“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia,
e guardam as coisas que nela estão escritas;
porque o tempo está próximo”
Apocalipse 1:3
CAPÍTULO 19 (1)
Eis que é chegado o final da tribulação nunca dantes ocorrida na história deste mundo afastado de Deus. Este 19° capítulo está dividido em duas partes, na primeira (vs. 1-10) veremos um grande júbilo no céu e com ele o fechamento do último grande parêntese contido neste Livro; em seguida (vs. 11-21) contemplaremos a magnífica chegada do Senhor Jesus para impor implacável derrota às duas terríveis bestas que dominarão as nações por um breve período de tempo.
Diz-nos João nos primeiros versículos deste capítulo: “Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. Segunda vez disseram: Aleluia! E a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos” (vs.1-3). Ou seja, depois da visão que teve acerca do determinante juízo de Deus e a definitiva queda da grande cidade – a nova Babilônia construída pela terrível “besta” – ele ouve no céu o alarido de uma imensa multidão que se rejubila com o acontecido. O clima de exaltação estará a inundar os céus, pois é chegado o momento da vinda do Senhor Jesus para reger as nações e estabelecer o Seu Reino milenar.
Nestes três primeiros versículos lemos por duas vezes a expressão “Aleluia”. Hoje em dia o uso dessa palavra não traz nenhuma novidade, pois ela é ouvida de roldão através dos programas “evangélicos” transmitidos pelas emissoras de rádio e televisão. De roldão não seria uma afirmação muito austera? Sem dúvida, caro leitor, mas essa é a realidade! Em nossos dias as aleluias estão sendo pronunciadas de forma impensada e confusa, dando uma ideia de bagunça, pois sua colocação nada tem a ver com o momento em que estão sendo proferidas. Por certo a imensa maioria das pessoas assim o faz por não saber nada acerca do seu profundo significado.
Pois então, caro leitor, você sabe quantas vezes aparece essa breve doxologia – “Aleluia” – no Novo Testamento? Quatro vezes! Tão somente quatro vezes e apenas neste 19° capítulo de Apocalipse. Em nenhum outro livro essa palavra é proferida a não ser no Velho Testamento, e somente no livro de Salmos, e ainda assim entoada com extrema reverência dada a sua alta significância – Louvado seja Yahweh – cujo objetivo principal é o de glorificar a grandeza e a majestade de Deus. O mesmo não ocorre hoje, ela é pronunciada como se fosse um “mantra”, para se demonstrar espiritualidade, mas de fato uma pseudorreligiosidade, pois ela é dita sem originalidade, de certa forma banal, apesar de não ser a intenção de alguns, mas o fazem por acharem bonito e normalmente há o costume de se copiar o que outros fazem e acabam por repetir aquilo que não têm a menor ideia do que representa.
Em sua expressão original no hebraico – “Halal-Yah” –, transliterada para o grego como hallelouia, essa palavra de exaltação a Deus era composta por duas palavras: “halal”, cujo significado é “louvor”, e “Yah”, forma abreviada de Yahweh, que, de forma híbrida, sem uma base bíblica clara, foi traduzida para a nossa língua como Jeová. Muitos têm tentado encontrar a palavra Yahweh no Novo Testamento, todavia dentre as traduções do Nome de Deus a que mais se aproxima é kúrios, no grego, que significa Senhor, e em várias passagens ela é atribuída a Jesus, por exemplo: “hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas. 2:11).
Até os dias de hoje os judeus ortodoxos sentem profundo tremor em transcrever o nome de Deus. Em nosso idioma eles usam D’us pela reverência que têm ao Nome do Todo-Poderoso, assim como fizeram no passado remoto quando usavam “Yah” em vez do nome completo. O controverso em nossos dias não está em louvar a Deus com aleluias, mas sim pela vulgarização que está havendo, pois essa manifestação de louvor está sendo feita sem a indispensável devoção. Mas isto não faz parte do nosso assunto aqui, voltemos ao texto.
Dentre as razões para que aquela incontável multidão teria para entoar esse estupendo coro de aleluias (v. 1), duas delas são proeminentes: “porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos (I), pois julgou a grande meretriz (II)” (v. 2). Somente em Deus encontramos a mais absoluta Justiça, pois nEle não há nenhuma imperfeição; a condenação da grande meretriz, ou seja, a religião ecumênica que abrigará todos os credos sob o comando das duas “bestas”. Convém lembrar, pois muitos não sabem, que a etimologia da palavra grega oikoumenikós tem o significado de “aberto para o mundo inteiro”.
Esse terrível sistema religioso buscará apagar de uma vez por todas a fé, ainda que pouca, no Deus Vivo e Verdadeiro e para isso corromperá os ensinos bíblicos que levarão os homens a um desenfreado paganismo. Isto nos remete às palavras do Senhor Jesus: “... quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na terra?” (Lucas 18:8). Ao fim dos tempos lamentavelmente somente um remanescente fiel manterá a fé genuína, tendo em vista que um enorme contingente de pessoas deixará se levar pelo deus do presente século que está a cegar o entendimento dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus (2 Coríntios 4:4).
João continua a descrever a sua notável visão: “Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus, que se acha sentado no trono, dizendo: Amém! Aleluia!” (v. 4). Como já vimos anteriormente, esses vinte e quatro anciãos representam a Igreja de Deus arrebatada e reunida no céu antes do início da grande tribulação. Como tal vemo-la por outras quatro vezes neste Livro: 4:4, 4:10, 5:8 e 11:16. Doravante, porém, segundo J. Allen, essa representação sacerdotal não mais será necessária e os vinte e quatro anciãos não mais serão mencionados, pois as bodas do Cordeiro estarão consumadas, a Sua noiva, a Sua Igreja, estará com Ele para todo o sempre. Neste momento de intensa exaltação a Igreja não poderia deixar de participar, por isso ela dirá com toda força o seu verdadeiro significado: Aleluia! Louvado seja o único Deus, o Todo-Poderoso e Criador de todas as coisas, que por Seu imenso amor nos remiu para sermos a expressão da Sua glória através de Jesus Cristo. Essa expressão não será feita de forma banal, mas uma manifestação de profundo sentimento por aquele extraordinário acontecimento.
João prossegue: “Saiu uma voz do trono, exclamando: Dai louvores ao nosso Deus, todos os seus servos, os que o temeis, os pequenos e os grandes. Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso” (vs. 5-6). Estrondoso será esse intenso alarido. Uma imensa multidão entoará com tamanho vigor esse jubiloso louvor que será semelhante ao barulho de uma enorme catarata e de grandes trovoadas. Todos os verdadeiros servos serão convocados para expressar esse fantástico júbilo a Deus; todos aqueles que O reverenciam com temor e tremor, quer sejam pequenos ou grandes. A esse respeito escreve J. Allen: “Provavelmente a voz de Cristo emite um chamado aos cristãos na Terra... eles são convocados para se unirem à adoração do Céu... Os cristãos na Terra, aliviados da opressão apavorante da Babilônia, respondem com corações alegres ao chamado do Céu e repetem a “aleluia” do Céu. Este é o verdadeiro “Coro de Aleluia”, vindo tanto do Céu como da Terra”.
Eis um momento fantástico, aguardado por todo aquele que faz parte da verdadeira Igreja de Deus: “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos” (vs. 7 a 8). E não é que em um texto de extrema clareza criam-se tantas controvérsias. Há os que argumentam que as bodas do Cordeiro abrangem tanto a Igreja quanto a Israel restaurado. Outros, que não fazem distinção entre a Igreja e Israel, entendem que a “esposa” mencionada (v. 7) inclui os redimidos de todos os tempos, que mantiveram uma aliança de Deus. Há que se registrar que até então somente a Igreja estará arrebatada, os demais remidos o serão imediatamente antes do estabelecimento do Reino Milenar do Senhor Jesus, portanto não podem ser a “noiva”.
Conforme argumenta J. Allen, “essas ideias são insustentáveis e só servem para causar confusão”. Não pode haver nenhuma dúvida, a “esposa” dessas núpcias é a Igreja arrebatada antes da terrível tribulação, cujo momento nos foi antecipado em Efésios 5:25-27 (recomendo a leitura), quando Paulo compara o matrimônio entre os cristãos como a união que há em Cristo com a Sua esposa, a Igreja. W. MacDonald comenta a respeito dessa passagem contida na carta aos Efésios: “No passado, o amor de Cristo se manifestou na nossa redenção. No presente, é visto na nossa santificação. No futuro será exibido na nossa glorificação. Ele mesmo irá apresentar a Si mesmo à Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, portanto santa e sem defeito. Então ela atingirá o clímax da beleza e da perfeição espiritual”. Em Efésios 5:32, diz Paulo: “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja”. Aquilo que fora encoberto nos séculos anteriores, agora revelado ao longo desta atual dispensação – a da Igreja – é confirmada através das bodas do Cordeiro que acontecerá no porvir.
Diz ainda o anjo a João: “Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus” (v. 9). Atente bem, caro leitor! Uma coisa é a Igreja arrebatada, a “noiva” das bodas do Cordeiro, outra coisa são os “convidados” que serão chamados para a “ceia” das bodas do Cordeiro. A Igreja é a “esposa” de Cristo os “convidados” são o restante dos remidos que terão o privilégio de participar dessa “ceia”, por isso o anjo os chama de bem-aventurados, pois estas palavras são absolutamente verdadeiras, por serem da parte de Deus. Não existe hipótese que isso não venha a acontecer.
João encerra este quarto e último grande parêntese: “Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia” (v. 10). Ao completar esta visão de júbilo no céu, o consagrado apóstolo está absorto diante daquilo que contemplou. A exemplo do apóstolo Paulo, João presenciou a grandeza das revelações de Deus e ouviu palavras inefáveis as quais não é lícito ao homem referir (2 Coríntios 12:2-3). O extraordinário coral de aleluias e a jubilosa celebração das bodas do Cordeiro o levam a se prostrar perante o anjo que lhe traz aquelas revelações. De imediato o anjo o adverte para que assim não o fizesse, pois ambos eram criaturas de Deus.
Vemos em nossos dias uma prática condenável de se prestar cultos a anjos da guarda e outros equivalentes. Na verdade os anjos não podem e não querem ser cultuados, pois de fato eles dão testemunho daquEle que verdadeiramente deve ser adorado. O testemunho de Jesus é o espírito da profecia, portanto o verdadeiro propósito da profecia é dar testemunho da majestosa Pessoa, da magnífica Obra e da perfeição de Cristo. Que você tenha, prezado leitor, absoluta certeza de que lá estará naquele dia; que fará parte daquela imensa multidão que comporá aquele imenso coral celestial a dar aleluias ao nosso Deus. Permita Deus que assim seja!