1 Crônicas 17
Durante anos os cristãos têm se preocupado em ter um lugar fixo para a adoração a Deus e por isso gastam rios de dinheiro para ter “o lugar” ideal e mais bonito que os dos outros. E nos dias atuais se têm, equivocadamente, chamado estes lugares de “Igreja”. Mas será que estas construções são o plano de Deus ou é uma ideia nossa?
No Velho Testamento vemos o desejo de Davi em construir um lugar fixo para Deus. E apesar do seu desejo ser sincero, vemos que não veio de Deus, não era algo que Deus desejava. Isso fica claro, pois, logo após Natan ter dito a Davi que Deus estava com ele, Deus chama a atenção de Natan. Pela noite Deus declara que Davi não iria construir nada para Ele, e não era por causa do sangue em suas mãos, isso vem depois. É só termos tempo para ler o texto corretamente e vamos ver que em 1 Crônicas 17 a casa mencionada aqui e a sua descendência, que é o Senhor Jesus Cristo, em momento nenhum é mencionada a construção de um lugar para Deus habitar, a menção que Salomão iria construir o Templo é feita no capitulo 22. Quando juntamos os capítulos 17 e 22 percebemos que Davi não entendeu nada do que Deus realmente estava dizendo, pois no capitulo 17 não há menção de Salomão, devemos ter muito cuidado com as nossas interpretações.
Temos que entender que o propósito do Tabernáculo era de ser um lugar móvel que acompanhasse o povo por aonde ia, era uma forma de mostrar a todos que Deus ia com eles. Quando chegamos ao Novo Testamento, Deus deixa bem claro que o que Ele deseja não é um lugar fixo feito por mãos humanas. Em João 2:19, Jesus Cristo fala aos judeus que aquela “Casa de Deus” seria destruída e em três dias seria edificado um novo Templo: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei”. Para os judeus Jesus fala sobre o Templo, que é um símbolo visível a todos da aliança de Deus com eles, mas Cristo fala de Sua morte, fazendo referência ao que foi dito a Davi em Crônicas.
Jesus Cristo em seguida afirma para a samaritana que a verdadeira adoração a Deus não seria feita no Templo nem em algum monte e sim em espírito e em verdade: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem.Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4:23-24). Paulo conclui dizendo que essa edificação somos nós que entregamos nossas vidas a Cristo: “Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo e fá-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo” (1 Coríntios 6:15).
Porém, há algum mal em ter uma construção para o homem adorar a Deus? Nosso maior guia é a própria Palavra de Deus e em 1 Tessalonicenses 5:21 Paulo diz: “Examinai tudo. Retende o bem”. Então vamos fazer isso.
Deus aceitou a construção feita por Salomão, pois vemos que a Sua glória encheu aquele lugar: “E, acabando Salomão de orar, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do Senhor encheu a casa” (2 Crônicas 7:1). Mas fica claro que foi por causa do coração sincero de Salomão e não por causa da construção propriamente dita. O que se vê depois disso na história do Templo é uma soberba do povo pela grandeza do Templo e não uma confiança em Deus.
O que se vê nos dias de hoje não é muito diferente, é uma disputa entre os irmãos das denominações e até entre si, de quem tem a igreja mais chique. Porém, o que posso afirmar é o que o próprio Cristo já fala: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia” (Mateus 23:27). Ou seja, são igrejas belas por fora e sem vida por dentro.
Com estas construções temos de fato atraído um sistema religioso chamado clericalismo, pois são criados cargos iguais aos dos sacerdotes e levitas para a manutenção do local. Pedro, por sua vez, afirma que somos todos sacerdotes reais e que Cristo é o nosso Sumo Sacerdote: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9), e Paulo dá o reforço dizendo que somos um só corpo e Cristo é a Cabeça (1 Coríntios 12). Quando nos reunimos em casas deixamos de nos preocupar com liderança para sermos uma verdadeira família de Deus.
Ao estabelecer um clero logo é estabelecida a liturgia, onde tudo é feito bem organizado antecipadamente, não deixando espaço para ninguém fora do clero tomar parte. Mas isso tem perigo? Sim! Primeiro deixamos de cultuar com um coração voluntário para ser algo mecânico, assim já não é nem em espírito nem em verdade. Com isso o Espírito Santo deixa de ter Sua função maior em nossa vida, a de nos conduzir em adoração a Deus.
Eu poderia citar muitos outros pontos, porém irei mencionar mais um que muito me chama a atenção, o comodismo! Igrejas com cleros fazem com que os demais irmãos se tornem dependentes dos serviços deles, e quando nos reunimos em “igreja” achamos que é responsabilidade dos clérigos pregarem e dos não cristãos procurarem a Cristo. Assim deixamos de fazer um dos propósitos do cristão: o IDE. Em nenhum momento a Palavra de Deus diz que o pecador deve ir até a uma “igreja” ouvir a Sua Palavra. Na verdade, o que Cristo diz é “ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). E ao subir Ele reafirma: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8). Paulo ratifica dizendo: “Porquanto não há diferença entre judeu e grego, porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas!” (Romanos 10:12-15).
Temos negligenciado este comando por estarmos bem acomodados e mais preocupados em construir “igrejas” bonitas. Acabamos de ler que formosos não são as construções e sim os pés daqueles que pregam o Evangelho (Romanos 10:15). Com isso, só tenho mais uma pergunta a ser feita: “Temos escondido os nossos talentos”? Se temos feito isso não está na hora de fazermos algo para mudar esta história e assim quando Cristo voltar podermos ouvi-Lo dizer: “Bom servo e fiel”? Vamos sair do comodismo e usar os talentos que temos para a glória de Deus.