“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo”
Apocalipse 1:3
Capítulo 15
Após o interregno formado pelos três capítulos anteriores, voltamos, neste 15° capítulo, à ordem cronológica dos acontecimentos apocalípticos que fora suspensa ao soar da sétima trombeta (11:15-19). Este é o menor capítulo contido no Apocalipse, com apenas oito versículos, onde são descritos os preparativos que antecedem aos últimos tremendos flagelos que recairão sobre a humanidade (16:1-21). E assim estarão consumados os juízos estabelecidos por Deus para este mundo que estará sob o domínio da tríade satânica.
Diz-nos o versículo 1: “Vi no céu outro sinal grande e admirável: sete anjos tendo os sete últimos flagelos, pois com estes se consumou a cólera de Deus”. Aqui estão descritos como os “sete últimos flagelos” da série de quatro, três deles já vistos anteriormente, a saber:
I – OS SETE SELOS (capítulos 6:1-17 e 8:1-8)
1. O cavalo branco, cujo cavaleiro disseminará imenso engano;
2. O cavalo vermelho, que precipitará grande beligerância;
3. O cavalo preto, que conduzirá a humanidade a uma falsa prosperidade que produzirá fome;
4. O cavalo amarelo, que trará grande pestilência e levará milhões de pessoas à morte;
5. A oração dos santos que foram sacrificados durante a primeira parte da tribulação;
6. Acontecimentos cósmicos que levarão grande pânico aos habitantes da Terra;
7. O último selo, cujo conteúdo será o anúncio das sete trombetas dos juízos de Deus.
II – AS SETE TROMBETAS (capítulos 8:7-13; 9:1-21 e 11:15-19)
1. A terça parte da Terra, das árvores e das plantações serão queimadas;
2. Um terço da criação existente nos mares será extinta;
3. Os rios serão envenenados e um terço da população perecerá;
4. Um terço do sistema estelar será tremendamente abalado e haverá trevas parciais;
5. Terríveis “gafanhotos” assombrarão a humanidade por longos cinco meses;
6. Um imenso e cruel exército devastará o mundo;
7. A última trombeta trará os sétimos últimos flagelos sobre a Terra (capítulo 16:1-21).
III – OS SETE TROVÕES (capítulo 10:4)
Não sabemos o seu conteúdo, João foi impedido de revelá-lo: “Logo que falaram os sete trovões, eu ia escrever, mas ouvi uma voz do céu, dizendo: Guarda em segredo as coisas que os sete trovões falaram e não as escrevas”. Sem dúvida será algo extremamente amargo que pegará de surpresa os usurpadores deste mundo. Escreve a respeito R. Watterson: “Estes sete trovões são, obviamente, mais uma série de sete juízos divinos, mas não podem ser revelados. Foi mandado a João que selasse estas mensagens e não as escrevesse; compare com Daniel 12:4 ... e com a proibição a Paulo em 2 Coríntios 12:4. Provavelmente se trata de juízos tão terríveis que não podiam ser revelados”. Portanto, caro leitor, não devemos especular sobre aquilo que Deus reservou para a sua exclusiva revelação em tempo oportuno.
A seguir, nessa estupenda visão de João, ele relata: “Vi como que um mar de vidro, mesclado de fogo, e os vencedores da besta, da sua imagem e do número do seu nome, que se achavam em pé no mar de vidro, tendo harpas de Deus” (v. 2). Nós já lemos sobre este mar. É o mesmo que vimos no capitulo 4:6. Mas há uma diferença! Naquela oportunidade João estava tendo a visão do Trono de Deus, e lá estava a Igreja de Deus arrebatada, simbolizada pelos vinte e quatro anciãos, antes do início do período da tribulação: “Há diante do trono um como que mar de vidro, semelhante ao cristal, e também, no meio do trono e à volta do trono, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás”. Repare que naquela passagem o mar é translúcido, puro como cristal, que denota a santidade e a pureza da morada do Deus, ao passo que, nesta nova visão de João, o mesmo mar agora está mesclado com fogo e, como sabemos, o fogo simboliza nas Escrituras o Juízo de Deus.
Em pé sobre esse mar João identifica o grupo de mártires que morreram na segunda metade da tribulação por terem recusado a prestar adoração à imagem da “besta”, que vimos no capítulo 13, e tampouco permitiram levar sobre seus corpos a marca bestial. Por certo a esse grupo estão agregados os mártires da primeira parte da tribulação que “sob o altar” clamavam a Deus por justiça (6:9-11). Acerca destes, comenta J. Allen: “Multidões da Terra sucumbirão ao embuste da “besta”; outros se conformarão politicamente e se prostrarão a sua imagem; outros por motivos puramente comerciais aceitarão o número do seu nome. Estes santos ficarão à parte, e morrerão por causa da sua separação; o Céu os chamará de vitoriosos”.
Fantástica a visão que João teve daqueles que foram terrivelmente martirizados. Vemo-los no Céu a entoar “o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos” (vs. 3 e 4). Difícil não sermos levados pela emoção ao lermos tão grande manifestação de júbilo a Deus. O regozijo deles é sobremodo contagiante pela antevisão que terão daquilo que estará por acontecer àqueles que os assassinaram por não transigirem com a inabalável fé que possuíam em Deus.
O texto sagrado nos revela que eles estarão a entoar dois cânticos – o de Moisés e o do Cordeiro. Por certo o de Moisés é em semelhança daquele que encontramos em Êxodo 15:1-19, entoado às margens do grande mar após a extraordinária vitória de Israel sobre o feroz inimigo – o faraó; por sua vez, o do Cordeiro é em exaltação à pessoa do Senhor Jesus, que apesar do martírio que sofreram, estarão livres eternamente das garras de um inimigo ainda mais terrível – o diabo. W. MacDonald cita A.T. Pierson: “Nos dois extremos da história da Redenção, encontra-se toda a história do povo resgatado por Deus”.
“Depois destas coisas, diz João, abriu-se no céu o santuário do tabernáculo do Testemunho, e os sete anjos que tinham os sete flagelos saíram do santuário, vestidos de linho puro e resplandecente e cingidos ao peito com cintas de ouro”(vs. 5 e 6). Esses emissários de Deus se apresentam de forma majestosa. Com eles estarão as setes taças que representam a “ira de Deus” que será derramada sobre a humanidade que tanto estará a debochar de Deus. Os sete últimos flagelos são irreversíveis! Esses anjos foram preparados para executar o justo juízo por meio do qual Deus será glorificado. Os blasfemadores serão severamente punidos. Nada os poderá livrar desses terríveis flagelos, cujas consequências veremos no próximo capítulo.
“Então um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de ouro, cheias da cólera de Deus, que vive pelos séculos dos séculos. O santuário se encheu de fumaça procedente da glória de Deus e do seu poder, e ninguém podia penetrar no santuário, enquanto não se cumprissem os sete flagelos dos sete anjos” (vs. 7 e 8). Essas taças estarão “cheias” a ponto de transbordar, revelando que nada mais poderia ser colocado nelas. Os “quatros seres viventes” são os mesmos que vimos no capítulo 4:6-9. Além de adoradores eles são os executores dos propósitos de Deus. Nesse momento o Santuário no Céu se encherá da Glória de Deus. A mesma nuvem de fumaça de outrora, novamente estará presente. Quando da dedicação do Tabernáculo no deserto, a Glória de Deus encheu o recinto de tal maneira que impediu a entrada de Moisés (Êxodo 40:34-35). O mesmo aconteceu com o primeiro Templo edificado por Salomão (2 Crônicas 5:13-14; 7:1-2). A Glória de Deus encheu sobremodo a Casa do Senhor que os sacerdotes não conseguiam entrar. O antigo profeta do passado teve uma visão semelhante: “As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça” (Isaías 6:4).
Sem dúvida, como fora no passado, este será um momento intensamente solene. Assim como naquele tempo ninguém conseguia entrar nos santuários terrenos enquanto a Glória de Deus estava presente, da mesma forma ninguém poderá entrar no Santuário de Deus, no Céu, enquanto não se cumprirem os sete flagelos pelos sete anjos (v. 8). Nenhuma intercessão poderá deter a ira de Deus. Isso nos remete a Lamentações 3:44... “De nuvens te encobriste para que não passe a nossa oração”. Nada impedirá que se cumpram os juízos de Deus sobre a Terra. A paciência de Deus estará esgotada para com a humanidade rebelde.
No próximo capítulo veremos as graves consequências desses flagelos, caro leitor. Este é um momento de profunda e urgente reflexão. Pense nisso! Se você crê nessas verdades absolutas, lembre-se daqueles que estão ao seu redor e poderão estar entre os que passarão por esse imenso assombro. Você poderá evitar que isso aconteça através do seu testemunho de fé. Como diz Paulo,"conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas... cumpre cabalmente com o teu ministério" (2 Timóteo 4:1-4). Permita Deus que assim seja!