a cada um. Amém!

N. do A.: Artigo escrito em novembro de 1996, revisado e acrescentado em julho de 2018.