A Caminho do Apocalipse - 21 (3)

“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia,
e guardam as coisas que nela estão escritas;
porque o tempo está próximo”

Apocalipse 1:3

CAPÍTULO 21 (3)

Conforme vimos na crônica anterior, nos oito primeiros versículos deste capítulo João descreve a visão que teve do “Estado Eterno” com a formação do novo céu e da nova terra que virão a existir, e a cidade santa, a nova Jerusalém que descerá da morada de Deus. Agora, mais detalhadamente, ele transmite a visão que teve dessa magnífica habitação: Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro; e me transportou, em espírito, até a uma grande e elevada montanha e me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina” (vs. 9-11). O texto é bastante claro. Um dos anjos que com João esteve por ocasião do derramamento dos sete últimos flagelos sobre a Terra (capítulo 16) o arrebata em espírito até um alto monte para lhe mostrar o lugar onde será a sua morada na eternidade e de imediato ele contempla algo extraordinariamente fulgurante que não consegue descrever com exatidão aquilo que via, a não ser como algo que, de tão precioso, ele classifica como uma joia raríssima. O motivo é inteligível: nela habitará “a glória de Deus” (v. 11).

Todavia, entre os comentaristas criou-se certo embaraço quanto à época da chegada dessa extraordinária cidade. Alguns a colocam por ocasião do reino milenar a ser estabelecido pelo Senhor Jesus Cristo aqui na Terra, como se fosse um “quinto parêntese” em Apocalipse. Com isso João teria sido levado a retornar a sua visão para o tempo do milênio. Respeitando os argumentos apresentados por esses expositores, está bastante claro que desde o capítulo 19:11 os acontecimentos revelados demonstram estar numa sequência absolutamente cronológica, não cabendo agora um retorno às coisas já reveladas neste Livro.

Convém esclarecer que no Antigo Testamento é profetizado acerca de uma nova Jerusalém terrestre, situada em Israel durante o período do milênio, todavia há pouca coisa em comum com esta cidade que irá descer do céu para ser a capital universal do “Estado Eterno”. Devemos ter em lembrança, caro leitor, que a esta altura das revelações as primeiras coisas são passadas, não mais existem, estamos diante de algo novo. Independentemente das interpretações existentes quanto à época, o que importa é o entendimento de que essa grande, nova e santa cidade é real, nela habitarão todos aqueles que têm o Senhor Jesus como o único Redentor de sua vida. Por si só, isto me basta!

A expressão contida no versículo 9: “Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro”, nos leva de imediato a entender que a noiva em questão estaria simbolizando a Igreja. É claro que a Igreja estará entre os habitantes dessa maravilhosa cidade, mas o que João está vendo é a cidade em si, não as pessoas como é o caso da Igreja, cujos membros (não um edifício, obra de alvenaria) constituem um só corpo com respeito a Cristo (1 Coríntios 12:12). R. David Jones nos traz um esclarecimento oportuno acerca disso: “Era costume no oriente médio, quando um rei entrava na capital do seu país para tomar posse do seu reino, ou um príncipe subia ao trono, dizer que ele estava casando-se com a cidade (Isaías 62:4-5). Ele estava sendo unido de forma íntima e permanente com o trono, a cidade e a nação. Assim a cidade chamada Nova Jerusalém será casada com o Cordeiro”. Nessa passagem de Isaías, Jerusalém é considerada simbolicamente como ”a noiva do Senhor”.

A contemplação das características extrínsecas da “santa cidade” continua: “Tinha grande e alta muralha, doze portas, e, junto às portas, doze anjos, e, sobre elas, nomes inscritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Três portas se achavam a leste, três, ao norte, três, ao sul, e três, a oeste. A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (vs. 12 a 14). Existe um esforço por parte de alguns ao tentarem “espiritualizar” esses elementos, referindo-se a eles como se símbolos fossem. Sem dúvida, um esforço inútil, pois eles significam materialmente o que são, como por exemplo: muralha é muralha como conhecemos, aliás, uma imensa muralha, pois a sua espessura (v. 17) é aproximada à largura média de um campo de futebol (cerca de 70 metros) e a sua extensão de quase dez mil quilômetros (v. 16). Isso mesmo, caro leitor, essas medidas podem nos parecer espantosas, entretanto são absolutamente reais.

Normalmente uma muralha traz a ideia de proteção para os que estão dentro da cidade para com os que fora dela estão. Todavia, observamos que não é esse o caso da muralha descrita no versículo 12, pois nela há doze portas instaladas, três de cada lado (v.13), que jamais serão fechadas como afirma o versículo 25: “As suas portas nunca jamais se fecharão”. Você poderá estar a indagar, caro leitor, então para que servirá essa gigantesca muralha se haverá livre acesso à nova Jerusalém? A resposta é simples e está no contexto desse capítulo: “As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória” (v. 24). Concluímos, portanto, que haverá dois grupos distintos no “Estado Eterno”: aqueles que estarão habitando dentro da cidade e fazem parte do Tabernáculo de Deus que vimos no versículo 2, dentre estes, é claro, aqueles que atualmente fazem parte da Igreja de Deus e serão arrebatados antes da grande tribulação que virá sobre a Terra, e o outro grupo representado pelas nações que se desenvolverão ao longo de toda eternidade. Daí a enorme importância de, ainda hoje, se tomar uma decisão a respeito do porvir.

Diante do exposto, por que cada porta terá um “anjo de guarda”? O contexto não dá essa ideia, caro leitor. Por certo os anjos lá estarão como “guardas de honra”, partícipes da administração da nova Jerusalém. Por oportuno, convém ressaltar que o número 12, que por vinte e três vezes aparece em Apocalipse, nove deles estão neste capítulo. Simbolicamente acredita-se que o número 12 representa “governo” ou “administração”. Interessante o pensamento de J. Allen a respeito dessa vasta muralha com suas portas e anjos: “No novo Céu e na nova Terra haverá privilégios especiais associados com o acesso ao trono de Deus e do Cordeiro, por isso há um muro... Esta cidade estará em comunicação com a nova Terra, mas tudo que sai da cidade, e todos que entram nela, precisam passar por essas portas”. E pelos seus anjos, acrescento eu.

Ainda com respeito à muralha, João revela que sobre cada uma das suas portas estará inscrito o nome de uma das doze tribos de Israel (v. 12), e nas suas fundações estarão inscritos os nomes dos doze apóstolos do Senhor Jesus (v. 14). Isto tem gerado algumas divagações de que Israel e a Igreja seriam a mesma coisa para Deus, mas não são. Israel, o povo terrestre de Deus, rejeitou ao Seu Ungido e no relógio cronológico de Deus eles estão parados no tempo até que a contagem seja reiniciada com o arrebatamento da Igreja, que por sua vez é o Seu povo celestial, formado por aqueles que receberam a Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas.

Portanto, o simples fato do nome das doze tribos de Israel e dos doze apóstolos do Senhor Jesus estarem citados nessa grande muralha não significa que sejam as mesmas coisas. Pelo fato de no porvir ambos habitarem a mesma cidade, há uma distinção bastante clara entre eles, pois são mencionados em estruturas diferentes – portas e fundamentos – e, por certo, com funções diferentes na administração da grande cidade. Mas isto saberemos concretamente quando lá estivermos.

Não são somente as suas dimensões que a tornam admirável, a riqueza de detalhes da estrutura dessa muralha também é sobremodo impressionante: “A estrutura da muralha é de jaspe; também a cidade é de ouro puro, semelhante a vidro límpido. Os fundamentos da muralha da cidade estão adornados de toda espécie de pedras preciosas. O primeiro fundamento é de jaspe; o segundo, de safira; o terceiro, de calcedônia; o quarto, de esmeralda; o quinto, de sardônio; o sexto, de sárdio; o sétimo, de crisólito; o oitavo, de berilo; o nono, de topázio; o décimo, de crisópraso; o undécimo, de jacinto; e o duodécimo, de ametista. As doze portas são doze pérolas, e cada uma dessas portas, de uma só pérola" (vs. 18-21). Como diz W. MacDonald, “a descrição da muralha e da cidade é difícil de visualizar, mas tem por objetivo criar uma imagem de magnificência e esplendor, e o faz com sucesso”.

A beleza dessa muralha sem dúvida é espetacular, mas confesso que não consegui de imediato “visualizar” as pérolas que formam as suas doze portas tendo em vista as suas dimensões. Sem nenhuma intenção de questionar, quando li que cada porta era formada de “uma só pérola” (v. 21), veio-me a mente: “Que pérola é essa”? Nisto surgiu-me o pensamento: “Se de um simples grão de areia a ostra produz uma joia tão preciosa como a pérola, o que dirá então o Deus Criador de todas as coisas”? Para Ele não há impossíveis! Além de me confortar, este pensamento me trouxe a compreensão que necessitava: Crer, somente!

Na próxima crônica continuaremos neste capítulo para contemplar internamente a magnitude da nova Jerusalém, que será a morada eterna daqueles que creem autenticamente no Deus Todo-Poderoso e em Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, a Quem Ele subordinará todas as coisas no “Estado Eterno” que está por vir. Espero em Deus que esta seja a sua convicção, prezado leitor. Permita Deus que assim seja!

 

autor: José Carlos Jacintho de Campos.