“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo”
Apocalipse 1:3
Capítulo 5
Assim como vimos no capítulo anterior, neste João continua contemplando as grandiosas visões da morada divina. Por certo, a esta altura dos acontecimentos proféticos, Deus estará a religar o cronômetro que fora desligado aos inícios da era da Igreja.
Essa cronometragem de tempo nos remete a Daniel que, a exemplo de João, teve revelações escatológicas da parte de Deus (Daniel 9:24-27). Todavia, a mensagem transmitida ao profeta é claríssima, não diz respeito à Igreja, mas exclusivamente a Israel e Jerusalém: “Setenta semanas estão decretadas sobre o teu povo (Israel), e sobre a tua santa cidade (Jerusalém)” (v. 24). Segundo o texto sagrado, o começo dessa contagem de tempo foi a partir da ordem dada para restauração de Jerusalém e, desde esse início, até ao Ungido, ao Príncipe, sessenta e nove semanas de sete anos decorreriam.
O único decreto específico que diz respeito à restauração de Jerusalém foi o do rei Artaxerxes, que autorizou formalmente Neemias para que reedificasse a cidade (Neemias 2:1-10). Sob clara inspiração divina, Neemias teve o cuidado de deixar registrada a data exata desse decreto: “No mês de nisã, no ano vigésimo do rei Artaxerxes” (v. 1), que corresponde ao mês de março de 445 a.C.
A partir dessa data, fazendo-se a contagem de tempo dessas semanas de sete anos cada, considerando os anos de 360 dias conforme vemos no cômputo de dias do dilúvio, em Gênesis, conclui-se que o fim da era das primeiras sessenta e nove semanas de Daniel deu-se por ocasião da entrada triunfal do Senhor Jesus em Jerusalém (Lucas 19:28-44).
Daí entendermos a severidade da Sua afirmação quando abordado pelos religiosos da época para que fizesse calar o clamor da multidão que O ungia como o Rei que viria em nome de Deus: “Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão” (Lucas 19:40). Aquele momento fazia parte do contexto profético de Daniel.
Nessa oportunidade Jesus chorou ao ver Jerusalém (Lucas 19:41), porque estava oculto aos olhos daquele povo o significado daquela tão importante ocasião no calendário divino. Naquele dia o cronômetro de Deus fora travado até que se completasse a era que a seguir viria, a da Sua Igreja, que corresponde ao intervalo profético contido na revelação transmitida a Daniel.
Essa contagem, a da septuagésima semana, voltará a ser ativada após o Arrebatamento da Igreja, quando então será revelado o homem da iniquidade e a concomitante tribulação que recairá sobre este mundo. Os dramáticos acontecimentos que se sucederão, nessa última semana de sete anos, serão encerrados com a volta triunfal do Senhor Jesus para o estabelecimento do Seu Reino Milenar (Apocalipse 20:6).
Você, prezado leitor, a esta altura provavelmente está a indagar: “Por que uma introdução tão grande ao capítulo cinco de Apocalipse como esta?” Sou motivado a fazê-la para que não haja dúvida de que as calamitosas ocorrências que se seguirão a este capítulo são absolutamente integrais, tendo em vista a tendência que há de se espiritualizar esses relatos dadas as terríveis consequências que recairão sobre a humanidade incrédula, apesar de religiosa, por ocasião da grande tribulação. Tudo já está antecipadamente previsto por Deus desde a antiguidade (não deixe de ler Isaías 46:9-10), por isso a humanidade será indesculpável perante Deus, pois absolutamente tudo está revelado, inclusive o mistério que estava guardado em silêncio desde os tempos eternos – a Sua Igreja (Romanos 16:25-27).
Neste quinto capítulo de Apocalipse, o cenário que está diante de João é majestoso. No trono está o Todo-Poderoso, o Deus Criador de todas as coisas. Em Sua poderosa destra contém um livro hermeticamente selado (v. 1), cujos selos transmitem um caráter de privacidade, de propriedade exclusiva, que somente o seu legítimo dono poderá rompê-los. Todo o universo pertence a Deus, que por comodato cedeu a Terra ao homem (Salmo 115:15-16), mas pela sua desobediência a Deus ele perdeu essa posse e o usurpador, o diabo, tornou-se o deus deste mundo (2 Coríntios 4:4). A reintegração de posse ocorrerá, ela já está determinada e acontecerá na data estabelecida pelo Pai que readquiriu a Terra para Si através do sacrifício efetuado pelo Seu Filho, o único que poderá romper esses selos e assim o fará (v. 5).
Há um momento dramático nessa visão de João. Um poderoso ser angelical perguntou em alta voz quem seria digno de abrir aquele livro (v. 2). Ninguém foi achado que pudesse fazê-lo, até mesmo lançar o seu olhar sobre ele (v. 3). Perante essa indagação João passou a chorar copiosamente (v. 4) porque se não existisse alguém que pudesse abrir o livro a injustiça existente na Terra não seria corrigida, os perversos permaneceriam impunes e os justos não seriam vindicados.
Mas um dos anciãos o consola com a notável notícia de que o Senhor Jesus era o único qualificado a fazê-lo (v. 5). No versículo 6 vemo-Lo em pé entre os Seus, a Igreja arrebatada, como um Cordeiro na forma que tinha sido morto. Como Cordeiro de Deus ele pagou o preço da redenção do mundo, como Leão (v. 5) ele será o Supremo Juiz que condenará a humanidade incrédula e perversa a castigos eternos.
Aquele foi um momento de grande silêncio. Os olhos de João não mais estão fixados no livro (v. 1), nem no forte anjo (v. 2), o foco da sua visão passa a ser o Senhor Jesus que tomou para Si o livro que ninguém conseguiria abrir (v. 7). O usurpador deste mundo está com os seus dias contados – 7 anos –, a Terra finalmente se livrará de Satanás, pois o programa celestial será concluído. De imediato o silêncio é interrompido, os quatro seres viventes e a Igreja arrebatada se prostram diante do Senhor Jesus (v. 8) e entoam um novo cântico: "Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação; e para o nosso Deus os fizeste reino, e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra" (vs. 9,10).
Este momento tem um profundo significado que é reconhecido não somente por aqueles que estão perto do Trono. Outras vozes se juntam à sinfonia celestial. Incontáveis hostes celestiais fazem parte desse magnífico coral:“Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” (vs. 11,12), que é acrescido por aqueles que fazem parte do cosmo: "Ouvi também a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e no mar, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos" (v. 13). Eis aqui um momento estupendo sendo revelado.
Neste novo cântico a exaltação é prestada ao Senhor Jesus. A expressão “digno és”, que antes tinha sido dirigida ao Deus Todo-Poderoso (Apocalipse 4:11), agora é a Ele dispensada em reconhecimento a extraordinária obra por Ele realizada: “com o teu sangue compraste para Deus homens... que reinarão sobre a terra” (vs. 9,10). Isto nos leva a considerar o reino milenar do Senhor Jesus aqui na Terra (Apocalipse 20:6). Sem dúvida, um grandioso privilégio.
Nesse texto a alegria da antecipação é contagiante. Essa é a mesma expectativa do salmista que descreveu o sublime louvor de toda criação ao Eterno Deus (Salmo 148:1-14). Os mais altos céus contemplarão a profunda significação do cântico angelical entoado por ocasião do nascimento do Senhor Jesus: “Glória a Deus nas maiores alturas” (Lucas 2:14). As vozes discordantes existentes neste mundo serão definitivamente silenciadas. A angústia e o gemido de toda criação (Romanos 8:22-23) não mais serão ouvidos.
O encerramento desse magnífico cântico é com um majestoso “Amém”! (v. 14). Será um momento de prostração e adoração na morada celestial, pois os selos existentes naquele livro serão rompidos e será desencadeado o juízo de Deus sobre este mundo rebelde. O cenário estará concluído. A contagem de tempo restabelecida. Os acontecimentos a seguir serão tremendos. O tempo de Deus é chegado! Resta-nos, portanto, não mais a esperança, mas a certeza de que faremos parte deste contexto divino. Permita Deus que assim seja!